Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Brasil é mercado que
mais cresce para o Google


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 11 de abril de 2007


INTERNET
Renato Cruz


Google aposta no Brasil para diversificar receita


‘Eric Schmidt, presidente mundial do Google, disse ontem que resolveu visitar São Paulo uma semana depois de Orkut Buyukkokten, gerente do Google que criou o site que leva o seu nome, porque o engenheiro de software é uma celebridade e seria difícil competir pelas atenções. A brincadeira faz parte da imagem descontraída que a gigante da internet procura passar ao mundo, evitando ocupar o espaço que era da Microsoft como o gorila de 350 quilos a ser temido. ‘Não somos perfeitos’, admitiu. ‘Mas, quando cometemos erros, procuramos corrigi-los rapidamente.’


Com fortuna pessoal de US$ 4,8 bilhões, segundo a revista Forbes, Schmidt visita o Brasil pela primeira vez. Depois de São Paulo, irá para Belo Horizonte, onde o Google tem um centro de pesquisa e desenvolvimento. ‘O Brasil é o mercado que mais cresce para o Google’, afirmou o presidente da empresa. ‘Nossa equipe de funcionários aqui deve crescer mais rápido que a empresa.’ A subsidiária brasileira do Google tem cerca de 100 funcionários.


O entusiasmo que o Google mostra pelo Brasil faz parte da estratégia da empresa para diversificar suas fontes de receita, ainda muito concentrada no mercado publicitário americano. No ano passado, a empresa faturou US$ 10,6 bilhões. ‘Entre 97% e 98% da receita veio de publicidade’, apontou Schmidt. ‘A receita fora dos Estados Unidos está entre 43% e 44% do total. Esperamos que, em breve, mais da metade venha do exterior.’ Apesar de a maioria da receita publicitária vir da rede, o Google já tem experiências com venda de anúncios para outros meios, como o rádio, a televisão e o impresso. ‘Ainda estamos aprendendo como funciona, mas planejamos trazer para o Brasil’, disse o executivo.


Com a digitalização, a internet se torna plataforma de distribuição de todo o tipo de conteúdo, o que transforma o Google em concorrente de outros meios de comunicação. Como fica o relacionamento com os meios antigos? ‘Antes de tudo, não os chamamos de meios antigos’, destacou Schmidt. ‘Existe um espaço grande para parcerias’. A empresa de internet havia sido processada pela Agência France Presse, com quem fechou um acordo, e enfrenta a Viacom, dona da MTV, nos tribunais.


Ao ser perguntado se a venda de conteúdo, como música e vídeos, seria uma alternativa para diversificar as fontes de receita, Schmidt disse que o Google não planeja investir na produção de conteúdo. ‘Nós podemos funcionar como um intermediário, pondo o produtor em contato com o usuário final.’


Um mercado promissor são os celulares. Existem 2,7 bilhões de telefones móveis no mundo, comparados a cerca de 1 bilhão de internautas. E o celular do Google, confirmado por alguns executivos da empresa? ‘Viu que outros executivos negaram? Não temos nada para anunciar.’’


TELEVISÃO
Beth Néspoli


Apostando no teatro para inovar na TV


‘A vitalidade do teatro paulistano pode contaminar a televisão e inovar a linguagem da ficção em TV desgastada pelo formato telenovelas. Essa é a aposta de um projeto piloto de teledramaturgia realizado em parceria entre a TV Cultura e TV Sesc TV lançado ontem em entrevista coletiva no Teatro Sesc Anchieta. Com orientação artística de Antunes Filho e coordenação do Núcleo de Dramaturgia da TV Cultura, 16 diretores teatrais (leia ao lado) foram convidados para gravar peças teatrais. Cada um deles escolheu o texto a ser gravado, o elenco, a forma de gravação – em estúdio ou externas – e será responsável ainda pela edição dos programas que vão ao ar, acrescidos de um making of de 15 minutos, entre julho e agosto.


