Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Governo vai limitar a
propaganda de cervejas


Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


************


Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 12 de abril de 2007


PUBLICIDADE
Marta Salomon


Anvisa restringirá propaganda de cerveja


‘O bilionário mercado das cervejas está na mira das novas regras para a propaganda de bebidas alcoólicas que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) prepara para aprovar nas próximas semanas, um ano e cinco meses depois de a primeira proposta de restrições à publicidade ser lançada a consulta pública.


Além de sofrer limites nos horários de veiculação no rádio e TV -ficaria proibida entre 8h e 20h-, a propaganda de bebidas com mais de 0,5 grau de teor alcoólico nos meios de comunicação em geral (jornais, revista, internet) terá de ser acompanhada por alertas.


Eles associam o consumo de álcool a acidentes de trânsito com vítimas, má-formação de bebês e até ao abuso sexual e episódios de violência, prevê a última versão do regulamento.


São 13 frases de advertência do Ministério da Saúde que deverão substituir o atual enunciado ‘Beba com moderação’. A medida não afeta os rótulos. No caso da televisão, as advertências deverão ser veiculadas, por meio de texto e voz, imediatamente após a mensagem publicitária. As frases também deverão ser veiculadas nas propagandas na internet.


O tamanho das frases vai variar de acordo com a mídia. Em jornais, dependendo do tamanho do anúncio, a frase será grafada em corpo 7 a 12, sempre em letra de cor preta, maiúsculas, sobre fundo branco.


‘Garanto que isso [a votação] ocorre nas próximas semanas’, disse ontem Dirceu Raposo, presidente da Anvisa. A proposta será analisada pela diretoria da Anvisa, mas já há consenso. Há três diretores em exercício -outras duas vagas estão abertas.


Raposo adiantou que a disposição do governo é alcançar, no regulamento, bebidas de menor teor alcoólico, como cervejas e os coolers, consumidos pela população mais jovem.


Atualmente, a legislação que trata de restrições à propaganda não considera cerveja bebida alcoólica, mas apenas os produtos com teor superior a 13 graus, como uísque e cachaça. A lei vigora desde 96 e proibiu a propaganda de bebidas mais fortes entre as 6h e as 21h.


‘O modo como se faz a propaganda é intolerável, a legislação é absolutamente leniente, protege a cerveja; a advertência sobre beber com moderação soa irrelevante’, avalia Pedro Gabriel Godinho Delgado.


Coordenador de saúde mental do Ministério da Saúde, ele acompanha o debate no governo desde o grupo interministerial criado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em maio de 2003 e atualmente coordena o comitê interministerial da política de álcool.


Delgado sugere que o governo está afinado à preocupação manifestada pelo ministro José Gomes Temporão em entrevista à Folha, na segunda. Temporão defendeu mudanças nas regras e previu resistências.


Contestação


Já há sinais de que se travará uma batalha jurídica sobre o tema. Ontem, o Sindicato Nacional da Indústria de Cerveja disse que irá à Justiça caso a regulamentação seja aprovada. A entidade representa um mercado que faturou, em 2006, R$ 22 bilhões. Representantes das empresas de publicidade devem seguir o mesmo caminho.


Os gastos com publicidade são crescentes e põem o setor entre os que mais gastam com anúncios. Segundo informação do Ibope Monitor, em 2006 a categoria ‘cervejas’ investiu R$ 704 milhões, mais do que a venda de automóveis ou de telefones celulares, por exemplo. No ano anterior, o Ibope registrou investimentos de R$ 496 milhões nesse segmento.


Com base em dados de aumento do consumo de bebida e da dependência ao álcool, o presidente da Anvisa insiste em que o regulamento não deve se limitar às bebidas de maior teor alcoólico, como prevê a atual legislação. ‘Temos de regulamentar para a sociedade, é uma questão de saúde pública’, disse, ponderando sobre interesses contrariados do mercado.


Em defesa da regulamentação, Raposo apresenta dados da consulta pública lançada em novembro de 2005. Das 157 contribuições que a agência recebeu, 51 defenderam a proibição total da publicidade de bebidas alcóolicas e 58 apoiaram limites à propaganda.


As novas regras entram em vigor 180 dias depois da aprovação do regulamento pela diretoria da Anvisa – período que a indústria, as agências de publicidade e os meios de comunicação terão para se adaptar às novidades.’


Daniela Tófoli


Cervejarias pretendem recorrer à Justiça


‘O Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja vai recorrer à Justiça caso a nova regulamentação da propaganda de bebidas, feita pela Anvisa, seja aprovada. As representantes das empresas de publicidade também devem seguir o mesmo caminho.


De acordo com o superintendente do sindicato, Marcos Mesquita, apenas uma lei federal poderia mudar as regras para a publicidade do setor.


‘Independentemente do grau de rigor que vier a constar de atos administrativos, nos restará o caminho natural de recorrermos ao Judiciário para resguardar o que julgamos ser nosso direito líquido e certo.’


O sindicato defende que a publicidade de cervejas permaneça submetida a auto-regulamentação e que seja mantida a liberdade constitucional das empresas de promover seus produtos e informar corretamente ao consumidor quais as características de cada marca em relação às concorrentes.


