Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Não baratearam a passagem. E nós erramos

O povo nas ruas. A PEC 37 caiu. Os grupos de extrema-direita que poderiam manobrar as massas por meio das manifestações não têm força para isso – amém. Errou quem prejulgou. Errou quem fez os policiais militares reféns na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Erra quem julga (e ameaça) profissionais da imprensa como representantes das empresas em que trabalham. Mas os jornalistas também erraram. Nós erramos. Apaziguado o clima no país, podemos, enfim, tentar nos redimir de um dos nossos equívocos: não é verdade que houve suspensão do aumento do preço da passagem de ônibus. Não houve redução. A tarifa não tem o mesmo valor de antes do acréscimo intolerável.

Tarifa, segundo o Aurélio, é o “custo fixado para o transporte de um passageiro”. Veja bem: não é o preço que o passageiro paga para ser transportado. É o custo. O custo, nos contratos entre prefeitura e concessionária, não mudou. É o mesmo desde que houve o aumento. A passagem ficou mais barata na hora de passar a roleta, mas continua tão cara quanto antes. O excedente passou a ser subsidiado. E só. O ônus é do governo. Logo, do contribuinte. Estima-se que, anualmente, o prejuízo seja de R$ 200 milhões. Não são só vinte centavos.

Chama-se de redução? Ingênuos, acreditem que se trata de uma simplificação retórica na boca das autoridades. Conspiratórios, que tenhamos sido vítimas de releases maquiavélicos e media training. Mas ao comprarmos a briga de que houve uma redução da passagem, ignoramos um dos principais anseios das manifestações Brasil afora: os lucros exorbitantes das concessionárias em oposição à má qualidade dos transportes públicos.

Desinformamos e distanciamos a juventude (agora nas ruas) que, cada vez mais, refuta a imprensa. Por que será que se afastam?

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Gabriel Barreira é jornalista, Rio de Janeiro, RJ