‘Serão programas piloto’, disse Antunes Filho ontem, no saguão do Teatro Sesc Anchieta onde a coletiva foi realizada. ‘A necessidade de buscar um nova linguagem na TV foi o principal estímulo para a retomada do Núcleo de Dramaturgia da Cultura, extinto há 30 anos’, disse Analy Alvarez, coordenadora do núcleo. Antunes fez uma lista de nomes de diretores e Analy selecionou os 16. ‘Escolhemos diretores de teatro; essa era a condição, porque são donos de seu trabalho. E, dentre eles, essa moçada que vem revolucionando a cena paulista. Os que se adaptarem ao formato vão fazer depois os grandes teleteatros, de 1h 30 de duração, que serão exibidos em novembro e dezembro’, antecipou.


‘Cabe à TV pública fazer novas experiências de linguagem. Tenho certeza de que as inovações decorrentes desse projeto de teledramaturgia vão contribuir para a melhorar a dramaturgia também da TV comercial’, aposta Marco Mendonça, presidente da Fundação Padre Anchieta. O diretor do Sesc Danilo Santos Miranda antecipou que, além de também exibir os teleteatros, a TV Sesc vai criar um programa especial para debater questões ligadas ao teatro. ‘Aí a participação de Antunes será mais efetiva’, disse. Segundo Antunes, os programas piloto são ‘testes para ver se os diretores se enquadram na linguagem da TV’. Mas não foi possível descobrir se ele será o responsável pela avaliação de resultados. ‘É como tocar piano; é fácil ver se o cara sabe ou não; você vai olhar e ver se deu certo’, insistiu Antunes sem dar uma resposta efetiva.


Num programa que aposta no risco, a possibilidade do erro tem de existir. Qual o limite? ‘Esse projeto é via de mão dupla’, disse Rodolfo García Vazquez, diretor de Os Satyros. ‘Ninguém está pedindo favor a ninguém. Se fomos chamados é porque o teatro está se permitindo experimentar. Se resolverem nos enquadrar, vamos pular fora. Não fomos chamados para fazer novelão.’


Três programas já foram gravados – os dirigidos por Marco Antônio Braz, Samir Yazbek e Rodolfo García Vazquez.


A VOZ DOS DIRETORES


‘A TV precisa do público – uma relação comercial. Se a formação no País fosse melhor, aumentaria o nível de exigência e sua estrutura aberta funcionaria. Daí a importância desse espaço livre para a experimentação, para o olhar agudo sobre a realidade de um Plínio Marcos, para uma outra formulação artística, sem a padronização das novelas. O público não vai poder mudar o final da peça.’


MARCO ANTÔNIO BRAZ


‘A proposta de linguagem da teledramaturgia é muito interessante, mas acabou se restringindo ao formato de novelas. O que faltava era espaço para veicular peças na televisão. Graças à TV Cultura foi possível realizar esse regaste, proporcionando ao teatro encontrar mais um meio de produção para sobreviver. É uma oportunidade única, pois não temos que nos preocupar com o retorno do Ibope, se estamos ou não agradando aos patrocinadores.’


ANDRÉ GAROLLI


‘Qorpo Santo na TV é dar voz a quem não tem voz. A importância do programa está no seu caráter de liberdade experimental, nessa experiência de expansão da fronteira do que é conhecido na TV. Como criança, numa brincadeira muito séria, quero experimentar as possibilidades de olhar com três câmeras. Na Cultura encontrei uma equipe disposta a errar com a gente. Finalmente um espaço garantido para a possibilidade de um fracasso absoluto, desde que a gente tenha experimentado para valer.’


GEORGETTE FADEL


‘Nós vamos aprender alguma coisa fazendo televisão, mas a televisão também vai aprender com a gente. E se tentarem nos enquadrar, caímos fora.’


