Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Imprensa vive sob medo em Ipatinga

O assassinato do fotógrafo Walgney Assis Carvalho, de 43 anos, no domingo (14/4) – 37 dias após a execução do repórter Rodrigo Neto, de 38 – disseminou o clima de pânico e insegurança em Ipatinga (MG). As duas vítimas trabalhavam no jornal Vale do Aço e eram especializados em cobertura policial. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência informou, em nota, que está avaliando se outros jornalistas estão marcados para morrer para incluí-los no Programa Nacional de Proteção a Vítimas e Testemunhas. “Os crimes contra profissionais da comunicação em todo o país, mas muito especialmente no Vale do Aço, neste momento, representam um atentado à liberdade de expressão e aos Direitos Humanos. O Brasil, como país democrático e com uma imprensa livre, não pode conviver com essa realidade”, diz trecho do comunicado.

“A barra aqui está pesada e, com as informações de que outros jornalistas estariam numa lista de morte, a situação hoje chegou ao limite. Não se fala em outro assunto na cidade, mas o assunto só rende nas rodas de conhecidos, pessoalmente. Por telefone, é bom evitar”, contou um dos jornalistas mais experientes em cobertura policial no Vale do Aço, pedindo anonimato.

Mesmo com as denúncias de envolvimento de policiais nos crimes, as investigações estão sendo feitas pelas polícias Militar e Civil, sem a participação do Ministério Público de Minas. Os dois morreram da mesma forma: um matador na carona de uma moto disparou três tiros contra eles. O delegado Wagner Pinto, chefe da Delegacia de Homicídios de Belo Horizonte, disse que não pode estimar quando concluirá as investigações: “Temos quatro delegados e dez investigadores trabalhando, mas sem suspeitos até agora.”

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas sustenta que Carvalho foi morto porque teria informações sobre o assassinato do colega. Diz ainda que a morte de Neto tem relações com pelo menos 20 homicídios cometidos na região desde 1992. A comissão suspeita da existência de um grupo de extermínio formado por policiais. O governador Antonio Anastasia classificou as mortes como “muito graves”. “Estou cobrando, de maneira muito enfática, que apresentem resultados.”

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Ezequiel Fagundes, do Globo