Crítica interna

‘30/03/07

Hoje não circulará a Crítica Interna.

A Folha mudou a manchete para destacar a decisão da Justiça Eleitoral: ‘TSE decide que mandato de deputado é do partido’. A Edição Nacional começou a rodar com o resultado do laudo da Polícia Federal: ‘Valerioduto usou dinheiro público, afirma laudo da PF’. Embora sem tantos detalhes quanto os de hoje, o jornal já havia dado a notícia do resultado do laudo da Polícia Federal em 11 de janeiro, ‘Agência do mensalão recebeu pagamentos suspeitos, diz PF’.

‘Estado’ e ‘Globo’ seguem com a crise nos aeroportos. O ‘Estado’ parece cético: ‘Lula volta a dar prazo para fim do caos aéreo’. O jornal reproduz as várias promessas e exigências do presidente desde o ano passado. Na capa interna é mais explícito: ‘Lula exige fim de apagão. De novo’. No ‘Globo’, ‘Lula exige ‘dia e hora’ para fim do caos aéreo’. O jornal do Rio também destaca na Primeira Página a compra da Varig pela Gol e o ‘domínio dos vôos Rio-SP’. Na Folha, chamada menor, a previsão de que ‘Greve da PF deve piorar situação nos aeroportos’.

O ‘Estado’ deu com destaque, junto à manchete, resultado de pesquisa que indica que ‘Renda melhora e 8 milhões deixam as classes D e E’. A Folha tinha, mas não deu destaque nem internamente.

Era um amistoso, o Brasil jogou mal, o resultado foi um magro 1 x 0 _e ainda assim a foto do alto da Folha, nada excepcional, é de um jogador da seleção brasileira de futebol. Jornalisticamente não se justifica. A destacar esporte, a foto de Michael Phelps – pela foto e pela importância da notícia – fazia mais sentido.

A Folha informou ontem que o ministro Walfrido dos Mares Guia estava ajudando a formatar, com o líder do governo, os acordos de permuta de emendas parlamentares entre novos e ex-deputados. Hoje, no entanto, o jornal informa que o ministro vetou ontem a tal fórmula. É até possível que ele viesse articulando e tenha recuado. Mas como saiu ficou parecendo que o jornal errou na edição de ontem, embora sem reconhecê-lo.

Não é possível saber, nos exemplares que li, desde quando o sapo-cururu gigante começou a se disseminar na Austrália (Ciência, A13).

Segundo a capa de Dinheiro, ‘Empresas dobram captação no exterior – Enquanto governo e bancos buscaram menos mercado externo em 2006, companhias privadas elevaram captação em 105%’. As tendências detectadas são boas ou ruins para a economia brasileira? É bom ou ruim que as empresas brasileiras captem mais no exterior?

É o tipo de texto que exige alguma análise (um parágrafo que seja) sobre o que significam aqueles números para a economia.

Embora o título da página B8 informe que ‘Para consumidor, imposto e corrupção travam economia’, o infográfico ‘Fatores ao entreve do crescimento, em % das respostas’ não contempla o fator ‘corrupção’. Ficou confuso.

Participo amanhã de almoço na Folha, em São Paulo. Por esta razão não será feita a Crítica Interna.

A manchete da Folha cobra do governo Lula a ampliação do programa Bolsa Família: ‘Burocracia deixa 330 mil sem receber Bolsa Família’.

É um levantamento da Folha e tem o mérito de mostrar a dificuldade que o governo está tendo para estender o programa a todos que necessitam. Mas o jornal não noticiou a informação que está na Primeira Página do ‘Estado’: ‘Dilma [Roussef] assume o Bolsa-Família e vai controlar as presenças’. A decisão, segundo o jornal, foi tomada em reunião ontem no Planalto com o presidente Lula. Caso seja confirmada, é uma informação relevante.

‘Estado’ e ‘Globo’ destacam a crise nos aeroportos: ‘Cumbica ficou um mês com sistema de pouso inoperante’ (‘Estado’) e ‘Aeronáutica é culpada por nova pane, conclui infraero’ (‘Globo’). Na Folha, o assunto mereceu uma boa foto e o registro: ‘Equipamento de Cumbica volta a operar’.

Superfaturamento tem a ver com cobrar mais do que o devido e está associado a desvio de dinheiro público _principalmente no noticiário político marcado por denúncias de corrupção. Por isso, me parece inadequado (além de incompreensível) o título da página A5, ‘Porta de saída do programa é superfaturada’. Em se tratando de reportagem sobre política pública, faz parecer que há fraude ou crime, quando a reportagem se refere apenas a problemas burocráticos do programa social.

O novo ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, não apenas nega as acusações que vem recebendo (‘Nascimento é alvo de suspeita de fraude eleitoral’, A6 da Edição SP) como tenta justificá-las uma a uma no anúncio que mandou publicar em vários jornais (na Folha, na página A7). O texto do jornal, que reproduz as denúncias, deveria também ter contemplado as versões do ministro para cada acusação que rebate. O ‘outro lado’, no caso, não poderia se restringir a um genérico ‘ele nega as acusações dizendo que elas são feitas pelos adversários políticos’. O que interessa saber é se as suas explicações são convincentes ou não. Para julgá-las, o leitor da Folha precisa ler o anúncio pago.

Está desequilibrada a reportagem ‘Setor privado quer mudar lei sobre cotas’ (B11). Ali praticamente só está contemplado o ‘setor privado’, com os balões-de-ensaio da Fiesp e da Febraban e uma funcionária que concorda com a ‘flexibilização’ da lei sobre cotas. O ponto de vista contrário tem apenas um curto registro, do Ministério Público do Trabalho, o que impediu o desenvolvimento dos argumentos contrários à flexibilização.

Como o próprio título já adianta, o texto ‘Para polícia, viúva de milionário é a mandante do crime’ só tem uma fonte, a polícia. Segundo o jornal, até o fechamento da Edição SP a reportagem não havia conseguido ouvir os advogados da acusada. Ainda há tempo para que sejam ouvidos.

A Folha teve dois dias seguidos de manchetes a partir de pesquisa do Datafolha. As de hoje registram as avaliações dos governos paulista e paulistano: ‘Governo de Serra tem aprovação de 39%’ e ‘Cresce rejeição a gestão Kassab’. Ontem, a avaliação de Lula acabou ofuscada pela revelação de que a ‘Violência passa desemprego como principal preocupação’ dos brasileiros.

Hoje, no ‘Estado’, ‘Receita mantém 1 milhão de contribuintes na malha fina’; no ‘Globo’, ‘Número de foragidos já é maior do que o de presos’.

Segundo o ‘Globo’, foi afastado um gerente executivo da Petrobras que estava emprestado à BR e é acusado de vazamento de informação no caso da compra da venda do grupo Ipiranga.

O que a nota ‘Setor automotivo afirma não querer mais acordo bilateral’ está fazendo em Brasil (A6)? Não é economia (Dinheiro)?

E o que o levantamento ‘PT e PMDB agora miram bancos estatais’ está fazendo em Dinheiro (capa)? Não é política (Brasil)?

O caderno Imóveis de ontem tem uma reportagem interessante, que também poderia estar em Cotidiano – ‘Operação urbana breca casas’ (capa e página 2). A apuração, no entanto, ficou pela metade. O jornal teria condições de fazer uma melhor avaliação da operação urbana se trouxesse duas informações básicas: quanto foi arrecadado com a venda de Cepacs (Certificados de Potencial Adicional de Construção), criados para custear os investimentos públicos em áreas de operação urbana, nos bairros mencionados, e quanto foi gasto de fato pela prefeitura nestes bairros.’