RODOLFO GARCÍA VÁZQUEZ


Os Escolhidos


MARCO ANTÔNIO BRAZ


Quando as Máquinas Páram, de Plínio Marcos


SAMIR YAZBEK


Vestígios, de Samir Yazbek


RODOLFO GARCÍA VÁZQUEZ


Porta-Retrato, de R. G. Vázquez


GEORGETTE FADEL


Hoje Sou Um, Amanhã Sou Outro, de Qorpo Santo


MARIA THAÍS


Os Cegos, Ghelderode/Maeterlink


ANDRÉ GAROLLI


Zona de Guerra, de E. O’Neill


DÉBORA DUBOIS


O Cego e o Louco, Cláudia Barral


MAUCIR CAMPANHOLI


Luz da Outra Casa, Pirandello


BETH LOPES


Duas Histórias, de F. Hernández


FRANCISCO MEDEIROS


Homeless, de Noemi Marinho


BETE DORGAM


Orinoco, adaptação B.Dorgam


SÉRGIO DE CARVALHO


Valor de Troca, Sérgio de Carvalho


SÉRGIO FERRARA


Encontro das Águas, de S. Roveri


PEDRO PIRES


O Espelho, de Pedro Pires


MÁRIO BORTOLOTTO


Billy, a Garota, de Bortolotto’


Etienne Jacintho


Vale Tudo de volta


‘O bar Puri, na Rua Augusta, prepara-se para receber, na sexta-feira, mais uma festa Fim de Novela, comandada pelos DJs Paulo Cabral, G-Há e Bispo, proprietário da casa. A idéia começou com o fim de Belíssima, novela de Silvio de Abreu, no ano passado. Os noveleiros e baladeiros lotaram o local para acompanhar o destino de Bia Falcão (Fernanda Montenegro) e vibraram ao vê-la com o garotão Cauã Reymond. O mesmo público bradou: ‘Tsunami’, ao ver o casal sem sal Glória Pires e Tony Ramos juntos em uma praia da Grécia.


Depois veio a reunião para o fim de Páginas da Vida, de Manoel Carlos, este ano. Mas não havia clima de despedida, já que o mote da festa era ‘gritar um belo ufa de libertação’.


Desta vez, a festa será nostálgica. Serão apresentados os dois últimos capítulos de Vale Tudo, novela de Gilberto Braga, de 1989. Após a exibição no telão, o DJ e autor Paulo Cabral tocará apenas músicas que foram temas de novelas.


Fim de Novela – Dia 13, às 20h30. DJs: Paulo Cabral, G-Há e Bispo. Puri – Rua Augusta, 2.052. Reservas: 3081-8689. Entrada: R$ 6′


Cristina Padiglione


Cantoras do grupo Antônia se separam


‘Na segunda temporada da série Antônia, co-produção da Globo com a O2 Filmes, as meninas conhecem um pouco do sucesso e, com ele, a cobiça que leva tantas bandas à separação. Assim, as cantoras se separam lá pelo quarto episódio, para se reconciliarem no quinto e último, claro, como convém a um enredo que poderá ter continuação no ano que vem.


As gravações na Brasilândia com presença de elenco começam em junho, tendo à frente as mesmas Leilah Moreno, Negra Li, Cindy e Quelynah.


entre-linhas


Faustão conseguiu 25 pontos no ibope e 43% de participação no último Domingão, o melhor índice de 2007.


O Pânico, ainda anteontem, alcançou 7,6 pontos de média e 15 de pico na RedeTV!, seu melhor resultado na faixa das 20 h.


Visto aqui via GNT, o chef Gordon Ramsay, que comanda a Hell’s Kitchen e leva os participantes de seu reality show às lágrimas, foi considerado o homem mais admirado da Inglaterra pela revista Esquire. O GNT estreará Ramsay’s Kitchen Nightmare, nova atração do chef, no dia 26, às 22h30.’


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 11 de abril de 2007


INTERNET
Paula Leite


Para o Google, internet no celular é o futuro


‘O Google ganha dinheiro com as propagandas on-line exibidas quando alguém faz uma busca na internet, mas Eric Schmidt, presidente da empresa, dá a dica: cada vez mais, nos próximos anos, as buscas vão ser feitas no celular, não no computador.


‘O mercado de celular no Brasil é maior que o mercado de internet, e isso é verdade no mundo como um todo também. Os usuários de celular também estão aumentando em número mais rápido que os usuários de computador. Isso nos diz que a a maior parte do uso da internet no futuro vai vir dos usuários de celular. É só seguir o mapa’, diz Schmidt.


