Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A política do ciberespaço

A internet – utilizada no Brasil como ferramenta pelos partidos políticos e candidatos a cargos públicos – ainda é muito incipiente. E talvez isso ocorra por um tradicionalismo das legendas e de suas lideranças, que acreditam apenas nos contatos pessoais para fazer campanha política e desprezam a utilização do ciberespaço como mais um recurso para ampliar as discussões com a sociedade civil.

E espaço para os debates políticos é o que, de fato, falta na internet. Entendam que não me refiro aqui aos sites dos meios de comunicação, de mídias independentes (como o próprio Observatório da Imprensa), de blogs de jornalistas ou alternativos, dentre outros. Esses estão permanentemente abastecendo a sociedade com informações e ampliam a interatividade. Refiro-me às páginas das legendas partidárias e dos próprios políticos. Quantos partidos, por exemplo, abrem espaço, em suas páginas, para debates via chat? Quantos respondem, via rede, às dúvidas dos eleitores sobre os mais diversos assuntos? Quantos vereadores, prefeitos, deputados, governadores e senadores possuem e-mail? Quantos têm páginas pessoais? Quando as têm, são de difícil acesso e não permitem a inter-relação com os seus eleitores.

A ciberpolítica está cada vez mais presente na vida cotidiana das pessoas. O acesso é mais rápido e fácil, sendo feito no trabalho, em casa, em shoppings. Inclusive, o político que souber aproveitar-se desse espaço poderá estreitar ainda mais o elo com a sociedade – cada vez mais descrente da política –, ampliando os meios de interatividade política digital.

Metodologia da pesquisa

Em entrevista concedida ao jornal El País (6/1/2008), o sociólogo Manuel Castells disse que a internet amplia uma brecha social na história, que é o nível de educação. O interessante na entrevista, e o que Castells vai apontar mais especificamente, é que os governos têm medo da internet, justamente porque não a conseguem controlar e atualmente são cobrados de suas ações pela rede. Sobretudo, afirma que essa sociedade está articulada de forma transversal, com menor controle das instituições tradicionais. Castells conclui a entrevista com algo fundamental para entendermos a incapacidade de alguns políticos em utilizar a internet como recurso democrático:

‘O problema é que o sistema político não está aberto à participação, ao diálogo constante com os cidadãos (…) e, portanto, estas tecnologias distanciam mais a política da cidadania.’

Em 2006, desenvolvemos, no Núcleo de Arte, Mídia e Política (NEAMP) da PUC-SP, uma pesquisa sobre a utilização das novas tecnologias nas eleições presidenciais em blogs e sites de partidos políticos, dos candidatos à Presidência e da mídia não tradicional. Aplicamos uma metodologia em que quatro categorias foram analisadas: informação, interatividade, facilidade de uso e estética.

Utilização da ciberpolítica

Ficou patente a falta de uma maior interatividade entre os sites de candidatos e dos partidos políticos brasileiros com o eleitor. No Brasil, o leitor desses meios é apenas um receptor de informação, abastecido somente com notícias, artigos, programas partidários, arquivos de fotos e de vídeos. Os canais de comunicação são deficientes, estimulando pouco uma relação mais próxima com o eleitorado. A mensagem atravessa uma via unilateral. Não existe qualquer grau de interatividade, ou quando existe é feito por canais fechados de grupos de discussão de difícil acesso para a maioria da população.

Isso, obviamente, desestimula uma participação política mais efetiva, ainda mais em tempos de Orkut, MSN e mensagens via celular. Aqueles que quiserem sobreviver no meio digital precisam travar uma relação mais íntima com os usuários da rede. As pessoas já são refratárias à política e, sem qualquer estímulo, fica mais difícil ainda. Está no ciberespaço o movimento de potencialização e dimensionamento dos debates políticos.

Ao ampliar os espaços de discussão política, menos a sociedade ficará receosa e descrente das ações tomadas por seus representantes. É cada vez mais apropriada a utilização da ciberpolítica e é necessário que os partidos e candidatos encontrem no meio o canal para conseguir o feedback da sociedade que eles representam.

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Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP e pesquisador do NEAMP – Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política