Desde 1947, ano em que o primeiro curso de jornalismo foi instituído no país por Cásper Líbero, muitas coisas mudaram. É inegável que Cásper tinha uma preocupação com a formação dos futuros profissionais da área. Ele dedicava horas a ficar lado a lado dos ‘focas’ nas modernas instalações da Gazeta. O curso, a princípio, visava reunir e formar grandes pensadores do seu tempo. Este era o intuito inicial do ensino jornalístico, bem como zelar pela liberdade de imprensa e contribuir para a construção de um país mais justo. Esses ideais, infelizmente, se perderam com o passar dos anos. Atualmente, a maior parte dos cursos de jornalismo, não promove uma reflexão sobre as diversas questões que assolam o mundo e a própria profissão.
Hoje, assim como em outras áreas do conhecimento humano, ocorreu uma proliferação de faculdades que oferecem a habilitação dentro do curso de Comunicação Social. Mais preocupados com a quantidade do que com a qualidade, muitos alunos são prejudicados por ensinos duvidosos. Sobram professores despreparados e faltam alunos interessados. A falta de leitura dos estudantes também preocupa a formação jornalística no Brasil. Com tantos atrativos tecnológicos, os adolescentes abandonam os livros, base teórica da sua formação intelectual.
Formas prontas
Antes, a maioria dos jovens ingressava no jornalismo com pretensões políticas. Os grandes jornalistas nasciam em meio literário, ou eram diplomados em Direito, sempre conectados com o que estava acontecendo no mundo. Vinham com uma sólida formação crítica. Agora, é difícil identificar qual o grande objetivo que move diversos estudantes a enfrentarem uma disputa acirrada por uma vaga na USP, por exemplo. Ficar famoso pode ser uma provável resposta, assim como ingressar em um curso menos exigente do que Engenharia ou Medicina, pelo menos à primeira vista.
A faculdade também deve fomentar atividades práticas e teóricas para que o estudante possa ter experiências nos vários âmbitos que englobam a atividade jornalística. O pensamento crítico e revolucionário na formação dos jornalistas foi praticamente abolido. O jornalismo voltado para os interesses políticos e econômicos das minorias descaracteriza o propósito e a função social do ideal jornalístico pregado inicialmente.
Hoje, dificilmente deparamos com uma disciplina que não nos passe uma forma pronta. O ensino não estimula mais a criação, mas sim, e apenas, a reprodução das teorias. Muitos estudantes adotam, mas não sabem e nem têm o interesse de descobrir de onde surgiu dado modelo. Essa é a triste realidade do atual estudante de jornalismo.
Produtores, e não reprodutores
Nas redações dos grandes periódicos do país, o chamado deadline realmente existe e não há segunda chance. Muitas vezes, para não prejudicar os alunos, os professores relevam prazos e flexibilizam regras na entrega de matérias. Por exemplo, se for solicitado um trabalho com cinco mil caracteres, ele deveria ser cobrado dessa forma no dia de entrega, mas isso nem sempre acontece.
Os alunos que o realizam de forma correta ficam desestimulados pela situação. Já os outros também são prejudicados, pois no mercado de trabalho não existe segunda chance que não seja denominada ‘rua’. Portanto, essa má e precária formação dos futuros jornalistas resultará no desemprego certo. O mercado de trabalho está saturado com os mesmos modelos jornalísticos, que em breve não conseguirão se sustentar em sua forma e conteúdo.
Somente o profissional e o centro de ensino que forem em busca de novos modelos revolucionários de se pensar, das formas inéditas de se produzir conteúdo, terão sucesso ao longo do século 21. As faculdades e universidades devem procurar urgentemente outros métodos a fim de capacitar adequadamente os profissionais do futuro. As instituições de ensino têm o dever de ouvir o que o mercado pede: jornalistas produtores de novos formatos, e não mais meros reprodutores.
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Estudantes de jornalismo do 5º semestre da UniFiamFaam, São Paulo, SP