Por coincidência – ou influência do caso Isabella Nardoni –, o planejamento familiar entrou na pauta dos grandes jornais paulistas neste fim de semana. Em matérias de página inteira, os jornais discutiram o que leva os casais a terem um ou mais filhos e o que motiva a decisão de interromper uma gravidez indesejada.
O planejamento familiar foi o tema da pesquisa da Folha de S.Paulo ‘Quatro em cada dez filhos não foram planejados’:
‘A mais nova pesquisa Datafolha sobre fecundidade mostra que mais de 50 anos depois da invenção da pílula anticoncepcional, quatro em cada dez gestações ocorridas no Brasil não foram planejadas. E, embora isso aconteça com mais freqüência entre os mais jovens (56%) e os mais pobres (44%), não é fenômeno exclusivo deles: entre os que estão no topo da pirâmide social, 34% tiveram filhos sem planejar. Cristiane Cabral, pesquisadora do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos, lembra que esses percentuais seriam ainda maiores se fossem consideradas as gestações que acabaram em aborto, que não foram contabilizadas pela pesquisa’ (Folha de S.Paulo, 20/4/2008).
Política de esclarecimento
O Estadão divulgou uma pesquisa da Universidade de Brasília e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, financiada pela Organização Panamericana de Saúde, com o título ‘Brasileira que aborta é católica, casada, trabalha e tem filho’:
‘A brasileira que faz aborto é uma mulher casada, que já é mãe, trabalha fora e tem, em média, entre 20 e 30 anos. É católica e tem alguma escolaridade – completou ao menos oito anos do ensino fundamental.
A decisão pela interrupção da gravidez é tomada com o parceiro. Por se tratar de uma prática ilegal no país, ela opta por métodos caseiros. Apenas 2,5% das mulheres que abortaram ficaram grávidas ao terem uma relação eventual. A adolescente que opta pelo aborto também engravida dentro de uma relação estável. Decide com o namorado que vai colocar um término na gestação , perto dos três meses de gravidez, usando os mesmos métodos da adulta. Além disso, tendem a engravidar novamente após dois anos’ (O Estado de S. Paulo, 20/04/2008).
As grandes novidades destas pesquisas, segundo os jornais são que:
‘É depois de ser mãe, de saber o que é a maternidade, que ela decide com o parceiro pelo aborto. É uma decisão responsável e baseada na experiência’ (O Estado de S.Paulo).
‘A maioria das pessoas que têm filhos fariam escolhas diferentes (60%): 24% teriam menos filhos, 21% teriam mais e 15% não teriam filhos. Mesmo entre a população mais pobre e com curso médio, este número ficou igual ou acima de 15%. O índice é maior entre as mulheres (18%) e entre os mais jovens (31%, na faixa de 16 a 24 anos)’ (Folha de S.Paulo).
O que as matérias mostram é que, com aborto ou anticoncepcionais, as famílias brasileiras estão fazendo, de alguma forma, o seu planejamento familiar. A pesquisa apresentada pela Folha também permitiria uma leitura inversa: 60 % dos nascimentos são planejados. O importante seria a imprensa cobrar do governo uma política de esclarecimento eficiente, que permita aos casais limitar o número de filhos, uma forma menos perigosa do que o aborto. Ou seja, o uso de métodos anticoncepcionais.
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Jornalista