Em vários locais do mundo, e em diversas oportunidades, observei o fenômeno da decadente qualidade dos líderes políticos. Não é saudosismo da minha parte, mesmo sendo verdade que conheci muitas das grandes figuras do século passado, nem todas admiráveis. Tinham carisma natural, autoridade e comando. Sentia-se. No Brasil, por exemplo, lembro Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, os generais Castelo Branco e Ernesto Geisel. Eles eram, na sua essência, o que eram de público. Josip Broz Tito, da Iugoslávia; Harry Truman, John Kennedy, os americanos; Winston Churchill, o inglês; Ben Gurion, o criador de Israel. Claro que houve mais, porém, meu propósito não é falar de líderes. E só estou recordando políticos que chegaram ao topo. Eram o que se convencionou qualificar de naturais.
Um dia me vi sem jornal, afastado intempestivamente de minhas funções sob a alegação de ‘interesse da direção’. Pela manhã recebera extenso telegrama com os maiores elogios. Era o fim de mais uma guerra que acompanhara nas frentes de batalha, correndo com os soldados. De tarde, outro, me afastando. Voltei ao Rio sem saber o que fazer. Não se fica rico na profissão. Tinha amigos em altas posições que me sugeriram abrisse uma consultoria. Assim fiz, apoiado pela SGB, empresa de publicidade de meu irmão mais jovem, Sani, que viria a criar a Escola Superior de Propaganda e Marketing e a MPM, grande empresa de três gaúchos muito meus amigos. Montei escritório e logo me apareceram clientes, também velhos amigos.
Não foi um começo difícil. A questão passou a ser o aprendizado. Minha vivência toda fora jornalística. E tinha vergonha de me dirigir a jornais para pedir que publicassem meus comunicados. Concluí que o jeito era criar fatos que fossem obrigatoriamente notícias. Acertei. Entrava nas instituições e empresas e fazia estudos para identificar problemas concretos, então chamados de pontos de estrangulamento, obstáculos que impediam o desenvolvimento. Apliquei conhecimentos de economia, de ciência política, de relações internacionais. Ainda existe por aí muita coisa inventada naquela época, quando insistia em que fossem úteis à empresa e ao povo. Chamei de engenharia política, pois se tratava de construir.
Gigantes da profissão
Passei a ser procurado por indivíduos com ambições políticas. Tinham o dinheiro e a vontade. Tive de aprender a técnica de criar personalidades. Descobri que, com dinheiro e sujeição do individuo ao que lhe indicava, era possível transformar quase que qualquer um numa promessa de melhores dias para o ambiente em que se lançava. E que era possível, tidas as condições materiais, determinação e tempo, criar projeção nacional e torná-lo candidato a funções elevadas, por eleição ou escolha. A colaboração dele era fundamental. Devia falar apenas o que lhe fizesse decorar. Vestir o indicado.
De muitos zeros criei personalidades. Muitas, depois de ascenderem, convenciam-se de que eram o que lhe havia atribuído. Caíram pelo caminho nos primeiros testes. Não se prepararam, ou não tinham preparo para nada mais do que o papel de bonecos. Outros, poucos, entenderam que avançavam por novos caminhos. Dedicaram-se e se aprimoraram. Nunca perderam a modéstia. Cercaram-se muito bem. Foram muito alto. Poucos. Tudo isso aconteceu antes da televisão a cabo, da internet, da multimídia, do celular, dos incríveis novos meios de comunicação. Hoje, é bem mais fácil construir personalidades. E sua queda.
Com um pouco de cultura e muita imaginação, e os meios para comprar espaço na mídia e inteligentes redatores de discursos, para compor slogans e músicas, técnicas de editar imagens na mídia eletrônica, contratar ‘claques’, faz-se o nome mais rapidamente. Os pleitos não mais são a oportunidade da escolha de indivíduos que, por seu passado ou simpatia, ou as qualidades natas dele, podem merecer que dele façamos favoritos. Não mais se escolhem candidatos. Escolhem-se suas campanhas. Vota-se na qualidade do trabalho do marqueteiro. O candidato passou a ser uma colagem de qualidades inventadas. E quando se deixa convencer que é o que inventaram, pode ser uma mentira que aparece na primeira oportunidade em que fala e pensa por conta própria. Torna-se de difícil administração. É uma tragédia da democracia.
Existem no mundo de hoje muitos que chegaram lá em cima sem saber voar. Ficam tontos. Pergunto: quem é dominante em nossos dias? Os líderes têm visões medíocres e mesquinhas. Não são naturais. Foram construídos, programados.
Os marqueteiros são gigantes de suas profissões. Criam anões. Os meios de democratizar as escaladas para o pico desmoralizam as liberdades com a decepção com os que lá chegam.