‘20/04/07
A leitura da cobertura de três jornais estrangeiros sobre o massacre na Virgínia (EUA) reafirma uma tendência do jornalismo brasileiro (na verdade, um componente da sua cultura, pelo menos a mais recente): resolver com muito espaço o desafio de selecionar e hierarquizar a informação.
O ‘New York Times’, do país onde ocorreu a tragédia, deu duas páginas internas e menos de meia primeira página. O espanhol ‘El País’, cujo formato é menor que o de diários como a Folha, reservou duas páginas. O francês ‘Le Monde’, somando o noticiário interno com o da capa, não chega a uma página.
No Brasil, o espaço dos principais jornais foi, na média, superior. É difícil saber quem tem tempo hoje para ler tantas notícias.
O ‘New York Times’, em vez de fragmentar a cobertura em uma infinidade de retrancas, concentrou-a em poucas (quatro, mais uma arte grande e um histórico de massacres). A principal tem cerca de 130 cm. Para quem quisesse saber o essencial, bastava ler este texto.
Ao contrário do que disse nos idos de 1964 o cearense Juracy Magalhães, nem tudo o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil. Mas a Folha faria bem em refletir sobre a cobertura do massacre na imprensa do exterior.
O paradoxo da pág. 3
Com dez mensagens, hoje foi um dia do Painel do Leitor para os leitores. Como deveria ser sempre.
Só não houve mais espaço devido à publicação de seis notas no Erramos. Uma atitude positiva do jornal, reconhecer suas incorreções, é um serviço aos leitores. Mas lhes tira espaço para cartas.
O ideal seria o jornal errar menos. Quanto mais erra, e (saudavelmente) corrige os erros, menos espaço há para o Painel do Leitor.
O espaço de correções não deveria ‘concorrer’ com o Painel do Leitor.
Furacão – Batismo
Um leitor procurou o ombudsman para saber por que a operação da Polícia Federal foi batizada de Hurricane. A Folha já havia informado que, antes, o nome era Furacão. Ao chegar a Brasília, houve a tradução para o inglês. Até agora,salvo engano, não se esclareceu a escolha da palavra Furacão.
Furacão – Quem são?
A matéria ‘Associação diz que bingo não é jogo, mas uma loteria’ (pág. A5) informa que o presidente de uma associação afirma que ‘advogados reconhecidos’ sustentam a legalidade dos bingos.
Por que o jornal não cita quem são tais advogados?
Furacão – Título
O título do alto de página ‘Polícia diz que bicheiros são os donos dos bingos do Rio’ (pág. A7) não encontra respaldo no texto. Quem faz a afirmação é o Ministério Público Federal.
Seria o caso de corrigir.
Furacão – Furos
A Folha não tem a informação dos jornais do Rio sobre supostas doações de bicheiros a deputados estaduais. É notícia importante. O ‘Globo’ informa que ela foi ao ar no telejornal ‘RJ-TV’, segunda edição, que termina antes das 19h30. A edição SP da Folha que eu li foi concluída à 1h21 da madrugada de hoje, sexta-feira.
Também não li na Folha informação que está em outros jornais (no ‘Estado’, é manchete) sobre a tentativa da ‘máfia do jogo’ de tentar sacar R$ 4 milhões mesmo depois das 25 prisões.
O ‘Estado’ mostra o funcionamento de caça-níqueis a pouquíssimos metros do Palácio da Justiça.
Terrorista?
O noticiário dos últimos dias sobre a libertação do ex-agente da CIA Luis Posada Carriles (hoje na pág. A15) fala de acusações e negativas, mas o jornal não ajuda o leitor a formar juízo: afinal, há indícios de que ele seja culpado pela derrubada de um avião, em episódio no qual morreram 73 pessoas?
Atropelou?
O texto ‘Marinho é acusado de atropelar aposentados em Brasília; ministro nega’ (pág. B4) tem aparentemente um problema: quem estava dirigindo o carro? Era o ministro ou um motorista? Considerando a foto, a impressão é de que Luiz Marinho não estava na direção. Não muda em nada a importância de saber se houve atropelo. Mas é informação necessária que os leitores da Folha não tiveram.
Dois pesos
O texto ‘Oficial não sabe regras do ar, diz controlador’ (pág. C9) informa qual era o avião da Gol no acidente de setembro passado (um ‘boeing’; deveria estar com maiúscula), mas não cita o nome nem do fabricante nem do modelo da aeronave que derrubou a da Gol. Fala em ‘jato da ExcelAire’.
Imagino que não seja a intenção, mas o contraste pode passar a impressão de tratamento diferenciado à indústria brasileira.
Pensamento único – Justiça
É caso merecedor de destaque o relatado em ‘Lésbica obtém direito de visitar filho gerado pela ex’ (pág. C10). No entanto há um problema grave.
O jornal ouve a mulher que recuperou o direito de visitar o filho, sua advogada e uma desembargadora.
Mas não traz a palavra da mãe biológica, nem de advogado dela. Não diz se procurou a mãe biológica. O relato é unilateral, além de parecer simpático a uma das partes.
