Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Poucos avanços, muitos paliativos

Resolvi dedicar-me a Homero e à leitura mais especializada dos jornais no Brasil a fim de avaliar melhor se, nós, observadores, não estávamos ‘perseguindo’ muito os periódicos. Resolvi também fazer uma pesquisa quantitativa para verificar como os jornais se haviam comportado quando criticados por seus erros e como suas decisões futuras sofreram mudanças devido a estas críticas.

O balanço geral destas pesquisas comprovou que a imprensa, embora tenha trocado de roupa, continua indo ao mesmo samba, ou seja, modificou seu projeto gráfico, deu algum espaço maior para os ‘leitores’, mas continua cometendo os mesmos erros.

Caio Túlio Costa, em sua primeira coluna como ombudsman (domingo, 24 de setembro de 1989, ‘Quando alguém é pago para defender o leitor’) critica desde a posição da Folha em noticiar uma matéria baseada em ‘previsões’, e não em fato consumado, até a ‘preguiça’ dos jornalistas que não apuram a informação, limitando-se a publicar textos recebidos das sucursais. Mário Magalhães, o novo ombudsman da Folha, iniciou, no dia 08 de abril de 2007, sua primeira coluna aos domingos com a seguinte frase: ‘É difícil saber se a Folha é hoje um jornal melhor ou pior do que há 18 anos… Mais fácil é constatar que se tornou mais previsível.’

Para que uma CPI?

Esta comparação entre ombudsmans ilustra o que disse no segundo parágrafo e o fato não se restringe apenas à Folha, mas aos outros jornais de grande circulação, que veiculam igualmente notícias previsíveis, com apenas um dos lados, baseadas em analises superficiais e sensacionalistas.

Vide o caso recente dos controladores de tráfego aéreo. Todos os jornais saíram atacando o presidente e sua administração, procurando culpados e buscando soluções – atacaram os controladores, que ficaram sendo os ‘vilões da história’. Nenhum dos jornais procurou saber o porquê da greve dos controladores, que é totalmente válida, tendo em conta as condições a que são submetidos. Por que só os passageiros foram ouvidos? A ‘crise’ não tem antecedentes, ou se iniciou com a queda do avião da Gol? O governo não sabia das condições dos aeroportos? Por que ninguém, nem mesmo a imprensa, falou sobre esta situação da aviação brasileira, se ela é tão crítica como vemos agora? Se o Procon esteve presente nos aeroportos, isto quer dizer que o passageiro tem direitos – quais? Quem vai arcar com os prejuízos, os controladores, as empresas ou o governo? Para que uma CPI? Houve corrupção na aeronáutica, ou é só para achar um bode expiatório para ‘malhar’ em dia de Judas?

Um exemplo do Peru

O pior porém não é constatar que os jornais ficam apenas na superfície da informação, e sim verificar que mesmo após as críticas nada muda nas redações. ‘Burro velho não aprende, acostuma’, diria o sábio profeta popular. Vários artigos neste Observatório comprovam que a imprensa errou em diversos momentos e não vi em momento algum a mídia reconhecer seu erro ou mesmo cumprir seu ‘manual de redação’.

Em nenhum momento presenciei algum jornal dizer que ‘em vista da matéria tal, como apontou determinado fulano, o jornal, neste editorial, compromete-se a adotar uma posição mais investigativa com relação às notícias que publica’. Parece utopia, mas é o mínimo que nós, leitores, exigimos quando constatamos que os jornais deixaram de cumprir suas funções.

Susana Herrera e Rogério Christofoletti, em seu artigo ‘Um guia dos observatórios de mídia na América Latina‘, neste Observatório, destacam a importância dos observatórios espalhados pela América e como eles podem influenciar positivamente as instituições para que a imprensa possa melhorar. Exemplo disto ocorreu no Peru, onde o ‘Veeduría Ciudadana de la Comunicación Social’ sugeriu um projeto de lei para rádio e televisão que posteriormente foi discutido no Congresso daquele país.

Uma Ilíada sem destino

Quando resolvi escrever para este Observatório, acreditava em iniciativas como esta do Peru, e destinava meus artigos a esta função: refletir a mídia para que esta possa melhorar a qualidade de informação que oferece e, conseqüentemente, cumprir seu papel social sem pragmatismo e parcialidade. Porém, em um país no qual a mídia não procura refletir (pauta do programa do Observatório da Imprensa de 27/03) e quando o faz esconde-se atrás da muleta chamada ‘liberdade de imprensa’ e num país em que o governo deseja ter um instrumento de imprensa, assim como tiveram os regimes totalitários, e em que o Legislativo é tão mesquinho e desprovido da função de representar o povo, uma pretensão como está chega a ser maior do que a de Ulisses em retornar a sua terra.

A Ítaca a que desejamos que a imprensa chegue pode ser muito mais distante, mas é imensamente necessária e até que ela seja atingida este Observatório deve também refletir e manter sua posição crítica aos meios de comunicação, em busca da qualidade de informação que estes têm a obrigação de oferecer. A informação é e sempre foi a maior arma de dominação durante a história da humanidade e por isso é inaceitável que ela seja distorcida, manipulada ou transmitida de modo superficial pela mídia jornalística. Por isso, não podemos deixar a letargia que move este país instalar-se entre nossa posição perante os mass media, mesmo que esta possa parecer uma Ilíada sem destino.

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Coordenador de Comunicação, Jundiaí, SP