Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Qualidade estética perdeu a importância

Foi-se o tempo em que a melhor câmera, o melhor satélite e o melhor formato de fita eram condições indispensáveis para que tivéssemos um jornalismo de qualidade. A internet trouxe a rapidez e, com ela, um novo conceito de qualidade para o jornalismo.

Qualidade estética acaba ficando em segundo plano quando o importante é o tipo de informação e a maneira como temos acesso a ela. A TV de plasma pode ter milhões de cores e pontos de definição, mas continua sendo antiquada e estática como a TV convencional. As tecnologias do futuro são as portáteis e é essa tendência que faz com que telefone celular, câmara de fotografar e gravar, palm top e aplicativos se unam num só aparelho. Essa convergência é um sucesso.

Cada vez mais pessoas estão sendo atingidas por essas novidades. O uso do MP3 player, do MP4 ou dos iPods são provas incontestáveis da popularização desses eletrônicos. Aparelhos infinitamente mais interativos que a TV ou o jornal e que, mesmo carregando arquivos de áudio ou vídeo compactados, fazem a alegria dos consumidores. A receita para desfazer esse aparente paradoxo é a interatividade e a portabilidade dos conteúdos.

No jornalismo, esse movimento não é menor. A visão de que a qualidade estética atrai o espectador vai ficando para trás. Com pessoas comuns sendo capazes de registrar imagens e sons com seus celulares, o espetacular deixou de ser monopólio da mídia e passou às mãos de cada cidadão.

Redefinição de conceitos

Enquanto alguns barões do cinema brigam pelas verbas governamentais, já há concursos de filmes feitos pelo celular. Ao mesmo tempo em que equipes de TV se desdobram para ter acesso a imagens quentes, um morador de um prédio pode registrar um acontecimento com mais precisão, devido ao ângulo de visão e dos equipamentos manuais.

Essa participação de pessoas comuns na produção de informação é incontestável. Uma prova é o registro multimídia feito pelo estudante sul-coreano que matou 32 pessoas na Escola Politécnica da Universidade de Virgínia. Utilizando vídeos e fotos tirados no mesmo dia do massacre e enviando por correio para uma grande rede de televisão, o assassino chocou ainda mais o país. O estudante cursava letras. Mas, dominando essas novas tecnologias, não deixou de agir como um produtor de conteúdo. Ele foi a notícia e fez a notícia.

Vivemos, sem dúvida alguma, um momento de redefinição de conceitos de comunicação social. Jornalistas que trabalham enfurnados em redações, achando que entendem do mundo e que suas redes de repórteres espalhados por todos os cantos, segurando equipamentos pesados, darão conta de fazer a melhor cobertura possível, estão completamente defasados. Esse tipo de jornalismo tende a desaparecer. Ainda bem.

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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