Pensamento único – Corinthians
O pequeno texto ‘Polícia: Sanches pede investigação’ (pág. D3) só tem o lado do líder da oposição no Corinthians. Por que a direção do clube não foi ouvida? Não cabe à Folha tomar partido em disputas clubísticas. Se o jornal contempla a palavra de uma trincheira, deve procurar contemplar a da outra.
O que houve em Cannes?
No dia 11 de abril, a propósito da seleção oficial do festival de cinema de Cannes (‘o mais importante do mundo’), a Folha informou que três diretores do Brasil tinham ‘boas chances’ de ter suas obras selecionadas.
Hoje (‘Cannes anuncia 22 filmes em competição’, pág. E3) o jornal informa que nenhum filme brasileiro foi selecionado para concorrer à Palma de Ouro. ‘Não há brasileiros na disputa’, diz o texto, secamente.
Não explica o que houve com as ‘boas chances’ alardeadas dias antes. Eram boas as fontes da Folha ou a informação expressava mais desejo do que fato?
Novelista milionário
A nota ‘Lição de moral 2’ (pág. E15) conta que o autor de novelas Walter Negrão ‘acaba de depositar em conta do SBT quase R$ 18 milhões’. Foi ele mesmo quem pagou? Novelas rendem tanto? Ou foi a TV Globo? A nota estimula a curiosidade, mas não responde às perguntas que levanta.
Tancredo, Sarney
O texto ‘Especial mostra a ‘promessa Tancredo’ (pág. E15) diz que José Sarney ‘sucedeu’ Tancredo Neves na Presidência.
Nem muita liberdade histórica permite fazer tal afirmação.
O jornal deveria corrigir.
19/04/07
Os leitores da Folha receberam hoje um valioso serviço jornalístico, a revelação de uma boquinha ofertada com dinheiro público: ‘Câmara oferece plano de saúde a jornalista’ (pág. A13).
A reportagem remete à melhor tradição do Projeto Folha, de também jogar luz sobre favorecimentos a jornalistas e conflitos de interesses no jornalismo.
A produção de matérias dessa natureza exige não apenas disposição editorial do jornal, mas coragem do repórter que assina a cobertura. Ele se transforma em possível alvo de retaliação e constrangimento. Por isso, pela primeira vez na crítica diária este ombudsman cita o nome de um jornalista da Folha: parabéns ao repórter Ranier Bragon.
Duas observações: o jornal deve nomes de jornalistas beneficiários do favor prestado com chapéu alheio (o dos contribuintes); é estranho que só agora se tenha sabido da mordomia, em vigor há pelo menos 15 anos.
Jornalismo – Exposição de crítico
Um dos cuidados que algumas boas publicações têm em todo o mundo é o de dificultar a identificação dos seus críticos de comida. A finalidade é óbvia: evitar que o serviço do restaurante ou outro estabelecimento pule do padrão médio, o que os leitores-clientes normais encontrarão, para um capricho que busca encantar o jornalista.
Por isso é estranho que a Folha publique hoje duas fotografias do seu crítico (pág. E8), uma delas enorme, com 29,5 cm por 16,5 cm.
O jornal parece não se importar que seu profissional seja facilmente reconhecido nos restaurantes. Por mais que, depois de certo tempo, seja difícil preservar o anonimato, a Folha não deveria encarar como natural a possível abordagem de crítico de comida como estrela, tal como um chef superstar.
Os leitores podem supor, agora, que os pratos e serviços analisados pelo crítico da Folha são feitos com grande esmero, já que a cozinha (o chef) e o salão (maître e garçons) sabem que a opinião do crítico pode ajudar ou prejudicar o restaurante.
Jornalismo – A ex-musa
É interessante acompanhar a cobertura dos apuros da deputada Marina Maggessi. Ela foi eleita policial-modelo pelo jornalismo. A agora parlamentar sempre tratou muito bem os jornalistas, passando informações e fornecendo ajuda para as reportagens.
Mais do que retribuição à sua boa vontade, a simpatia por Maggessi foi fruto, creio, da busca por identificar a ‘banda saudável’ em um meio que em muito alimenta o noticiário com sua ‘banda podre’.
Maggessi, não custa lembrar, é inocente de qualquer acusação (nenhuma formalizada, por enquanto) até eventual condenação definitiva.
Jornalismo – Dossiês
A Folha conta que o desembargador preso Carreira Alvim preparou dossiês contra colegas de tribunal e que ‘teria distribuído os documentos a um grupo de jornalistas’ (‘Magistrado colecionava dossiês de colegas’, pág. A7).
Jornalismo – Balanço
O grupo que edita o ‘Estado’ publica hoje os seus balanços.
Berlusconi
Os leitores da Folha leram hoje na primeira página uma chamada para fotos que ‘mostram Berlusconi com mulheres jovens no colo’.
Berlusconi não é mais governante na Itália. As fotos publicadas por uma revista de fofocas não têm importância para merecer chamada na capa do jornal.
