Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O debate sobre a manipulação de fotos no jornal

Uma imagem poderosafeita pelo fotógrafo sueco Paul Hansen no ano passado, de homens carregando crianças mortas pelas ruas de Gaza, tinha ares artísticos e era repleta de angústia. Mas a imagem era autêntica? Depois de levar o principal prêmio do concurso World Press Photo, surgiram dúvidas sobre se ela havia sido digitalmente modificada. Hansen negou e, na semana passada, a organização do World Press Photo confirmou que a imagem era genuína, conta, em sua coluna, a ombudsman do New York Times, Margaret Sullivan.

O caso exemplifica um mandamento essencial do fotojornalismo: a manipulação de imagens é – ou deveria ser – estritamente proibida. No NYTimes, esta regra é seguida há anos. Venham do Bronx ou da Síria, as fotos devem representar a realidade sem alterações. Há, no entanto, um lugar na redação em que existem regras diferentes, e a ombudsman se deu conta disso ao escrever, na semana passada, um post em seu blog sobre as objeções dos leitores a uma foto publicada na T, revista de estilo mensal. Margaret perguntou à editora, Deborah Needleman, por que a modelo de capa era tão magra. Ela respondeu que também achava que muitas modelos eram excessivamente magras e com a modelo em questão ela considerou “acrescentar alguma gordura no Photoshop”.

John Schwartz, repórter do NYTimes, foi um dos primeiros a reagir. No Twitter, ele classificou o comentário da editora como “de cair o queixo”. Segundo reforçou Michele McNally, subchefe de fotografia, o jornal não encena fotos noticiosas nem as altera digitalmente. “Isso é inviolável e os padrões são muito claros”, disse. Editores do NYTimes, entretanto, veem as fotos de moda na T como uma exceção. “A moda é fantasia. Os leitores entendem isso. É totalmente manipulado, com tudo feito pela estética”, afirmou Michele. Philip B. Corbett, editor de padrões do jornal, concorda. “Esse é um gênero diferente de fotografia. Tem objetivos, ferramentas e técnicas diferentes, e há uma expectativa diferente da parte do leitor”.

Segundo Deborah Needleman, as fotos de moda daT muitas vezes são retocadas. “Tiramos o vermelho dos olhos, suavizamos uma ruga, removemos a tatuagem de uma modelo”, conta. Mas mesmo na revista, vários padrões permanecem. São permitidas alterações somente em fotos de moda. Um perfil de uma personalidade ou um artigo de viagem continuam sujeitos às regras tradicionais do fotojornalismo.

Notícia e moda

Editores esperam que os leitores saibam a diferença de um conteúdo de moda e um noticioso. Mas a revista T é ainda um produto editorial do NYTimes. Embora gere muita receita publicitária, seu conteúdo não é “informe publicitário”. Os artigos são produzidos por jornalistas que fazem parte da estrutura da redação e leitores têm expectativas que os padrões sejam os mesmos.

A ombudsman perguntou a Stuart Emmrich, editor da seção de estilo, sobre fotos de moda em outras partes do jornal e ele respondeu que elas seguem as regras tradicionais, sem alterações. Kathy Ryan, diretora de fotografia da revista do diário, disse também que não são permitidas manipulações. Fotos de outras fontes podem ter sido alteradas antes de chegar ao jornal, e, algumas vezes, vêm com a legenda “ilustração fotográfica”, para mostrar que foram modificadas. Seria bom se todas as imagens do NYTimes tivessem os mesmos padrões, diz Margaret. Se houver alterações na parte de moda, seria interessante que isso fosse explicado aos leitores e que o processo fosse transparente.