Num sábado recente, o estudante holandês Johan Dijkland, de 23 anos, abriu no seu iPhone um aplicativo gratuito de mensagem de texto chamado Line. Depois de selecionar um adesivo virtual que mostrava um panda adormecido e uma mensagem de “boa noite”, ele pressionou o ícone e o enviou para uma amiga.
Naquele momento, a mensagem de Dijkland se somou a outras dezenas de bilhões sendo geradas diariamente num número crescente de aplicativos, ou apps, de mensagens para celular.
Esses aplicativos – com nomes engraçados como WhatsApp, WeChat e KakaoTalk – vêm se tornando uma forma indispensável de comunicação para centenas de milhões de pessoas no mundo todo.
Eles também estão irritando gigantes da tecnologia desde o Vale do Silício até Seul. Isso porque, quando usuários como Dijkland enviam mensagem usando o Line, a sua operadora de celular, no caso a Vodafone Group PLC, e a fabricante do iPhone, a Apple Inc., não extraem nenhum lucro direto da operação.
E à medida que Dijkland usa cada vez mais o Line – ele estima passar de três a quatro horas por dia no aplicativo, enviando dezenas de mensagens e adesivos –, ele gasta menos tempo em outros canais de comunicação, como o Facebook Inc.
“No Line, você conversa, então você reage a cada minuto”, disse Dijkland, que começou a usar o Line há cinco meses. “No Facebook, você só olha o feed de notícias e, depois disso, não tem mais o que ver.”
Aplicativo preferencial
O Line, que é especialmente popular no Japão, foi baixado mais de 110 milhões de vezes, disse Jeanie Han, diretora-presidente do Line nos Estados Unidos. O app, e outros semelhantes que estão disponíveis para serem baixados, vêm rapidamente substituindo as funções de mensagem de texto dos celulares da Blackberry, Apple e outras.
Os aplicativos de texto estão prejudicando principalmente as operadoras de telefonia celular, que por anos tiraram dos serviços a maior parte das suas receitas.
Segundo algumas estimativas, um único texto, que pode custar até US$ 0,20 para ser enviado ou recebido, custa para as próprias empresas apenas um centésimo de US$ 0,01. O crescimento dos aplicativos de texto subtraiu das operadoras US$ 23 bilhões em receita ao fim de 2012, segundo a pesquisadora de mercado Ovum.
Matt Murphy, um capitalista de risco da Kleiner Perkins Caufield & Byers que investiu no serviço de voz e texto textPlus Inc., disse que mensagens móveis se tornaram agora um “elemento importante de relações sociais”. “Os apps estão pegando essa audiência e a transformando em algo maior.”
Como resultado, empresas como Facebook, Deutsche Telekom AG e Samsung Electronics Corp. estão fazendo aqui-sições no mercado de apps de mensagens.
O Facebook comprou a empresa novata de mensagens móveis Beluga, em 2011, e recentemente manifestou o desejo de comprar a WhatsApp Inc. – que também foi abordada pela Google e pela Tencent Holdings Ltd., segundo pes-soas a par do assunto. A empresa, cujo app frequentemente aparece nas primeiras posições da lista dos mais rentáveis da Apple, não tinha interesse em ser vendida.
Em fevereiro, a Deutsche Telekom investiu US$ 7,5 milhões no aplicativo de mensagens “Pinger”. A SK Telecom Co., maior operadora de celulares da Coreia do Sul, também comprou, no ano passado, uma fatia de 50% na subsidiária japonesa da Kakao Corp.
Já a Samsung, que estreou seu próprio aplicativo de mensagens, chamado ChatOn, no fim de 2011, tem conversado com empresas novatas de mensagens de celular, inclusive a MessageMe, sobre possíveis parcerias, disseram pessoas a par do assunto. A fabricante de celulares, segundo uma pessoa próxima da empresa, está tentando crescer na área de software para celulares à medida que dispositivos móveis aumentam sua participação na receita.
Enquanto isso, a fabricante de jogos Zynga Inc., que tem uma parceria com a Tencent, controladora do WeChat, negociou com a Kakao e outras a promoção de seus jogos nos aplicativos de mensagens, disseram pessoas a par do assunto. No longo prazo, a Zynga também planeja criar seu próprio serviço unificado de mensagens para a rede dos seus jogos, dizem essas pessoas.
“Este é um mercado onde todo mundo fala com todo mundo”, disse Talmon Marco, diretor-presidente da Viber, sediada em Chipre. Ele disse que sua empresa de mensagens – que tem mais de 175 milhões de assinantes, mais do que o triplo de um ano atrás – recentemente fez um acordo com a operadora indonésia AXIS Telekom Indonesia para ser o aplicativo de mensagens preferencial na rede desta. A Viber planeja anunciar, nos próximos meses, outra meia dúzia de parcerias com operadoras de telefonia e Marco disse que a firma também está negociando com empresas de jogos a promoção de seus videogames na sua plataforma.
Bilhões por dia
As grandes companhias de tecnologia reconhecem que os torpedos são a prioridade número um. Peter Deng, diretor de gestão de produto do Facebook, que cuida das aplicações de comunicação, disse que os apps de mensagens não eram um grande foco até dois anos atrás – mas hoje ele gasta 75% do seu tempo pensando sobre mensagens em aplicativos móveis “porque isso é importante para as pessoas a quem servimos”.
O Facebook vem tentando tirar o atraso na área de mensagens de celular. A empresa lançou um serviço separado de troca de mensagens no fim de 2011 e só ano passado começou a permitir que as pessoas se registrassem no sistema com o número do telefone.
Mais recentemente, o Facebook adicionou novos recursos ao seu aplicativo de mensagens, como ligações telefônicas, recados de voz e mensagens temporárias. A rede social tem planos de acelerar o lançamento de produtos para os seus serviços de mensagens, disse Deng.
O WhatsApp é amplamente considerado o gigante dos aplicativos de mensagens. A empresa de mesmo nome, que foi fundada em 2009 e é sediada na Califórnia, afirmou que processou 18 bilhões de mensagens por dia em janeiro, contra 10 bilhões cinco meses atrás. O aplicativo tem centenas de milhões de usuários e, só nos aparelhos Android, do Google, já foi baixado mais de 100 milhões de vezes.
A Tencent, por sua vez, divulgou que o seu WeChat ultrapassou o número de 300 milhões de usuários em janeiro.
******
Evelyn M. Rusli, do Wall Street Journal