A entidade informa não ter dados sobre os gastos das cervejarias com propaganda nas TVs, mas confirma que esse tipo de mídia é preferência das empresas de produtos de consumo popular, como cervejas.


Segundo as novas regras, a propaganda na televisão seria permitida entre as 20h e as 8h e deveria ser seguida por mensagens de advertência como aquelas que são veiculadas na publicidade de cigarros. Uma das frases citadas é ‘Álcool causa mais da metade dos acidentes com vítimas’.


A Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade) também é contra a regulamentação. ‘Entendemos que a veiculação de propagandas durante o dia não estimula menores a beber e que frases de advertência não causam contenção de consumo’, diz Paulo Gomes de Oliveira Filho, do departamento jurídico da associação.


‘Ainda não sabemos como vamos proceder judicialmente, mas entendemos que a Anvisa não tem poder de legislar e queremos que a lei seja cumprida’, completa. A Abap também não divulga dados sobre gastos das cervejarias relativos à publicidade em televisão.


A mesma interpretação é feita pela Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão). ‘Qualquer mudança deve ser feita por meio de uma lei federal’, afirma Daniel Pimentel, presidente da Abert. ‘Vamos avaliar que medida judicial tomaremos.’


O Conar (Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária) decidiu não se manifestar até estudar as normas.


A Folha apurou, porém, que a tendência no conselho é seguir o posicionamento do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja. Para o conselho, leis já em vigor, como a que proíbe a venda de bebidas alcoólicas para menores, deveriam ser cumpridas com o intuito de reduzir o consumo por adolescentes.


Duas interpretações


Advogado da OAB-SP e colunista da Folha, Walter Ceneviva explica que há margem para uma discussão jurídica. Alguns, diz, podem entender que a Anvisa, por ser um órgão federal, tem o poder de regulamentar esse tipo de assunto.


Outros, afirma, podem alegar que a agência é federal mas não pode substituir o poder legislativo. ‘Não há orientação sobre o assunto. Na minha opinião, há margem para duas interpretações. A Justiça terá de decidir com base na argumentação dos dois lados.’’


***


Pesquisadores sobre bebida e droga têm visões diferentes a respeito das regras


‘Importantes para um. Ineficazes para outro. Dois dos mais reconhecidos pesquisadores sobre álcool e drogas de São Paulo têm visões diferentes sobre as novas regras formuladas pela Anvisa.


Para Arthur Guerra de Andrade, diretor do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas da USP e presidente-executivo do CISA (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool), as medidas propostas não serão suficientes para reduzir os efeitos nocivos do álcool.


Já Ronaldo Laranjeira, coordenador da Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) da Unifesp afirma que as medidas são necessárias e estão na direção correta. Sua única reclamação está no fato de elas ainda serem um pouco brandas. ‘O ideal seria a permissão [de propaganda na TV] apenas após as 22h. Entre as 20h e as 22h, a maioria das crianças brasileiras ainda está na frente da TV’, diz. ‘A medida é um avanço, mas falta coragem.’ Ele lembra que artigo recente publicado nos Estados Unidos mostra que crianças e jovens são influenciados pelas propagandas e que o direito ao álcool acaba sendo banalizado.


‘Controlar a publicidade ajuda, mas o que dá mais resultado é aumentar o preço das bebidas alcoólicas, muito baratas no Brasil.’’


***


Pesquisa aponta que 65% dos jovens ouvidos bebem com regularidade


‘O principal argumento do governo está nas pesquisas que mostram crescimento no consumo e na dependência ao álcool. O início do consumo do álcool cada vez mais cedo foi confirmado por pesquisa feita em 2004 pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo): 65% de estudantes de escolas particulares entre 14 e 19 anos ouvidos em Brasília, São Paulo e Campinas bebem regularmente.’


Vinícius Queiroz Galvão


Nos EUA, álcool é o produto que mais sofre restrição do mercado publicitário


‘Ao lado do tabaco, o álcool é o produto mais regulado do mercado publicitário dos EUA. A principal preocupação é quanto ao local (e horário) da veiculação da propaganda.


Hoje, a legislação determina que anúncios só podem ser comercializados em espaços e programas em que 70% da audiência tenha mais de 21 anos (a idade legal para beber).


São proibidas ainda propagandas com apelo a jovens menores de 21 anos -como o uso de personagens de desenho animado. A apologia aos efeitos do álcool e ao conteúdo das bebidas também é vetado.


A decisão de aceitar ou não a veiculação da propaganda de bebida é dos meios de comunicação. O tabaco é banido da TV.


A Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês) é regula supostos abusos e descumprimentos da lei.


No Reino Unido, a propagando de álcool é regulada pela Ofcom (sigla em inglês para Escritório de Comunicação) e pela Autoridade de Padrões Publicitários. Em janeiro de 2005, uma portaria baniu a associação do álcool ao sucesso social e ao bom desempenho sexual.


