A capa da revista CartaCapital (nº 749, de 22/5/2013) promete ao leitor explicar por que a profissão docente, no Brasil, não é atrativa. A matéria, intitulada “Aula de resistência”, se apoia no relato das 24 horas de uma professora que trabalha em duas escolas públicas na Grande São Paulo.
No entanto, mais do que nos fazer entender essa triste realidade, a matéria reforça a imagem de mundo cão na educação brasileira. Muito trabalho, salário baixo, desrespeito dos alunos, 15 minutos de almoço (numa marmita), ônibus lotado, apenas seis horas de sono… E, para coroar o calvário, problemas de saúde causados pelo estresse.
No último parágrafo, para a minha surpresa, um “final feliz”: a profissão de fé da professora cujo cotidiano foi retratado. Abnegada, ela afirma que continuará se entregando de corpo e alma à missão de ensinar.
E as consequências?
Outras matérias do gênero, no futuro, poderão adotar estratégia mais contundente. Além de mostrar a desgraça contínua, comparando a situação do professor brasileiro com a dos seus felizardos colegas em países como Alemanha, Noruega, Canadá e Coreia do Sul, e repercutindo as sempre parcialmente cumpridas promessas oficiais de uma vida docente melhor, será o caso de afirmar que, sem reais soluções, o mundo cão da escola transbordará cada vez mais para as ruas, serviços e empresas.
Olhar para os professores como pobres coitados, comprovando a sua penúria profissional, é pouco. Temos de relacionar tudo o que nos aflige no dia a dia à aflitiva situação da maioria de nossas escolas públicas. (Sem esquecer que escola particular não é necessariamente o paraíso na terra…)
Pensemos na violência praticada por adolescentes sem profissão e sem futuro, mas também na falta de preparo de quem trabalha em setores importantíssimos da vida em sociedade. Incluo o trabalho de muitos jovens jornalistas (ou talvez nem tão jovens), cujos textos e abordagens, publicados nos sites,provocam a crítica dos leitores. É cada vez mais frequente ler comentários reclamando de uma notícia confusa, da insuficiência de informações ou de erros gramaticais inadmissíveis.
Para citar um exemplo meio antigo, mas que certamente não foi o último caso, o Estado de S.Paulo trouxe uma matéria, em 02/09/2011, que deixou vários leitores confusos: “Paciente atropela médica em frente a hospital em SP”. Entre os comentários, este:
“Na teoria do jornalismo, seis perguntas básicas devem ser respondidas na elaboração de qualquer reportagem. São elas: ‘O quê’, ‘Quem?’, ‘Quando?’, ‘Onde?’, ‘Como?’, e ‘Por quê?’. Há tempos os responsáveis pelos portais na internet esqueceram essa regrinha simples.”
******
Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br