Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Em crítica a juiz, Requião simula censura na TV

Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 16 de janeiro de 2008


CENSURA
Dimitri do Valle


Requião faz cena em TV para criticar Justiça


‘Para protestar contra o juiz federal que o proibiu de atacar adversários pela TV Educativa do Paraná, o governador Roberto Requião (PMDB) cortou sua própria voz no programa ‘Escola de Governo’, uma reunião semanal transmitida pela emissora para anúncio de obras e projetos das secretarias estaduais. Quando Requião se manifestava, o som era cortado e uma tarja com a palavra ‘censurado’ era colocada na tela.


Foi a primeira exibição do programa desde que o juiz Edgard Lippmann Júnior, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, atendeu na semana passada parte de um recurso da Procuradoria em Curitiba, que acusa Requião de usar a TV estatal para promoção pessoal e ataques a adversários, mídia, juízes e Ministério Público. O juiz proibiu as críticas, mas não suspendeu o programa, como pedia a Procuradoria.


Na exibição, além da tarja, uma mensagem associava o silêncio de Requião à decisão do juiz e avisava que o pronunciamento poderia ser acompanhado sem cortes de áudio na emissora Canal 21, do empresário Luiz Mussi, secretário especial do governo. Procurado pela Folha, Mussi não ligou de volta.


O programa começou ontem com depoimentos gravados em solidariedade ao governador e de repúdio à ordem judicial.


Entre os que criticaram a decisão, estavam o senador Pedro Simon (PMDB-RS); o líder do MST João Pedro Stédile; o ex-assessor do presidente Lula Frei Betto; e os presidentes da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), Sergio Murillo de Andrade, e da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo.


‘A censura é uma prática abominável que tivemos nos 21 anos de ditadura militar’, afirmou Frei Betto.


Ao final das declarações, Requião foi anunciado para falar. Enquanto as câmeras o mostravam conversando com a platéia, o som era cortado e aparecia a mensagem de censura. O áudio voltava quando os secretários iam a um púlpito falar sobre suas pastas. Quando Requião conversava com eles, o som era interrompido de novo.


Em entrevista, o governador criticou o Judiciário. ‘Querem me transformar num divulgador de receitas de bolo, como aconteceu na ditadura’, disse, numa referência à publicação de receitas pelo jornal ‘O Estado de S. Paulo’ em protesto pelas notícias retiradas pelos censores do regime.


Outro lado


O juiz Edgard Lippmann Júnior disse à rádio CBN que sua decisão não impede Requião de falar. ‘O que fizemos no processo foi vedar o mau uso da TV Educativa. Nunca impedi o governador de falar.’ Procurado pela Folha, ele afirmou que não daria mais entrevistas.


O juiz disse que vai aguardar manifestação do Ministério Público para analisar se o teor do programa de ontem extrapolou a determinação judicial. ‘Se ficar caracterizado que isso se constitui numa afronta, vai ser analisado por mim, porque já existe uma multa prevista [de R$ 50 mil por cada agressão]’, disse Lippmann Júnior.


O juiz disse lamentar críticas de Requião sobre a decisão. Ele afirmou que recusa o convite feito pelo governador do Paraná para debater a decisão no programa.’


 


TELECOMUNICAÇÕES
Clóvis Rossi


O trambique antecede a lei


‘SÃO PAULO – Há um antigo ditado que ouvi pela primeira vez em Buenos Aires, o que não quer dizer que seja argentino. É o seguinte: ‘Hecha la ley, hecha la trampa’.


Em tradução absolutamente livre, quer dizer: ‘Faz-se uma lei e imediatamente se faz também a burla a ela’.


O Brasil dos tempos que correm aperfeiçoou a malandragem: faz-se a ‘trampa’ antes mesmo de se fazer a lei. Ou, no caso, é modificada a lei para tornar legal a ‘trampa’.


É óbvio que estou me referindo à compra da Brasil Telecom pela Oi (ex-Telemar). A lei vigente proíbe o negócio, mas ele já está tão sacramentado que as ações de ambas as companhias tiveram espetacular valorização nos últimos dias, conforme relato de Fabricio Vieira na Folha de ontem.


Ou seja, há um trambique publicamente em curso, na medida em que a operação é, hoje, ilegal, mas ninguém liga a mínima, porque todo o mundo sabe que o governo vai dar um jeitinho na lei para que a burla deixe de sê-lo. Em qualquer país minimamente sério, uma operação desse gênero provocaria tremendo escândalo.


Em países não tão sérios, seria feita no escurinho. No Brasil, a acomodação da lei aos fatos se dá em plena luz do dia.


E fica por isso mesmo.


É apenas mais um dos incontáveis exemplos de como o lulo-petismo copia todos os métodos, bons ou ruins, do tucanato. Lembra-se de que, na privatização das teles, os principais operadores foram flagrados em uma gravação dizendo que o governo estava agindo ‘no limite da irresponsabilidade’?


É razoável dizer que, agora, superou-se o limite com a maior sem-cerimônia. Nem é preciso uma gravação clandestina para comprová-lo.


Para se referir à privatização das teles, Elio Gaspari cunhou a expressão ‘privataria’. Que neologismo usar agora, caro Elio?’


 


PRIVACIDADE ZERO
Ruy Castro


O olho onipresente


‘RIO DE JANEIRO – Há 30 anos, uma revista de escândalos de Hollywood mostrou o comediante Jerry Lewis, então ainda famoso, como um pai maníaco, tirânico e paranóico, que, quando seus filhos eram crianças, instalou câmeras e microfones pela casa para espioná-los. Até no banheiro os guris ficavam ao alcance de seus olhos. O equipamento, digno do Dr. Mabuse, fora instalado em nome da disciplina.


Na época, isso foi considerado o máximo da crueldade e da insegurança. Todo mundo odiou Jerry Lewis e teve pena de seus filhos. Mas os anos se passaram e, com a evolução da tecnologia, Jerry foi absolvido. Terá sido, no máximo, um pioneiro da espionagem paterna, e dos mais primitivos.


Hoje, conforme a reportagem de Cláudia Collucci na Folha de domingo último, a criança começa a ser monitorada no útero, pelo ultra-som 3-D. Vem à luz e, pelos anos seguintes, seus pais continuam a controlá-la com as câmeras on-line, no berçário, na escolinha infantil e em todo o apartamento, gerando imagens e sons que podem ser acessados à distância pelo computador ou pelo celular.


À medida que o garoto cresce, o olho protetor e onipresente continua a acompanhá-lo -na escola, no playground, no prédio. Difícil que um menino desses roube um simples beijo à filha da vizinha no elevador ou na escada de serviço sem estar se sentindo filmado por alguém. Finalmente, quando tiver idade para sair sozinho, seus passos serão guiados pelo sistema de GPS instalado no celular, no carro que ele acabou de ganhar e até na sola do tênis. Nunca estará sozinho.


Eis aí um jovem pronto para babar na gravata, cair na primeira esparrela que lhe aprontarem, meter-se nas piores encrencas, morrer de amores sem motivo justo ou matar o pai e a mãe que nunca lhe permitiram tornar-se um adulto.’


 


INTERNET
Folha Online


Google diz que irá recorrer de decisão favorável a Edir Macedo


‘O Google Brasil anunciou que vai recorrer da decisão da Justiça de São Paulo que o obriga a retirar do Orkut comunidades tidas como ofensivas ao bispo Edir Macedo.


Foi publicada ontem no ‘Diário da Justiça Eletrônico’ a decisão em que juiz da 34ª Vara Cível condena o Google, dono do Orkut, a excluir comunidades que ofendem o bispo e a Igreja Universal. O não cumprimento da decisão implica multa de R$ 1.000 por página por dia.


A empresa foi condenada a pagar ainda despesas processuais fixadas em R$ 2.500.


Ao dizer que recorrerá da decisão, o Google usa um argumento diferente do usado no julgamento. Havia alegado não ter como tirar o conteúdo das páginas por ser pessoa jurídica distinta do Google Inc, supostamente o real dono do Orkut -o que foi refutado pela Justiça.


Agora o Google Brasil afirma que há uma ‘confusão entre a autoria das agressões com o meio eleito pelos agressores’. Segundo a empresa, ‘confundir esses conceitos seria como penalizar uma companhia telefônica pela prática de trotes’.’


 


GOVERNO
Adriano Ceolin


Lobão diz que seu filho não vai renunciar


‘O senador Edison Lobão (PMDB-MA) descartou ontem a hipótese de o filho dele, o primeiro suplente Edison Lobão Filho (DEM-MA), o Edinho, não assumir seu mandato no Senado caso ele seja confirmado hoje como novo ministro de Minas e Energia.


No entanto, Lobão sinalizou que, no futuro, o filho poderá licenciar-se repassando a cadeira para Remi Ribeiro (PMDB-MA), segundo suplente da vaga. Isso agradaria à cúpula do PMDB e o governo que não quer correr riscos em votações futuras no Senado.


A direção do DEM também não faz questão de ter o filho de Lobão na bancada. Ontem, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) disse que se Edinho não der explicações sobre as denúncias que sofre, ‘será convidado a deixar o partido’. O filho de Lobão teria usado laranjas para ocultar sua participação numa distribuidora de bebidas no Maranhão.


O líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), também cobrou explicações. ‘Mas vamos tomar qualquer atitude só depois que ele tomar posse’. Presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), afirmou que preferia que Edinho ‘tivesse ido para o PMDB com o pai’.


‘Não há hipótese de ele não assumir. Até do ponto de vista legal isso não é possível’, disse Lobão. Segundo o senador, o filho tem de tomar posse para que não seja configurada uma renúncia, o que resultaria na perda definitiva do posto de primeiro suplente.


Em seu artigo 5º, o regimento interno do Senado determina 30 dias para que o primeiro suplente tome posse: ‘Se, dentro dos prazos estabelecidos neste artigo, o suplente não tomar posse e nem requerer prorrogação, considera-se haver renunciado o mandato, sendo convocado o segundo suplente’.


Lobão afirmou ontem que Edinho não tem vontade em assumir o mandato e que, se o fizer, será por obrigação. ‘Ao longo dos últimos cinco anos, pedi para ele assumir a minha cadeira por uns tempos para que eu pudesse me licenciar, mas o Edinho nunca quis.’


O senador negou ter conversado com a cúpula do PMDB sobre o seu substituto. Lobão, no entanto, fez elogios ao segundo suplente, Remi Ribeiro. Remi ocupa atualmente a presidência do diretório regional do PMDB do Maranhão. Ele assumiu interinamente o posto que é do ex-senador João Alberto Souza, nomeado há cerca de quatro meses diretor do banco da Amazônia a pedido da família Sarney.


