Com as denúncias de corrupção, o programa “Jornalismo para Todos”, do apresentador Jorge Lanata, conseguiu ter mais audiência que o campeonato nacional de futebol (transmitido pela TV estatal no mesmo horário). Desde então, as pressões contra o Clarín, ao qual pertence o canal 13 de TV, que transmite o programa, se intensificaram e surgiram rumores de intervenção.
Circulam rumores sobre uma intervenção no grupo Clarín e foi apresentado no Congresso o projeto de expropriação da empresa Papel Prensa. O senhor acha que ambas iniciativas serão aplicadas?
Jorge Lanata – Expropriar a Papel Prensa não tenho dúvidas, o governo deverá fazer o possível para aprovar o projeto no Congresso nas próximas semanas. Intervir no Clarín teria um custo alto, porque seria uma medida absurda que certamente provocaria uma reação social, mas tudo pode ser. Este governo quando perde poder não recua, pelo contrário, redobra a aposta.
Seria a única maneira de tirar seu programa do ar…
J.L. – (Risos) Sim, seria. Mas do ar não poderão me tirar nunca, continuarei falando até em festas de 15 anos. Não vão nos calar.
O senhor sabe que hoje é o maior pesadelo de Cristina?
J.L. – (Risos) Posso imaginar.
Quando foi a última vez que esteve com a presidente?
J.L. – Estive mais vezes com Néstor. A última vez que vi Cristina foi durante a campanha eleitoral de 2003. Naquela época, eles me ligavam pedindo para vir a meu programa de TV. Eram outros tempos.
Imaginou o que viria depois?
J.L. – Não, e me arrependo de não ter dado bola às pessoas que me diziam que eles fariam no país a mesma coisa que fizeram em Santa Cruz, controlar a mídia, a Justiça, enfim, tudo.
Muitos já falam no fim do kirchnerismo, o que viria depois?
J.L. – Acho que este peronismo será derrotado por um peronismo de direita. Porque, mesmo que seja mentira, no imaginário, o governo representa o progressismo e isso dificulta as possibilidades dos partidos de esquerda e centro-esquerda. Quem pode derrotá-los? Alguém com um discurso conciliador. Isso seria Scioli (governador de Buenos Aires), De la Sota (governador de Córdoba) ou Massa (prefeito do município de Tigre, na província de Buenos Aires).
O senhor acredita que outros governadores começarão a se distanciar do governo?
J.L. – O peronismo funciona de uma maneira muito simples, a mesma coisa aconteceu na época de Menem. Eles se alinham com os que têm o poder. Vão onde está o poder e hoje muitos estão com um pé fora do barco.
Como é Cristina?
J.L. – Uma pessoa estranha, que não tem amigas, tem um relacionamento complicado com sua família e não ouve ninguém. Ninguém diz nada a Cristina, todos ouvem Cristina. É uma pessoa que tem pouca conexão com o povo. A vejo cada vez mais autista, não registra o que está acontecendo a seu redor.
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Janaína Figueiredo é correspondente do Globo em Buenos Aires