Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Internet já chega a 46,5% da população

Impulsionada por melhora na renda, principalmente entre as classes C e D, e barateamento de tecnologias no país, a parcela da população brasileira com acesso à internet já abrange quase a metade do total, com fatia de 46,5% em 2011, diante de 20,9% em 2005. Além disso, a renda mais favorável permitiu que o número de pessoas com telefone celular dobrasse em seis anos, para 115,4 milhões.

Os números constam da pesquisa “Acesso à Internet e Posse de Telefone Móvel Celular para Uso Pessoal”, que usa dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Especialistas comemoraram o resultado, mas alertam: o avanço da inflação neste ano pode corroer o poder de compra, principalmente entre os mais pobres e isso, na prática, ameaça interromper o uso crescente de internet e telefonia celular no país.

O IBGE apurou que, de 2005 a 2011, houve acréscimo de 45,8 milhões de internautas, que já chegam a 77,7 milhões. No período, também foram contabilizados 59,7 milhões a mais de usuários de celular. “Houve uma diminuição no custo das tecnologias, que permitiu maior abrangência da internet. Além disso, temos hoje celulares para todos os bolsos” resumiu a pesquisadora do instituto, Adriana Beringuy. Com ganhos reais de renda do trabalho e reajustes anuais significativos no salário mínimo, a aquisição de bens duráveis e de serviços como celulares e internet foi alavancada, disse ela.

Inflação alta

As faixas mais baixas de renda foram destaque. Um dos exemplos foi a evolução da fatia dos que possuíam celular no total de trabalhadores domésticos, que passou de 30,3% em 2005 para 76,5% em 2011 – o maior avanço entre as 11 profissões pesquisadas. Além disso, em 2011, o IBGE detectou pela primeira vez acesso à internet em mais de um terço da população do Norte e do Nordeste, a mais pobre do país. “O cenário atual mostra avanço. Mas, pelo menos no caso da internet, não podemos esquecer que ainda temos mais da metade [53,5%] da população sem acesso”, frisou a pesquisadora.

Esse aspecto também foi destacado pelo vice-presidente da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), Wardner Maia. “O percentual de acesso à internet no total da população, de 45,6%, está acima da média da América Latina, de 40%. Mas é menor do que o da Argentina, de 60%”, avaliou, acrescentando que esse percentual é projetado para o Brasil somente em 2014.

No entanto, o avanço da inflação pode ser obstáculo, para o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa. “A alta de preços neste ano, principalmente em alimentos, pode elevar a parcela do orçamento voltada para alimentos e diminuir o poder de compra para serviços e duráveis”, alertou.

Já o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Bruno Fernandes admitiu que a inflação acima do esperado neste ano surpreendeu e pode diminuir o poder aquisitivo, no curto prazo, para itens não essenciais, como celular e internet. Mas considerou que, caso ocorra, esse cenário não é sustentável. Na sua análise, existe hoje um processo de diversificação nos tipos de consumo do brasileiro, principalmente nas classes C e D, cuja cesta de compras era focada na aquisição de alimentos. “É um processo sem volta”, concluiu.

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Alessandra Saraiva, do Valor Econômico