Em conjunto com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a União Européia regulamentou o controle da publicidade de bebidas alcoólicas em janeiro de 2005. Em cinco princípios éticos, o mote é proteger crianças e adolescentes da influência da droga. Há uma legislação, em vigor desde 1989, que regula a veiculação de propagandas nos países-membros.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


De Ribeirão Preto


‘Saiu ontem no ‘Journal of the American Medical Association’, mas ‘Los Angeles Times’ e ‘Wall Street Journal’ conseguiram adiantar em suas edições. ‘Pesquisadores demonstraram pela primeira vez que a progressão do tipo 1 de diabetes pode ser contida e talvez revertida por transplante de células-tronco’, abriu o ‘LAT’. O estudo envolve dez pesquisadores brasileiros, é vinculado à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e foi financiado pelo Ministério da Saúde e laboratórios -até porque, segundo NYT.com e outros, ‘médicos americanos não se interessaram’.


No fim do dia, a informação já atingia inusuais 400 posts no agregador de notícias em inglês do Google.


DE SALVADOR


E Ribeirão Preto ‘não é o único trabalho revolucionário [groundbreaking] com células-tronco no Brasil’. Na primeira página do ‘WSJ’ de ontem e até com vídeo no WSJ.com, sob o enunciado ‘Tratamento de homem pobre’, reportagem especial enviada de Salvador destacou o projeto brasileiro para tratar com células-tronco 1,2 mil doentes com Chagas.


O caso de sucesso destacado no jornal e que motivou o programa é de Bartolomeu dos Santos Reis, que sobreviveu e já voltou a trabalhar.


CHÁVEZ COM LULA?


Começou num despacho da venezuelana Agência Bolivariana de Notícias, na terça, e avançou pela americana Associated Press, pela britânica Reuters, a cubana Prensa Latina, a argentina Telam, com enunciados como ‘Hugo Chávez diz que não vai brigar com Lula por causa dos biocombustíveis’. Nas palavras dele, ‘jamás pelearemos con Lula ni con Brasil’.


Ele espera o brasileiro no domingo, para sua cúpula de energia, que já tem site (dir.) onde se anuncia como um evento da lulista Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa) e também da chavista Alternativa Bolivariana para a América (Alba). E até mesmo do cambaleante Mercosul.


CHÁVEZ E A CHINA


No despacho original da estatal Agência Bolivariana de Notícias, o enunciado não era para Lula e seu programa de biocombustíveis com George W. Bush. Era ‘Chávez propõe um sistema energético latino-americano e caribenho’. É resposta ao acordo de EUA e Brasil, que visa a mesma área.


Não por coincidência, em meio aos confrontos entre Washington e Pequim, outra agência com o enunciado foi a Xinhua, da China -que, como vêm avisando ‘NYT’ e outros, precisa da energia da região, com ou sem o novo ‘sistema’.


NEOCONS E O BRASIL


Com Bush e etanol sob fogo, a revista neocon ‘The Weekly Standard’ achou por bem destacar que a ‘Cooperação de Estados Unidos e Brasil é vencer-ou-vencer’ [win-win], no título para o artigo de um ex-embaixador da Costa Rica. O texto observa a certa altura que Chávez e Fidel Castro, ‘do leito de morte’, só atacam por temer o provável sucesso.


Registre-se também a carta ontem no ‘Washington Post’, de louvor a um artigo de Lula -e assinada pelos líderes democrata e republicano da comissão para as Américas.’


RACISMO & MÍDIA
Folha de S. Paulo


Racismo leva TV a cancelar ‘talk show’


‘A rede de TV a cabo americana MSNBC declarou que não transmitirá mais os ‘talk shows’ do radialista Don Imus.


Imus causou polêmica nos EUA após insultar com comentários racistas, no ar, um time de basquete universitário dos EUA formado em sua maioria por atletas negras.


O locutor chegou a se desculpar anteontem, afirmando ter cometido um erro, mas a atitude não diminuiu as condenações públicas à sua conduta.’


TELECOMUNICAÇÕES
Folha de S. Paulo


Cade analisa hoje compra da TVA por Telefônica


‘O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) vai analisar hoje a reclamação feita pela ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura) contra a compra da TVA, que atua na área de televisão a cabo, pela operadora Telefônica.


O argumento do advogado Pedro Dutra, representante da ABTA, é que o propósito da Telefônica é acabar com as concorrentes que ameacem os espanhóis nos mercados de voz e internet banda larga.’


TV CULTURA
Daniel Castro


Markun reduz medo de intervenção na Cultura


‘A indicação do jornalista Paulo Markun para a presidência da Fundação Padre Anchieta levou alívio à maioria dos conselheiros da instituição, mantenedora da TV Cultura. Havia na emissora o temor de que o governador José Serra (PSDB) indicasse um nome de fora do meio, o que poderia se caracterizar como uma intervenção inédita na TV pública.


Como Markun é apresentador do ‘Roda Viva’, esse temor foi aliviado. Conselheiros da Cultura consideram legítimo o governo indicar o presidente da fundação, que depende de verbas do Estado para se manter. Mas a instituição tem um conselho (45 membros) e uma imagem de independência.


