De um mestre em Planejamento Urbano não seria de se esperar preocupações com coisas de menor importância: a saúde pública, sucateada, a segurança, deficiente em todos os âmbitos (municipal, estadual e federal) e os graves problemas com a educação obrigatória oferecida aos cidadãos. Inclua-se ainda o crescimento dos assaltos a agências bancárias em pequenas e grandes cidades, o uso de explosivos para a destruição das máquinas eletrônicas e coleta dos valores nelas existentes e, mais atual e chocante, a criminalidade por parte dos já famosos “de menor”, livres para praticarem assaltos e crimes bárbaros. No caso mais recente e triste, queimando-se a vítima pela desfeita de somente possuir “trinta mil réis” na conta bancária.
Assusta-nos, entretanto, que o articulista, atento às excepcionais e descabidas exigências da Fifa, talvez em razão de sua sede assentar-se na Europa, continente cuja área física é menor ou pouco maior que a do Brasil (na dependência de excluir-se ou incluir-se o território da Rússia), mas abrigar por volta de 40 países, excetuando-se os situados em ilhas maiores ou menores, o que quer dizer que de automóvel pode-se visitar dois, três ou mais deles em um dia, destaque nossas deficiências militares no tocante a mísseis de médio alcance, meros 15 quilômetros, e suas possíveis consequências.
Assim, depois de expor a gravidade do recente episódio de terror em Boston, EUA, nação com o maior e mais poderoso estoque de armas do planeta, que no caso das bombas caseiras acomodadas em panelas de pressão de nada serviram, relembre-nos o malogrado sequestro de um avião da extinta Vasp, nos idos de 1988. Como diz o articulista, a intenção do terrorista tupiniquim desempregado (sic) era lançá-lo contra o Palácio do Planalto. Como se sabe, não lançou, foi preso e… desapareceu. Por outra, não é de se pressupor que, à época, caso as Forças Armadas tivessem modernos e poderosos mísseis, os responsáveis pela segurança teriam recorrido à injustificável derrubada do Boeing 737, levando à morte algumas dezenas de passageiros. Até porque a aeronave sequestrada foi seguida por um jato da FAB armado e capaz de abatê-la no momento em que desejasse, porém incapaz de tão belicoso e inconsequente ato.
Fronteiras extensas, distantes e abandonadas
Enfim, neste mundo apocalíptico, a um país que acaba de empregar mais de 24 bilhões, de acordo com a mais recente edição da revista Veja (infelizmente sem a especificação do quantum desviado), na construção de estádios de futebol ? doravante denominados “arenas”, outra exigência da Fifa? ? e da melhoria da estrutura urbana das cidades: alargamento de avenidas, ônibus especiais, metrôs, VLR, monotrilhos e VLTs, espécie de bondes melhorados (obras que certamente não ficarão prontas), em detrimento da saúde pública, da educação e da segurança interna, não se pode negar às Forças Armadas Brasileiras o direito e o dever de possuir as armas necessárias à proteção do país. E um bilhão a mais não fará diferença ao erário, só aos contribuintes.
Consequentemente, que venham os mísseis, de todos os alcances, e suas ogivas de alto poder destrutivo. Contudo, prioritariamente destinadas à proteção das extensas, distantes, desabitadas e abandonadas fronteiras do país. Hoje, porta aberta ao tráfico de armas para os bandidos que infestam e infernizam as cidades e à entrada de todo tipo de contrabando, incluído o de seres humanos em busca de um futuro melhor.
Ah! Sua Santidade, o papa Francisco, poderá contar com proteção semelhante ou até maior que a oferecida aos jogadores de futebol e aos cartolas acompanhantes.
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J.M. Leitão é médico, Brasília, DF