O presidente da empresa dona do site de buscas mais usado do mundo diz que o Google vai apostar no mercado dos aparelhos móveis. ‘Estamos construindo capacidade de busca e outros aplicativos para celular’, diz ele, que dá como exemplo o Google Maps.


Segundo Schmidt, há operadoras nos EUA que oferecem aparelhos de celular com GPS integrado e com o Google Maps, que pode mostrar no mapa ou na imagem de satélite, na telinha, o local onde a pessoa está. ‘É inacreditável. Eu acho que esse é o futuro’, diz ele.


O executivo está no Brasil para conversar com clientes, funcionários do Google e pessoas do governo e falou à imprensa na tarde de ontem.


Como não poderia deixar de ser, Schmidt também falou dos serviços do Google mais populares no Brasil -o Orkut e o YouTube.


Respondendo a pergunta sobre se o Google vai colocar mais anúncios nos dois sites, disse que ‘eventualmente vamos ganhar dinheiro com o Orkut e com o YouTube. Agora, o mais importante é construir a comunidade’.


Schmidt diz também que está em estudo a possibilidade de pagar aos criadores de conteúdo colocado no Orkut e no YouTube. ‘Sim, [teremos isso,] mas não agora.’


Busca


O carro-chefe de receitas do Google, a venda de anúncios, vai ser diversificado, afirma o executivo.


A empresa vai colocar mais anúncios em aplicativos para empresas, como o Google Apps (pacote de software baseado na web), e também vender mais propaganda fora da internet -o Google vende anúncios no rádio e em jornais nos EUA.’


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Empresa quer aumentar sua presença no país


‘Para além do Orkut, o Brasil é importante para o Google. A empresa deve contratar mais gente para seus escritórios em São Paulo e Belo Horizonte e deve ter em breve um centro de computação no país, que é o maior mercado da empresa na América Latina, diz Eric Schmidt.


O executivo diz que o Google já tem ‘algumas centenas’ de funcionários no Brasil, número que deve crescer com a contratação de engenheiros e pessoas nas áreas de marketing e recursos humanos.


A empresa não divulga a localização de seus datacenters, onde ficam seus servidores.


No entanto, Schmidt diz: ‘Teremos mais e mais datacenters no mundo. Com certeza teremos algum tipo de centro de computação no Brasil. Exatamente de que tipo vai ser e onde, não vou falar. Conforme cresce a importância do Brasil, é importante que algumas partes do supercomputador Google estejam no Brasil’.


A empresa obtém 42% de sua receita fora dos Estados Unidos, diz Schmidt, número que deve superar 50% em alguns anos.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Guerra comercial


‘Em submanchetes do FT.com ao NYT.com, ‘China ataca EUA’, em reação aos processos abertos nas áreas de cinema, games etc. A China avisou que ‘afetam seriamente’ as relações. O WSJ.com não levou a sério as ameaças chinesas e, mais importante, destacou que o superávit comercial chinês segue em alta -ao contrário do que anunciou Pequim, supostamente para aplacar a onda antichinesa em Washington.


Mas o ‘NYT’ já alerta em editorial contra uma ‘guerra comercial aberta’ em que ‘todos vão perder’.


CHINA NO BRASIL


Do site americano Strategic Forecasting, com informações de ‘inteligência’, à estatal Agência Brasil, passando pela manchete do ‘Valor’ de ontem, a atração geopolítica do dia no Brasil foi a presença do vice das relações exteriores da China. Ele veio ‘avaliar a relação entre os dois países e dar impulso à cooperação’.


E NA AMÉRICA LATINA


O site da ‘Economist’ adiantou longa reportagem sobre a ‘crescente relação de energia’ da China com a América Latina. O país investe em acordos com a Petrobras e em infra-estrutura, o que ‘indicaria que vê o Brasil como fonte mais conveniente, mas gastos crescentes na Venezuela podem diversificar as fontes’.


‘SHOWDOWN’


A Venezuela marcou para 1º de maio um ‘showdown’, um confronto ou hora de mostrar as cartas, com as empresas de petróleo ocidentais, entre elas as duas gigantes americanas, Exxon Mobil e ConocoPhilips.