Assim, a movimentação do governo Serra para tirar o atual presidente, Marcos Mendonça, não foi vista como uma atitude arbitrária. Temia-se, entretanto, que o indicado tivesse perfil de interventor/saneador.


Markun tem a aprovação de Jorge da Cunha Lima, presidente do conselho curador da fundação e influente nos bastidores da TV. Lima escreveu em seu blog que ‘o nome de Markun ganhou rápido reconhecimento [no conselho]’.


Embora esteja virtualmente eleito, Markun, oficialmente, ainda nem é candidato. Ele precisa ser indicado por oito conselheiros eletivos, o que já está sendo articulado. A eleição será no próximo dia 7. Tradicionalmente, apenas um concorre ao cargo. Ou seja, não há disputa.


FUTURO 1 A Globo estuda a melhor forma de aproveitar o carisma de Diego Gasques, o Alemão, vencedor de ‘Big Brother Brasil 7’. Já é certo que ele fará parte do elenco da casa. Mas ainda não se sabe em qual função.


FUTURO 2 Na Globo, avalia-se que Alemão mandou bem como ‘ator’ numa encenação de um piquenique, dirigida por Jorge Fernando, para o último ‘Fantástico’. O quadro foi o de maior repercussão popular do programa. Gerou vários telefonemas e e-mails de telespectadores.


ROTINA Nada surpreendente no Ibope o retorno de ‘Casseta & Planeta’ e ‘A Diarista’ à grade da Globo, anteontem à noite. O primeiro marcou 32 pontos e o segundo, 27.


CANTORIA Será gravado nos dias 19 e 20 o primeiro ‘Som Brasil’, programa (mensal) da Globo em que serão interpretados clássicos de grandes nomes da MPB. O primeiro homenageado será Vinicius de Moraes. Gal Costa, Chico Pinheiro e Bossa Cuca Nova serão intérpretes.


REAÇÃO Graças ao filme ‘Jet Li contra o Tempo’ (14 pontos), o SBT reduziu, ao menos por um dia, a diferença que o separava da Record no horário nobre. Na terça, na faixa das 18h à 0h, a Record marcou nove pontos de média e o SBT, oito.


TIA ODETE A atriz Beatriz Segall será apresentadora do ‘Profissão Professor’, produção da Fundação Victor Civita que estréia dia 21 na Cultura.’


TELEVISÃO
Sylvia Colombo


A disputa por Roma


‘O corpo do ditador Júlio Cesar jaz ensangüentado no chão do Senado de Roma. Com as mãos sujas, os responsáveis pelo crime trocam entre si olhares de incerteza e culpa. O filho adotivo Brutus tenta convencer-se de que fez o melhor pela República. O fiel parceiro, Marco Antônio, quer saber o que os traidores planejam fazer agora. Ninguém sabe dizer. Por alguns instantes, a história do Ocidente parece ter parado.


Enquanto a primeira temporada de ‘Roma’ contou a ascensão de César, desde o retorno da Gália até sua morte, em 44 a.C., a segunda, que estréia no Brasil no domingo, às 22h (HBO), começará nesse momento de perplexidade.


Num plano, mostrará a disputa para ocupar o vazio do poder. Noutro, retratará o modo como a cidade se transformou no período, recebendo e exportando influências culturais, crenças e condutas.


A Folha visitou os estúdios da Cinecittá, nos arredores de Roma, onde uma réplica da cidade histórica foi construída para as filmagens. ‘Para nós, era essencial fazer ‘Roma’ em Roma mesmo. Num estúdio norte-americano, nunca teríamos a mesma luz, as mesmas cores, uma atmosfera como a da cidade naquela época’, acredita Bruno Heller, o roteirista britânico da série.’


***


Na TV, Roma é mais sexual e violenta


‘O ex-legionário romano Titus Pullo, de sandálias gastas e roupas puídas, surge, arfando, como se tivesse acabado de sair de uma briga de rua. Senta numa cadeira, puxa a espada e a deposita a seu lado. Já desarmado, pega uma garrafinha plástica de água -invenção bem posterior à queda do Império Romano, mas bastante útil no verão italiano dos nossos dias- e encara um grupo de jornalistas latino-americanos.


O encontro, que parece anacrônico e inverossímil, se explica. Trata-se de uma entrevista de um dos protagonistas de ‘Roma’, co-produção entre a norte-americana HBO e a britânica BBC, para divulgar a segunda temporada do programa.


‘Agora sou um soldado que largou as trincheiras e tenta aprender os códigos da sociedade romana para ter vida normal na cidade’, conta o irlandês Ray Stevenson sobre o destino de Pullo nos próximos capítulos.


Desde o começo de ‘Roma’, o personagem é uma espécie de personificação da busca pelo ‘sonho romano’ (numa analogia ao chamado ‘sonho americano’). Um filho de escrava que se torna herói do exército de César. Finda a guerra, Pullo deixa a legião e tenta se ajustar ao dia-a-dia da metrópole. ‘Dizem que ele é bruto demais, mas trata-se de um homem que vive sob outro código de conduta. Por ser romano, achava que ele era a lei. Como soldado romano, então, via-se como instrumento de implantação dessa lei’, diz Stevenson.