Remi disse à Folha que ‘não está reclamando’ para ser senador: ‘De qualquer forma, estou apto’. Ele, porém, admitiu que a cúpula do partido é quem vai decidir. ‘Agora, a questão política é outra. Depende dos acertos políticos que se fizerem’, disse. ‘É natural o PMDB querer a vaga porque o DEM é oposição’, completou.


Remi contou que nunca teve mandato em Brasília. Ele foi deputado estadual e vereador em Imperatriz, segunda maior cidade do Maranhão. ‘Seria interessante para a cidade ter um senador, mas o Lobão também faz um grande mandato’, disse.


Apesar de ninguém admitir, o PMDB e o governo preferem que Remi fique com a vaga de Lobão. O filho do provável ministro não migrou do DEM para o PMDB como o pai e, portanto, poderia sofrer pressões para votar com a oposição.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Alarme e os tamborins


‘Em poucas horas as manchetes foram de ‘terceira morte por febre amarela’ para ‘sobe para cinco’, em sites como a Folha Online, depois nos telejornais.


No exterior, em maior destaque nas agências de Google e Yahoo, ‘Organização Mundial da Saúde aconselha viajantes ao Brasil a tomar vacina’. Já a Reuters destacou a corrida às vacinas por aqui, sob o enunciado ‘pânico da febre amarela’, e a IPS até questionou em título, ‘epidemia ou alarme falso?’.


Também nas agências, já começa a atenção anual aos turistas, com enunciados tipo ‘Carnaval no Brasil: Como festejar e sobreviver’, da Associated Press.


ENTRE FIDEL E RAÚL


No fechamento, Lula já se encontrava com Fidel Castro, mas nada ainda de fotos ou relatos, em parte nenhuma.


Na home do ‘Granma’, a foto era ainda de Lula com o irmão Raúl, este de terno, não de uniforme. Na cobertura on-line e no ‘JN’, a atenção seguia no bilhão a investir em Cuba. Já o correspondente da BBC em Havana dizia que o ‘líder brasileiro desafia EUA em Cuba’ com acordo de comércio feito ‘em desacato ao embargo americano’.


Aqui e ali, caso do ‘Orlando Sentinel’, textos indicavam divergência entre Fidel e Raúl sobre a abertura comercial.


DAVOS E O DECLÍNIO


No ‘Wall Street Journal’, uma primeira reportagem sobre o Fórum Econômico de Davos, na semana que vem, anuncia que o evento vai ‘refletir a mudança no poder’.


A saber, ‘poder e riqueza saíram do Ocidente ao Oriente, das companhias de petróleo aos governos petroleiros, dos bancos americanos’ aos fundos soberanos e aos Brics. É o ‘declínio da influência dos Estados-nações ocidentais’.


NA ESTRUTURA


E o ‘boom’ das commodities não vai parar, deu o ‘New York Times’. ‘É mudança fundamental na estrutura global’, diz um estrategista. ‘Ao redor do mundo, bilhões enriquecem e consomem.’


ETANOL EM BAIXA


‘NYT’, ‘Financial Times’, ‘Guardian’ e outros destacaram que, ‘num sinal da crescente preocupação com o impacto de políticas supostamente verdes’, a União Européia estuda banir a importação de biocombustíveis de ‘florestas’. Deve atingir compras do Sudeste Asiático e ‘talvez da América Latina’.


OU EM ALTA


Segundo ‘WSJ’, ‘NYT’ e outros, a General Motors se uniu ao fundador da Sun Microsystems, Vinod Khosla, para investir no desenvolvimento de etanol a partir de celulose. Khosla, ao lado de Bill Gates e outros, é entusiasta do etanol em todas as suas formas, inclusive de milho.


SOBROU UM


Sob o enunciado ‘E então só havia um’, longa reportagem do correspondente Monte Reel, na capa da revista do ‘Washington Post’, acompanhou como ‘a descoberta do sobrevivente solitário de uma desconhecida tribo no Brasil detonou acusações de assassinato e uma luta pela propriedade de uma das últimas áreas selvagens do mundo’. Foi em Rondônia.


No site do jornal, vídeos, mapas e bate-papo com o correspondente -ecoando ainda por redes de rádio dos EUA.


O CONCEITO DE BAIXARIA


Ontem se espalharam on-line cenas de nudez do ‘Big Brother Brasil 8’, com problemas de audiência. Seios cobertos com creme de barbear, em portais como UOL e Terra, e uma integrante dada por ‘bêbada’ mostrando o traseiro e urinando no tapete, em sites de vídeo e na blogosfera –que saiu debatendo ‘o conceito de baixaria’.’


 


TECNOLOGIA
Folha de S. Paulo


Apple anuncia o notebook ‘mais fino do mundo’


‘A Apple, fabricante dos computadores da marca Macintosh, lançou ontem o laptop MacBook Air, batizado de ‘notebook mais fino do mundo’.


Essa foi a principal novidade da conferência Macworld, em San Francisco, nos EUA. No evento, a Apple anunciou também um convênio com os seis maiores estúdios de cinema dos EUA que permitirá o aluguel de filmes via internet pelo iTunes -loja virtual da Apple.


A empresa também afirmou ter vendido 4 milhões de iPhones, o aparelho que mistura celular e iPod, desde o seu lançamento, em 29 de junho do ano passado -o que significa uma média 20 mil unidades por dia.


Steve Jobs, presidente da Apple e conhecido pelas conferências em tom de show, apresentou o MacBook Air dentro de um envelope para mostrar as dimensões do computador.


Ele tem menos de 2,5 centímetros de espessura, tela de 13,3 polegadas, teclado de tamanho padrão com teclas iluminadas e câmera para videoconferências. O computador pesa 1,3 kg e tem dois gigabytes de memória, além de disco rígido de 80 gigabytes.


O preço será de US$ 1.799 (R$ 3.260), competitivo em relação a outros notebooks. Ele estará à venda em duas semanas, segundo Jobs.


O MacBook não tem drive para leitura de DVD e CD. Os softwares poderão ser instalados por meio de outros Macs e PCs, ou os consumidores poderão comprar um drive externo por US$ 99 (cerca de R$ 175). A empresa diz que a aposta é investir na portabilidade do equipamento e no download de vídeos e música via internet.


A Apple fez ontem também um balanço da venda de iPhones. Com os 4 milhões de unidades já vendidas, a empresa tem quase 20% do mercado de ‘smartphones’, segundo Jobs.


O aparelho ganhou mais recursos, permitindo o envio de mensagens de texto para mais de um usuário ao mesmo tempo e a localização por meio de mapas na internet. Os serviços virão como parte de uma atualização gratuita do software oferecida a partir de ontem.


O iPhone está sendo vendido no Reino Unido, na Alemanha e na França. A Apple promete oferecer o aparelho aos consumidores asiáticos neste ano.


Outro lançamento da Macworld foi o aluguel de filmes dos estúdios 20th Century Fox, Warner, Walt Disney, Paramount, Universal e Sony por meio do software iTunes, 30 após o lançamento em DVD.


Pelo acordo, os consumidores farão o download dos filmes, que ficarão disponíveis por 30 dias e terão um dispositivo para impedir cópia ou transferência. O iTunes terá mais de mil filmes até o mês que vem, segundo Jobs, a um custo de US$ 2,99 a US$ 3,99.


O software, que já permite que os usuários comprem vídeos, distribuiu 125 milhões de programas de TV e 7 milhões de filmes, disse ele. Mas as vendas de filmes da Apple não corresponderam às expectativas, disse. O serviço de locação será disponibilizado internacionalmente até o final deste ano, segundo Jobs. E poderá ser realizado em Mac, PC, iPhone, iPod e ‘set-top box’ da Apple.’


 


TV POR ASSINATURA
Elvira Lobato


Sky tenta impedir compra da TVA pela Telefônica


‘A Sky Brasil, segunda maior empresa de TV por assinatura do país (1,6 milhão de assinantes), partiu para a ofensiva contra a aquisição da TVA (terceira em TV paga, com 400 mil assinantes) pelo grupo Telefônica.


Anteontem, a empresa pediu à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) que recomende ao Cade (Conselho de Administrativo de Defesa Econômica) a ‘desconstituição integral’ do negócio.


Em outubro de 2006, a Telefônica e o grupo Abril acertaram o negócio, que foi aprovado, do ponto de vista regulatório, pela Anatel, em outubro último. A tele comprou 100% das operações de TV paga com transmissão por rádio (MMDS) e 19,9% do capital da TV a cabo na cidade de São Paulo, já que a legislação proíbe que empresas telefônicas controlem redes de TV a cabo dentro de sua área de concessão de telefonia.


A Anatel ainda examina os efeitos da aquisição sob o ponto de vista da concorrência. Cabe a ela instruir o Cade no processo e recomendar a aprovação ou a rejeição do negócio.


A Sky quer que a agência reguladora conclua logo a análise dos aspectos concorrenciais, para que se inicie a discussão no Cade. Ela sustenta que a Telefônica controla a política comercial e os ativos (redes de cabo e sistemas de rádio) da TVA, embora tenha menos de 20% do capital da da empresa Comercial Cabo TV de São Paulo, operadora de TV a cabo da TVA na capital paulista.


Para a Sky, o objetivo da tele, ao adquirir a TVA, seria eliminar um concorrente, com potencial de expansão, em telefonia, internet e banda larga.


A Sky diz que, se a aquisição for consumada, a Telefônica terá cinco plataformas de telecomunicações na capital paulista: sua rede de cabos, a rede de cabos da TVA, dois sistemas de TV paga via satélite e o sistema MMDS (transmissão por radiofreqüência) da TVA.


Diz ainda que nenhum país permite a concentração de tantas plataformas nas mãos de uma tele que seja, ao mesmo tempo, monopolista da telefonia fixa.


O documento cita estatísticas sobre o serviço de voz no Estado de São Paulo, que dão 97% de participação (12,3 milhões de assinantes) para a Telefônica; 0,7% (89 mil) para o Net Fonte, da Net Serviços, e 2,3% (289 mil assinantes) de outras empresas autorizadas.


A Sky Brasil é controlada pelo DirecTV Group, da News Corporation (de Rupert Murdoch), que tem 74% de seu capital, e pela Globo Comunicações, com 26%. Em 2007, a News vendeu a DirecTV para a Liberty Media, mas o negócio ainda depende de aprovação das autoridades dos EUA. A Globo também é acionista da Net Serviços, maior operadora de TV paga do país, com 2,4 milhões de assinantes.


Outro lado


Ara Apkar Minassian, superintendente de Serviços de Comunicação de Massa da Anatel, disse à Folha que a análise concorrencial de uma operação complexa, como a Telefônica/ TVA, leva de cinco a seis meses para ser concluída, e não há como apressá-la. Para ele, não há hipótese de sair antes de abril.


