Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Grampo de celular e internet abala a imagem de Obama

O presidente americano, Barack Obama, sofreu mais um forte abalo ontem [quinta-feira, 6/6] com a revelação de que o seu governo autorizou a realização de amplos programas de grampos de telefone e internet. Já se sabia que essas práticas tiveram início no governo de seu antecessor, George W. Bush, mas desconhecia-se que elas prosseguiram após a mudança de comando na Casa Branca. Em reação à notícia, o jornal The New York Times, que tradicionalmente apoia candidatos do Partido Democrata nas eleições presidenciais, afirmou em editorial que “o governo agora perdeu toda a credibilidade”.

Inicialmente, o jornal britânico The Guardian revelou que o governo pressionou a Verizon Communications, uma das maiores operadoras telefônicas do país, para que cedesse os registros de todas as ligações feitas “entre os Estados Unidos e o exterior” ou “em todo os Estados Unidos, incluindo telefonemas locais”.

Horas depois foi a vez de o Washington Post anunciar que as operações de monitoração são bem mais amplas. “A Agência de Segurança Nacional [NSA, na sigla original] e o FBI [a polícia federal americana] estão com um grampo direto nos servidores centrais de nove das principais empresas dos EUA de internet, extraindo, áudio, vídeo, fotografias, e-mails, documentos e registros de conexões que permitem a analistas rastrear os movimentos e contatos de uma pessoa ao longo do tempo”, afirmou o jornal.

Trata-se das primeiras evidências concretas de que o governo Obama continua a ampla campanha de vigilância doméstica iniciada quando a administração de Bush aprovou o que ficou conhecido como Ato Patriota, depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

Abuso de poder

Antes de o Washington Post divulgar a sua reportagem, o governo de Obama já havia admitido que está arquivando os registros telefônicos de milhões de americanos. A Casa Branca justificou a ação como parte dos esforços antiterroristas desenvolvidos pelas forças de segurança.

“As informações do tipo descritas pelo Guardian têm sido uma ferramenta crucial na proteção da nação contra ameaças terroristas aos Estados Unidos, já que permitem aos agentes de contraterrorismo descobrir se terroristas conhecidos ou suspeitos têm mantido contato com outras pessoas que podem estar engajadas em atividades terroristas”, afirmou uma alta autoridade do governo que pediu para não ser identificada.

A Casa Branca disse ainda que há rígidos controles para assegurar que o programa não viola as liberdades civis, enfatizando que a coleta de dados não inclui ouvir as conversas telefônicas – restringindo-se às datas, duração e números de chamadas envolvidos.

De acordo com o Guardian, para cumprir uma ordem da Corte de Supervisão de Inteligência Exterior, a Verizon começou a passar os dados à Agência de Segurança Nacional com “base diária e contínua”. A ordem cobriu os três meses entre 19 de janeiro e 25 de abril, mas está claro que a prática acontece há muito mais tempo.

Segundo o Washington Post, o programa de monitoração da internet chama-se “Prism” e é classificado como altamente secreto. As empresas vigiadas são: Microsoft, Yahoo, Google, Facebook, PalTalk, AOL, Skype, YouTube e Apple. Documento obtido pelo jornal afirma ainda que o Dropbox passaria a integrar a lista “em breve”. À noite, o Yahoo divulgou nota afirmando não fornecer acesso ao governo.

Em reação à reportagem do Washington Post, um alto funcionário do governo disse que as informações coletadas na internet são apenas de não americanos que vivem fora dos EUA. Segundo ele, o programa não monitora cidadãos americanos e pessoas localizadas dentro do país.

No editorial “A Malha Fina do Presidente Obama”, publicado no seu site ontem [6/6] à tarde, o New York Times afirmou: “Obama está comprovando o truísmo de que o Executivo vai usar qualquer poder que receber e muito provavelmente o abusará”. (Com Financial Times)