Rigor histórico


O rigor com relação à caracterização da época e aos fatos é um dos principais ingredientes do sucesso de ‘Roma’ até aqui.


A série mais cara da TV, com orçamento de cerca de US$ 100 milhões por temporada, não economiza nos detalhes.


Dentro dos cinco acres que ocupa nos estúdios da Cinecittà estão ruas, casas, o Fórum, praças e passagens escuras da cidade. Além da oficina dedicada a reproduzir moedas, armas, carruagens e outros objetos, há uma verdadeira confecção, que já produziu mais de 4 mil peças de vestuário para o elenco.


Existe, ainda, um assessor militar, Billy Budd, que treinou os atores para lutar como naquele tempo. ‘A técnica da muralha de escudos, na qual os soldados da linha de frente se revezavam com os de trás, permitia que lutassem descansados. Foi o segredo de muitas conquistas de Roma.’


A série traz tramas e personagens ficcionais amarrados ao enredo histórico propriamente dito. O cuidado em não ferir a macro-história, porém, prevalece. Mesmo os que não existiram ‘de verdade’ são construídos a partir de referências biográficas documentadas. Outro foco buscado é a ‘desromantização’ da imagem de Roma. ‘Nos acostumamos a ver no cinema uma cidade organizada, limpa, habitada por pessoas bem-vestidas e de modos suaves’, diz Bruno Heller. ‘Hoje sabemos que não era assim.’ Em ‘Roma’, as ruas são bagunçadas, barulhentas e coloridas. Há, ainda, muita violência e sexo, características de uma sociedade pré-cristã que são garantia de sucesso de audiência hoje. ‘Sem entender esse modo agressivo, físico, dos romanos, é difícil compreender como César pôde ser morto daquele jeito, por exemplo. São características essenciais para entender os rumos daquela civilização’, conclui Heller.


A jornalista SYLVIA COLOMBO viajou a convite da HBO’


***


Criadores da série tentam evitar analogias com os Estados Unidos


‘Tem sido comum ouvir comparações entre Roma e os Estados Unidos dos dias de hoje, por conta de seu predomínio político e econômico no mundo, cada qual a seu tempo.


Para o roteirista Bruno Heller, entretanto, a comparação não cabe. ‘Qualquer potência que predomine por um período é sempre comparada a Roma. Foi assim com a Espanha na época dos Descobrimentos, com a Inglaterra no século 19. Mas nenhuma delas se equipara a Roma. Ali criou-se um modo inédito de fazer política.’


Os criadores da série dizem que querem evitar esse tipo de comparação. Não há piadas embutidas, nem passagens colocadas na trama para suscitar analogias. Estas, entretanto, surgem naturalmente. O ator Ray Stevenson vê algumas semelhanças. ‘Tanto Roma como os EUA agora acreditavam estar fazendo algo bom para os outros povos, que a sua lei era melhor para governar não só a sua casa, mas o resto do mundo. Hoje vemos que isso é relativo.’


Em inglês


Causa algum estranhamento o fato de que, num programa cuja preocupação com a veracidade é tamanha, os habitantes de Roma se expressem num inglês corretíssimo. Na Itália, isso provocou críticas. ‘Os italianos podem reclamar, ver imperfeições numa história que crêem ser só deles. Mas eles estão errados. Roma não pertence apenas aos italianos. Nela está a história da civilização ocidental. Todos estamos livres para interpretá-la’, diz Heller.’


Nelson Ascher


Série vai além do didatismo redundante


‘A história de Roma, sobretudo a do período durante o qual, entre crises e guerras civis, ela deixou de ser uma república, transformando-se em monarquia, é bem documentada. Recontá-la de modo atraente em uma obra de ficção requer imaginação.


Embora hoje se saiba mais sobre as minúcias da vida cotidiana em diversas eras do que há poucas décadas, reconstruções cinematográficas recentes das Cruzadas ou da vida de Alexandre não superaram clássicos hollywoodianos.


O caso da série ‘Roma’ é diferente, pois esta fornece não só uma imagem plausível do período em questão, como, transcendendo redundância e didatismo, consegue apresentar como novidade e com suspense fatos conhecidos. Seu sucesso se deve, antes de tudo, a ter optado por mostrá-los segundo duas perspectivas, a ‘baixa’, dos homens comuns (por meio das peripécias de Lucius Vorenus e Titus Pullo), e a ‘alta’, a dos grandes agentes políticos (as intrigas que contrapõem os Julii e os Junii).


O empenho em compreender no que, malgrado as constantes humanas, a Roma de então se distingue de nosso mundo, seja na religiosidade ou no erotismo, seja em seus hábitos alimentares e convívio familiar (mesmo que às vezes discutíveis pelos historiadores), dá-lhe um sabor único. O mesmo se aplica à visão adulta da política, uma visão que não ignora a influência crucial de acidentes e do acaso.