É o que anuncia o ‘New York Times’, em um título gritante -e com avaliações na linha ‘Hugo Chávez é uma ameaça maior à segurança energética da América do que Saddam Hussein jamais foi’. E também com foto de Chávez junto ao presidente do Irã. Dia 1º é o prazo do ‘plano ambicioso de retomar o controle de grandes projetos de petróleo’.


E ontem, diz a AP, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, falando sobre Chávez, afirmou que ‘os EUA têm uma agenda positiva para a América Latina, e não é em resposta à agenda negativa de ninguém contra os EUA’.


ACORDO LIMITADO


Do indiano ‘Economic Times’ às agências de notícias por todo lado, fala-se em Rodada Doha uma vez mais.


Mas o ‘WSJ’ avisa em dois textos que, se tanto, as conversas vão resultar num ‘acordo limitado’ ou, pior, em mais ‘declarações otimistas’ na saída do G4 (EUA, Europa, Brasil e Índia). O jornal responsabiliza a política ‘especialmente nos EUA e França’.


OBJETIVO MODESTO


A agência Reuters registra, em despacho desde Washington, que representantes da indústria dos EUA vêm ao Brasil nesta semana para tentar convencer a Fiesp a abraçar um ‘esforço por profundos cortes nas tarifas industriais’, na Rodada Doha. Noutro despacho, da Índia, ‘uma fonte industrial’ previu avanço em ‘produtos específicos’, nada demais, ‘objetivo modesto’.


Nas páginas iniciais dos EUA, as jogadoras e sua treinadora, esta em lágrimas, atacadas pelo radialista


RACISMO LÁ


Não é de hoje que Don Imus, radialista conservador de Nova York, de emissora AM da CBS, reproduzido também pelo canal MSNBC, recorre a tiradas preconceituosas.


Mas ele exagerou e, quarta passada, chamou as jogadoras de basquete de uma universidade de ‘nappy-headed ho’s’, putas de cabelo pixaim, em tradução livre. Pediu desculpas, a CBS pediu desculpas, até a NBC, dona do MSNBC -e parecia que a coisa, mais uma vez, seria esquecida. Não foi. Por insistência da concorrente CNN e reação um pouco tardia, mas vigorosa, do ‘NYT’ e do ‘Washington Post’, ele tem chances de não escapar dessa se dizendo politicamente incorreto.’


FRANÇA
Cíntia Cardoso


França leva à TV campanha eleitoral austera


‘O horário eleitoral gratuito da campanha para a Presidência da França começou nesta semana com a promessa de oferecer aos eleitores uma abordagem mais dinâmica.


Pela primeira vez, os candidatos tiveram a liberdade de escolher a locação das filmagens -nos pleitos anteriores era obrigatório usar os estúdios da Rádio França- e os filmes produzidos para a TV poderão contar com recursos de edição como a inserção de imagens de arquivo, de cenas de comícios dos candidatos e de trilha sonora.


De acordo com o Conselho Superior do Audiovisual, que regulamenta a propaganda política na França, o objetivo é tornar as inserções televisivas e radiofônicas mais ‘interessantes’ e atraentes.


Apesar das inovações, o resultado da campanha nas telas continua bastante austero. Nada de jingles nem de grandes recursos cênicos. A maioria dos 12 presidenciáveis optou por dirigir a sua mensagem ao eleitorado de forma tradicional -um fundo discreto com foco no rosto do candidato e com um discurso legendado para atender às necessidades dos deficientes auditivos.


Nos vídeos ou nos programas de rádio, não há a utilização da ‘Marselhesa’, hino nacional, nem a exibição da bandeira do país. Essa já não é uma escolha dos candidatos, mas imposição da legislação eleitoral francesa, que está entre as mais rígidas da Europa. Nas ruas, os cartazes, de tamanhos iguais, concentram-se diante dos prédios que servirão de zona eleitoral.