Para o executivo, nenhuma aquisição desse porte é irreversível antes do exame pelo Cade, que pode impor restrições para autorizar o negócio -como no caso da fusão da Sky com a DirecTV- e até vetar a operação. ‘Até o julgamento pelo Cade, nada está consumado.’


Procuradas, Telefônica e TVA não se manifestaram sobre a iniciativa da Sky.’


 


Folha Online


Presidente da Net deixa o cargo


‘A Net, maior empresa de TV por assinatura do país, anunciou que Francisco Tosta Valim Filho renunciou ao cargo de presidente. Para a posição, a empresa indicou José Antonio Guaraldi Félix, diretor de operação desde 2003, ano em que Valim Filho assumiu a presidência.


Valim Filho ajudou a empresa a implementar um plano de reorganização após não ter quitado mais de US$ 1,7 bilhão em dívidas. Sob Valim, a Net se transformou numa empresa lucrativa. A Telmex, do mexicano Carlos Slim, comprou participação na empresa em 2005.


Sobre Guaraldi, a empresa aponta que, em sua nova posição, o desafio será ‘perseguir crescimento com lucro e qualidade de serviços’.


Ontem, as ações da Net na caíram 7,87% na Bolsa de Valores de São Paulo.


Com a Bloomberg’


 


PREMIAÇÃO
Folha de S. Paulo


Globo de Ouro tem baixa audiência


‘O especial da NBC que substituiu a entrega do Globo de Ouro, no domingo, teve pouco mais de um quarto da audiência da cerimônia em 2007, segundo dados preliminares da Nielsen Media -foram cerca de 5,8 milhões de espectadores nos EUA, contra 20 milhões em 2007. O esvaziamento da cerimônia, causado pela greve dos roteiristas, causou à NBC prejuízos entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões. A greve levou a rede CBS e os estúdios 20th Century a anunciar o cancelamento de contratos, com a dispensa de profissionais como Hugh Jackman.’


 


CINEMA
Eduardo Simões


Will Smith enfrenta vampiros virais


‘Em sua passagem pelo Rio para divulgar ‘Eu Sou a Lenda’, que estréia no Brasil sexta-feira, o ator Will Smith não economizou simpatia e disposição. Na entrada dos colegas Francis Lawrence (diretor) e Akiva Goldsman (roteirista e produtor) na entrevista coletiva, anteontem, no Copacabana Palace, o ator gritou ‘uhus’ da coxia e, já à mesa, fez várias piadas. Elogiado como ‘grande talento’ por Goldsman, Smith lembrou ao roteirista que também era ‘forte, bonito, esperto e sexy’. Ninguém se opôs.


Com músculos turbinados, Smith é o terceiro ator a encarnar Robert Neville, o papel principal de ‘Eu Sou a Lenda’, um sobrevivente de uma epidemia viral que dizima a população mundial, salvo os imunes como ele, que vivem ameaçados por uma raça de mutantes, espécie de vampiros.


O filme é baseado no romance homônimo de Richard Matheson, dos anos 50, com uma mudança: o cenário deixa de ser Los Angeles. Quase todo o filme foi rodado em Nova York, durante nove meses de bloqueios de tráfego. A exceção é uma seqüência na Times Square, recriada em estúdio.


‘Los Angeles é fantástica em termos literários, mas não é uma cidade tão icônica quanto Nova York’, defendeu Goldsman. ‘E, num dia normal, Los Angeles já parece um lugar abandonado. Queria Nova York, que nunca está quieta.’


Em parcos oito minutos de entrevista à Folha, sob o olhar de uma robusta assistente de seu estafe de 34 pessoas, o ator ressaltou que construiu um personagem movido por culpa. Neville promete à filha que acabaria com os ‘monstros’, mas falha.


‘Quando Anna [Alice Braga] aparece pela primeira vez, a raiva que Neville sente por ela é porque alguém, ali, sabe que ele falhou. Ao me conectar com essa idéia de culpa, eu moldei o personagem e a história, num movimento de oposição à esperança de Anna’, contou Smith.


Aos 39 anos, o ex-rapper, com uma carreira em cinema marcada por comédias e filmes de ação, como ‘MIB – Homens de Preto’ (1997), Smith vem se destacando em dramas como ‘À Procura da Felicidade’ (2006). Segundo ele, experiências traumáticas o têm intrigado como sementes para histórias. ‘E esta é a primeira vez que faço um personagem tão deslocado da realidade. O filme realmente mostra uma deterioração psicológica’, disse.


Smith leu o roteiro de ‘Eu Sou a Lenda’ pela primeira vez há dez anos. Para ele, a essência foi sempre a mesma, em todas as versões. ‘É a idéia básica, pré-programada em cada humano, quando se tem 1 ano de idade, seus pais o deixam no berço e você se sente o último ser na Terra. A diferença é que não queríamos fazer um filme de gênero. Nem ação, nem ficção científica, nem horror, e sim um drama sobre o último homem na Terra.’


Smith também colaborou no roteiro. Ao pesquisar o nome do livro na internet, encontrou citações do disco ‘Legend’, de Bob Marley. O cantor virou diálogo e trilha sonora. Smith deixou escapar que uma pista do fim alternativo do filme, que sairá em DVD, aparece nos últimos seis segundos do primeiro ‘teaser’ lançado pela Warner. Alguém disse YouTube?’


 


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Equipe elogia ‘autenticidade’ da atriz brasileira Alice Braga


‘Ausente das entrevistas para a divulgação de ‘Eu Sou a Lenda’ porque está filmando ao lado de Jude Law e Forest Whitaker a ficção científica ‘Repossession Mambo’, em Toronto, no Canadá, a brasileira Alice Braga foi alvo de elogios rasgados de Will Smith, do diretor Francis Lawrence e do roteirista e produtor Akiva Goldsman.


Will Smith contou que, desde que viu Alice Braga em ‘Cidade de Deus’ (2002), não tirou da cabeça a idéia de que a moça teria que aparecer em um filme estrelado por ele. A atriz, que entra em cena após cerca de uma hora de projeção, tem um papel de destaque: ela interpreta Anna, uma sobrevivente vinda de São Paulo que se contrapõe ao sentimento de culpa de Neville com sua esperança.


Se comparada com outras atrizes de origem latina importadas por Hollywood, o que mais chama a atenção na atuação de Braga é a credibilidade de sua atuação em inglês. Não se tem a sensação de que a atriz está apenas lendo suas falas, mas realmente interpretando. A ‘autenticidade’ da atriz foi ressaltada pelo diretor Francis Lawrence, que falou de ‘seu olhar e rosto quase angelicais’, e ainda que Alice é ‘crível’ como sobrevivente. E mais: sua presença no filme, fazendo um personagem que vem da América do Sul, lembra que o problema é global.


Lawrence também lembrou que as audições que a atriz fez para o papel se tornaram verdadeiros ensaios, como se ela já soubesse que acabaria ficando com o trabalho.


Akiva Goldsman, que também elogiou a autenticidade de Braga em cena, declarou que o papel foi feito sob medida para a atriz, que fez uma pesada dieta de exercícios, ao longo de nove meses, para perder peso e parecer realmente uma sobrevivente.


Bob quem?


Para a platéia brasileira, o único incômodo no papel de Braga deve ficar por conta de seu personagem não saber quem é o cantor e compositor jamaicano Bob Marley (1945-1981). Isso em 2012. Goldsman defendeu a ‘ignorância’ de Anna dizendo que era uma brincadeira interna com a diferença da idade média da equipe com a atriz, de 24 anos. Exagero.’


 


Sérgio Rizzo


Registro apocalíptico ecoa ‘O Planeta dos Macacos’


‘Duas metades de andamento bem distinto convivem em ‘Eu Sou a Lenda’. Na primeira, começa-se por idéia semelhante à que ‘O Planeta dos Macacos’ (1968) deixou para o final: de avanço em avanço, o homem levou a civilização ao extermínio, mas ao menos o planeta sobreviveu, sob o controle talvez mais sábio de outras espécies.


Os passeios solitários do Dr. Robert Neville (Will Smith) e sua cadela Samantha pelo que restou de Manhattan em um futuro próximo têm beleza desoladora. Filmagens em locações (que tumultuaram a vida da cidade durante meses), direção de arte e efeitos digitais se combinam para sublinhar a inutilidade dos artefatos da sociedade de consumo nessa ilha agora fantasma (onde, apesar da destruição, ainda há energia elétrica para fazer funcionar o que interessa à trama).


Em pouco tempo, percebe-se que o vazio poético está sintonizado com a luz do dia. À noite, saem das trevas criaturas que pontuam a segunda parte do filme de acordo com as convenções dos zumbis cinematográficos. A amargura das distopias de ‘O Planeta dos Macacos’ e ‘Os 12 Macacos’ (1995), entre outros clássicos, deixa de ser referência para que ecoe mais forte a tradição de confronto entre humanos e mortos-vivos à moda de George Romero.


Era improvável que ‘Eu Sou a Lenda’ se tornasse um dos maiores sucessos de bilheteria da atual temporada, com cerca de US$ 240 milhões arrecadados em quatro semanas nos EUA, mesmo prevalecendo o registro apocalíptico. Como na primeira versão de ‘Blade Runner’ (1982), acrescenta-se um pouco de esperança ao pacote, bem traduzida pela presença angelical de Alice Braga como a mulher cuja fé, no final das contas, move a ciência e o dia depois de amanhã.


EU SOU A LENDA


Direção: Francis Lawrence


Com: Will Smith, Alice Braga


Produção: EUA, 2007


Onde: estréia na sexta-feira (18/1) em circuito


Avaliação: bom’


 


TELEVISÃO
Lucas Neves


Fox faz ficção sobre Polícia Civil de SP em ‘9 mm’


‘Com cada um de seus quatro episódios orçado em US$ 200 mil (R$ 348 mil), a minissérie ‘9 mm: São Paulo’, que narra o cotidiano de agentes do departamento de homicídios da Polícia Civil paulistana, tem estréia prevista para o fim deste semestre, na Fox.


Para falar sobre a primeira produção nacional 100% financiada pelo grupo (a série cômica ‘Avassaladoras’ foi uma parceria com a Record), o braço latino-americano do canal designou não um, nem dois, mas três altos executivos, e nenhum roteirista, diretor ou ator brasileiro -que poderia falar com mais propriedade sobre personagens e arcos dramáticos.


De Los Angeles (a 9.913 km do set paulistano, ativo entre novembro e dezembro passados), a trinca de engravatados contou que, durante a elaboração de scripts, dois ou três detetives de São Paulo serviram de consultores informais para procedimentos e jargões. ‘O funcionamento de uma delegacia é diferente nos EUA e no Brasil. Aí, muitas coisas não são fornecidas pelo governo e saem do bolso do delegado’, diz o diretor executivo de desenvolvimento, Jorge Stamadianos.