Ontem a Suprema Corte dos EUA tomou uma decisão que representa conquista histórica dos oponentes do aborto. Não é muito mais notícia do que a vida privada de um cidadão que não é nem mais primeiro-ministro do seu país?
Painel do Leitor
A carta do deputado Luiz Sérgio estaria mais bem editada no noticiário sobre projeto nuclear.
É uma pena reservar o Painel dos Leitores a debate entre personalidades.
Furacão
A impressão (que pode mudar nos próximos dias) do noticiário é de que há certo esgotamento nas revelações da Operação Hurricane. A manchete da Folha (‘Para PF, máfia do jogo subornava políticos’) relata de novo a suspeita da PF de que a deputada Marina Maggessi tenha recebido ajuda na campanha eleitoral e cita um novo nome, do deputado Simão Sessim, que é primo de um dos presos (‘Anísio’). Parece pouco para o principal destaque do jornal.
Não é um problema só da Folha. A manchete do ‘Estado’ é ‘Polícia identifica contas da máfia no exterior’. Diz que foi descoberta apenas uma conta, de preso cujo nome não é revelado.
Mangabeira
Os jornais confirmam o furo da Folha ontem, com o convite ao professor Mangabeira Unger para ser ministro.
Senti falta de informações sobre a história da família do colunista da Folha. O udenista Otávio Mangabeira foi constituinte em 1946, governador da Bahia eleito no ano seguinte. João Mangabeira foi deputado socialista, perseguido por Getúlio Vargas nos anos 1930. O professor é parente deles?
Idades
A introdução no jornalismo brasileiro _pela Folha_ da informação sistemática sobre a idade dos personagens criou um mau hábito no jornal: suas páginas chegaram a ser coleção de números entre vírgulas, na maior parte das vezes desperdiçando espaço. O mau hábito foi superado.
Hoje, contudo, o jornal deveria ter citado a idade do presidente Lula e dos governadores Serra e Aécio (‘Reeleição traz problemas, diz Serra’, pág. A12). Como a reportagem trata das possíveis eleições de 2010 e 2015, a idade dos personagens é um elemento decisivo nos planos de cada político.
Teria
No texto ‘Oposicionistas protocolam pedido de CPI no Senado’, a Folha diz que ‘a mudança dos tucanos em relação à CPI do Senado teria sido selada num almoço da bancada com o governador José Serra’.
O ‘Globo’ não tem dúvidas, como se lê na matéria intitulada ‘Serra intervém e PSDB apóia CPI no Senado’.
Massacre – Padronização
No terceiro dia de cobertura sobre o massacre na Virgínia (EUA), a Folha padroniza o nome do assassino na primeira página e em Mundo (Cho Seung-hui). Mas na segunda parte do texto ‘O massacre multimídia’ (pág. A8) há outra grafia (Cho Seung-Hoi).
Massacre – Especialistas
É um direito de qualquer pessoa, mesmo uma psiquiatra de instituição de prestígio, fazer diagnósticos à distância sobre alguém cuja trajetória só é conhecida por relatos jornalísticos.
A Folha, contudo, deveria ter mais cuidado. No texto ‘Antecedentes de Cho exigiam atenção contínua’ (pág. A14), uma psiquiatra ‘avalia que houve negligência’ nos EUA em relação ao criminoso.
O jornal tem se pautado pela sobriedade na cobertura do caso. O diagnóstico à distância foge do padrão.
BNDES – Números
É detalhe, mas dados como este, em coberturas extensivas, merecem cuidados especiais: em texto e arte na capa de Dinheiro informa-se que o BNDES desembolsou R$ 51,3 bilhões (ou R$ 51,318 bilhões) em 2006. Na pág. B3 (‘Banco pode emprestar até R$ 61 bilhões’), o número é R$ 52 bilhões.
BNDES – Fiocca
O jornal teve a oportunidade de entrevistar o presidente que deixa o BNDES (‘Fiocca diz que Coutinho pensa semelhante a ele’, pág. B4).
O noticiário dos últimos dias foi claro, inclusive na Folha, ao apontar o empenho de Demian Fiocca para permanecer no cargo.
Na reportagem, porém, ele não é indagado sobre sua (possível) vontade de ficar e os movimentos que fez nesse sentido.
Fantasmas e ONGs
É boa a reportagem ‘Prefeitura pagou cursos para ‘fantasmas’’ (pág. C4). Mas há problemas.
O texto diz que foram analisadas ‘as 16.647 páginas do processo’. Que processo? Salvo engano, pelo qual desde já me desculpo, os leitores da Folha ficaram sem saber que processo é esse.
Há referência a uma entrevista ‘gravada’. Para quê? O aconselhável é informar que houve gravação somente quando um entrevistado nega suas declarações. Imagina-se que repórteres da Folha gravem as entrevistas. Não é preciso reafirmar.
Não há informações sobre que tipo de punição podem sofrer prefeitos, secretário (s) e outros funcionários públicos responsáveis pelo projeto no qual a Prefeitura de São Paulo pagou por cursos que não foram dados a todos os alunos previstos.
