A política de ataques com aviões-robôs, os chamados drones, no governo de Barack Obama gerou um nível alto de debates. As críticas começaram em fevereiro, depois da NBC divulgar um documento do Departamento de Justiça sobre as regras que permitiriam a execução de cidadãos americanos envolvidos em atividade terrorista sem a necessidade de julgamento prévio. Isso levou ao exame da política pela mídia e por congressistas, enquanto John Brennan era sabatinado no Congresso para se tornar o novo diretor da CIA.
Apesar das críticas diretas à Casa Branca, pouco se falou, na ocasião, sobre o arranjo informal de diversos jornais em manter a decisão do governo em segredo por mais de um ano. Margaret Sullivan, ombudsman do New York Times, foi uma das principais críticas do sigilo consentido – o principal jornal criticado no caso era, ironicamente, o próprio New York Times.
Em outubro, Margaret atacou o jornal dizendo que “suas reportagens não desafiaram a descrição do governo de que os mortos [nos ataques com drones] eram ‘militantes’, um termo indefinido. O diário também foi criticado por não identificar os oficiais do governo que sugeriram que críticos dos drones eram “simpatizantes do terrorismo”. “Com seus vastos talentos e recursos, o Times tem a responsabilidade de liderar a cobertura deste tópico da maneira mais agressiva e vigorosa possível, reivindicando a transparência que permita aos americanos entender o que seu governo está fazendo”, afirmou a ombudsman.
Assim, ela conquistou o elogio dos que, até então, consideravam brandas as críticas de seus antecessores no posto. “Ela estava certa quanto aos drones e à desistência do Times no ‘acordo informal’ de não revelar a existência da base aérea na Arábia Saudita”, reconhece Erik Wemple, crítico de mídias do Washington Post.
“Este é um assunto muito importante para mim, e tenho certeza de que estarei prestando muita atenção a ele. Eu percebi que, depois de escrever sobre isso em outubro, houve uma diferença pequena e um uso mais preciso da linguagem nas reportagens, e me comovi com isso. A chave não é só a linguagem, mas toda a questão de sigilo sobre o programa de drones e como os jornais interagem com o governo”, afirmou Margaret.
Mas o debate sobre os drones dificilmente foi uma exceção ao trabalho da ombudsman. Ela abordou muitos outros temas sensíveis, fazendo questionamentos e provocando mudanças. Entre eles estão a política do jornal de garantir aspas às suas fontes; as mensagens em redes sociais que revelaram parcialidade na cobertura de Gaza; a ausência do jornal na cobertura do primeiro dia de julgamento do soldado que vazou informações para o WikiLeaks e a decisão recente do diário em fechar seu blog sobre meio ambiente.
Revolução
Margaret equilibra esses assuntos com questões frequentes ao cargo de ombudsman, como as duras críticas em uma análise gastronômica ou erros no jornal impresso. Em março, ela criticou a guerra do governo contra os vazamentos e pediu mais ao seu jornal: “o Times precisa continuar a pressionar todas as fontes com mais zelo. Se as organizações de notícias não defenderem os interesses da imprensa, quem irá?”
A atuação e o aparente impacto da ombudsman do Times surgem ao mesmo tempo que o Washington Post, por contraste, elimina seu cargo de ombudsman. O fim do posto suscitou um artigo na Reuters intitulado “Alguém se importa com o ombudsman?”. A conclusão do autor era de que “não muitos”.
Outros discordam, ao menos no caso do Times. “Margaret Sullivan revolucionou o cargo da melhor forma possível. Em vez de se aprofundar em assuntos que só interessam a certos tipos de mídia, ela usou sua posição para confrontar questões centrais do jornalismo moderno na era da Internet”, avalia Glen Greewald, do jornal britânico The Guardian.
“Mais importante, outros ombudsmen do jornal só mostravam as queixas vindas da direita. Sullivan transcende as divisões ideológicas. Ela foca exatamente nas questões que um editor público deveria perseguir: como um jornal cumpre sua função de agir como adversário àqueles que estão no poder, e como informar seus leitores sobre os fatos sem a preocupação daqueles que são ofendidos”, continua Greenwald. “Combinado com sua vontade de escrever sobre assuntos que afastariam até os mais bravos jornalistas, essa busca por questões verdadeiramente substanciais tornam Sullivan uma voz inestimável dentro das questões críticas à mídia. É isto que ela faz com o Times, enquanto escreve sobre o Times, e isso faz tudo ser mais impressionante e relevante.”