Em junho de 2009, o STF (Superior Tribunal Federal) derrubou a exigência do diploma, por considerar a obrigatoriedade inconstitucional, pois não se podem criar barreiras que impeçam ou dificultem um cidadão de desenvolver conteúdo jornalístico. Então, a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 33/2009, de autoria do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), foi elaborada como forma de reconsiderar a decisão do STF. Um jornalista a quem admiro muito, Eugênio Bucci, afirmou que “sem nenhuma sustentação de interesse público, a aprovação da PEC do diploma é prejudicial para a qualidade da imprensa e para a normalidade institucional”. Dessa vez, infelizmente, terei de discordar.
O diploma não forma um jornalista, mas se você é um desses profissionais que discordam da obrigatoriedade dessa certificação, espero que também não seja o mesmo tipo que não põe em prática a teoria, aquela que se aprende nas universidades. É possível comprar um diploma, e isso não o tornará um jornalista. Assim como um autodidata, sem o certificado pode transformar-se num excelente profissional. Guardadas essas possibilidades, o diploma é um documento que comprova a aquisição de conhecimentos complexos e aprofundados a respeito do exercício de uma profissão.
Não ouso aqui avaliar a competência dos jornalistas formados na “escola da vida” – embora muitos usem o termo para disfarçar o desinteresse pelo estudo universitário –, pois conheço grandes profissionais ativos que não frequentaram a faculdade, mas têm consciência da responsabilidade que carregam e realizam trabalhos tão dignos quanto os de um jornalista formado. No entanto, isso não os impediria de, de repente, cursarem uma universidade e adquirirem mais embasamento teórico para ser usado no dia-a-dia profissional.
Qualidade do conteúdo
O problema de não se exigir um diploma para o jornalista está no fato de que isso permitirá que qualquer um se considere profissional, inclusive qualquer um que nunca tenha chegado perto de um livro técnico/teórico. E essa falta de conhecimento pode causar estragos na comunicação, pois não haverá garantias de um trabalho realizado com qualidade. Claramente isso prejudicará toda a classe dos jornalistas, mas principalmente o público consumidor de informação.
Ora, se há erros brutais de tantos jornalistas formados, o que dizer dos que não frequentarem universidades nos próximos anos? Afinal, há 40 anos a leitura era um hábito; liam-se livros de direito, psicologia, literatura, gramática, história, geografia, que com certeza eram responsáveis por transformar qualquer pessoa em um ser embasado para exercer a profissão de jornalista. Mas e hoje, quando a leitura se resume a facebooks, twitters e manchetes de jornais online, que tipos de jornalistas podem estar sendo inseridos no mercado?
A qualidade do conteúdo jornalístico distribuído é que deve ser o ponto de debate. Com ou sem diploma, a teoria precisa ser colocada em prática. Embora os principais veículos de comunicação do país mantenham a exigência de diploma para a contratação de profissionais, aqueles que implantarem seus próprios veículos estarão livres para informarem como lhes aprouver. Sendo assim, e sem um órgão autorregulamentador, os cidadãos estarão sujeitos a todo tipo de bizarrice.
Etapa para a formação
Além disso, as empresas de comunicação poderão, aos poucos, perceber que é mais barato “formar” alguém no dia a dia de trabalho, do que contratar um jornalista com diploma que exigirá melhores condições salariais. Se o mercado de trabalho já é concorrido para tantos profissionais, imagine ter de lidar com essa concorrência desleal. Outro ponto a ser pensado é: que credibilidade possuirá alguém que nunca se deu ao trabalho de frequentar o ensino superior? Que exemplo dará para os trabalhadores braçais quando lhes apresentar a possibilidade do estudo? Que prepotência considerar-se transmissor de conhecimento, sem embasamento para tanto.
Portanto, o diploma é uma das etapas para a formação de um jornalista, desde que se tenha frequentado corretamente a universidade e absorvido o conhecimento proposto. Desde que se pratique o que foi aprendido. Desde que se respeitem os envolvidos na informação transmitida. Desde que se respeite o público. Não me importa se você se formou em jornalismo lendo todos os livros técnicos sobre o assunto, desde que você trabalhe usando esses princípios. E se você tem um diploma nas mãos, após ter feito um juramento, espero apenas que o honre.
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Andreza Galiego é jornalista, Andradina, SP