A novela ‘A culpa é da imprensa’ protagonizada pelo quase ministro Roberto Mangabeira Unger precisa continuar, é obrigatório levá-la até o fim, sob pena de interromper um dos episódios mais cínicos, mais hipócritas, mais didáticos e também um dos mais hilariantes da nossa história política.
Brilhante professor de Harvard, Mangabeira Unger, com 13 livros publicados em inglês, escreveu no dia 15 de novembro de 2005 – Dia da República – que o Congresso Nacional deveria fazer o impeachment do governo mais corrupto da história [ver ‘Pôr fim ao governo Lula‘, para assinantes da Folha e/ou UOL]. Convidado pelo presidente Lula para fazer parte do novo ministério, Unger explicou que estava mal informado. Como vive nos Estados Unidos, tudo o que escreveu sobre o Brasil era baseado nas informações da nossa imprensa.
A emenda saiu pior do que o soneto, como sempre: quem fica mal agora é a Folha de S.Paulo, jornal que tirou o desconhecido Unger do anonimato e o publica há alguns anos, semanalmente, na sua página mais nobre, a página 2.
Questão de credibilidade
Com a esfarrapada desculpa, Unger está dizendo que a Folha é mal informada porque seria impensável que, vivendo no exterior, fosse buscar informações sobre o Brasil no concorrente.
Na retratação anunciada, o novo ministro insistirá na tese de que a culpa é da imprensa ou de certa imprensa? Acontece que tão logo seja empossado como ministro, Mangabeira Unger deverá afastar-se do jornal, é a praxe da Casa. Ou o jornal abrirá uma exceção? E qual será a credibilidade da nova Secretaria de Ações de Longo Prazo que começa de forma tão lamentável?
O problema não é nosso, o problema é da Universidade Harvard que, infelizmente, não acompanha o que sai na imprensa brasileira.