Assalto – Número de assaltantes
Os leitores da Folha leram um relato confuso sobre assalto a banco (‘Assalto a banco deixa sete pessoas feridas no Tatuapé’, pág. C5). A linha-fina e o texto bancam que eram 18 assaltantes. Em eventos como o de ontem, costuma ser muito difícil saber quantos assaltantes participaram (muitos estão na agência e não se identificam). É melhor afirmar que os números são aproximados ou que participaram ‘pelo menos x ladrões’.
Assalto – Vítima vira ladrão
Há uma lista de seis pessoas no parágrafo iniciado por ‘Ao todo, seis trabalhadores da construção civil foram atingidos […]’. Ocorre que a redação confusa diz que os seis eram criminosos. Eram vítimas.
O jornal precisa corrigir.
Assalto – Contradição com arte
O texto diz que o policial Tertuliano foi atingido quando estava no carro. Na arte (terceiro quadro) ele está na rua, de pé.
Qual o relato correto?
Assalto – Ferimento
A retranca principal afirma que o policial Tertuliano foi atingido ‘de raspão’, no braço.
Já no texto ‘É a nossa guerra urbana’, afirma policial ferido’ (pág. C5) a mão esquerda também está ferida.
Assalto – Reação do PM
Segundo a retranca do alto, a reação do policial Tertuliano, ao ser atingido pela bala, foi fugir ‘correndo’.
No texto em que fala de ‘guerra urbana’, o PM diz: ‘Quando percebi que estava ferido, me joguei de lado e avisei ao meu companheiro para tomar cuidado. Não vi mais nada, mas sei que fomos ajudados por outros PMs’.
Ou seja, não saiu correndo.
Assalto – Interrogatório
Pode parecer exagero o que segue abaixo, mas deve ser a mais precisa e jornalística possível a escolha de terminologia jurídica.
Posso estar errado, mas me parece inadequado dizer que o PM Tertuliano foi ‘interrogado’ na delegacia (ou departamento policial). Em inquéritos prestam-se depoimentos. Interrogatórios aconteceriam em processos judiciais, suponho.
Guerra no Rio
Merece elogio a preocupação da Folha em levantar a identidade dos 13 mortos no confronto no morro da Mineira anteontem. O jornal descobriu que quatro não tinham ficha criminal. Não quer dizer que não eram traficantes, mas levanta suspeita sobre a versão oficial.
O jornal não teve, porém, a informação de que um dos presos, que seria líder da invasão do morro da Mineira por uma quadrilha, foi liberado pela polícia.
Aborto
O texto ‘Perto de completar cinco meses, bebê anencéfala tem alta’ (pág. C8) contém dois problemas: não esclarece se, pela legislação em vigor, seria possível ter feito aborto do feto devido aos problemas de má-formação; e não diz por que o padre Marcelo Rossi foi ouvido. Uma hipótese é de que o nome da menina Marcela o homenageie, mas isso não é dito (pelo menos não notei).
Casal de treinadores
É saborosa a reportagem sobre o casal de treinadores cujos times de basquete feminino vão se enfrentar em São Paulo (‘Basquete de SP vê duelo de casal na prancheta’, pág. D2).
Gol de placa
É histórico o golaço de Messi ontem pelo Barcelona. A Folha deu-lhe pouca atenção hoje. Tem chance de fazer amanhã uma cobertura digna do feito.
Pensamento único
Os leitores da Folha leram hoje uma abordagem unilateral sobre meia-entrada no setor de entretenimento (‘Rede Cinemark quer limitar a venda de meia-entrada no país’, pág. E11).
Ali o executivo do grupo expõe seus argumentos. Não foram ouvidos, porém, Estado e município (a meia-entrada é garantida por leis), entidades estudantis, estudantes não associados a entidade alguma, e outros beneficiários.
O que poderia ser uma reportagem interessante, plural, limitou-se a registro da opinião da rede de cinemas.
18/04/07
A Folha resolveu com felicidade a questão que ontem desafiou os diários brasileiros: como destacar na primeira página a ‘guerra’ no Rio e o dia seguinte do massacre nos EUA. O jornal assegurou espaço na metade superior da página para os dois assuntos, privilegiando em duas linhas e quatro colunas o mais próximo e imediato: ‘Guerra de traficantes deixa 19 mortos no Rio’. Um pouco mais no alto, com três linhas e duas colunas, o outro título: ‘Solitário, estudante sul-coreano é o autor de massacre nos EUA’.
Também fez bem em destacar uma história de heroísmo: ‘Professor salvou alunos e morreu’.
Massacre, evolução
A Folha reservou hoje três páginas (duas com anúncios) para o massacre nos EUA. Com mais espaço do que ontem e com as revelações do dia, ficou melhor, a despeito dos problemas relacionados em notas abaixo.
