Em sua coluna de domingo [30/6/13], a ombudsman do New York Times, Margaret Sullivan, respondeu às dúvidas de leitores que reclamam que os repórteres do jornalão têm cedido o controle das entrevistas aos entrevistados. O jornalista Ira Stroll, de Massachusetts, foi um dos muitos que escreveram para criticar um artigo sobre a casa do músico Mike D, do Beastie Boys, no Brooklyn. Na matéria, o repórter escreveu que as idades do músico e de sua esposa não seriam reveladas pois eles não quiserem informá-las. “Muitas outras pessoas sobre quem o NYTimes escreve também preferem não dar suas idades, mas o jornal as descobre usando registros públicos e as divulga, ou então essas informações ficam de fora, não sendo nem ao menos mencionadas”, escreveu Stroll, imaginando que talvez o destaque tenha sido dado em troca do repórter ter tido a permissão de entrar na casa do músico.
A editora da seção de casa e decoração, Noel Millea, disse a Margaret que não há acordos prévios e que ela nunca aceitaria nada do tipo. Ela afirmou que, sempre que possível, tenta informar as idades dos personagens, mas não força a questão, “pois as matérias são sobre as casas das pessoas e suas vidas privadas, e não artigos investigativos”. “Fico relutante de envergonhar alguém cuja única culpa é ter uma casa bem decorada”. Na matéria em questão, ao contar aos leitores que Mike D. não quis informar sua idade, a intenção do repórter era mostrar a personalidade do músico. Philip B. Corbett, editor de padrões do jornal, afirmou que, já que se tratava de uma celebridade, ele teria optado por incluir a informação – facilmente conseguida por outras fontes. Segundo a Wikipedia, Mike D. tem 47 anos.
Doping de fora
Já o leitor Steven Schechter, do Brooklyn, reclamou de um artigo sobre Ryan Braun, que joga pelo time de baseball Milwaukee Brewers. “Fiquei assustado ao ver que o repórter Tyler Kepner revelou ter concordado com uma entrevista que só trataria de questões envolvendo o baseball. Como muito do artigo foca no suposto uso de drogas para melhorar o desempenho de Braun, seria esclarecedor ter questões direcionadas ao atleta. É típico e apropriado concordar com entrevistas nas quais os entrevistados estabelecem as condições? Isso pode ser norma para celebridades, mas parece descabido em um artigo noticioso, mesmo na seção de esportes”, disparou.
Segundo Jason Stallman, editor de esportes, o entrevistado estabelece as condições em cada entrevista porque ele ou ela tem a liberdade de se negar a responder a qualquer questão. “Não podemos forçar alguém a falar conosco. Tudo o que podemos fazer é perguntar. Nesse caso, os assessores de Braun nos informaram que não seriam respondidas questões sobre doping”, explicou.
Para a ombudsman, o NYTimes poderia ter optado por não aceitar tais condições, alegando que eram muito restritivas, mas não o fez. “Decidimos que a entrevista ainda assim era válida porque Tyler não estava planejando escrever somente sobre as acusações de doping. Queríamos ter a voz de Braun sobre outros temas”, afirmou o editor, acrescentando que esse acordo foi revelado aos leitores.
Há ocasiões em que as condições não são aceitáveis e o jornal declina. A editora-executiva Jill Abramson, por exemplo, deixou claro que o NYTimes não estava interessado em participar de um encontroem “off”(no qual o que foi dito não poderia ser divulgado) com o secretário de Justiça Eric Holder. Além disso, o jornal não concorda que os entrevistados aprovem suas citações.
Comida e anonimato
Tom Mehnert, de Nova York, escreveu para perguntar sobre as práticas das críticas gastronômicas. “Sempre achei que o crítico não se identificava, ia ao restaurante diversas vezes e então fazia sua resenha”, disse, notando que recentemente ouviu que a equipe de um restaurante sabia previamente da visita do crítico. Amy Virshup, que edita a seção metropolitana na qual as críticas são publicadas, respondeu que os críticos não se identificam e que restaurantes muitas vezes são contactados para fotos após a crítica ter sido escrita. Segundo o crítico Pete Wells, “em um mundo perfeito, críticos de restaurantes nunca seriam reconhecidos e teriam o mesmo tratamento dado a outro cliente. Nesse mundo, isso nem sempre acontece, mas, ao fazer reservas com outro nome, temos pelo menos o elemento surpresa ao nosso lado”.