As páginas finais dos roteiros também têm ‘verniz’ local -num contraponto à hipereficiência de ‘CSI’ e afins norte-americanos. ‘Nem sempre o caso será resolvido ao fim do episódio. É para mostrar como é difícil resolver um crime, como há poderes que às vezes interferem na lei’, afirma Stamadianos. ‘A realidade da América Latina nos mostra que, devido à corrupção de alguns policiais e a outros fatores, nem sempre os casos são solucionados’, emenda Emiliano Saccone, vice-presidente sênior de marketing e entretenimento.


A idéia de rodar uma ficção policial ‘livremente inspirada’ em ocorrências reais (que nem os executivos, nem a assessoria do canal souberam listar) partiu da Moonshot Produções. A Fox latino-americana viu no projeto a chance de ganhar força no Brasil, onde, diz Saccone, ‘não sei por que, o braço do canal não é tão forte quanto no resto da América Latina’.


Depois de tratamentos de roteiro, chegou-se a uma estrutura ‘semi-serializada’: há tramas iniciadas e concluídas num só episódio, mas também um fio de enredo que se estende por toda a série. Da mesma forma, existe um equilíbrio entre a investigação criminal e a vida pessoal dos agentes. A descrição sugere um resultado entre ‘Lei e Ordem’ e ‘The Shield’.


Se a recepção a ‘9 mm’ for positiva, não está descartada uma segunda leva de histórias. Um reality show nacional também está nos planos da Fox.’


 


JOSÉ DIRCEU
Marcelo Coelho


A morte em vida de José Dirceu


‘‘SAFADO. SA-FA-DO. SA-FA-DO!’ Na fila do aeroporto, numa mesa de churrascaria, numa calçada qualquer, José Dirceu se arrisca todo dia a ouvir xingamentos desse tipo.


Na reportagem de Daniela Pinheiro para a última revista ‘Piauí’, o modo com que o ex-deputado encara tais situações talvez seja mais interessante do que as farpas, amplamente divulgadas, que ele lançou contra adversários no PT gaúcho.


O texto, pelo excelente ‘timing’ da narração e pelo tom de absoluta objetividade, merece ser citado mais extensamente. José Dirceu estava na churrascaria ‘Prazeres da Carne’, que costuma freqüentar.


‘Comia o segundo pedaço de cupim quando, sem que percebesse, um homem loiro e jovem se aproximou e pôs a mão no seu ombro. Talvez porque imaginasse se tratar de um conhecido, o ex-ministro sorriu quando o homem se inclinou. Com o rosto quase colado ao de Dirceu, entretanto, o desconhecido gritou.’


Ouviram-se os impropérios já citados. ‘O sorriso do ex-ministro se desmanchou e sua expressão facial se esvaziou. Ele não demonstrou surpresa, raiva, medo, constrangimento ou qualquer outra emoção. Ficou olhando impassível, enquanto os berros continuavam.’


Dá para intuir, pela reportagem, que tanta impermeabilidade não se construiu num dia. Não era muito diferente a atitude de José Dirceu nos tempos da clandestinidade. ‘Quando eu voltei para o Brasil’, conta, ‘se alguém gritasse ‘Zé!’ ou ‘Dirceu’ na rua, eu nem olhava. Realmente, me convenci de que era outra pessoa’.


Agora, como durante o regime militar, a despersonalização de José Dirceu funciona como um mecanismo de sobrevivência.


Fico pensando, entretanto, se também não foi essa despersonalização um dos fatores de sua desgraça política. Quem assistiu pela TV Câmara à sessão em que José Dirceu foi cassado certamente se lembra do tom quase burocrático do discurso em que tentou se defender.


Não digo que, se tivesse chorado, poderia ter escapado da perda do mandato. Mas um espetáculo mais emotivo naquela ocasião talvez diminuísse a virulência dos xingamentos que até hoje ele ouve.


É como se José Dirceu não tivesse sofrido demais com tudo o que aconteceu. Mesmo um ‘safado’, para usar os termos do rapaz da churrascaria, pode estrebuchar quando punido.


Mas, aparentemente, a lógica por trás do comportamento de José Dirceu é de outro tipo. Está em curso a velha psicologia do militante bolchevique. Funcionário disciplinado do partido, cumpre-lhe assumir ou negar culpas, tanto faz, conforme o que lhe ditarem os interesses da revolução. Não existe fora da ‘causa’, e o rumo da história, com ‘h’ maiúsculo, é o único tribunal que merece o seu respeito.


No centro do poder ou fora dele, o militante continua a ter uma vida clandestina: a preservação dos segredos de Estado e o ocultamento prudente da existência privada tendem a ser duas faces de uma mesma moeda.


O modelo do militante é o cadáver embalsamado de Lênin na praça Vermelha: na impassibilidade está sua principal virtude.


As ‘grandes causas’, evidentemente, desapareceram do horizonte; os interesses, contudo, persistem: a intermediação de negócios com empresários portugueses ou mexicanos, interessados em investir seu dinheiro no Brasil, ocupa a agenda do ex-deputado.


Curiosamente, a reportagem de ‘Piauí’ assinala alguns momentos em que a subjetividade de José Dirceu ainda sobrevive sob o rigor tanatológico com que ele atravessa a existência.


Ele não vive sem creme hidratante, desmente usar botox, mas recorre a um miraculoso preparado anti-rugas feito em Cuba. Também se submeteu, faz pouco tempo, a um implante de cabelo. A respeito de Garibaldi Alves, o novo presidente do Senado, José Dirceu prevê que em breve irá a um ortodontista.


‘Ele era lindo de morrer’, exclama Daniela Pinheiro ao ver as fotos de José Dirceu nos idos de 1968. Natural que não queira ficar velho. Mas esse traço de fragilidade humana no ex-ministro vem na verdade confirmar, e não desmentir, as hipóteses que arrisquei sobre sua psicologia.


Brejnev, por exemplo, pintava o cabelo. Quem pensava ter o curso da história nas mãos não podia ser dominado pela corrosão do tempo. Fazer-se de morto é, algumas vezes, o mais poderoso elixir da longa vida. José Dirceu continua assustador.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 16 de janeiro de 2008


PROPAGANDA
João Domingos


Governo vai reforçar propaganda dirigida aos eleitores dos grotões


‘Em ano de eleições municipais, o Palácio do Planalto vai reforçar suas campanhas publicitárias dirigidas aos grotões, o que deverá beneficiar o PT e os partidos aliados na disputa pelas prefeituras e Câmaras Municipais. A Presidência da República informou que estão previstos gastos de R$ 154 milhões em campanhas destinadas a mostrar o impacto dos programas do governo federal na vida das pessoas e como esses esforços movimentam o comércio local e impulsionam cadeias produtivas. Entre as campanhas que serão mantidas e reforçadas estão o Bolsa-Família e o Luz para Todos.


Além dos R$ 154 milhões destinados à publicidade oficial, o governo terá ainda R$ 20 milhões para propaganda de utilidade pública, conforme dados do orçamento da Presidência para 2008. O Palácio do Planalto informou que, apesar de ser um ano de campanha municipal, o governo federal não terá de se submeter às regras que limitam a propaganda, pois não está envolvido na disputa. Esse valor segue a média de outros anos.


A preocupação do governo com a publicidade de efeito local está sintetizada na licitação – que deverá ser concluída em fevereiro – para a escolha de três agências. Como teste de classificação, os concorrentes terão de produzir um filme sobre a importância das obras de transposição do Rio São Francisco, de grande apelo eleitoral no Nordeste.


Estatísticas do governo federal de 1998 para cá revelam que quase 60% das verbas publicitárias são destinadas à televisão – o meio com maior penetração popular -, 17% para os jornais, 10% para as rádios e o restante para internet e outdoors. De 2006 para 2007 houve aumento do porcentual destinado à TV e aos jornais e redução para os outdoors.


De acordo com a Secretaria de Comunicação do Governo (Secom), isso ocorreu por causa dos Jogos Pan-Americanos e da compra de espaços em filmes, exibição de corridas de Fórmula 1 e telejornais. O aumento da cota dos jornais foi devido à opção por aumentar a publicidade em publicações regionais. Quanto ao quase sumiço da propaganda em outdoors, a explicação é de que há muita restrição dos municípios sobre seu uso.


A publicidade da administração direta do governo federal está concentrada na Presidência. Em 2005, foram R$ 303 milhões; em 2006, ano da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, R$ 337 milhões, conforme dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), embora a Secom afirme que foram R$ 240 milhões; em 2007, ainda conforme o Siafi, a soma ficou em R$ 242 milhões. As estatais têm autonomia para a contratação de agências e para fazer suas campanhas, embora precisem prestar contas à Secom. Em 2006, de acordo com os dados oficiais, gastaram R$ 775 milhões. Para este ano, deverão aplicar em propaganda por volta de R$ 850 milhões, embora esses números não sejam ainda oficiais.


Somadas as publicidades da administração direta e das estatais, em 2002, último ano do governo de Fernando Henrique Cardoso, foram gastos R$ 761 milhões em propaganda do governo federal, já feita a correção pelo índice IGPM-FGV. Em 2003, primeiro ano de Lula, foram usados R$ 667 milhões. Em 2004, ano de eleição municipal, esse valor pulou para R$ 956 milhões; em 2005, foi quase igual: R$ 962 milhões. Já em 2006, na reeleição de Lula, subiu para R$ 1,015 bilhão. Em 2007, os gastos totais caíram para R$ 965 milhões.


Em 2006, os investimentos em mídia do governo federal tiveram aumento de 5,48% em relação a 2005. Conforme a Secom, na parte que cabe às estatais o crescimento foi de 12% das verbas publicitárias – o mercado de publicidade como um todo cresceu 12,3% em 2006, segundo o Ibope Mídia.


Ainda conforme a Presidência da República, o crescimento do investimento publicitário do governo federal em 2006 ocorreu basicamente por conta da expansão das verbas administradas por empresas estatais que concorrem no mercado e representam 76,3% do total investido.


Entre estas estatais estão a Petrobrás, que neste ano deverá gastar cerca de R$ 220 milhões em propaganda e patrocínio, o Banco do Brasil, com previsão de R$ 180 milhões, e a Caixa Econômica Federal. De acordo com dados do Ibope Mídia, três estatais estão entre os 20 maiores anunciantes: Caixa em 7º lugar, Petrobrás em 9º e Banco do Brasil em 10º.’


 


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Não há cálculo entre prefeituras


‘Não há um cálculo para o gasto com publicidade das 5.564 prefeituras do País. A de São Paulo, a maior, dispõe de R$ 40 milhões para este ano, segundo sua assessoria de imprensa.


O presidente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, disse que 4,5 mil cidades têm menos ou até 10 mil habitantes e sua propaganda é pequena, dirigida apenas a rádios e jornais locais.


Para Fernando Barros, diretor da agência Propeg, tão importante quanto a propaganda para a eleição – ou reeleição – do prefeito é a máquina administrativa. ‘Quem está no poder tem 30% de chance de se eleger se fizer uma administração de média para boa. Quem fizer uma ótima administração já está garantido; medianamente operada a máquina, já é uma boa ajuda’, disse. ‘Se o índice de rejeição for alto, ninguém dá jeito.’


As prefeituras só podem fazer propaganda de suas obras até junho. Mesmo assim, muitos burlam as proibições. São votos de feliz Natal fora de hora, cartas e até anúncios clandestinos, quase sempre descobertos.’


 


Felipe Recondo


Para TSE, publicidade gera ‘desequilíbrio’


‘O poder da publicidade governamental de influenciar eleições municipais é reconhecido pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Marco Aurélio Mello. ‘Essa repercussão representa desequilíbrio na disputa. E a mola mestra de qualquer certame eleitoral, de qualquer eleição, é o equilíbrio entre os candidatos. Se há candidatos favorecidos por esta ou aquela outra iniciativa, evidentemente ele leva vantagem em detrimento dos demais’, diz o ministro. Para Marco Aurélio, a publicidade é capaz de influir nas eleições porque, ‘infelizmente, a conscientização do eleitor é pequena’.


A disputa deste ano é preparatória das eleições nacionais de 2010, quando serão eleitos governadores, deputados federais, senadores e o presidente da República. Por isso, o pleito deste ano é importante para as pretensões futuras de políticos e seus partidos. ‘O que se joga nas eleições municipais a rigor é que elas são preparatórias para as eleições gerais. Por isso sou favorável à data única, sem essa dualidade, tendo-se eleições de dois em dois anos’, defendeu Marco Aurélio.


Segundo o ministro, o pecado maior é o uso da máquina administrativa em benefício de uma candidatura. ‘Há inúmeras regras coibindo e tentando evitar que o administrador, aquele que está exercendo um mandato, acabe colocando a máquina em prol de uma candidatura. O pecado maior é confundir a coisa pública.’


Por lei, explicou o ministro, os gastos com publicidade em determinado ano não podem superar a média das despesas dos três anos anteriores. Se a propaganda feita pelo governo federal ou pelos municípios interferir no resultado das eleições, o TSE pode julgar que houve abuso de poder econômico ou político.


A punição, a depender da gravidade do caso, poderia ser a cassação do registro do candidato beneficiado e declaração de inelegibilidade por três anos de quem tenha promovido tal vantagem. Para que o tribunal julgue qualquer caso de suposto abuso, o Ministério Público, o candidato prejudicado ou partido político devem acionar a Justiça Eleitoral.


FRASE


Marco Aurélio Mello


Presidente do TSE


‘O que se joga nas eleições municipais, a rigor, é que elas são preparatórias para as eleições gerais’’


 


Silvia Amorim


Serra dobra verba para promover sua gestão


‘O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), reservou para a área de publicidade neste ano mais que o dobro dos recursos gastos em 2007. São R$ 151 milhões previstos no Orçamento para 2008 para dar visibilidade às ações do governo tucano, ante os R$ 72 milhões comprometidos no ano passado.


Ou seja, um aumento de 110%, índice bastante superior ao crescimento total do Orçamento, que foi de 14%. A receita de São Paulo está estimada em R$ 96,8 bilhões para 2008.


Os recursos para publicidade ainda podem aumentar, com a liberação de verbas extras ao longo do ano. Em 2007, o orçamento inicial para propaganda era de R$ 48,5 milhões. Depois das suplementações, o governo paulista fechou o ano com uma despesa que superou a previsão em mais de R$ 20 milhões.


O governo Serra atribui o reforço de recursos na publicidade ao crescimento da arrecadação e a projetos novos que precisam ser divulgados. A Secretaria de Comunicação nega qualquer ligação desse aumento de verba com as eleições. Mas é certo que a ampla divulgação dos feitos do governo tucano ajudará candidatos do PSDB em muitas cidades.


Educação, Agricultura e Fazenda são as secretarias com o maior orçamento para publicidade – R$ 20 milhões cada. É dinheiro para dar visibilidade a projetos que serão vitrine da gestão Serra – como a nota fiscal eletrônica, que dá desconto no pagamento de tributos, e a construção de escolas técnicas e faculdades de tecnologia, promessa de campanha do tucano. Também será usado em campanhas de utilidade pública, como a de vacinação contra a febre aftosa ou de convocação dos alunos para o exame de rendimento escolar. A saúde terá R$ 10 milhões para publicidade.


O governo também vai investir pesado para mostrar realizações no popular setor de transportes. Já estão programadas para este ano propagandas sobre a compra de novos trens, a inauguração de estações de metrô e o programa de recuperação das estradas vicinais, menina-dos-olhos de Serra.’


 


GOVERNO
Ricardo Brandt


Lobão Filho é suspeito em fraude de R$ 30 milhões


‘O filho e suplente do senador Edison Lobão, Edison Lobão Filho (DEM-MA), é suspeito de ter ligações com um esquema que fez desaparecer 52.309 notas fiscais de 205 empresas entre 1993 e 1999 dos computadores da Companhia de Processamento de Dados do Maranhão (Prodamar). O Estado teve prejuízo total de R$ 60 milhões.


O senador Lobão é o indicado do PMDB para ser o novo ministro de Minas e Energia. Ontem, em Cuba, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou que terá hoje uma conversa com ele, mas fez a ressalva de que não está certo de que o convidará. ‘Eu vou ter uma conversa com ele e vamos estabelecer uma discussão’, disse Lula. ‘O problema é que o PMDB, por unanimidade, indicou o Lobão, mas eu disse ao PMDB que isso vai depender de uma conversa com ele, que será feita amanhã (hoje).’


O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), afirmou ontem, em Brasília, que não acredita em mudanças naquilo que foi conversado com Lula. ‘Não ficou estabelecido que o convite seria amanhã (hoje), mas entendemos que sim, pois ele marcou a conversa. Vamos aguardar’, disse.


ESQUEMA


Os programas DAMST e SEFPSIT1, feitos exclusivamente para ocultar notas, foram instalados na Prodamar em 1993, no penúltimo ano em que Lobão governava o Estado (1991-1994). ‘Nessa época, o Edinho controlava a Prodamar, bem como outros órgãos dentro do governo’, afirmou um político ligado ao grupo. Os programas permitiam apagar notas do controle do Fisco estadual.


Uma das maiores beneficiadas foi a Itumar, distribuidora da Schincariol no Maranhão, que seria da família Lobão. A empresa teve 3.045 notas apagadas, num total de R$ 3,06 milhões que deixaram de ser recolhidos de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O Ministério Público Estadual apura se a Itumar pertence a Edinho.


As dívidas da empresa com o Maranhão chegam a R$ 42 milhões. ‘Ela é uma empresa que faz isso de forma contumaz’, acusa o promotor José Osmar Alves.


A fraude era cometida por dois programas que permitiam alterar o status das notas fiscais entregues pelos comerciantes ao entrar ou sair do Maranhão por terra – o ‘Projeto Fronteira’. O status é o dígito que acompanha o número da nota e indica se as mercadorias entram ou saem do Estado e se o ICMS foi recolhido pelo fabricante do produto transportado.


Só os status de 1 a 4 e o 1/RO são válidos. Com os softwares, o dígito era alterado para 5 ou 9. Como o programa oficial não reconhecia esses dois dígitos, as notas fiscais eram automaticamente apagadas. As investigações da polícia mostram que o programa batizado de DAMST se refere às iniciais de parte do sobrenome de seu criador, o analista de sistemas Jorge Nunes da Matta. Ele acabou exonerado após admitir a fraude.


A delegada Maria Cristina Resende Meneses, que comandou a apuração, considerou ‘negligente’ a possibilidade de acesso ao dados do ‘Projeto Fronteira’ a partir de ‘qualquer computador interligado em rede’. A Prodamar foi extinta pelo governo Roseana Sarney (ex-DEM, hoje PMDB).


Oficialmente, a Itumar é de Maria Vicentina Pires Costa e José Rosalves Muniz e tem como procurador Marco Antonio Pires da Costa, filho de Maria Vicentina. Ele e Edinho foram sócios na distribuidora de bebidas Bemar, que funcionava no mesmo endereço da Itumar. A parte de Edinho na Bemar foi transferida para Maria Lúcia Martins, empregada da ex-mulher de Costa. Há suspeitas de falsificação de documentos no caso, conforme revelou a revista Veja em sua última edição.


Edinho foi procurado em suas empresas, mas até o fechamento desta edição não havia respondido aos chamados. Ele já negou em outras ocasiões que fosse dono da Itumar e disse só ter sido sócio da Bemar.


COLABORARAM VERA ROSA, ENVIADA ESPECIAL A CUBA, e CIDA FONTES’


 


ISLÃ
O Estado de S. Paulo


Extremista que insultou Maomé é ameaçada


‘Susanne Winter, líder de um partido de extrema direita da Áustria, foi ameaçada num vídeo divulgado ontem pela internet por ter chamado Maomé de ‘pedófilo’ e afirmado que ele escreveu o Alcorão durante ‘um ataque epilético’. ‘Suas palavras foram um erro e, com a ajuda de Deus, você será castigada’, afirma o vídeo.’


 


TELECOMUNICAÇÕES
Nilson Brandão Junior


Oi gasta R$ 11 bi para comprar BrT


‘As operações de consolidação do controle do Grupo Oi (ex-Telemar)nas mãos dos grupos Andrade Gutierrez e La Fonte e de aquisição da Brasil Telecom (BrT) pela Oi deverão movimentar perto de R$ 11 bilhões. Os dois negócios acontecerão em paralelo e resultarão na formação de um grande grupo nacional de telecomunicações. A expectativa é de que o anúncio saia na semana que vem e que as demais etapas do negócio sejam concluídas em três meses.


Para consolidar o controle do Grupo Oi, os grupos Andrade Gutierrez, de Sérgio Andrade, e La Fonte, de Carlos Jereissati, vão usar R$ 2,5 bilhões na compra de participações acionárias de outros sócios na holding do grupo, a TmarPart. Desse total, cerca de 40% serão em recursos próprios e 60%, o equivalente a R$ 1,5 bilhão, financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), segundo uma fonte que acompanha os entendimentos para a formação do novo grupo de telecomunicações.