Massacre, enviado especial
Como os seus principais concorrentes, a Folha cobriu o dia seguinte do massacre na Virgínia (EUA) com enviado especial. As reportagens são muito boas. Dão temperatura jornalística e cor local à cobertura. A retranca ‘Atrás de barricada, estudante vive momento ‘mais assustador’’ (pág. A12) vale sozinha a viagem a Blacksburg.
Massacre, capricho
Um enviado especial costuma enfrentar condições adversas. Se o jornal que chega ao leitor é fruto de uma linha de produção no qual interferem muitos jornalistas, o trabalho do enviado é solitário. Além de tudo, ele não está na Redação ou em seu escritório. É como o time de futebol que joga fora de casa.
Essa introdução serve para dizer que há problemas de acabamento em um texto assinado pelo enviado especial que poderiam ter sido corrigidos pela Redação. Na abertura do segundo parágrafo da retranca ‘Autor de massacre era aluno sul-coreano’ (pág. A10), há um ‘mas’ que exprime oposição quando ela não existe. Na frase ‘Usou duas armas compradas legalmente […]’, falta sujeito. No parágrafo que começa com ‘A pressão levou o governador Tim Kaine, a anunciar […]’, há vírgula indevida.
Massacre, nome da universidade
Ontem a Folha denominou de ‘Universidade Técnica da Virgínia’ a instituição onde ocorreu o massacre.
Hoje ela é chamada de ‘Instituto Politécnico da Virgínia’.
O jornal deveria esclarecer os leitores sobre o nome correto e corrigir o errado.
Massacre, hora errada
Na arte ‘O massacre na Virgínia’ (pág. A12) está escrito que a polícia recebeu às 17h15 ‘um chamado de que houve disparos no local’.
A lógica é que o certo seja 7h15. É isso?
É preciso corrigir.
Massacre, padronização 1
A Folha usou três variantes para nomear o atirador: Cho Seung-hui, Cho Seung-Hui e Cho Seung Hui. Seria importante padronizar.
Massacre, padronização 2
O texto ‘Compatriotas temem retaliação violenta’ (pág. A11) emprega dois padrões diferentes para grafar nomes coreanos: ‘Roh Moo-hyun’ e ‘Seung Woon Li’.
Sugestão: seguir o padrão estabelecido para a Copa de 2002 pelo jornal.
Massacre, padronização 3
O texto ‘Autor de massacre era aluno sul-coreano’ (pág. A10) afirma que o estudante Ryan Clark, morto pelo atirador, era ‘monitor’ de dormitório. Na lista ‘Vítimas’, ele aparece como ‘conselheiro’ do dormitório.
É a mesma coisa? Não seria melhor padronizar?
Massacre, padronização 4
O jornal usa tanto ‘o’ Virginia Tech como ‘a’ Virginia Tech para se referir à universidade. Qual o correto? Se for ‘instituto’, é ‘o’.
Massacre, tradução 1
A seção Multimídia (pág. A11) traduziu a manchete do ‘New York Times’ de ontem como ‘32 mortos em Virgínia; pior massacre em universidade dos EUA’.
O original: ‘32 Shot Dead in Virginia; Worst U.S. Gun Rampage’.
A tradução do ‘Globo’ parece melhor: ‘32 mortos na Virgínia; pior ataque armado dos EUA’.
Qual a origem da palavra ‘universidade’ na tradução da Folha?
Massacre, tradução 2
A palavra ‘rampage’, da manchete de ontem do ‘New York Times’, surge no título do livro ‘Rampage: the Social Roots of School Shootings’, na boa entrevista ‘Para analista, notoriedade motiva ação’ (pág. A12). Aqui, a tradução (cabível) para ‘rampage’ é ‘surto’.
Massacre, armas
A arte ‘O massacre na Virgínia’ diz que o atirador estava com uma pistola calibre 9 mm e uma 22 mm. Afirma: ‘Testemunhas disseram que ele recarregou a arma durante a ação’.
Qual a capacidade dos pentes das pistolas? Se não supera 16 em cada uma, a Folha não precisaria citar testemunhas. Bastaria dizer que o matador recarregou a arma ou as armas. Na verdade, não foram disparados somente 33 tiros, um por morto. Há relato de balas que não acertaram ninguém.
Massacre, fisionomia
O jornal mostra hoje na arte ‘O massacre na Virgínia’ (pág. A12) um homem com feições asiáticas, como o sul-coreano atirador. Está certo.
Ontem, embora já se soubesse que o assassino era asiático, as feições dele na arte da Folha pareciam de negro ou mulato. Houve protesto de leitor.
Erramos de horóscopo
Erramos informa que o horóscopo de ontem se referia ao dia 17 de março. Se o jornal considera relevante publicar um serviço dessa natureza, deveria zelar para que equívocos graves como esse não ocorressem. O impacto das previsões trocadas pode ter sido grande na vida de leitores.
Furo
É um furo importante da Folha o convite do presidente Lula para o professor Mangabeira Unger ser ministro.
Faltou informar, em nome da transparência, que se trata de colunista do jornal.
