Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Amorim admite que Brasil é “vulnerável”

Ao admitir que redes e sistemas de computador do Brasil são “vulneráveis”, o ministro Celso Amorim (Defesa) revelou ontem que ele próprio não trata de assuntos relevantes pela internet. “Hoje em dia é só apertar um botão no meu computador, por exemplo, e já deve ligar na Microsoft. O que eu tenho de importante a dizer não faço pela internet, faço por outros meios”, disse Amorim durante audiência no Senado. Ele tratou das denúncias de interceptação de dados de brasileiros pelo governo dos EUA, por meio de redes sociais, e-mails e programas de busca como Google.

Amorim e os ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores) e José Elito (Segurança Institucional) foram convidados pelo Senado para falar das revelações de espionagem no Brasil feitas pelo jornal O Globo com base em informações do ex-técnico da CIA Edward Snowden. Antes da audiência, os ministros se reuniram com a presidente Dilma Rousseff, que reiterou que o governo “não autorizou nem tinha conhecimento” da espionagem e determinou que se identifique se há participação de pessoas, empresas ou instituições brasileiras nas interceptações.

Apesar de dados militares e da diplomacia serem criptografados, nem todas as redes e os sistemas governamentais brasileiros estão protegidos. “As vulnerabilidades existem e são muitas”, disse Amorim. Para ele, somente produtos nacionais podem garantir a segurança dos dados brasileiros. O governo tem cerca de R$ 100 milhões para programas de proteção cibernética reservados no orçamento deste ano. O valor, segundo Amorim, representa um quarto do gasto pelo Reino Unido.

Snowden pode ser ouvido

Tanto Amorim quanto José Elito disseram que a notícia das interceptações propriamente não surpreendeu o governo. A forma e escala do que foi feito é que são encaradas como novidades. Segundo Elito, há acordos para que cerca de 40 funcionários de serviços de inteligência de outros países atuem no Brasil, devidamente credenciados e identificados. Não estão autorizados, contudo, a monitorar dados sigilosos. A interceptação em território nacional de ligações e mensagens é crime.

Segundo Patriota, o governo não está satisfeito com os esclarecimentos prestados pelos EUA. “Os esclarecimentos não foram suficientes.” Em ofício encaminhado ao Itamaraty, os EUA informaram que especialistas serão acionados para esclarecer os questionamentos brasileiros.

Ainda assim, o Brasil não descarta ouvir Snowden, autor das denúncias. Caberá à PF decidir se ele será interrogado. O ministro ponderou, contudo, que não é necessário trazê-lo ao país para isso. “A Venezuela ofereceu asilo. Pelo que sei, estão negociando. Ele pode ser ouvido em qualquer outro lugar.”

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Fernanda Odilla, da Folha de S.Paulo