Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma emissora pública com passado e mirando o futuro

“Não fora Marcos Mendonça, com o apoio do governador Mário Covas, certamente não teríamos hoje uma Sala São Paulo, uma nova Pinacoteca, uma Osesp e outras múltiplas ações que fizeram de São Paulo uma referência cultural da América Latina para o resto do mundo.” As palavras são do maestro João Carlos Martins no artigo “Os Imprescindíveis”, publicado na seção “Opinião”, da Folha de S.Paulo (22/4/2013).

Conforme relatos na imprensa, Marcos Mendonça está próximo de ser reconduzido à presidência da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura. O mesmo tem declarado que a emissora pública deve ser destinada às classes C, D e E. Prova desta visão foi em seu comando ter o surgimento da TV Rá Tim Bum, oferecendo programação infantil voltada para desenvolvimento da inteligência e valores humanitários. O programa Sr. Brasil, também gerido em sua gestão, apresenta estes aspectos e trata da cultura do campo no qual residem muitos membros dos grupos mencionados acima.

No seu período, houve investimentos em compra de câmeras, microfones, computadores e novos equipamentos, além de um museu de Memória da Televisão, o qual incorporou elementos da TV Tupi. Portanto, conseguia levar cultura popular e também a erudita para os lares, representando a heterogeneidade de um público não apenas paulista, mas nacional. Como ensina Maquiavel, Mendonça se equilibrou entre a nobreza e a plebe.

Memória e BRICs

Quando assume também o discurso de classes C, D e E afina com a visão de um Brasil que vem sendo trabalhado no período democrático e hoje é integrante dos BRICS. No passado, a TV Cultura ganhou prêmios internacionais de renome, como o Emmy. Também leva conteúdo e informação de qualidade para pessoas que não possuem condições viajar, ir ao teatro e TV a cabo. Cumprindo com uma obrigação do serviço público.

Após sua gestão, a Fundação mirou para a internet, o que hoje reflete em avanços como a transmissão de programas pela rede que podem ser assistidos por outros países. Porém se perdeu em uma estrutura básica, a memória. Nações ancestrais como as do continente europeu, asiático e africano mantêm suas tradições por museus, esculturas ou até mesmo narrativas orais. A gestão Sayad fez uma contenção de gastos – ele é um quadro que vem da economia, então era esperado que trabalhasse com números. Mendonça é um homem de cultura e para compreendê-lo é necessário falar de Mário Covas. Na política, o homem mantém suas características, mas muito da sua formação vem do seu chefe partidário, o padrinho político, e nisto as alas mantém um grau de homogeneidade. No período de Covas a emissora gozava de maior prestígio.

Mendonça terá como desafios lidar com uma época nova, a qual acompanhou seu rompimento enquanto conselheiro esperando seu possível retorno. Em uma era midiatizada órgãos de imprensa possuem grande relevância. Um político se faz de obras, Mendonça foi parlamentar, secretário de cultura e deixou suas marcas. Assim como foi Mário Covas, é aberto ao debate. Também é membro fundador do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), então com ideologia, e contemporâneo também de André Franco Montoro. O presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Geraldo Alckmin e o senador Aécio Neves têm falado de uma refundação do partido resgatando os valores do passado.

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Gabriel Leão é jornalista e mestre em Comunicação