Off entre aspas
A nota ‘Sem fronteiras’ (pág. A4) publica entre aspas declaração de fonte oculta. Ainda vale a recomendação do jornal para não divulgar entre aspas declaração em off, a não ser em casos especiais?
Furacão, virada
O jornal tem hoje o seu melhor dia na cobertura da operação Hurricane (Furacão), da Polícia Federal. É o primeiro dia em que os concorrentes não trazem novidades significativas ausentes na Folha.
A leitura dos diários dá a impressão de que todos tiveram acesso ao inquérito. A Folha foi bem, mesmo com alguns problemas.
Furacão, legislação
A investigação da PF é centrada em eventuais favorecimentos no Judiciário a quadrilhas de caça-níqueis e outros jogos. O leitor não é informado, porém, sobre o que diz a legislação a respeito da jogatina. Ela é proibida? Em caso positivo, por que há caça-níqueis funcionando nas vizinhanças de tribunais de Justiça por todo o país? O texto ‘Polícia paulista lacra 1.400 caça-níqueis’ (pág. A6) arranha o tema, mas não elucida.
Furacão, bicheiros
A cobertura conta que, de acordo com a PF, os bicheiros Turcão, Capitão Guimarães e ‘Anísio’ chefiam a organização criminosa. Mas eles não aparecem falando na transcrição das escutas telefônicas. Eles não foram gravados e monitorados? Quais são as provas contra eles?
Abril vermelho
A cobertura sobre as manifestações do MST, no aniversário de 11 anos do massacre de Eldorado do Carajás, omite informação importante: os assassinos dos sem-terra até hoje estão impunes.
FHC e reeleição
O texto ‘FHC sugere reeleição com candidato afastado do cargo’ (pág. A9) não lembra o episódio da compra de votos para aprovação da emenda da reeleição em 1997. Como a matéria se concentra na opinião do então presidente, deveria ter contado o que aconteceu.
Em tempo: a Folha tem suitado muito bem o seu belo furo sobre as articulações de petistas e peessedebistas pelo fim da reeleição.
Vinho
O texto ‘Doces do papa vêm da família de frei Galvão’ (pág. A9) diz que ‘a lista de vinhos [a serem oferecidos a Bento 16] é liderada pela marca Rio Sol, do Vale do São Francisco’.
Por que a expressão ‘liderada’? Se há um líder aparente, em qualidade, é o da casa Concha y Toro.
Se for para informar o vinho nacional escolhido, seria preciso contar por que foram preteridos os melhores do país, produzidos no Vale dos Vinhedos gaúcho.
A impressão que ficou é que a dona do estabelecimento que doou comidas e bebidas para a visita do papa aproveitou para expor suas mercadorias com um merchandising ao qual o jornal não deveria ceder.
É uma curiosidade de muitos leitores saber o que o papa beberá. Mas não se deve entrar na onda (‘liderado’) nem deixar de explicar por que os tidos como os melhores não foram selecionados (a loja doadora não os vende?).
Guerra, número de mortos
Ficou estranho o título da capa de Cotidiano falando em 13 mortos no Rio, enquanto a manchete do jornal cita 19. O leitor é obrigado e ler a linha-fina para saber que, ‘em outro tiroteio, polícia matou 6’. Seria melhor padronizar a conta: 13 ou 19.
Guerra, os mortos
Um desafio do jornal hoje é descobrir, se possível, se eram mesmo traficantes os mortos de ontem no Rio. A Folha fez bem em tratá-los como supostos traficantes e em identificar a polícia como a fonte. Hoje é importante ir mais longe.
Guerra, fotografia
Chama a atenção, na leitura da Folha, ‘Globo’, ‘Estado’, ‘O Dia’ e ‘Extra’, o alto nível do fotojornalismo na cobertura da guerra no morro da Mineira.
Guerra, título esconde reportagem
O título ‘Em outro conflito, seis são mortos pela PM’ é protocolar e oculta uma reportagem muito boa sobre o atendimento a feridos em um hospital no subúrbio do Rio. As informações dessa matéria são exclusivas da Folha, mas acabaram sem destaque. Uma pena.
A reportagem tem um erro: ao contrário do que ela afirma, o bicheiro Castor de Andrade não morreu em 1993, mas em 1997.
Tradução
O texto ‘Cormac McCarthy ganha o Pulitzer’ (pág. E7) traduz o título da categoria não ficção do Prêmio Pulitzer (ou Pulitzer Prize, como preferiu a Folha). ‘The Looming Tower: Al Qaeda and the Road to 9/11’ foi traduzido como ‘A Torre Distorcida: Al-Qaeda e o Caminho para o 11/9’.
O jornal teria feito melhor se informasse que o livro será lançado no Brasil e que já tem título aqui, ‘O Vulto das Torres’, como informou hoje o ‘Globo’ em entrevista com o autor.
Crítica (também) externa
A partir de hoje esta crítica passa a ser identificada como ‘crítica diária’ e não mais como ‘crítica interna’. Como ela é divulgada na íntegra e sem restrições na Folha Online, não se trata mais de crítica ‘interna’, embora seja voltada prioritariamente para a Redação da Folha.
A crítica diária é de responsabilidade do ombudsman Mário Magalhães. Circula diariamente na Redação da Folha e na Empresa Folha da Manhã. É divulgada na Folha Online.
17/04/07
A crítica de hoje é exclusiva sobre o caderno Mundo, concentrada no noticiário sobre o massacre na Universidade Técnica da Virgínia, em Blacksburg. Tem mais jornalismo comparado (cotejando a Folha com outras publicações) do que habitualmente.
Massacre – Jornais parecidos
A (boa) cobertura da Folha e de seus dois principais concorrentes diários (‘Globo’ e ‘Estado’) é muito parecida. Obedeceu ao roteiro obrigatório: o relato do massacre na Virgínia, a palavra de testemunhas, a versão dos brasileiros que estudam ou dão aulas na universidade, a análise sociológica e psicológica feita por acadêmicos, a questão das armas nos EUA, o histórico de matança em instituições de ensino.
Os três jornais não enviaram repórter à cidadezinha. Reconstituíram o clima por agências, emissoras de TV americanas e entrevistas por telefone (ou e-mail). Nos três, os correspondentes em Washington e as Redações concentraram as reportagens.
Massacre – Primeiras páginas
Manchete da Folha: ‘Atirador mata 32 pessoas nos EUA’.
A do ‘Estado’, com exceção de uma palavra suprimida, é igual: ‘Atirador mata 32 nos EUA’.
O ‘Globo’ introduz já na manchete a questão das armas: ‘A maior tragédia das armas’.
Os três escolheram foto idêntica para a primeira página. É a mesma do ‘New York Times’. ‘El País’ preferiu a do homem carregado por policiais da capa do caderno Mundo da Folha.
Massacre – Asiáticos
A identificação do atirador não está em nenhum jornal, porque seu nome só foi anunciado hoje. O fato de ser um estudante sul-coreano pode gerar reações nos EUA à numerosa presença de estrangeiros em seu ensino superior (só chineses são dezenas de milhares). O jornal deveria ficar atento.
Coincidência: o autor das fotos das primeiras páginas tem sobrenome Kim, coreano.
Massacre – Espaço
A Folha deu dois altos de página. A cobertura ocupou uma página inteira e dois terços de outra.
O ‘Globo’ deu três páginas inteiras. O ‘Estado’, duas inteiras e um pequeno espaço de uma terceira.
Embora com menos espaço, a cobertura da Folha foi semelhante à dos concorrentes.
Massacre – Problemas
a) Está incompleta a última frase do primeiro parágrafo depois do intertítulo ‘Sangue por todo o lado’, no texto ‘Homem mata 32 em universidade nos EUA’ (pág. A11). Ficou incompreensível. (Considero a leitura da edição SP/DF concluída às 23h15.)
b) No texto ‘EUA estão ‘chocados’, diz Bush’ (pág. A12), é pouco clara a tradução de sistemas ‘anti-bully’ como ‘anti-valentão’. Ficou melhor a tradução do ‘Estado’ para ‘bullying’: ‘humilhação de um aluno por outro’.
c) Ao falar em Columbine, a Folha prestaria um serviço aos leitores se empregasse recurso que o jornal consagrou na imprensa brasileira, informando entre parênteses como se pronuncia.
d) A Folha não traz nenhuma entrevista em pingue-pongue com testemunha ocular do massacre. O ‘Globo’ entrevistou um estudante, Trey Perkins, cujas respostas são impressionantes.
e) A Folha sublinha que o governo dos EUA qualificou o massacre da Virgínia como o mais violento causado por tiroteio na história do país. Na manchete de hoje, o ‘New York Times’ confirma a informação. Valeria ter acrescentado que, em 1927, segundo o ‘Estado’, um assassinato em massa deixou 45 mortos em uma escola de Michigan. O ataque foi feito com dinamite.
f) Os concorrentes informam, como o ‘Jornal Nacional’ de ontem, que recentemente houve ameaça de explosão de bombas na universidade. Não li a informação na Folha, mas pode ter sido falta de atenção minha.
g) O texto ‘Instituição se destaca na área técnica’ (pág. A11) dá a entender, com o verbo ‘destacar’, que a Virginia Tech é uma das melhores instituições de ensino superior dos EUA. O texto, porém, descreve um ranking no qual a universidade figura como a 77ª melhor.
Massacre – Folha Online
Faz bem o jornal em publicar uma remissão para a Folha Online, indicando ao leitor um caminho para se atualizar sobre o noticiário do massacre.
Massacre – Controle de armas
Embora não tenha dado título para o tema, a Folha foi o jornal que melhor descreveu o _pelo menos_ desconforto do presidente Bush ao ter que se pronunciar sobre o controle de armas (uma porta-voz falou por ele).
Agora o jornal poderia, além de aprofundar a discussão (contemplando a palavra dos pré-candidatos a presidente nos EUA), ouvir os defensores das duas posições que no Brasil se opuseram no plebiscito do desarmamento.