Na prática, acionistas como o GP, o Citigroup e o Opportunity deixarão a TmarPart. O desenho final das participações dentro da holding que controla o Grupo Oi deverá ser o seguinte: Andrade Gutierrez e La Fonte terão 21% de participação cada um, a Fundação Atlântico (dos empregados da Telemar) terá 10%, o BNDES ficará com 15%, e os fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobrás) e Funcef (Caixa Econômica Federal) terão, respectivamente, 14%, 10% e 10%. Os acionistas ainda estão definindo um acordo de governança dentro do bloco de controle.


Atualmente, o BNDES tem 25% do controle da TmarPart. Sua fatia será reduzida porque os fundos de pensão Petros e Funcef comprarão parte da participação do banco de fomento para não ficarem tão diluídos dentro da nova controladora e, assim, garantir maior participação decisória. O banco terá direito de preferência no caso de a Andrade Gutierrez e a La Fonte decidirem sair do negócio, e um prazo de um ano para encontrar novo parceiro local, como uma espécie de barreira para o risco de uma eventual venda da empresa ao capital externo.


CONTROLADA


Já a compra da BrT será feita pela operadora Oi. O negócio é avaliado em R$ 8,5 bilhões, sendo R$ 4,8 bilhões para os controladores e os R$ 3,7 bilhões restantes para os minoritários. A Oi tem um caixa atual de aproximadamente R$ 6,5 bilhões e capacidade de levantar financiamento. Já foram feitas consultas a bancos, que já deram sinal positivo prévio para a tomada de recursos. Essa dívida será paga, no futuro, com o lançamento de debêntures. Como resultado, a BrT passará a ser controlada pela Oi e, indiretamente, pela sua holding, a TmarPart.


Também está definido que o atual presidente do Grupo Oi, Luiz Eduardo Falco, deverá permanecer no cargo depois do rearranjo do controle da Telemar e da aquisição da BrT. Falco já defendeu a fusão entre as duas empresas, argumentando a necessidade de uma plataforma nacional para o setor. O mais provável é que, no médio prazo, as duas operadoras se fundam, conforme a receptividade do mercado.’


 


Nilson Brandão Junior


Participação do Opportunity pode chegar a R$ 1,3 bi


‘O valor das participações do Opportunity que serão vendidas na Brasil Telecom (BrT) e na TmarPart, controladora do Grupo Oi, poderá chegar a R$ 1,3 bilhão, conforme estimativas de fontes próximas às negociações para a formação da supertele. As informações são, ainda, de que a fatia do GP na controladora do Grupo Oi deverá sair em torno de R$ 700 milhões e as fatias do Citigroup, acionista nas duas companhias, por cerca de R$ 1,4 bilhão.


Esses montantes levam em conta o valor de cada participação acrescido de um prêmio que representa o ganho adicional para cada acionista por participar do bloco de controle dos negócios. A função principal do Opportunity era na gestão de recursos de terceiros em fundos de private equity (participação em empresas) que investiram no negócio.


A versão no mercado é de que o banqueiro Daniel Dantas teria prentendido vender apenas a fatia do Opportunity na BrT e permanecer no capital da TmarPart, holding do Grupo Oi. A mesma versão dá conta, entretanto, que, caso não deixasse a controladora, o negócio não sairia.


 


TV POR ASSINATURA
O Estado de S. Paulo


Valim deixa o comando da Net


‘A operadora de TV por assinatura Net anunciou ontem a saída de seu diretor-geral, Francisco Valim. Em nota, a empresa informou que Valim ‘optou por buscar outros desafios profissionais ao concluir que havia cumprido sua missão dentro da empresa’. O novo diretor-geral da Net será José Antonio Guaraldi Felix, que ocupa atualmente o cargo de diretor-executivo de operações da empresa. Com passagem pela RBS, Felix faz parte da equipe montada por Valim logo depois de assumir a direção da Net.


Valim se tornou o principal executivo da Net quando a empresa saía de uma crise financeira grave, encerrada com a renegociação da dívida e com a entrada da Embratel no controle da empresa. No final de 2002, pouco antes de o executivo assumir o comando da empresa, a Net acumulava um prejuízo equivalente ao seu endividamento líquido, da ordem de R$ 1,2 bilhão. Na época, contava com 1,3 milhão de assinantes de TV paga e 57,8 mil de banda larga. Três anos depois, no encerramento de 2005, a companhia registrou seu primeiro lucro anual, de R$ 45,4 milhões, suas responsabilidades financeiras líquidas estavam em R$ 385 milhões, e o total de usuários na TV subira para 1,6 milhão e do Vírtua, a 532 mil.


Valim ficou conhecido também por não ter papas na língua. Defensor ardoroso do modelo triple play (que combina TV por assinatura, internet banda larga e serviços de telefonia), o executivo comprou grandes brigas com as empresas de telefonia – que queriam evitar a concorrência em sua área. Nessa disputa, proferiu algumas pérolas, como quando falou da ausência de competição na telefonia fixa. ‘As espelhos (concorrentes das fixas locais criadas na privatização) quebraram e nós consumidores é que tivemos sete anos de azar, sem alternativa nesse setor.’


Segundo relatório da Ativa Corretora, a saída de Valim é negativa. ‘Esta será a segunda mudança significativa no ?management? da empresa desde o ano passado, quando o CFO (diretor-financeiro) Leonardo Pereira deixou a companhia’, apontou a corretora. ‘Esse também é um momento especialmente delicado para a empresa no âmbito competitivo, na medida em que as operadoras de telefonia fixa vêm intensificando o foco no início/ampliação da oferta de TV por assinatura.’’


 


TECNOLOGIA
O Estado de S. Paulo


Apple anuncia laptop ultrafino e serviço de locação de filmes online


‘O presidente da Apple, Steve Jobs, revelou ontem a mais recente – e uma das menores – novidades da empresa, no evento MacWorld que ocorre em São Francisco, na Califórnia. Ele apresentou um laptop com menos de 2 cm de espessura que liga automaticamente ao ser aberto.


Ele anunciou também que a Apple entrou para o mercado de aluguel de filmes, após fechar acordos com os seis maiores estúdios cinematográficos dos Estados Unidos para oferecer as produções via internet de alta velocidade. Os filmes serão oferecidos cerca de 30 dias após serem lançadas ao mercado em DVD.


Sempre teatral, Jobs puxou o cordão que fechava um envelope de escritório e tirou de dentro o ultrafino notebook MacBook Air, para os assobios e risadas da platéia.


Na parte mais grossa, o novo computador tem 1,9 cm de espessura. Nas beiradas, mais estreitas que o centro do aparelho, apenas 0,4 cm. O equipamento vem com disco rígido de 80 gigabytes (GB), com uma memória flash opcional de 64 gigabytes.


O notebook não vem com leitor de CDs e DVDs – um acessório do qual, segundo Jobs, os usuários não sentirão falta, pois podem baixar filmes e músicas pela internet e acessar drives ópticos de outros PCs e Macs para instalar novos softwares. Ainda assim, existe a opção de comprar um leitor externo, que custará US$ 99.


A tela do computador mede 13,3 polegadas e seu teclado tem a configuração de um teclado para laptop. Seu preço será de US$ 1,8 mil assim que o produto chegar ao mercado, daqui a duas semanas – mas a Apple já está aceitando encomendas. O site da empresa na internet já oferece o aparelho.


O MacBook Air reforça a linha de produtos da Apple, além de dar mais brilho à sua já polida imagem de criadora de ‘produtos descolados’.


SÉTIMA ARTE


Os outros anúncios de Jobs no evento referiram-se aos esforços da empresa de se aprofundar no lar de seus consumidores com tecnologias que unam internet e entretenimento doméstico.


O anúncio do serviço de aluguel de filmes da Apple já havia rendido meses de especulação. O serviço foi lançado ontem nos Estados Unidos e começará a funcionar internacionalmente ainda este ano. Não há uma data definida para o início em outros países.


A Apple oferecerá mais de mil filmes para aluguel online via site iTunes até fevereiro, com custo de US$ 2,99 para filmes mais antigos e US$3,99 para lançamentos. Os usuários podem assistir ao filme imediatamente enquanto fazem o download, ou baixá-lo e esperar até 30 dias para vê-lo – mas tendo 24h para chegar ao final após começar a assistir.


A empresa fez parcerias com 20th Century Fox, Warner Brothers, Walt Disney, Paramount, Universal e Sony para o serviço, que vai funcionar em Macs, conversores Apple para tevê digital (sem necessidade do computador), computadores com Windows, iPhones e iPods.


Jobs também anunciou novidades para o iPhone. Os usuários do aparelho podem agora procurar mapas na internet, mandar mensagens para várias pessoas ao mesmo tempo e personalizar suas telas iniciais. Ele informou também que já foram vendidos 4 milhões de iPhones desde o lançamento.


AS NOVIDADES


Laptop ultrafino: O MacBook Air tem 1,9 cm em sua parte mais espessa e 0,4 cm nas bordas. O aparelho vem com disco rígido de 80 Gigabytes, mas não tem leitor de CD e DVD


Aluguel de filmes: Os usuários poderão baixar filmes pela internet por até US$ 4. Os filmes devem ser assistidos em até 30 dias após o download


Parceria com estúdios: Para lançar seu serviço de aluguel de filmes (que entrou em funcionamento ontem nos EUA), a Apple fechou parcerias com Fox, Warner, Disney, Paramount, Universal e Sony


Apple TV: O preço dos conversores para TV digital da Apple ficarão mais baratos: o preço cairá de US$ 299 para US$ 229. Além disso, o aparelho também permitirá o download de vídeos para exibição diretamente no televisor, sem ter de passar por um computador


Serviços para o iPod: Aparelho dará acesso a mapas online, envio de mensagem para múltiplos destinatários e personalização da tela inicial’


 


Renato Cruz


Fãs da marca tentam comprar produto sem ver


‘Enquanto o presidente mundial da Apple, Steve Jobs, anunciava ontem os lançamentos no MacWorld, nos Estados Unidos, a central de atendimentos da subsidiária brasileira da empresa já recebia telefonemas de clientes daqui querendo saber como poderiam comprar os equipamentos. ‘O interesse é muito grande’, afirmou Fábio Ribeiro, engenheiro de sistemas da Apple no Brasil. A única previsão de lançamento local, por enquanto, é do MacBook Air, em março, ainda sem estimativa de preço.


Desde a sua volta à Apple, em 1997, Jobs tem transformado a empresa que fundou de uma fabricante de computadores de nicho em uma gigante dos eletrônicos de consumo. Não é à toa que a palavra Computer foi tirada de seu nome. Da mesma forma que o tocador de música digital iPod decretou a morte do CD, a Apple TV pretende fazer o mesmo com o DVD.


