Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Qual Chávez? Qual Venezuela?

Em tempo de muita opinião e pouca informação, os jornais se tornaram uma espécie de conversa de boteco elaborada. Ai de quem não souber a última opinião ou indignação dos colunistas e editorialistas! Nas conversas de botequim, o incauto só terá a companhia das máquinas de caça-níqueis.

O enigma Hugo Chávez é sempre tratado de maneira folclórica e a crítica parte do projeto da construção de um socialismo bolivariano. Não boto minha mão no fogo por ele. Prefiro não criticá-lo e também não elogiá-lo. Só observá-lo. Mas será que a imagem de Chávez pode ser equivalente à de um bandido de faroeste?

Bisbilhotando na internet, encontrei um artigo muito interessante na cultuada revista norte-americana New Yorker, fundada em 1925 e com tiragem semanal de 2 milhões de exemplares (segundo ‘The American Society of Magazine Editors’).

Em janeiro de 2007, o colunista James Surowiecki escreve um artigo com título sugestivo, ‘Synergy with the Devil‘ ou ‘sinergia com o diabo’. No artigo, ele argumenta, com argumentos, a relação entre os EUA e a Venezuela (The Devil). Desculpem a redundância, mas a imprensa nacional costuma argumentar sem argumentos, muitas vezes só motivada por pirraça oposicionista. Para quem só lê a imprensa nacional, Chávez está realmente construindo um socialismo como se lê nos tratados do século 19 com tempero latino.

Um figurino que não cabe

Mas não é bem assim. Segundo Surowiecki, no governo de Hugo Chávez não houve nacionalização da indústria, há pouca interferência governamental nos mercados e as poucas reformas que aconteceram foram na questão agrária.

No comércio entre os países, os EUA é o que mais vende para os venezuelanos (30% das importações), com o agravante de que o comércio entre eles aumentou 36% no ano de 2006. No setor automobilístico, Ford e GM são líderes de vendas do mercado. Enfim, conclui ele, se isso é socialismo, é o mais amigável aos negócios já inventado.

Esses são alguns exemplos presentes no artigo questionando o paradoxo da demonização de Chávez. Vale ler na íntegra. Não seria meu objetivo colocá-los um por um aqui, mas, sim, perguntar até quando grande parte da imprensa nacional tratará temas de maneira binária (bom e mau) sem ponderações?

Ou até quando adotará um discurso restrito às companhias petrolíferas dos EUA que tiveram seus desejos abortados na Venezuela? Nesse caso, é um figurino que não lhe cabe.

******

Sociólogo, São Paulo, SP