As manifestações que sacudiram o país em junho aumentaram em 17 pontos percentuais o tráfego no Facebook, segundo dados da pesquisa Hitwise, da Serasa Experian, antecipada pelo Valor. Nos últimos 13 meses, o Facebook vinha liderando com folga a participação em relação aos acessos nas redes sociais, chegando a mais de 65%. Mas em 13 de junho – quando São Paulo viveu episódios mais violentos, como a bala de borracha que atingiu a repórter do jornal “Folha de S. Paulo” –, a rede social atingiu seu pico no mês, o terceiro do ano, com 70% de participação.
O número de usuários de telefone celular com tecnologia 3G que enviou dados a partir da avenida Paulista, em São Paulo, cresceu 14% na rede da Telefônica/Vivo, segundo informou a operadora ao Valor. Isso gerou um aumento de 17% no tráfego de dados da companhia no período, comparado às duas últimas semanas de maio.
Na avenida Rio Branco, palco das principais manifestações no Rio, o volume de dados enviados pelos usuários da Telefônica/Vivo foi 25% maior, disse a tele. Em nível nacional, o aumento do tráfego foi de 9%.
Especialistas ouvidos pelo Valor disseram acreditar, no entanto, que esse crescimento de tráfego não foi rentável para as teles. “As empresas vendem um pacote fechado de dados e, se existe um aumento da demanda, as teles não ganham mais por isso, a não ser que o usuário extrapole a franquia”, disse um executivo da área de telecomunicações. “Além disso, em momentos de pico, a qualidade da rede cai.”
Segundo a Telefônica/Vivo, nas duas últimas semanas de junho, frente ao mesmo período de maio, houve aumento de 11% no tráfego de voz na avenida Paulista e 12% na avenida Rio Branco. Nesse caso, o saldo pode ser positivo, porque o usuário paga por minuto falado e tem mais chance de extrapolar o pacote contratado. “Mas quando se trata de ligações dentro da mesma rede, não há ganho de receita”, disse o especialista.
Procuradas pelo Valor, Oi, TIM e Claro não forneceram dados sobre o tráfego no período.
Informações checada
O episódio envolvendo o aumento de tráfego nas redes sociais em junho expõe a 'queda de braço' entre as operadoras de telecomunicações e as comunidades virtuais. Provedores como Facebook e YouTube trafegam grandes volumes de conteúdo sobre as redes das teles, que alegam não ganhar nada dessas empresas com isso. “Junho deixou evidente o poder das redes sociais como canal de comunicação”, disse o consultor Jorge Monteiro, presidente da varejista Superfones. “Nesse sentido, as operadoras podem ser beneficiadas com a vontade de quem não está conectado contratar um pacote de dados, mas elas [as teles] não ganham nada se o usuário trafega pela rede Wi-Fi, por exemplo”.
A pesquisa da Serasa Experian, diferentemente do que se poderia imaginar, indica que a maior parte dos usuários da rede social em junho era constituída por jovens adultos, de 25 a 34 anos, que representaram 27,2% dos internautas. Já os de 18 a 24 anos responderam por 23,2% da audiência. As demais redes sociais obtiveram em junho as seguintes participações no volume de acessos: YouTube, 18,2%; Ask.fm, 1,8%; Twitter, 1,75%; e Orkut, 1,73%.
Para a gerente de produto da Serasa Experian, Michelle Carneiro, o Facebook é considerado pelos internautas como a rede mais completa. “No Facebook, é possível postar vídeos e fazer comentários extensos, não tão sucintos quanto os do Twitter, restrito a 140 caracteres”, disse.
No Twitter, as manifestações ficaram entre os temas mais citados em junho. Uma pesquisa da consultoria Topsy indicou a publicação de 17,7 milhões de mensagens (tuítes) relacionadas às manifestações, entre 6 e 26 de junho. Entre os termos mais citados estão #Brasil (11 milhões de citações), #protesto (2 milhões), #manifestação (1 milhão), #vemprarua (680 mil), #verásqueumfilhoteunãofogealuta (620 mil); reforma (568 mil) e #20 centavos (519 mil).
O portal UOL informou que dois de seus melhores índices históricos de audiência foram alcançados com reportagens sobre as manifestações. O bate-papo do site foi o oitavo fórum mais acessado do país em junho (participação de 0,82%, segundo a Serasa Experian). No dia 18, o portal atingiu pouco mais de 46 milhões de páginas vistas, segundo pesquisa da consultoria Omniture. Entre os dias 17 e 23, o canal UOL Notícias registrou um aumento de mais de 500% na audiência, em comparação à média diária do ano.
O compartilhamento de notícias do UOL nas redes sociais também aumentou, com um incremento de 50% em relação à média diária. “O crescimento da audiência mostra que, por mais que as pessoas troquem muita informação nas redes sociais, elas ainda buscam a confirmação nos portais, porque possuem informações checadas, corretas e mais completas”, afirmou Rodrigo Flores, diretor de conteúdo do UOL.
Um levantamento do Ibope Media entre 3 e 21 de junho indicou o aumento de audiência também nas emissoras de TV. Na sexta-feira, dia 21, quando foram realizadas manifestações em diversas cidades do país, as emissoras tiveram recorde de audiência, com uma média de 8,62 pontos. Esse índice foi 27% maior em comparação à sexta-feira anterior, quando os protestos ainda não tinham tomado grandes proporções. No mês de junho, a audiência média foi de 7,43 pontos.
O noticiário da TV também alimentou comentários na internet. De acordo com o Ibope Media, os telejornais foram citados mais de 73 mil vezes em junho. O pico aconteceu na semana de 17 a 23, quando o número de mensagens – 56,3 mil citações – foi cinco vezes maior que a média registrada na semana anterior.
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Daniele Madureira e Cibelle Bouças, do Valor Econômico