Essa rigidez é criticada por publicitários, que julgam que a forma de veiculação da propaganda política em moldes quase soviéticos afasta sobretudo a parcela mais jovem do eleitorado. ‘Não vi grandes mudanças no horário eleitoral. Continua morno, ‘quadrado’, com as mesmas promessas de sempre. Não me animei’, disse a estudante Olivia Confiac, 21.


A duas semanas das eleições, 42% dos eleitores franceses estão indecisos, segundo sondagem do jornal ‘Le Parisien’. O início do horário gratuito é visto como uma possibilidade de diminuir esse percentual.


A premissa da atual campanha é oferecer a todos os postulantes à cadeira presidencial as mesmas chances. Todos os 12 candidatos, seja o líder das pesquisas, o conservador Nicolas Sarkozy, seja o desconhecido Frédéric Nihous, do partido Caça, Pesca, Natureza e Tradição, têm direito ao mesmo tempo no horário eleitoral gratuito. Ao todo, são 45 minutos diários apresentados em módulos ao longo da programação das televisões e rádios públicas. Os programas podem durar de um a cinco minutos e serão exibidos até 20 de abril, dois dias antes do primeiro turno.


Orçamentos desiguais


Ter o mesmo tempo de exposição não significa, necessariamente, que a qualidade dos programas é semelhante. Apesar do sistema de financiamento público das campanhas, as verbas são proporcionais ao tamanho dos partidos. Na tela, é visível essa disparidade de recursos financeiros.


À frente nas sondagens de intenção de voto, Sarkozy se dirige aos eleitores com um fundo que imita um céu com nuvens, pássaros; o seu slogan de campanha: ‘Juntos, tudo se torna possível’. O candidato mostra imagens suas ao lado de deficientes físicos, idosos, operários e estudantes, com fundo musical instrumental.


Ségolène Royal, do Partido Socialista, em segundo lugar nas pesquisas, também usa um cenário com fundo celeste. Ela se apresenta aos eleitores como ‘mulher e mãe de quatro filhos’ e destaca os feitos da sua carreira política desde o tempo em que foi conselheira do presidente François Mitterrand, nos anos 80. Para ilustrar a sua trajetória política, utiliza fotos do seu arquivo pessoal.


O centrista François Bayrou, o terceiro colocado nas pesquisas, recorre a um tom professoral. Sentado com uma biblioteca ao fundo -Bayrou é formado em letras-, o candidato enfatiza a importância que a educação terá no seu governo.


Entre os candidatos de partidos menores prevalece um certo amadorismo. Esse é o caso do candidato Gérard Schivardi, do Partido dos Trabalhadores, de extrema esquerda. Filmado na praça da República, em Paris, o vídeo termina com Schivardi dizendo ‘Não vão conseguir me calar’, mas durante quase todo o tempo a voz do candidato é encoberta pelo barulho do trânsito.’


EUA / RACISMO & MÍDIA
Denyse Godoy


Jogadoras lamentam comentário racista de locutor nos EUA


‘Depois de uma semana de silêncio, as jogadoras da equipe de basquete da Rutgers -universidade pública do Estado de Nova Jersey- vieram a público ontem dizer o quanto sofreram com os comentários do locutor de rádio Don Imus, que as havia chamado de ‘putinhas de cabelo pixaim’ em seu programa na quarta passada. ‘Ele nos roubou um momento de pura bênção’, afirmou, em entrevista coletiva, a capitã do time, Essence Carso.


A equipe chegou como zebra à final do campeonato da Associação Atlética Universitária Nacional. Perdeu, na noite de terça, para o time da universidade de Tennessee, mas mesmo assim a campanha que fizeram era motivo suficiente de comemoração para as meninas da Rutgers -oito negras e duas brancas. ‘No entanto, quando fomos passar a Páscoa com nossas famílias, o assunto era as observações deploráveis do senhor Imus’, lamentou a jogadora Heather Zurich. ‘O que mais dói nessa situação é que ele não conhece pessoalmente nenhuma de nós.’


