Não é fácil para um veículo jornalístico admitir seus erros. Se nas páginas dos jornais impressos eles historicamente ocupam um espaço restrito – isso quando ocupam – na internet a situação tem se mostrado ainda mais preocupante do ponto de vista da ética jornalística.
Antes de analisar alguns exemplos que justificam a afirmação acima, vale a pena recorrer ao que disse Ricardo Noblat em sua conhecida obra “A arte de fazer um jornal diário”: o erro é matéria de interesse público. Ele ainda destaca que “por orgulho, soberba, vaidade ou ignorância, jornais e jornalistas procuram fazer de conta que só acertam. E, quando são pilhados em erro, custa-lhes admitir que erraram. Os jornalistas temem ser punidos por seus chefes. Os jornais temem perder leitores” (NOBLAT, 2002: 40).
Informar o leitor sobre o erro cometido pode ser simples, principalmente nos ambientes digitais. A internet é dinâmica por natureza e não há necessidade de esperar até a edição do dia seguinte para publicar uma errata ou para um pedido de desculpas.
Quando falamos especificamente de redes sociais parece ser ainda mais dinâmico, já que há informalidade e o tom típico do meio é o de conversa com o leitor. Apesar disso, o que vemos é uma impressionante falta de habilidade dos webjornais na admissão de erros em seus perfis no Facebook e Twitter. Fiquemos com três exemplos.
No dia 31 de agosto de 2012, o Estadão publicou em seu perfil no Twitter: “Corinthians completa 102 anos hoje. Parabéns!”. Um tweet claro, direto e informal, não fosse um detalhe: o aniversário do time de futebol seria no dia seguinte (sábado). Um pequeno erro – que para um corinthiano não foi tão pequeno assim, gerou muita repercussão e nenhuma retificação por parte do veículo. Diversos leitores avisaram claramente ao Estadão que tratava-se de um erro. Além disso, entre os 60 RTs (retweets) estava o do perfil do Jornal Hoje, que contribuiu ainda mais para a multiplicação do erro. Nesse caso, bastaria a publicação de um tweet com pedido de desculpas e link para a matéria com a data correta.
Outro erro, agora cometido pelo jornal O Globo em sua fanpage no Facebook, ratifica o descaso com os leitores. No dia 30 de dezembro de 2012, o veículo chama o Estado do Maranhão de cidade (“Maranhão, cidade excluída das turnês internacionais…”) e rapidamente mais de 100 leitores se pronunciam advertindo sobre o erro. Três dias após a publicação, uma leitora ainda tenta chamar a atenção de O Globo com o comentário: “Até agora desculpa nada!”. E nada de resposta.
Uma das regras de ouro das redes sociais é nunca apagar uma postagem, justamente em respeito aos que já tiveram acesso ao conteúdo. Nesse caso, O Globo poderia ter incluído um comentário ou até mesmo ter publicado uma nova postagem com a errata.
O terceiro exemplo é mais recente, de 17 de fevereiro de 2013. O jornal Folha de S. Paulopublica em seu perfil no Twitter que a África é um país, e não um continente (“A África é o país que registra o maior crescimento de pessoas católicas”). Novamente houve manifestação dos leitores e nenhuma retificação do veículo. E, assim como no caso do Estadão, bastaria a publicação de um novo tweet com a informação correta. Agradecer aos leitores por terem avisado sobre o erro também seria de bom tom.
A breve análise desses três exemplos pode suscitar inúmeras discussões, desde o tipo de erro cometido pelos jornais (confusão de estado com cidade; de continente com país; e a troca da data de aniversário de um dos principais times de futebol do país) até a falta de atenção com o leitor e a negligência com a disseminação de uma informação errada.
Nesse sentido, os veículos jornalísticos têm muito a aprender com as marcas, que mostram crescente preocupação em responder a seus clientes nas redes sociais. Algumas empresas criaram até o chamado SAC 2.0, com perfis dedicados exclusivamente a ouvir e responder críticas, dúvidas e reclamações.
Diante do triste contexto apresentado, temos que concordar com o professor Eugênio Bucci, que enfatiza, em “Sobre ética e imprensa”: “É como se a imprensa proclamasse: minha função é informar o público, mas os meus métodos não são da conta de mais ninguém – eles são bons, corretos e justos por definição” (BUCCI, 2000: 39).
Bibliografia
BUCCI, Eugenio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Cia das Letras, 2000
NOBLAT, Ricardo. A arte de fazer um jornal diário. São Paulo: Contexto, 2002
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Lívia de Souza Vieira é mestranda no POSJOR/UFSC e pesquisadora do objETHOS