Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Fotógrafos explicam como traduzem São Paulo em imagens

Todos os dias, os meninos brincam no campinho de terra. O gol é improvisado, sem rede, mas a emoção é a mesma que se tem no estádio do Pacaembu. Presente nesses dois ambientes, campo de várzea e estádio, se destaca uma figura comum: o fotógrafo Ed Viggiani, que enxerga e revela por meio de suas fotografias a peculiaridade de cada ambiente. Na profissão há mais de 30 anos, o também sociólogo interpreta situações através de suas lentes e garante: “A gente olha a partir do que a gente é.” Entre os inúmeros cenários que compõem a capital paulista, Ed explica como é possível representar a diversidade dentro do espaço urbano. “São Paulo tem uma realidade muito complexa e a primeira coisa que se deve pensar é na necessidade de um recorte para a cidade”, diz.

Já para Renatto D’Sousa, fotógrafo com 25 anos de carreira, “São Paulo é muito vasta, só consegue ter dimensão do céu, do alto”. Apostando em fotografias panorâmicas e releituras de pontos importantes da cidade, como o edifício Copan, Memorial da Independência e Praça da Bandeira, ele transmite a variedade com cliques em ângulos surpreendentes. Focando na essência de retratar os vieses, Renatto também explica a necessidade do fotógrafo de olhar para o que ninguém mais vê. Prestar atenção naquilo que já se tornou indiferente, como no caso do ensaio que fez sobre moradores em situação de rua. “A fotografia retrata fragmentos da realidade. A partir deles você constrói um discurso”, completa sobre o raciocínio dessa simbologia de invisibilidade.

“A realidade é em preto e branco”

Aspectos técnicos na construção da imagem: ajustar a velocidade e a abertura do diafragma, sincronizadas com a sensibilidade ISO e cuidado com o flash. Na hora de criar um conceito para simbolizar ambientes, os conselhos básicos dos cursos de fotografia pedem licença e dão espaço à imaginação. “Na fotografia não há luz ruim, o que há é falta de inspiração”, afirma Ed Viggiani, que dispensa o flash e defende a interpretação da luz ambiente.

Defendendo o uso de algumas fotos em preto e branco, Ed e Renatto concordam que as tonalidades reforçam os contrastes e destacam o que realmente deve ser mostrado, uma vez que, em alguns casos, as cores carregam as imagens de informação. Ed finaliza reforçando o conceito ao parafrasear o fotógrafo italiano Luigi Mamprin: “A vida é colorida, mas a realidade é em preto e branco.”

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Gabriela Zaniratto é estudante de Jornalismo e participa do 6º curso Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter, iniciativa que integra o Projeto Repórter do Futuro, da Oboré Projetos Especiais em Comunicações e Artes, em parceria com a Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)