Todos os números envolvendo a Biblioteca Britânica são grandiosos. No começo do mês, ela deu início à maior expansão do seu poder de arquivamento desde o século 17 com a conquista do apoio legal para coletar e armazenar sites, e-books, publicações digitais britânicas e até mesmo registros de bate-papos em redes sociais como Facebook e Twitter.
O ministro da Cultura do Reino Unido, Ed Vaizey, assinou as regulações da lei no dia 5/4 – pontapé para que a biblioteca pudesse garimpar a web. O projeto terá início com o arquivamento do domínio .uk, que abrange 5 milhões de sites contendo 1 bilhão de páginas de internet. Nos próximos anos, o conteúdo será ampliado para domínios como .com e .org. Para Roly Keating, executivo-chefe da Biblioteca Britânica, os novos poderes são “uma reafirmação do que significa ser uma biblioteca na era digital”.
Atrás do tempo perdido
A biblioteca tem 800 quilômetros de prateleiras em grandes depósitos e túneis. Desde 1662, a lei britânica requer que editores deem a autoridades uma cópia de cada trabalho impresso que produzem. Até agora, as publicações digitais não tinham um requerimento legal equivalente.
Uma grande quantidade de material ficou perdida desde o surgimento da edição de livros digitais nos anos 90. Como a vida média de uma página é de apenas 75 dias, futuros historiadores confrontarão um “buraco negro digital” quando analisarem o final do século 20. “Na medida em que os anos passam, isso se tornará o único registro que sobreviverá em grande âmbito de conteúdo”, diz Keating. “O âmbito completo de como os britânicos estão usando a web no século 21 estará arquivado para acadêmicos, pesquisadores, historiadores, cineastas e escritores explorarem”.
Em busca de equilíbrio
Para ganhar apoio para o projeto, a Biblioteca Britânica teve que convencer as maiores editoras do país de que o arquivamento digital não prejudicaria seus interesses comerciais. O banco de dados é aberto para acesso público e algumas editoras temiam que isso prejudicasse a venda de suas publicações. O sinal verde foi dado pelo governo em 2003 e foi preciso uma década para se chegar a um acordo que equilibrasse as necessidades das bibliotecas e dos detentores de direitos autorais.
Leitores poderão acessar o arquivo digital apenas nas instalações da Biblioteca Britânica ou de outras cinco bibliotecas que servem como “depósitos legais”, como a Bodleian, na Universidade de Oxford. Editoras de conteúdo de alto valor poderão embargar em até três anos seus trabalhos. Além disso, um item só pode ser visto por uma pessoa por vez.
Algumas editoras podem obter ganhos da mudança para o digital, ao entregar arquivos digitais em vez de versões impressas, mais caras. A empresa de contabilidade PwC estimou que a mudança poderia gerar uma economia de 14 milhões de libras (em torno de R$ 42 milhões) para a indústria editorial, mais do que o custo estimado de 9 milhões de libras (em torno de R$ 27 milhões) para fazer o upgrade de seus sistemas de TI.
Ainda assim, alguns analistas estão preocupados que a escala ambiciosa traga futuros problemas. Na opinião de Nick Pickles, diretor do grupo em defesa da privacidade Big Brother Watch, os planos de coletar material postado por indivíduos em redes sociais foram muito além da instância histórica de arquivar publicações, como jornais. O arquivo não pode acessar sites protegidos ou senhas, mas muitas pessoas podem não ter a noção de que o que divulgam para o público pode ficar guardado para sempre.