A primeira parte da série narrou a saga de Júlio César, desde o momento em que, voltando vitorioso da Gália, ele resolve enfrentar os inimigos romanos com suas legiões até seu assassinato. Agora é a vez da guerra que oporá os partidários de César (Marco Antônio e Octavio) a Brutus e aos demais conspiradores. Em seguida, virão as desavenças entre os vencedores do primeiro turno, Octavio e, nupcialmente aliado a Cleópatra, Marco Antônio.


Mesmo cientes do que virá, os fãs da série estão ávidos para ver como, graças a que subterfúgios e manipulados por que tramas femininas, os personagens chegarão a desfechos tão esperados como, dois mil anos depois, ainda surpreendentes.’


Contardo Calligaris


O hedonismo em ‘Roma’ e entre nós


‘NO DIA 9 de maio, chega o papa. Provavelmente, em um de seus discursos, ele criticará a busca imoral pelo prazer imediato. Tudo bem, criticar o hedonismo da gente é uma coisa que os papas fazem.


Fato curioso: se, nessa ocasião, Bento 16 precisasse de citações, ele disporia de uma ampla escolha de autores laicos. De Zygmunt Bauman a Colin Campbell, passando por uma coorte de excelentes pensadores contemporâneos, quase todo mundo parece convencido de que nossas vidas sejam regradas pela busca do prazer (aí residiria, aliás, a origem de muitos de nossos males).


É uma trivialidade comum a religiosos e ateus, racionalistas e místicos: o hedonismo nos corrompe, torna-nos pequenos, covardes e, claro, consumistas. Será que é verdade? Uma coisa é óbvia: somos demasiado preocupados com nossa sobrevivência para sermos hedonistas.


Um pé na balança e um olhar inquieto para os números do colesterol na hora de abocanhar chocolate ou queijo, um ou dois preservativos (sobrepostos) no momento de transar (de preferência no sábado, que amanhã dá para descansar), preocupados com nossa reputação na hora de escolher o lugar de um encontro furtivo, apreensivos na hora de gastar, envergonhados, temerosos e arrependidos já antes do ato: esses somos nós, os pretensos ‘hedonistas’ modernos.


Os únicos hedonistas, entre nós, são poucos e marginalizados: heroinômanos queimando o organismo para viver um orgasmo permanente ou promíscuos procurando raivosamente o gozo, noite adentro, nos escassos e precários lugares da orgia.


O papa, em geral, opõe o suposto ‘hedonismo’ contemporâneo à ‘cultura da vida’. É a maneira que ele encontrou para defender casamento e procriação contra divórcio e aborto.


O estranho é que os outros (que não são papas) não percebam que a ‘cultura da vida’ já ganhou faz tempo: a preservação de nossa existência é, para nós, infinitamente mais importante do que a procura do prazer. Somos higienistas, isso, sim. Mas não hedonistas.


Nestes dias, em uma conversa sobre o tema, um amigo me lembrou, com razão, que o argumento laico contra a procura dos prazeres coincide com a convicção (constante na cultura ocidental) de que estaríamos sempre vivendo uma decadência a partir de uma ‘idade de ouro’ perdida (o livro de A. Herman ‘A Idéia de Decadência na História Ocidental’, ed. Record, é, nesse sentido, muito instrutivo).


O mesmo amigo ‘citou’ o clássico de Edward Gibbon (‘Declínio e Queda do Império Romano’, Companhia das Letras): Roma era forte e maravilhosa quando seus homens eram dominados pelos grandes ideais republicanos. A sede de poder e prazeres levou a cidade ao declínio.


Na hora, eu não disse nada, mas, cá entre nós, esse lugar comum tem pouco a ver com Gibbon. A tese segundo a qual o luxo e a luxúria enfraquecem os cérebros e os músculos é uma idéia ‘pop’: ela orienta, por exemplo, o filme ‘300’, versão cinematográfica dos quadrinhos de Frank Miller. Mas, para Gibbon, o maior responsável pelo declínio romano é o cristianismo: a promessa da vida eterna tornaria vãos os sacrifícios extremos e mesmo os esforços na procura dos prazeres e do poder, e a moral cristã sugeriria um pacifismo que inibe o uso da força. Para Gibbon, de uma certa forma, foi o anti-hedonismo cristão, não o hedonismo, que acabou com Roma.


Seja como for, o relato de Gibbon começa no segundo século de nossa era, depois do império de Marco Aurélio. Será que até então Roma era grande porque os romanos fugiam dos prazeres? Nada disso.


Fique em casa nas próximas noites de domingo. Estréia no dia 15, na HBO, a segunda temporada do seriado ‘Roma’. A primeira (12 episódios imperdíveis, que cobrem o breve período entre a volta de César da Gália e seu assassinato no Senado) está disponível para locação.


‘Roma’, o seriado, é uma reconstrução histórica extraordinária, não pela verossimilhança de monumentos, costumes e batalhas (isso é fácil), mas porque nos mostra perfeitamente um mundo distante do nosso, um mundo em que sobreviver importa menos do que viver: um mundo em que é permitido gozar e é fácil morrer, matar e se matar.