Quando foi lançado em junho do ano passado, nos EUA, o iPhone redefiniu a categoria dos chamados ‘telefones inteligentes’, celulares que funcionam como computadores de mão. Ontem, Jobs anunciou a venda de 4 milhões de aparelhos, o que corresponde a uma média de 20 mil por dia. Segundo o executivo, a Apple tem 20% do mercado de telefones inteligentes. O iPhone começou a ser vendido na Inglaterra, Alemanha e França em novembro e será lançado na Ásia este ano.


A história da Apple se confunde com a história da computação pessoal. Foi um produto seu, o Apple II, há 30 anos, o responsável pela popularização dos microcomputadores. Com o Macintosh, em 1984, trouxe para o mercado de massa o mouse e os ícones, facilitando o uso da tecnologia.


Mesmo assim, a empresa não ficou presa ao mercado de computadores. No trimestre encerrado em setembro, a Apple vendeu 10,2 milhões de iPods, comparados a 2,164 milhões de computadores Macintosh. Foram vendidos 1,119 milhão de iPhones no período.


O sucesso na venda de eletrônicos acaba incentivando a demanda por computadores. Muitos usuários de iPods e de iPhones resolveram dar uma chance aos computadores da Apple. Segundo a empresa Net Applications, a participação de mercado do Macintosh passou de 6,38% em fevereiro do ano passado para 7,31% em dezembro.


No mundo da Apple, no entanto, o computador é somente mais um equipamento da rede. A atualização do software da Apple TV permite baixar filmes direto no equipamento, via rede sem fio, sem ter de passar por um micro. O Time Capsule armazena informações direto na rede. O iPod Touch, lançado em 2008, acessa a internet sem fio e possibilita a compra de músicas sem necessidade de computador. O serviço iTunes, da Apple, de venda de músicas e filmes pela internet, ainda não está disponível no Brasil.


Esperar as novidades anuais da Apple, anunciadas no MacWorld, é uma tradição entre os consumidores de tecnologia. Para manter seu toque de Midas, Steve Jobs tem o desafio de surpreender a cada ano.’


 


MÚSICA
Jotabê Medeiros


Sangue novo


‘Moleza acertar previsões sobre o pop rock nacional para 2008. Por exemplo: 1) algumas das bandas novas mais interessantes serão gaúchas; 2) O rock de garagem vai dar as cartas de novo; 3) Híbridos de rock com funk carioca, moda de viola, baião, guarânia e xote serão uma constante; 3) Alguns entre os novos astros serão procurados por Caetano Veloso para uma palhinha na TV ou no palco.


Mas aí será picaretagem: essas previsões se realizariam também na maioria dos anos recentes. Ainda assim, é quase tudo verdade. Começando pelo mais óbvio: as bandas mais interessantes lançando álbuns novos este ano são gaúchas: Fantomaticos, Apanhador Só, Wonkavision e Superguidis, todas de Porto Alegre, estão no topo desse ranking.


Mas tem mais chegando de tudo quanto é rincão. Do Acre, afirma-se na cena do eixão Rio-São Paulo a notável banda Los Porongas; Curitiba, sempre pródiga em garotos que fazem sons esquisitos, revela os novatos do Goya e do Sopa, entre outros; do Ceará, já notabilizado em clubes paulistanos, agiganta-se o Montage, primeira banda de electro do Nordeste (que cresce no vácuo aberto por outros atos semelhantes, como o Bonde do Rolê, que se separou). O Montage teve um 2007 ruim: teve a entrada barrada na Inglaterra e seu palco no TIM Festival foi interditado. Mas já tem um batalhão de fãs.


Há outra previsão que dá todos os indícios de que vai se concretizar: 2008 vai ser o ano do rock independente no Brasil, uma das melhores safras de todas. Isso se explica por diversos motivos. O primeiro deles, curiosamente, vêm da ação do poder público.


Em outubro do ano passado, o Ministério da Cultura e a Petrobras divulgaram os projetos vencedores do 1º Edital Petrobras de Festivais de Música 2007. Foram escolhidos 24 festivais para receber entre R$ 60 e 200 mil (no total, R$ 2,5 milhões). Entre eles, notórios celeiros de bandas novas, como o Festival Calango, de Cuiabá (MT), o Festival Cultural Música Alimento da Alma, o Mada, de Natal (RN), o Varadouro, de Rio Branco (Acre), o Goiânia Noise Festival (GO), e o Humaitá Pra Peixe (RJ). É um respeitável empurrão.


Some-se a isso a chegada do MySpace Brasil, que já abriga páginas de bandas nacionais de todos os recantos do País, e temos já motivos para prever a ampliação do celeiro. É um ano quente para os independentes, e a emergência de premiações novas mostra isso. ‘Reforçando: não valem artistas contratados por grandes gravadoras (Sony BMG, Universal, EMI e WEA)’, diz o aviso do Prêmio Dynamite de bandas independentes que convoca jornalistas e crítica especializada para indicar os destaques de 2007.


Um dado bacana é que os novos guerreiros do pop rock demonstram uma consciência mais ampla e desopilada do seu papel no universo musical. ‘Que ninguém mais fique esperando por um diretor artístico que o ‘descubra’, que o contrate a peso de ouro, que lhe dê um carro e um apartamento no Leblon para que grave um disco. Não vai acontecer. Agora, é preciso fazer música porque se ama a música, e não para virar um pop star’, afirmou Diogo Soares, vocalista da banda Los Porongas, um dos melhores novos atos da cena brasileira, durante debate na ONG Cidadão do Mundo, em dezembro.


A banda de Diogo emergiu de uma situação de exclusão dupla: longe demais das capitais do eixo Rio-São Paulo, longe demais de todas as outras, ele lembra que o Acre, durante a revolta da vacina, em 1904, era o lugar para onde os revoltosos eram mandados como uma forma de exílio. ‘Era um lugar para morrer’, disse.


Mas o que poderia parecer handicap, deficiência, torna-se trunfo em Los Porongas: com uma levada que lembra uma mistura de Chico Science com Secos & Molhados, um sabor diferente de tudo que se vê por aí, eles vão fazendo seu caminho.


Augusto Stern, vocalista do grupo gaúcho Fantomaticos, uma das mais agradáveis notícias que vêm do Sul, não se deslumbra com o admirável mundo novo que se abre para as novas bandas brasileiras. ‘As facilidades que temos, como a internet, o mp3 e o homestudio, ajudam a formar novos músicos, muitos deles, mas o que faz uma banda se destacar continua sendo o que sempre foi, a tecnologia é apenas um meio. Uma banda realmente boa vai acabar dando certo, esteja o cenário bom ou ruim’, afirma. ‘Um dos problemas é que bandas muito boas acabam sendo colocadas ao lado de outras nem tanto, pois a internet ‘padroniza’ tudo. Agora, também é ótimo poder gravar um som em casa e colocar no mesmo dia no MySpace.’


O grupo lança nos próximos dias, pela Pisces Records, de São Paulo, seu primeiro álbum, Fantomaticos no Bosque. ‘Gravamos tudo por conta própria com os nossos equipamentos – simplesmente pegamos tudo e fomos morar durante 40 dias numa mansão abandonada que um amigo emprestou’, conta.


O velho e bom rock’n’roll à moda setentista continua dando as caras. O guitarrista Rodrigo Casais Gomes, da banda paulistana Tomada, está com os colegas (Marcelo Bueno, baixo; Ricardo Alpendre, voz; Alexandre Marciano, bateria) em estúdio produzindo o seu terceiro disco, o primeiro com a formação atual. É uma das boas bandas do gênero. ‘Eu nem sei seu nome/Meu Deus, que mulher!’, diz a letra de Meu Deus, Que Mulher!.


Criaturas estranhas psicodélicas aparecem todo dia no novo cenário. Criaturas como as bandas Sopa e Goya, de Curitiba. O quinteto Sopa usa instrumentos como xilofone e gaita de boca, e o resultado é altamente experimental e psicodélico. Em 2234, usam até um theremin para obter a sonoridade esquisita que buscam. Já o Goya vai buscar suas referências em um mundo sonoro sofisticado e viajante, como a música de Frank Zappa, Miles Davis e King Crimson.


Ninguém tem mais pudor de experimentar e ser escancaradamente pop. É o que mostra a escalação do palco Tendências, do Festival de Verão de Salvador. Ali, comparecem desde a axé descarada do Chica Fé, que tende a ser hit do carnaval com Eu Quero Ter Você (‘Vou trocar meu colar por um beijo’) até o altcountry acústico do Aguarraz e o pop arredondado do Cof Damu.


Emergindo já como bandas grandes (entendendo-se ‘grande’ dentro da nova perspectiva indie), estão grupos como o Wonkavision e o Vanguart, de Mato Grosso. O powerpop dos gaúchos do Wonkavision – formado por Will (vocais e guitarras), Manu (voz e teclados moog) e Kiko (bateria)chega a 2008 com um disco produzido por John Ulhoa, do Pato Fu, que tem se mostrado um novo Rei Midas da produção nacional.


Já o Vanguart está mais do que reconhecido e aclimatado – trocaram Cuiabá por São Paulo recentemente. Boa guitar band que, em vez de se mirar no mesmo espelho de seus contemporâneos, o espelho dos Strokes, foi atrás do folk e altcountry de grupos como Wilco, sem descuidar das referências regionais. Bela banda.’


 


CINEMA
Franthiesco Ballerini


O mundo inteiro cabe em Pune


‘Considerado um dos mais importantes eventos de cinema da Índia, o Festival Internacional de Pune homenageou, no fim de semana, um dos maiores diretores indianos vivos, Shyam Benegal, uma espécie de Robert Redford daquele país, especialmente por seu trabalho com o cinema independente e sua forte ligação com os centros acadêmicos de estudo de cinema.


Na homenagem, Benegal anunciou seu próximo projeto, o filme Mahadev Ka Sajjanpur, sobre a história de um homem que sobrevive escrevendo cartas para analfabetos em regiões pobres da Índia. Na entrevista concedida ao Estado, o diretor confessou que este novo filme nasceu de uma certa inspiração em Central do Brasil, de Walter Salles, ganhador do Festival de Berlim em 1998. ‘O Walter Salles é um dos diretores latino-americanos que eu mais admiro e tenho visto todos os seus filmes. Focarei minha história na Índia dos iletrados, naquela que depende de pessoas como o personagem Mahadev para se comunicar com seus parentes e amigos distantes’, conta o diretor, que pretende lançar o filme mundialmente no próximo semestre.


