Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crise vem de longe e soluções não são simples

Estava eu no aeroporto de Congonhas na inesquecível noite de sexta-feira, 30 de março, o da greve dos controladores de tráfego aéreo. Na fila confusa, sem que se soubesse o que iria realmente acontecer, uma senhora perguntou-me se eu era professor. Sou. Ela também. (Nas minhas mãos, um livro sobre pedagogia… tentando voar na leitura.)

Do apagão aéreo nossa conversa derivou para o apagão educacional. Contou-me a professora em que condições sua escola vive… ou morre: o giz não presta, o apagador não apaga direito, carteiras quebradas, violência, indisciplina, diretora sem rumo, crianças cujos pais estão envolvidos com drogas, falta de perspectiva para professores e alunos.

– Não sei se o senhor é amigo de político – disse-me a professora, que pretendia visitar os pais no Nordeste depois de 10 anos sem ir até lá – mas uma coisa eu aprendi: os políticos não são amigos da escola.

O vôo educacional reduzido a um cotidiano sem horizontes. Quem pode recorrer ao ensino pago ainda nutre esperanças (com a condição de que seus filhos recebam também vida familiar verdadeira, alimentação de qualidade, plano de saúde, acesso à cultura, à internet, idiomas, lazer etc.). Já aqueles que dependem do ensino público… esses sequer sabem onde fica o aeroporto.

O Pisa e o piso

Claudio de Moura Castro, em sua coluna na revista Veja (edição 2002), apresenta uma lista de indicações, uma receita de sucesso escolar. Segundo o economista, decola a escola cujo diretor tenha liderança, autonomia e seja constantemente avaliado. Decola se os professores forem valorizados, apoiados, guiados, estimulados e também avaliados. Decola se houver metas claras, se houver disciplina, se a família acompanhar as crianças. Decola se os professores ‘nunca ouviram falar nem nos autores nem nas teorias da moda pedagógica’.

Nenhuma palavra do articulista sobre o contexto nacional e sua complexidade. O modelo está na Finlândia, e numa exceção localizada no Piauí (o Instituto Dom Barreto, em Teresina, com um projeto educacional de inspiração católica). Na Finlândia, os professores se orientam pelos critérios do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), e treinam seus alunos para se destacarem segundo esses critérios. A realidade brasileira, no Piauí e em São Paulo, é outra… – bem outra. Antes do Pisa, seria necessário falarmos sobre o piso salarial dos professores…

Dicas para gerenciar escolas são insuficientes. O apagão educacional vem de longe, e as soluções não são óbvias nem simples.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br