Se você quer saber o que seria (o que foi) uma sociedade verdadeiramente hedonista em todo seu esplendor (tanto faz que seja para lamentar seu fim ou para odiá-la), não deixe de ver ‘Roma’, sob nenhum pretexto.’


************


O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 12 de abril de 2007


TELEVISÃO
Denise Madueño


Comissão promove ‘show’ na TV


‘‘Ligue 0800-619-619. Para quem estiver nos assistindo e queira fazer uma pergunta: 0800-619-619.’ Parece um programa de TV, mas é mais uma reunião da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, comandada pelo deputado Celso Russomanno (PP-SP). Desde fevereiro, Russomanno, com um toque de showman, transformou as reuniões em um programa interativo de TV, que responde a perguntas, dá conselhos e apresenta sugestões. Tudo ao vivo.


‘Qual a câmera que está em mim? É essa? Eu queria dizer para vocês que estão em casa que liguem para a comissão. Participem. Dêem sugestões’, avisa ele. Os deputados da comissão, como assistentes de auditório, lêem as perguntas dos telespectadores, distribuídas por Russomanno.


Na audiência pública que discutiu o empréstimo consignado para aposentados, o deputado Vadão Gomes (PP-SP) foi além. ‘Ele (telespectador) declara estar muito emocionado pela oportunidade e deseja sucesso ao deputado Celso Russomanno. Está aqui o telefone, depois você agradece’, disse Vadão. E fez mais elogios. ‘Esse é um serviço de utilidade pública prestado pela TV Câmara a todos os brasileiros’, finalizou Russomanno.


A audiência pública reuniu diretores do Banco Central, INSS e um representante dos aposentados. ‘Estamos inaugurando uma nova fórmula de fazer televisão aqui na Câmara. Estamos interagindo com as pessoas que estão assistindo nesse momento’, afirmou o apresentador e repórter, que tem um programa na TV Gazeta. Na audiência, ele comandou quatro horas e 14 minutos de sessão ao vivo.


Ontem, Russomanno não pôde exercer livremente o papel de apresentador e presidente da comissão, na audiência sobre o apagão aéreo. A reunião conjunta envolveu outras duas comissões. Mesmo assim, ele divulgou o 0800 e distribuiu mais de cem perguntas.’


O Estado de S. Paulo


TV Cultura marca reunião para dia 7


‘A assembléia do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta (TV Cultura) que elegeria o novo presidente da instituição ficou para o dia 7 de maio, segundo a Assessoria de Imprensa da instituição. O Caderno 2 errou ao informar, em sua edição de segunda-feira, que a assembléia seria realizada naquele dia. A informação foi repassada à reportagem por fontes da emissora consideradas fidedignas, mas que não se revelaram verdadeiras. A editoria pede desculpas por eventuais danos causados. Segundo informações provenientes da emissora, quatro conselheiros da TV Cultura, apesar de terem recebido comunicado específico sobre a reunião e pauta (dia 7 de maio), tomaram a informação do Estado como verídica e compareceram à sede da instituição.


Na mesma reportagem, um quadro comparava a gestão dos quatro últimos presidentes da instituição. Com relação a isso, o Estado publicou na edição de terça, em sua seção Fórum dos Leitores, carta do atual presidente, Marcos Mendonça, com o seguinte teor: ‘Pesquisas realizadas nos últimos dois anos apontam um salto de qualidade. Segundo o Datafolha de dezembro de 2006, a programação da TV Cultura é avaliada como ótima e boa por 77% dos entrevistados – só superada pela TV Globo. Entre os telespectadores habituais da TV Cultura, a avaliação positiva sobe para 93%, a maior taxa entre todos os canais avaliados (TV Globo e Record, 88%). Foram ouvidas 1.224 pessoas.’


Segundo a reportagem do Caderno 2 apurou e publicou, o jornalista Paulo Markun deveria ser o candidato único, substituindo Marcos Mendonça, há três anos no cargo. Tradicionalmente, há reeleição na fundação, mas o governo teria se manifestado contrário à recondução de Mendonça. Em seu site pessoal, o próprio Paulo Markun reproduziu reportagem da Folha de S.Paulo que o considerava já eleito e marcava sua posse para junho.


Em seu blog, Jorge da Cunha Lima, o presidente do Conselho Curador, fez publicar: ‘Não havia nenhum candidato, pois só há candidatura, pelos estatutos da Fundação, quando 8 membros do Conselho Curador registram o nome do candidato até cinco dias antes das eleições. Não há nenhum candidato indicado para presidir o Conselho, pois essa indicação é feita na hora da eleição, conforme tradição de 40 anos. As eleições serão realizadas no dia 7 de maio, para escolher o Presidente da Fundação Padre Anchieta, o Presidente e o Secretário da Mesa do Conselho e um conselheiro para a vaga de Persio Arida, que se demitiu por morar na Inglaterra. Conforme tradição, inúmeros nomes tem sido sugeridos por conselheiros eletivos, representantes da sociedade civil, por conselheiros representantes de instituições e por conselheiros que representam o governo, sobretudo após manifestação pessoal de Marcos Mendonça, feita a amigos e membros do Conselho de que não será candidato à reeleição, pois considera cumprido o seu grande trabalho a frente da instituição, no mandato que lhe foi conferido.’


