Toda profissão possui um conjunto de normas e procedimentos que conduzem a atividade. No jornalismo não poderia ser diferente; temos nosso código de ética, que deveria levar todos os profissionais a uma conduta altruísta desejável socialmente. Isto porque o comunicólogo forma opinião e ajuda a construir, queira ou não, os valores sociais e a concepção de mundo do ser humano. No entanto, o que se observa atualmente nos profissionais de comunicação no plano nacional, e em especial no Piauí, é que existe uma exploração sem escrúpulos dos acontecimentos. Geralmente se recorre a qualquer estratégia para chamar a atenção dos receptores da mensagem, através da exposição exagerada das vidas dos sujeitos envolvidos no fato, além da publicação de notícias de forma extremamente sensacionalista, com a exposição de imagens fortes (muitas vezes sem preparar o leitor da matéria).
Podemos citar como exemplo desta falta de consciência ética as postagens publicadas no blog do jornalista Efrém Ribeiro, que costuma acionar os mecanismos sensacionalistas citados anteriormente. Na matéria ‘Pedreiro cai de telhado e morre em Teresina‘, publicada em 10/1/2008, o jornalista destaca no lead as seguintes informações: ‘O IML foi pegar um corpo de um operário da Contrução Civil, que caiu de andaime na Rua Coelho de Rezende, bairro Marques, zona Norte de Teresina. Trata-se de Miguel Vieira de Lima, 44. Ele tava consertando o telhado de um galpão.’ Além dos pequenos erros de ortografia, Efrém disponibiliza para seus leitores fotografias extremamente chocantes do acontecimento. Será que ele pensou nos princípios éticos que regem o jornalismo, os quais dispõem no Cap. III Art. 11, inciso II, que o jornalista não pode divulgar informações ‘de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente, em cobertura de crimes e acidentes’? Está claro que não.
Utilização da imagem
Atitudes como as de Efrém Ribeiro também são cometidas no jornal Meio Norte, do qual ele também é colaborador. Na notícia intitulada de ‘Dona de casa é espancada por estuprador‘, divulgada no jornal em 8/1/2008 na página policial, o impresso coloca para seus leitores imagens da aposentada Maria do Espírito Santo, 55 anos, totalmente deformada por conta das agressões que sofreu. Contudo, não somente os dois veículos de informação acionados aqui se caracterizam como sensacionalistas. É costume observarmos matérias sangrentas em mídias online, tais como o site 180 graus na cobertura do evento que levou à morte Alan Nunes Costa Silva, indivíduo que tentou assaltar uma agência do Banco do Brasil na capital piauiense; o Portal AZ quando no seu ‘Plantão da Madrugada AZ’, disponibilizou imagens altamente violentas do mototaxista Antônio José da Silva Queiroz, de 26 anos; esses, dentre outros meios. Mas isso não acontece somente na internet; nas produções televisivas, principalmente nos programas policiais, tais iniciativas também ocorrem. Um exemplo é o programa Comando 10, da TV Antena 10, na matéria ‘Rapaz é atropelado por caminhão na BR 343’, onde existe a exploração desses mecanismos sensacionalistas ao se expor de forma exagerada a imagem da pessoa envolvida no fato relatado.
É bom lembrar que os posicionamentos adotados pelos meios de comunicação aqui citados podem gerar penalidades severas, tanto civis, quanto criminais, se a pessoa ou os familiares desta se sentirem ofendidos com a atitude do jornalista ou veículo ao qual ele está ligado. Como a imagem é um direito particular, protegido pela própria Constituição Federal no Art. 5º, não pode um terceiro, sem uma anterior autorização, utilizar a imagem alheia sem o prévio e expresso consentimento de seu titular, pois assim estará violando um direito que não lhe pertence.
A importância do ombudsman
O fazer jornalístico apelativo e pouco ético de muitos profissionais do Piauí coloca em xeque o papel social da imprensa e, ainda, se a comunicação está se reduzindo a apenas uma simples atividade mercadológica. Isso porque a ética definida pelas normas morais deveria ultrapassar os limites de uma cultura particular ou do âmbito profissional. Neste caso, precisa ser inerente ao indivíduo, ou seja, o pensamento ético deve ser regido não somente porque existem normas que direcionam a atividade jornalística, mas, sobretudo, por conta de uma consciência social que deve estar incutida no ser humano.
Levando em consideração o que fora colocado anteriormente, poderíamos ressaltar a importância de se ter um ombudsman (jornalista contratado pela instituição para fazer críticas e sugestões em defesa da comunidade em geral) nas redações desses veículos. Ao se dedicar a receber, investigar e encaminhar as queixas dos leitores, esse profissional poderia evitar tamanha ausência de ética na imprensa do estado.
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Estudante de Comunicação Social da Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI