As parceiras Ambev e Editora Abril assumiram a violação dos Códigos Civil, Penal e da própria Constituição federal, ao promoverem a divulgação de um vídeo difamatório à Amazônia. No entanto, a brincadeira dessas empresas pode ter o efeito de um bumerangue. O uso da maior rede de comunicação do planeta para uma armação nutrida por evidentes interesses pouco subliminares, põe a fabricante do guaraná Antarctica na lista do oportunismo e da rapinagem na região.
Patrocínio de vídeo falso é crime tão nocivo quanto a discriminação racial ou formação de quadrilha no Orkut.
Lamentavelmente, até o momento, ambos os grupos, confessos patrocinadores do vídeo, não se retrataram. Ao contrário. O site do Laboratório Arkhos, anunciado como ‘criação publicitária’ do açucarado guaraná Antarctica, edita comunicados para prosseguir atraindo o público. Nesse ritmo, violam consciências e abusam da paciência e boa-fé de pessoas, entre as quais, os seus próprios consumidores.
Eis o apelo contido na página do laboratório:
‘Deixar a Amazônia nas mãos dos sul-americanos é condená-la à extinção rapidamente. Ao propiciar ao mundo a chance de intervir no destino da floresta, a humanidade pode estar dando o único passo possível para salvar a Amazônia.’
Isso cheira a rapinagem em essência.
‘Se colar, colou’
Divulgar na internet que a Amazônia está à venda nunca será uma ferramenta de marketing conseqüente. Já existem precedentes na rede, denunciou a Agência Amazônia de Notícias. Daí o efeito bumerangue, que bate feito um bólido, na ‘cabeça peidada’ (assim se diz na Amazônia) dos publicitários aquartelados por essas empresas.
Da tentativa insana de criar uma peça publicitária e expor ao mundo, na tela do computador, a Arkhos, parida pela criatividade da dupla empresarial, incute em crianças e jovens envolvidos com jogos virtuais o desprezo pelo próprio solo, pela floresta, pelo ecossistema. É como se tudo estivesse mesmo à venda, sem problema algum, na base do ‘se colar, colou’.
As peripécias da Ambev em Maués (no estado do Amazonas) são comentadas também pelo jornalista Sérgio Leo, no seu sítio.
Brincadeira danosa
De acordo com a assessoria de imprensa do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), que denunciou a trama do suposto Arkhos Biotech, o parlamentar achou graça ter denunciado o vídeo da assumidamente fictícia Arkhos Biotechnology . Atribuíram-lhe um ‘mico’ por haver se posicionado em defesa da Amazônia. E ele considerou a ilegalidade da Ambev e Abil um equívoco. Pior faria, se ficasse calado ou omisso.
Como se estivesse agindo corretamente, dentro da impunidade, a direção da Ambev ainda aproveitou para convidá-lo a gravar um comercial. A que ponto chega o abuso dos conglomerados que se consideram donos da Amazônia e autorizados a transformá-la em feudo para seus gracejos marqueteiros!
A atitude da Ambev e de sua parceira Abril dá margem à busca da fórmula super-secreta da Coca-Cola. Amanhã, a brincadeira pode ser promovida por outras fabricantes de refrigerantes e produtos que afetam a construção óssea do ser humano.
O jornalista Chico Bruno alerta: ‘Por mais que se explique a brincadeira, o seu enredo é pernicioso aos interesses do Brasil’. ‘É uma brincadeira danosa’, ele afirma, conclamando o senador Arthur Virgílio – e, conseqüentemente, os demais parlamentares da região – a pedirem à Justiça a imediata retirada do site do ar.
O que em troca?
Paralelamente ao famigerado Arkhos, seja qual for a origem, o conteúdo e o feitio lingüístico do seu site, vemos situações positivas campeando nas caixas postais e nos monitores. O site ‘Amazônia para sempre’, autor de uma delas, tem repudiado a comemoração do ‘menor desmatamento da Floresta Amazônica dos últimos três anos: 17 mil quilômetros quadrados, quase a metade da Holanda’. ‘Quando se desmata 16%, isso equivalente a duas vezes a Alemanha e três vezes a área do estado de São Paulo’, adverte o site.
O que a sociedade brasileira oferece em troca, pela manutenção desse patrimônio com biodiversidade incomparável e rica, com seres humanos incríveis, com uma fonte incalculável de riquezas minerais, petróleo e gás natural no subsolo e mais de 20% da disponibilidade de água doce do planeta? – perguntamos, lembrando o jornalista e poeta manauara Simão Pessoa.
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Editor da Agência Amazônia de Notícias