O blog prossegue: ‘Alguns nomes já foram apreciados pelos conselheiros em reuniões informais, que sempre precedem a indicação final. Desses nomes sobressaíram duas indicações de grande relevância, entre outras, o de Eugenio Bucci e o de Paulo Markun. Como Bucci preside, com enorme eficiência e reconhecimento, a Radiobrás, seu nome sempre foi considerado bom, mas inviável. O nome de Paulo Markun ganhou rápido reconhecimento, pois é nome destacado entre os jornalistas da casa, como apresentador do Roda Viva. É homem de comunicação.Tem um passado político que honraria qualquer jornalista. Como intelectual tem importantes obras publicadas. Os representantes do governo no conselho curador também tem elogiado o surgimento desse nome como possível candidato.’


Outro trecho da reportagem do Estado, sobre Paulo Markun, dizia: ‘Em um dos seus livros, ele (Markun)descreveu sua situação política na época da ditadura militar. Um dos episódios mostra a dificuldade de encontrar emprego após a prisão, e a peregrinação pelos jornais. Um dos jornalistas que, em lugar de ajudar, o aconselhou a desistir e sair do País foi Boris Casoy, então executivo na Folha de S.Paulo.’ Sobre isso, responde Casoy em e-mail ao Estado: ‘A afirmação não é verdadeira. Prova disso é que,mesmo depois de sua prisão, enquanto fui editor-responsável da Folha, o sr . Markun, apesar das pressões pessoalmente por mim sofridas e também pela empresa, trabalhou normalmente, sem quaisquer restrições, na redação daquele jornal.’


Segue o trecho do livro em que a reportagem se baseou, em relato do próprio Markun: ‘Ao sair da prisão, eu estava desempregado (…) Fora demitido da Cultura retroativamente, no período em que Vlado ainda estava no comando de jornalismo. Na emissora, só Fernando Faro me recebeu. (…) Mas emprego mesmo ninguém tinha coragem de me oferecer. Depois de alguns meses nessa situação, marquei encontro com alguns jornalistas que tinham cargo de direção. No café de um hotel no centro da cidade, conversei com Boris Casoy, editor-chefe da Folha de S.Paulo, Ruy Lopes, chefe da Sucursal de Brasília, e João Baptista Lemos, agora na sucursal do Jornal do Brasil. Eles foram claros: como nenhuma empresa me contrataria, seria melhor que eu deixasse o País. Naquele mesmo dia, resolvi procurar a alternativa que outros perseguidos políticos tinham tentado anteriormente. Luis Fernando Mercadante, que estava no Jornal da Tarde, conseguiu uma audiência com Ruy Mesquita. Foi uma conversa muito curta: expliquei que estava desempregado, que fora preso por pertencer ao Partidão, que precisava ganhar a vida e que sabia que a família Mesquita não costumava perseguir ninguém por causa de sua ideologia. Uma semana depois, estava contratado.’ (página 160 do livro Meu Querido Vlado – A História de Vladimir Herzog e do Sonho de uma Geração , editora Objetiva, 2005)’


Etienne Jacintho


The O.C. se despede


‘A 1ª temporada da série The O.C. foi um fenômeno. Com roteiro amarrado e atores que lembravam os adolescentes abastados do sucesso dos anos 1990 Barrados no Baile, The O.C. conquistou adolescentes e adultos nostálgicos. Mas a criatividade dos roteiristas parou no primeiro ano. Hoje, a Warner exibe, às 21 horas, o episódio final da série, que ainda conseguiu respirar por quatro anos.


A terceira temporada foi decisiva para o término de The O.C., uma vez que seu maior ícone, a atriz Mischa Barton, partiu. Na pele de Marissa Cooper, a bela lançou moda e ditou comportamento das adolescentes. Todas queriam ser Marissa. Mas a personagem morreu deixando só o protagonista Ryan (Benjamin McKenzie). Apesar do carisma do garoto pobre que é adotado por uma família rica, a magia acabou. O último capítulo tem casamento, formatura, bebê e até dejà vu.


The O.C., assim como Barrados, começou até inocente. Com o passar dos anos, os temas ficaram mais pesados. Parece que o público gosta de ver os abusos e o sofrimento dos mauricinhos da Califórnia. Por isso, os fãs não devem se preocupar. Daqui a pouco chega outro The O.C.


entre-linhas


A ambição da Record pela liderança tem favorecido a faixa salarial do mercado televisivo de modo geral. Até a turma da TV paga tem se esmerado por melhores salários para frear o assédio da TV de Edir Macedo.


Cláudia Raia baixou na Choperia Liberdade, um tradicional karaokê japonês que se tornou point de descolados da noite paulistana. Foi gravar cenas para Os Sete Pecados, próxima novela das 7 da Globo.


Nova temporada da série Noivas Neuróticas estréia no Discovery Home & Health neste sábado, às 23 horas.’


************