O que a mídia tem a ver com isso? A Folha de S. Paulo divulgou no domingo (8/4) uma a pesquisa Datafolha que mostra o crescimento do apoio dos brasileiros a pena de morte. O índice atingiu os 55%.
Há algumas semanas, o mesmo Datafolha havia atestado o aumento da ‘percepção’ da violência pela população, principal problema brasileiro na opinião de 31% da população.
A matéria da Folha credita o aumento da ‘mobilização popular e a repercussão na mídia do tema insegurança pública’ ao assassinato do menino João Hélio Fernandes, em fevereiro.
Os dados das duas pesquisas Datafolha demonstram que a elevação da preocupação nacional com a violência e a aprovação maior da pena de morte coincidem com a hiperexposição do assunto na mídia.
Poder coercitivo
Mas não é só isso. Esse alarmismo midiático em torno da violência, alimentando na população o desejo daquilo que Fernando de Barros e Silva chamou de ‘justiça justiceira’ [‘Show de violências’, Folha de S.Paulo, 26/3], só ocorre porque o menino João Hélio Fernandes era branco e filho de uma família de classe média.
Crianças, adolescentes e jovens morrem todos os dias nas periferias das grandes cidades brasileiras. Mas essa verdadeira tragédia é quase ignorada, porque essas crianças, adolescentes e jovens morrem nos morros, são pobres e têm a cor da exclusão. Nas palavras de Gilberto Dimenstein, são ‘seres humanos quase invisíveis’. Essas mortes não aparecem no Jornal Nacional nem causam comoção nas pessoas.
A paz real será impossível enquanto não se mudar essa estrutura cruel e excludente da sociedade, enquanto pensarmos na paz apenas como fruto do poder coercitivo do Estado e enquanto continuarmos relegando tantos brasileiros ao esquecimento.
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Estudante de jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN; www.noticiasemrede.blogspot.com