Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

20 centavos: foi a gota d’água?

Muitos jornalistas e os que acompanham o movimento que se iniciou em São Paulo fizeram essa pergunta em algum momento: tudo isso por 20 centavos? Muitos colegas jornalistas foram para as ruas entender as razões, observar, saber quem eram os participantes. Muitas teorias correram: vândalos, policiais infiltrados, jovens de classe média (que saíram do Facebook) etc. Todos tentavam entender a legitimidade da mobilização (questionada pela violência inicial dos manifestantes) e se havia ou não motivações de fundo.

Logo as pessoas, via redes sociais e nas ruas (por meio de cartazes), foram construindo uma explicação para o evento. Cartazes começaram a trazer reivindicações para além do tema do transporte, a ideia de que se tentava mudar o país foi a tônica das frases, questionando-se, em geral, os gastos com a copa e a corrupção dos políticos.

As fotos de amadores e jornalistas agredidos inverteram a polaridade da violência. Movimentos contra a corrupção e ONGs fizeram as contas do quanto a corrupção nos rouba uma série de serviços de qualidade: transporte, saúde e educação.

A mensagem final: o aumento dos 20 centavos no transporte desencadeou um conjunto de insatisfações não só dos paulistas, mas de vários brasileiros (que inclusive não usam o transporte público). Um movimento que se iniciou, de fato, com muita violência, mas foi ganhando adeptos e uma racionalidade coletiva ampliada e aos poucos se propõe a repensar o país.

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Isabelle Anchieta é jornalista, professora universitária, doutoranda no curso de Sociologia da USP e mestre em Comunicação Social pela UFMG; leciona a disciplina Jornalismo Cultural em universidades de Belo Horizonte e São Paulo