As semelhanças entre Shyam e o diretor brasileiro não param por aí. Assim como Salles, Shyam começou sua carreira na publicidade, tendo feito mais de 900 trabalhos publicitários e documentários antes de estrear como diretor de ficção. ‘Foi uma bela forma de começar a carreira. Sou da segunda geração de publicitários indianos e aprendi quase tudo que sei – como mexer com lentes, lidar com a câmera – no trabalho com anúncios. E isso me ajudou também a vender meus filmes, porque aqui na Índia não se consegue uma boa bilheteria se não fizer muito marketing, tamanha a produção de filmes a cada semana. Não podemos depender do boca a boca porque, enquanto alguém fala do meu filme para outro, ele já está saindo de cartaz, ou seja, não há tempo para isso’, explica Benegal, único diretor indiano a ganhar cinco vezes o prêmio de melhor filme do National Film Award e homenageado, em agosto passado, com o prêmio máximo do cinema indiano por sua carreira como um todo, o Dadasaheb Phalke Award.


Por conta do festival internacional, Pune recebe, nesta época do ano, uma grande quantidade de intelectuais e jornalistas, especialmente por ser um dos berços do que hoje é a indústria de cinema indiano – com sua grande produção – mais conhecida como Bollywood. O Pune Film Institute ainda conta em todas as edições com estudantes de cinema de todos os continentes, especialmente graças ao seu vasto material de arquivo para estudo de cinema. O National Film Archive of India (Arquivo Nacional de Filmes da Índia), localizado no instituto, tem quase 17 mil títulos de filmes de vários países, além de 27 mil livros, 33 mil roteiros e 130 mil fotos do ambiente cinematográfico.


Em sua sexta edição, a mostra exibe até amanhã 165 filmes do mundo inteiro. Na seção Country Focus (País em Foco), uma retrospectiva do cinema francês e alemão, com a exibição de filmes como Change of Address, do francês Emmanuel Mouret, e Baron Münchhausen, do húngaro Josef von Baky, feito na Alemanha em 1943. Além de Shyam Benegal, ganharam retrospectiva também o cinema do alemão Alexander Kluge e do espanhol Pedro Almodóvar.


No festival, há três mostras competitivas: além da World Cinema, seção central com filmes dos mais variados países; a Marathi Cinema, dedicada ao cinema produzido neste Estado na região central da Índia, com um prêmio de US$ 20 mil para o melhor filme e US$ 10 mil para melhor diretor, prêmios considerados altíssimos para o padrão indiano. A terceira mostra competitiva é dedicada a animações digitais feitas por estudantes indianos, com US$ 5 mil em prêmios para os melhores trabalhos exibidos.


Jabbar Patel, diretor e organizador do festival, trouxe este ano 12 filmes latino-americanos – como O Pântano, da argentina Lucrecia Martel – entre os quase 60 filmes internacionais. Nenhum filme brasileiro está na lista dos latino-americanos e não foi por falta de interesse do festival. ‘Queríamos muito ter trazido o filme A Casa de Alice, mas não conseguimos nem chegar perto de trazê-lo porque tivemos enormes problemas de comunicação com os responsáveis pelo filme no Brasil. Eu ouvi falar muito bem desse filme e prometi a mim mesmo que conseguirei trazê-lo para o festival em 2009. Até lá a gente vai afinar melhor nossa comunicação com o pessoal do Brasil’, comenta Patel, que explica já haver outras dificuldades adicionais para trazer o cinema latino à Índia, como o alto custo financeiro de trazer diretores e produtores devido à distância entre as duas regiões.


Para o ano que vem, Patel adiantou à reportagem que o Festival Internacional de Pune fará uma homenagem especial pelo centenário de nascimento do compositor indiano R. D. Burman (1939-1994), considerado o pai da música contemporânea de Bollywood.


O repórter viajou a convite da organização do festival’


 


Flávia Guerra


Will Smith reforça sua lenda no País


‘‘Um dos maiores desafios deste filme foi ficar calado. Quando passamos o que sentimos só por meio de expressões e gestos, percebemos o poder que isso tem e acabamos descobrindo muito sobre nós’, disse Will Smith ao Estado, quando questionado sobre o exercício de contracenar, por mais de metade de seu novo filme, Eu Sou a Lenda, com um pastor alemão. A julgar pela animação e pelo barulho que Smith causou, já ao entrar na sala do Hotel Copacabana Palace, onde conversou com jornalistas, na segunda-feira, sobre o filme que é a maior bilheteria do verão nos EUA, foi realmente difícil ficar calado. Will gritou cada vez que o nome do diretor Francis Lawrence (de Constantine) e do roteirista Akiva Goldsman (Oscar por Uma Mente Brilhante) foram anunciados. Gritou mais ainda quando o seu próprio foi anunciado.


Will, Lawrence e Goldsman cumpriam a maratona que os fez rodar o mundo para lançar o blockbuster de US$ 150 milhões, que estréia na sexta-feira em 450 salas do País e já abocanhou US$ 240 nos EUA. Como disse, ele não será para sempre o cara mais poderoso do cinema. Mas, até que Tom Hanks ou Tom Cruise anunciem seus próximos projetos, ele é o cara. Turnês como essa obrigam não só os jornalistas, mas também os astros a dizer ?ok, acabou? exatamente no momento em que as entrevistas se tornam interessantes para ambos os lados. Como são milimetricamente coreografadas de maneira a parecem um grande ‘escravos de jó’, acabam por esconder a real personalidade dos tais astros. Mas Smith consegue abrir um sorriso de autenticidade e dizer ‘Estou feliz por estar no Brasil’, sem parecer conversa para brasileiro ouvir.


Não está nem aí para o protocolo. Andava de meias pelo hall do hotel, ‘estava muito calor’, e consegue ser autêntico até quando questionado pelo Estado se desta vez ele cairia no samba. Como em sua primeira visita ao Brasil, em 2005, quando veio lançar Hitch – Conselheiro Amoroso, exagerou não só nas caipirinhas, brincou que desta vez não passaria nem perto da Sapucaí, já que ?quase tinha arranjado problemas da última vez’. O bom-mocismo do ator, casado com a atriz Jada Pinkett Smith, não o impediu de badalar na noite de anteontem e dançar ao som da música brasileira no ?after party? do Rio Scenarium, reduto do samba no Rio, após dar mais um ?show de simpatia e maneirismos? na pré-estréia do filme no Cine Odeon, com o filho mais velho Tray.


Ah, sim, o filme: Eu Sou a Lenda é uma adaptação (a terceira) do romance de Richard Matheson e conta a história de Robert Neville, cientista do Exército americano que pensa ser o último sobrevivente depois que Nova York (e a Terra) é assolada por um vírus mutante que transforma humanos em feras vampirescas hipersensíveis à luz. Neville é imune ao tal vírus (manipulado em laboratório para ser a cura do câncer e que se revela um agente letal). O antídoto está em seu sangue e, apesar de achar que está sozinho no planeta, insiste em perseguir a cura. Tendo apenas a cadela Sam como companhia, desenvolve uma dura rotina de trabalho e pesquisa. Treina, sai de casa só durante o dia e cria armadilhas para capturar os zumbis e testar os antídotos que desenvolve. Tem Manhattan (isolada do mundo) só para ele. Mas está sozinho em uma metrópole que está sendo engolida pela natureza, mais forte que o tal progresso humano e se tornando selva de fato. Ou quase sozinho. Ele é o homem que pode salvar os poucos sobreviventes do desastre. Por acaso esse homem é negro. E a mulher que o ajuda é latina (a brasileira Alice Braga).


É politicamente interessante escalar um negro e uma latina para encarar a última esperança de salvar a humanidade de seus exageros, não? ‘Não pensamos nisso. Mas procede. Will sempre está em filmes que envolvem fé e humanização em vez de simples evolução tecnológica’, respondeu Lawrence. ‘Alice Braga, por exemplo, não foi escolhida porque é latina. Foi nossa única opção desde sempre. Ela passa a idéia de candura e autenticidade perfeitas para o papel’, completou Smith, que, no domingo, jantou com a família da atriz, que não participou do lançamento. Está no Canadá filmando Repossession Mambo ao lado de Jude Law.


A repórter viajou ao Rio a convite da Warner


Serviço


Eu Sou a Lenda (I Am Legend, EUA/2007, 101 min.) – Ficção científica. Dir. Francis Lawrence. 14 anos’


 


O Estado de S. Paulo


Afeganistão proíbe Caçador de Pipas por incitar violência


‘O governo do Afeganistão proibiu a importação e a exibição do filme O Caçador de Pipas, baseado no best seller do médico e escritor afegão Khaled Hosseini, radicado nos Estados Unidos. O filme, dirigido por Mark Foster, estréia na sexta-feira em São Paulo e conta a história da amizade entre dois garotos afegãos, Amir e Hassan. O governo do Afeganistão alega que o filme pode incitar violência por trazer cenas ‘inaceitáveis para o governo e a população local’, segundo o chefe da agência estatal de filmes do país, Latif Ahmadi.


A produtora do filme já havia tomado providências para proteger os três jovens que participaram como atores do filme com medo de represálias de grupos étnicos e religiosos, retirando suas famílias do Afeganistão. Lançado com atraso no mês passado, nos EUA, por causa de cuidados envolvendo uma cena de estupro de um dos garotos, o filme O Caçador de Pipas conta três décadas da história afegã, da invasão soviética à dominação taleban. Nas cenas polêmicas que preocupam as autoridades afegãs, o garoto Hassam é violentado num beco por um Jan Mahmuzada, que interpreta o garoto Hassan, alega que não foi informado pelos produtores da cena de estupro até sua rodagem, mas os realizadores negam. A cena, considerada ‘incendiária’ numa sociedade islâmica como a do Afeganistão, pode trazer sérias conseqüências para os atores, recrutados entre amadores da Ásia Central que formam o elenco.’


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez e Thaís Pinheiro


Datena arma circo


‘Datena está de volta aos velhos tempos. O Brasil Urgente de anteontem exibiu imagens de um assalto a banco em Rorainópolis, em Roraima, narrando com detalhes a troca de tiros entre policiais e bandidos e a agonia dos reféns.


Tudo estaria dentro da normalidade do policialesco da Band se o assalto não tivesse acontecido em agosto de 2007, e Datena avisasse o público que se tratava de imagens velhas. Apesar de perguntar ‘Quando foi isso mesmo?’, o apresentador exibiu mais de 20 minutos do assalto com a tarja ‘Exclusivo’ no ar, sem citar a data do ocorrido.


Detalhe: Datena até chamou link para perguntar se havia feridos.


O resultado foi uma chuva de ligações a órgãos da imprensa local vinda de diversos Estados do Brasil em busca de mais informações.


A Band alega que as imagens eram inéditas porque, apesar de se tratar de um incidente de agosto, só ontem foram liberadas pela polícia. Mas a emissora não sabe explicar por que Datena não avisou que se tratava de um fato antigo. Outros noticiários da Band e da Record também exibiram o assalto, mas deram a data do ocorrido.’


 


 


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