‘Ninguém acreditava nessa equipe a não ser as próprias atletas. Elas deram o melhor de si e agora têm que enfrentar isso’, acrescentou a treinadora, Vivian Stringer. ‘São jovens damas de classe, distintas, articuladas, brilhantes, talentosas. Vamos manter nossas cabeças erguidas com dignidade.’


O programa ‘Imus de Manhã’ tem mais de 30 anos. Popular em Nova York, atualmente é transmitido pela estação de rádio WFAN, que faz parte do grupo CBS, e retransmitido pela rede MSNBC. Imus e os outros apresentadores do show são conhecidos pelas piadas de gosto duvidoso -eles já foram acusados anteriormente de racismo, homofobia e misoginia.


Na última segunda, diante dos protestos que surgiram sobre a forma como se referiu às jovens da Rutgers, Imus foi ao programa de rádio do reverendo Al Sharpton -famoso defensor dos direitos dos negros- desculpar-se pelo comentário ‘repulsivo e horrível’. ‘Queria não ter dito aquilo. Perdão’, falou. O locutor pediu ainda para se encontrar com o time de basquete, proposta aceita pelas jogadoras.


A CBS e a MSNBC também decidiram suspender o ‘Imus de Manhã’ por duas semanas a partir do próximo dia 16. A punição pode não ser suficiente, porém, para aplacar a raiva suscitada pelas declarações do apresentador -ONGs feministas e de proteção aos direitos humanos querem que o show seja cancelado.


‘Ofender as pessoas é o padrão desse programa. Vai passar o período de suspensão e ele vai voltar ao ar, dizendo tudo o que sempre disse’, afirmou à Folha Olga Vives, vice-presidente executiva da Organização Nacional pelas Mulheres. ‘Os anunciantes devem reavaliar se querem mesmo apoiar um show que insulta a população afro-americana e as mulheres. É inaceitável.’


Questão ampla


‘Essa história não é apenas sobre uma equipe de basquete. É sobre a vida, sobre preconceito e diz respeito a todas as mulheres. É tempo de refletirmos sobre o que está acontecendo’, pediu Vivian, a treinadora.


Para Rinku Sin, do Centro de Pesquisa Aplicada -especializado em racismo-, é preciso chamar a atenção da sociedade dos EUA para que tais atos não sejam tolerados. ‘Não devemos ignorar essas manifestações, porque isso faz com que elas cresçam’, explicou à Folha. Para ela, apesar de recentes progressos, as instituições do país ainda falham em educar melhor os cidadãos sobre o tema.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Novela da Record discute liberação de droga


‘‘Vidas Opostas’, a novela da Record que vem chamando a atenção por sua abordagem realista da violência, vai atacar um tema tabu na teledramaturgia. Irá discutir a legalização do comércio de drogas como uma saída para reduzir o crime.


No capítulo que vai ao ar no dia 24, líderes comunitários do morro do Torto (o fictício local que sintetiza os morros do Rio) aparecerão travando um diálogo em que defenderão a venda de drogas em farmácias, o que, acreditam eles, acabaria com as bocas-de-fumo e com os traficantes que tanto atormentam os moradores dos morros.


Mas, o autor de ‘Vidas Opostas’, Marcílio Moraes, pretende ir mais longe. Uma das idéias é a TV Atlantis, a fictícia emissora da trama, promover um debate com defensores de diversos pontos de vista.


‘Eu quero abrir essa discussão. Ainda procuro a melhor forma de fazer isso com habilidade para o papo não ficar chato, cheio de discursos’, afirma Moraes, que já abordou em ‘Vidas Opostas’ temas como a corrupção policial e, nesta semana, começa a tratar de milícias.


‘Sou a favor da liberação da venda de drogas em farmácias. Acredito que a proibição causa mais males do que a liberação’, afirma Moraes, para quem um avanço já seria a descriminalização do uso de drogas. Isso evitaria que jovens de classe média sejam submetidos à corrupção policial _a origem de tudo, na visão de Moraes.


TRANSPARÊNCIA A oitava edição de ‘Big Brother Brasil’ terá um estúdio de vidro sobre a casa em que se hospedam os participantes do ‘reality show’. Eventualmente, Pedro Bial apresentará o programa de lá e poderá ser visto pelos ‘brothers’ do jardim.


