Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Dezenas de direitos usurpados

A respeito do texto ‘Homossexualismo e liberdade de expressão‘ (OI nº 427), como se dizia ainda no colégio, antes que o sistema podre deteriorasse nossas mentes: dane-se se a Bíblia Sagrada ou Kant ou quem for que ‘desabona’ essa conduta.

Quantos homossexuais o autor do artigo conhece pessoalmente? O que sabe das vidas de homossexuais?

‘Pensadores e religiosos se dividem a respeito do assunto.’ Que frase genial! Sempre me aconteceu perceber que gente religiosa não é mesmo dada a pensar. Mas o que estranha é que o Estado não siga os livres-pensadores, aqueles que buscam elucidar o futuro, educar o povo e livrá-lo de crenças, superstições e toda sorte de preconceitos que até hoje, frutos da ignorância, têm travado o desenvolvimento da humanidade rumo ao que já foi dito muito antes de Cristo.

Por que o Estado ainda se curva às lideranças carismáticas, apelativas e ‘generosas’ da igreja? Os bons corações, bajuladores do poder, ricos, estéreis e que ainda preferem que os pobres tenham muitos filhos, para que não melhorem seu ‘padrão de vida’ e para então surrupiar-lhes também os votos, e com isso… claro, o poder.

Respeito, tolerância e aceitação

‘Os homossexuais são titulares dos mesmos direitos assegurados a todos os cidadãos incluído o direito ao respeito e à consideração’, diz o texto. Uma reportagem de capa da Superinteressante (julho/2004) conta por volta de 35 direitos a que os homossexuais são privados, como o casamento civil, religioso, herança, até fundos para compra de casa própria e caixão.

Sim, e quando o meu direito ao ‘respeito’ e à ‘consideração’ forem obstruídos, o que é de praxe, como devo proceder? Se não me é permitido, implicitamente, namorar em público, como fazem tantos namorados heterossexuais à vontade por todo o país, para dar um exemplo? Para mim é um tipo de apartheid, mas não devem existir também leis específicas contra o racismo? Para ao menos diminuir o mal que ele causa? Mas que sabem vocês dos ataques constantes e impunes à liberdade homossexual, se ainda acreditam que quem é gay é porque quer?

‘Respeito e tolerância não implicam aceitação’ – realmente, não. Implicam conhecimento e familiaridade com o tema. Se os homossexuais tivessem coragem de se assumir, seus números seriam tão multiplicados que a aceitação aconteceria só pela normalidade.

Uma história de diversidade

‘O Estado não pode elevar a conduta homossexual como se fosse imune a críticas’ – alguém está falando isso? Critique o que quiser, mas não proíba nem discrimine, moralmente falando, o homossexual por chegar ao mesmo nível de intimidade a que o heterossexual está acostumado; deveria, sim, ser respeitado por isso.

Enquanto não desfizermos os mitos que rodeiam o homossexual, não cessará o preconceito. Homossexuais são vistos como arruaceiros, barulhentos, brigões, drogados, promíscuos e libertinos. Se você não acha, vá a uma boate gay e observe. Ou converse com quem mora perto de uma. Mas seriam assim num mundo que os tratasse desde sempre com civilidade e respeito, sem que jamais tivesse passado por suas cabeças que deveriam esconder suas preferências (que surgem tão cedo como aos cinco anos de idade)? Dizem outras culturas que o homem e a mulher são animais algo bissexuais, dado talvez seu grande intelecto, que lhes permite separar o sexo da reprodução, num nível ainda sem precedentes nas demais espécies.

Aí está o ódio da Igreja contra a homossexualidade, é filho de seu ódio contra a inteligência e o raciocínio livres, desatrelados dos preconceitos, abertos ao conhecimento e à experimentação. Algumas espécies inteligentes, como chimpanzés bonobos e golfinhos, são famosas por exibir consideráveis doses de comportamentos homossexuais, mas milhares de outras espécies já tiveram indivíduos bissexuais documentados. Talvez a exceção seja o comportamento exclusivo homo ou heterossexual, talvez sejam apenas sintomas de uma sociedade repressora, como tem sido a católica desde tenra idade. Os mais diversos povos ao redor do globo, desde a Antiguidade, testemunham uma história de diversidade, mais que qualquer outra coisa. Como disse Jesus, o Sábio: ‘Que atire a primeira pedra quem nunca pecou’.

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Biólogo, Manaus, AM