Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Facebook deveria ser substituído por outra rede social

Cofundador de um dos sites mais longevos e populares da internet, o The Pirate Bay, de compartilhamento de arquivos, Tobias Andersson, 35, acredita que uma nova rede social, “totalmente independente de governos e empresas”, possa substituir o Facebook nos próximos anos. “Eles têm sido muito bons em conectar pessoas, companhias e veículos de comunicação em um só local”, disse o sueco, que esteve nesta semana no Brasil, à Folha. Segundo ele, porém, políticas frágeis de privacidade e a necessidade de monetização do negócio tornaram a rede social uma ameaça à liberdade da internet. “Adoraria que uma nova empresa, com as mesmas funções do site, porém independente, surgisse nos próximos anos.”

Fundado há dez anos, o Pirate Bay tornou-se o maior site de compartilhamento de conteúdo gratuito do mundo. Com o sucesso, entrou em confronto com gravadoras, que acusaram o site de facilitar a pirataria. Em 2009, três dos fundadores foram condenados na Justiça sueca – um deles permanece preso.

Andersson, que não foi processado, estuda sistemas de informação e prepara um livro sobre a história do site. Leia trechos da entrevista.

“A computação em nuvem ajudou muito”

Como o The Pirate Bay conseguiu sobreviver e se firmar como o maior site de downloads do mundo?

Tobias Andersson – Quando começamos, achávamos que iríamos durar um ou no máximo dois anos, que foi o tempo de vida de outros sites de compartilhamento, como o Kazaa. Mas continuamos e já temos dez anos. Isso aconteceu porque decidimos logo que não iríamos desistir diante de problemas técnicos ou ameaças legais. Algumas pessoas que estavam lá eram muito boas em tecnologia e tomaram como questão de honra manter o site no ar. Outra questão é porque estamos estabelecidos na Suécia, que tem uma legislação relativamente tranquila quanto às questões de propriedade intelectual.

O que mudou para o site após as condenações de 2009?

T.A. – Tivemos de mudar os servidores para fora da Suécia e os fundadores precisaram se afastar: um está preso na Suécia; outro mudou-se para o Vietnã e um terceiro aguarda revisão da sentença. Mas a internet é grande: não importa se tivermos que mudar de um país para outro, sempre há para onde ir. A computação em nuvem ajudou muito nisso, pois com ela poucas pessoas no mundo sabem de fato onde os servidores estão hospedados.

“No futuro, o governo dos EUA terá o controle da internet”

Qual é o futuro do Pirate Bay?

T.A. – Acredito que o site deveria fechar pois há novas revoluções ocorrendo, como a provocada pela impressão 3D, e é preciso dar espaço para que outras ideias, que lidem com essa realidade, surjam. Por estar há dez anos no ar, as pessoas estão confortáveis, pensando que o site sempre estará lá. Se fechasse, alguém sentiria necessidade de construir algo novo.

Serviços de streaming, como o Spotify, diminuíram a relevância da plataforma?

T.A. – De alguma forma, sim. O Spotify tornou o download menos útil porque é um serviço fácil, em que se encontra quase tudo. Mas há problemas na plataforma, como a ausência de artistas independentes e o fato de que ela é controlada por grandes gravadoras, como Sony, EMI e Warner. No fim, a maior parte do dinheiro vai para essas empresas.

Como o sr. avalia o crescimento das redes sociais?

T.A. – Quando o Facebook surgiu, achávamos que iriam ser populares por dois anos e depois entrariam em declínio – o mesmo que pensamos na criação do Pirate Bay, em 2003. Mas eles têm sido muito bons em conectar as pessoas com empresas, veículos de comunicação. Há questões problemáticas. Como o caso Snowden mostrou, tudo o que todos dizem em qualquer lugar nesses sites é observado pela NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA). Talvez não pareça um grande problema hoje, mas se continuar assim, no futuro o governo dos EUA terá o controle de toda a internet. Adoraria que uma nova empresa surgisse, como o Facebook, todas as suas funções, mas que fosse independente. É hora de substituir o Facebook.

A revolução das impressoras 3D

O sr. acredita que esses sites possam se tornar uma nova forma de organização política, no futuro?

T.A. – Eles são uma ótima forma de mostrar ao governo o que você pensa. Mas é só uma ferramenta, e não a revolução em si. É como levantar um cartaz em um protesto. A real revolução ocorre nas ruas.

Com o crescimento dos serviços de streaming, a batalha com as gravadoras acabou?

T.A. – A próxima grande batalha virá em consequência da revolução causada pelas impressoras 3D, que está apenas começando. Quando pessoas comuns começarem a produzir produtos como carros e eletrônicos, a briga vai ser mais pesada, pois vai ameaçar indústrias poderosas – como a automobilística e a do petróleo – e até países. Quando isso ocorrer, siglas como o Sopa (projeto antipirataria dos EUA) se tornarão irrelevantes.

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Marianna Aragão, da Folha de S.Paulo