REBATISMO O programa ‘Late Show’, que Luísa Mell apresenta na Rede TV!, passará a se chamar ‘Late Show Viramundo’. É que a atração já não é mais um programa só sobre animais. Trata também de meio ambiente.


TUDO OITO A reestréia do ‘TV Xuxa’ e do ‘Sítio do Picapau Amarelo’, anteontem, registrou oito pontos no Ibope da Grande SP. Os programas da Globo foram líderes, mas sem muita folga sobre o SBT, ainda vice de manhã.


SEM SOLUÇÃO 1 A Globo continua procurando explicações para a audiência de ‘Paraíso Tropical’, que permanece abaixo dos 40 pontos semanais. Pesquisas com grupos de telespectadores em São Paulo, há duas semanas, mostraram apenas a necessidade de correções pontuais na novela.


SEM SOLUÇÃO 2 Os dados do Ibope também não elucidam muita coisa. O perfil da audiência apresentado pelo instituto mostra que ‘Paraíso’ tem um pouco mais (38% do total) de telespectadores masculinos do que ‘Páginas da Vida’ (35%). Ou seja, há alguma rejeição entre mulheres. Em relação à antecessora, ‘Paraíso’ perdeu um ponto percentual nas classes AB (34%) e C (47%). Conseqüentemente, o peso das classes DE subiu dois pontos, para 19% do bolo.’


Gustavo Fioratti


Antunes Filho volta à TV Cultura


‘A TV Cultura, em parceria com o SescTV, anunciou ontem o resgate de seu núcleo de teledramaturgia, extinto há 30 anos. O projeto, que a partir de julho leva à televisão peças teatrais de autores de várias épocas e nacionalidades, também resgata o trabalho de Antunes Filho na TV. Nos anos 70, Antunes dirigiu uma série de textos originalmente escritos para o palco em ‘Antunes Filho em Preto e Branco’.


No novo projeto, o diretor não assume as filmagens, assina apenas a coordenação, selecionando e orientando os profissionais envolvidos. Atrás das câmeras estão diretores de teatro mais jovens, como Samir Yazbek, Rodolfo García Vázquez e Beth Lopes. ‘Não vi motivos para eu assumir a direção dos trabalhos. Queria dar espaço para essa turma que está tinindo por aí. Preferi continuar com as minhas besteiras no teatro’, brincou Antunes.


Cada um dos 16 episódios tem uma hora de duração e junta dois espetáculos. A expectativa da direção da TV Cultura é que o projeto se estenda, com outros nomes das artes cênicas. ‘Estamos chamando vulgarmente essas peças de pilotos, porque tenho certeza de que podemos criar uma série de outros trabalhos’, diz Analy Alvarez, coordenadora do núcleo de dramaturgia da TV Cultura e idealizadora do projeto.


Liberdade


Textos e elenco de cada trabalho foram escolhidos pelos diretores selecionados por Antunes e por Analy e não seguem um estilo de linguagem, nacionalidade ou época. ‘Dei liberdade total a eles’, diz Antunes.


Yazbek, por exemplo, escreveu um texto especialmente para o projeto: ‘Vestígios’, sobre jovem que viaja para o interior do país para cuidar dos negócios de seu falecido pai. Marco Antônio Braz recorre à obra de Plínio Marcos, encenando ‘Quando as Máquinas Param’, história de um jovem casal desolado diante de uma cruel realidade econômica e social; e André Garolli leva à TV texto já encenado por ele no teatro, ‘Zona de Guerra’, de Eugene O’Neill, sobre grupo de marujos em conflito por conta de uma misteriosa mala.


‘Finalmente quebramos o divórcio que houve entre teatro e televisão’, afirma Danilo de Miranda, presidente do Sesc. Para justificar essa separação de 30 anos, na TV Cultura, Marcos Mendonça, presidente da fundação Padre Anchieta, explica: ‘Acredito que a televisão comercial saiu na frente, tomou conta da teledramaturgia, se equipando, contratando profissionais do mais alto gabarito, se modernizando’.’


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