Será que agora que o casal Nardoni foi indiciado Isabella vai descansar em paz? E nós, leitores e espectadores, vamos encontrar outros assuntos na mídia? Ou a TV, fascinada pelos índices do Ibope, vai continuar insistindo em matérias sobre o caso? Se for assim, e a julgar pela demora da perícia e pela tradicional lentidão da Justiça, vamos continuar vivendo a ‘novela’ da menina por muito tempo ainda.
Enquanto esse crime de São Paulo continua merecendo páginas e páginas da imprensa (foi capa de Veja outra vez), além dos intermináveis minutos na TV, a sensação para os leitores é de que a criminalidade no país caiu a zero. As outras crianças mortas continuam esquecidas e até uma descoberta recente (o corpo de uma menina enterrado em um quintal em Goiás) mereceu apenas poucas linhas na Folha de S.Paulo de domingo.
A TV, não se pode negar, tem feito o que pode para manter a comoção no ar. No aniversário de Isabella, por exemplo, massacrou os espectadores com fotos e vídeos da menina. O vídeo, segundo explicação da Globo News, foi feito por pais de outros alunos da mesma escola onde Isabella estudava. As fotos, com certeza, foram cedidas pela própria família. No massacre promovido pela TV, só faltaram as fotos do IML – usadas, segundo os jornais, para pressionar o pai e a madrasta durante o interrogatório.
Folhetins do século 19
Os policiais encarregados devem ter achado que, como ocorre nas séries policiais da TV, assim que fossem confrontados com as fotos, os suspeitos confessariam. Não deu certo. E a imprensa ficou sem esta possibilidade de final feliz para sua mais nova novela.
Como não se pode duvidar da criatividade do jornalismo sensacionalista, não vai demorar para começar a cobertura das romarias ao túmulo da menina que – além de toda a exploração de que vem sendo vítima – corre o risco de virar candidata a santa. A menos que algum outro caso igualmente forte seja adotado pela mídia como seu assunto preferencial.
Sem os mesmos recursos das TVs, os jornais continuam apelando para matérias paralelas: perfis do pai e da madrasta, análises de psicólogos ou historiadores e matérias ‘humanas’, que retratam a miséria das pessoas em busca de cinco minutos de fama. Exemplos da miséria humana: o homem que viajou de outro estado (gastando horas de sua vida e de combustível) para ficar parado na frente da casa do casal suspeito; a vizinha que alugou a laje da casa para a imprensa (a fim de compensar a falta de tranqüilidade devido à presença da mídia e dos curiosos em frente à sua casa); vendedores ambulantes que correm para a frente da delegacia a fim de atender imprensa e curiosos.
Enfim, enquanto as emissoras de TV fazem novelas, os jornais fazem o mesmo, com dois séculos de atraso: transformam o caso em folhetins ao estilo do século 19. Sem desprezar a indispensável suíte – claro, o caso Isabella precisa ser coberto pela imprensa até seu amargo fim –, TVs e jornais poderiam dedicar uma boa parte do tempo e do espaço que estão gastando para outros crimes e escândalos que continuam ocorrendo. Afinal, o papel da imprensa é informação. Não apenas entretenimento.
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Jornalista