Na quinta-feira (5/4), o jornal A Gazeta (de Vitória, ES) publica uma pequena nota intitulada ‘Construção de ponte será mais lenta’, informando que a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) retirara o apoio – exaustivamente alardeado – para a construção de uma nova ponte com estrutura de aço ligando a parte norte continental da cidade de Vitória à ilha.
A matéria não traz uma única referência ao fato de a CST ter sido incorporada ao grupo Arcelor há alguns anos e, mais recentemente, ao grupo Mittal. No dia 28 de março, conforme largamente informado pelos jornalões, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cadê) aprovou a incorporação ao grupo Arcelor-Mittal.
Mas a perda dos 28 milhões de reais que caberia à empresa para a obra, numa parceria entre o governo do estado e a prefeitura de Vitória, vai ser toda assumida pela prefeitura.
Apesar da importância, a nota teve pouco destaque e, nos dias seguintes, os jornais silenciaram. Certo: era um feriadão. Mas o prefeito e o governador poderiam espernear – e os jornais tinham a obrigação de procurá-los. As obras atrasarão e todo o calendário de obras da prefeitura terá que ser refeito, em prejuízo de algumas importantes.
É evidente que a compra do grupo Arcelor pelo grupo Mittal, liderado por um empresário indiano, tem relação direta com esses cortes. Na verdade, a empresa já vem sofrendo algumas reestruturações, em especial com a diminuição do número de gerências, e os jornais continuam mantendo silêncio sobre o assunto.
A dificuldade de tratar determinados temas mais difíceis – seja por serem trabalhosos ou complexos, seja por injunções políticas – tem sido uma característica forte que a imprensa capixaba tem enorme dificuldade de romper. Neste aspecto, vale ressaltar que talvez o jornalismo mais aprofundado que se pratica em Vitória seja da rádio CBN, também vinculada ao grupo que edita A Gazeta.
Atores políticos
O artigo da semana passada que abre a série foi mal compreendido por alguns. Vale registrar que não defendi apenas a repercussão de matérias de outros veículos nos jornais. Na verdade, é preciso um esforço maior para explicar situações delicadas, complexas e que envolvem interesses os mais variados. Como a imprensa não é assunto da imprensa, não se pode esperar que os jornais esclareçam seus leitores sobre os interesses que movem outros grupos jornalísticos.
Já afirmara semana passada que o deputado Lelo Coimbra dera informações esclarecedoras e consistentes à repórter do Congresso em Foco. Esta edição do Observatório publica mais informações, igualmente esclarecedoras e consistentes. Mas enquanto não se souber os interesses que movem os grupos empresariais, os veículos de comunicação e os atores políticos, o cidadão capixaba continuará desinformado.
E os transtornos da obras permanecerão por mais tempo.
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Jornalista, professor da Universidade Federal do Espírito Santo