Nas últimas semanas, o Google avisou às editoras de jornais e revistas que mantenham artigos patrocinados, em que a mensagem publicitária é inserida no conteúdo do artigo, fora do Google News. A ferramenta de buscas de notícias quer assegurar que tais artigos não irão influenciar os resultados das pesquisas dos usuários. “O Google News não é um serviço de marketing e consideramos tais artigos um tipo de tática publicitária que viola nossos termos de qualidade”, disse Richard Gingras, diretor sênior de jornalismo e produtos sociais do Google.
Leitores vão ao Google News para buscar informação, não marketing. Mas em um tempo em que os experimentos de publicações digitais estão borrando a linha entre o editorial e o comercial, existe algo perturbador na ideia de que uma única e poderosa entidade pode decidir sozinha o que é notícia e o que não é, escreve Jeff Bercovicci em artigo na Forbes.
Pode parecer um assunto acadêmico sem grandes consequências, mas não o será por muito tempo. Os gastos com conteúdo pago – a chamada “publicidade nativa” – subiram 56% em 2011 e 39% no ano passado, de acordo com um relatório do Pew Research Center.
Não é preciso voltar tanto ao passado para ver o que acontece quando o Google faz exceções a alguma forma de conteúdo. Dois anos atrás, a empresa se colocou contra o aumento de “fazendas de conteúdo”, que usavam grandes redes de freelancers para produzir artigos (de pouca qualidade) sobre termos populares nos resultados de busca. Uma série de reformas no algoritmo de busca da empresa arruinou esse modelo de negócios.
Compartilhamento
Poderia a aversão do Google à publicidade nativa ter o mesmo tipo de efeito? Por um número de razões, é improvável. Enquanto as fazendas de conteúdo necessitavam quase exclusivamente dos mecanismos de buscas para funcionar, os artigos pagos possuem outras fontes de leitores. Para muitos editores, 2013 é o ano em que as mídias sociais ganharão dos sistemas de buscas em importância.
O Buzzfeed, site mais inovador no formato de publicidade nativa, baseia sua estratégia no compartilhamento social de artigos, pagos ou não. O CEO Jonah Peretti diz que o Google é “esperto em manter artigos pagos fora de seu sistema. Já que os repórteres do Buzzfeed focam inteiramente em conteúdo original, temos pouco tráfego gerado pelo Google News. Os sites que agregam e reescrevem conteúdo são os que se dão bem por lá”.
Chris Schreiber, vice presidente de marketing da Sharethrough, que presta consultoria para editores, concorda com Peretti: “Enquanto as opções para distribuição de conteúdo pago continuarem a atingir audiências de maneira respeitosa e atraente, essa categoria continuará a crescer e a se tornar valiosa”.
Mas mesmo se a posição do Google não se tornar uma ameaça, sua abordagem deixa a desejar. Quando o Google resolveu o problema das fazendas de conteúdo, a empresa simplesmente observou as respostas dos usuários e ajustou seus algoritmos de acordo com isso. “É esse o tipo de soluções que esperamos do Google”, escreve Bercovicci na Forbes. “Se os usuários da empresa acharem que os artigos pagos são uma forma de notícia, quem é o Google para negar?”