Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O lado ruim da coisa

Trabalho profissionalmente com a internet desde 2005 e sou um entusiasta da blogosfera e mídias sociais e do poder da informação na mão de todos. Mas é preocupante quando o usuário comum das novas mídias se empolga e começa a querer para si o status de jornalista, talvez acreditando existir algum glamour, sem saber que é uma profissão como qualquer outra, um “ganha pão” cansativo e que em muitos momentos comporta horas de trabalho tedioso. Sem contar que envolve muita responsabilidade e necessidade de estudo e pesquisa constante.

Alguém liga e avisa o que viu, alguém envia uma mensagem em box ou mesmo você passa de carro, van, ônibus, moto, táxi…e vê dois carros batidos e uma criança no chão. Você em segundos – certo de ter um furo – posta no Twitter ou qualquer Facebook da vida: “Uma criança atropelada no bairro do Catatau”. Você noticiou antes dos jornais! Antes do rádio! Da TV! Você noticiou antes dos jornalistas da web!

Quantas mães leram seu post e entraram em desespero por não saberem se era seu filho ou filha? O que faltou no “furo”? O quê, quem, onde, como, quando, por que,a estrutura básica de um lead. Um dia entrevistando um radialista esse me disse que para ser jornalista era preciso apenas ter cultura, eu completei: “Cultura e Técnica”. Mais vale um post atrasado, mas que tenha sido apurado, dado crédito à fonte e que responda, na medida do possível, os seis Qs, que um post “exclusivo” que informe pela metade e que existe mais para saciar a vaidade do “jornalista” que para por em foco a verdadeira estrela, a notícia.

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Victor Viana é jornalista, assessor de imprensa, escritor e analista de mídias sociais