Assegurando a palavra para opinião divergente, o jornal poderia se esforçar para entrevistar o cineasta Michael Moore, autor do filme ‘Tiros em Columbine’ (se não for possível, seria importante registrar suas eventuais declarações feitas a outros meios).
Massacre – Histórias
A falta de cobertura no local me pareceu um problema no jornal de hoje. Considerei correto o tom sóbrio da cobertura. E a edição de Mundo como um caderno separado, com capa, deu ao noticiário mais destaque.
O grande desafio para a edição de amanhã é contar as histórias impossíveis de contar hoje: a trajetória do assassino, quem foram as vítimas (há estrangeiros entre elas), como foi exatamente o massacre, por que a universidade não interrompeu as aulas. E muitas outras.
Os leitores da Folha tiveram em mãos um bom trabalho jornalístico sobre a tragédia. Mas o jornal não se diferenciou.
França
O título da Folha hoje na reportagem sobre as eleições presidenciais na França é pouco claro: ‘Questões táticas dominam final da campanha francesa’ (pág. A15).
O texto _produzido pela Redação, com apoio de informações de agências internacionais_ se concentra na aliança ou não dos candidatos Ségolène Royal e François Bayrou em eventual segundo turno contra Nicolas Sarkozy. Informa que Bayrou tem ‘chances reduzidas de ir ao segundo turno’. Poderia ter informado por quê. É o que as pesquisas indicam? Quais são os números?
O jornal informa que sondagem do instituto CSA publicada em ‘Le Parisien’ mostra empate entre Ségolène e Sarkozy em segundo turno. Ontem eu indaguei na crítica diária sobre margem de erro em pesquisa. A cobertura de hoje esclarece: ‘As pesquisas não indicam na França margem de erro’.
O ‘Globo’, ao falar do mesmo levantamento CSA, diz que ‘a margem de erro, segundo [o] instituto, é de 2,5%’.
O jornal carioca publica hoje uma página sobre a campanha na França. Uma repórter está viajando por todo o país, contando sobre a vida dos seus habitantes e as grandes questões do pleito. Uma boa série de reportagens.
Equador
Fez bem a Folha em dar um alto de página à aprovação da convocação da Constituinte no Equador por esmagadora maioria de votos (‘Vitorioso, Correa diz não querer pacto com oposição’, pág. A14).
A Folha produziu o texto na Redação, com apoio de agências internacionais e do ‘Financial Times’. ‘Globo’ e ‘Estado’ cobriram com enviados especiais.
16/04/07
Esta crítica aborda as edições de hoje, ontem (domingo 15 de abril) e anteontem (sábado 14 de abril).
Na leitura das edições do fim de semana chamam a atenção contradições ou possíveis contradições entre informações publicadas. O jornal deveria esclarecer os leitores. As questões:
a) No sábado, título na pág. A14: ‘MST faz a sua 9ª invasão em Pernambuco’ (neste mês).
No domingo, no texto ‘MST faz quarta invasão de terra no sertão de PE’ (pág. A17), se lê: ‘Foi a quarta invasão feita pelo MST em Pernambuco no chamado ‘abril vermelho’.’
Em que informação o leitor deve confiar? Pelo menos uma das duas está errada.
b) No sábado (pág. C6), a cidadã Edna Ezequiel, a moradora do morro dos Macacos (no Rio) que teve uma filha e um irmão mortos nas últimas semanas, é apresentada como ‘doméstica’ (para o Aurélio, doméstica é empregada; eventualmente, mas o Aurélio não aceita, talvez pudesse ter o sentido de dona-de-casa, mas a leitura predominante é a do dicionário; no Houaiss do UOL não encontrei a palavra).
No domingo (pág. A20) Edna Ezequiel é apresentada em entrevista como ‘dona-de-casa’.
c) Gráfico em Brasil (pág. A5) informa no domingo que o ‘número de servidores militares’ (‘pessoal da ativa’) é de 424.398.
Na mesma edição, gráfico em Mundo dá conta de ‘efetivo’ de 294 mil nas Forças Armadas.
d) No sábado, nota na Ilustrada (pág. E14) diz que a TV Globo pagará R$ 45 milhões (aparentemente por ano, o texto dá margem a dúvida) aos clubes pelos direitos de transmissão do Campeonato do Rio em 2009 e 2010.
Já uma nota em Esporte (D2) diz que a Globo pagará R$ 131 milhões pelo pacote 2009, 2010 e 2011. Não nega necessariamente a outra nota, mas dá margem a dúvida.
Edição de sábado 14 de abril
Painel do Leitor
A manifestação do chefe do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica estaria mais bem localizada em Cotidiano, na cobertura da crise aérea. O Painel do Leitor é um espaço que deveria ser reservado aos leitores, e não ao outro lado de autoridades.
Operação Hurricane (Furacão)
Aparentemente há pelo menos um erro factual na cobertura da Folha: o jornal afirma que em 2006 houve furto na casa de R$ 2 milhões na sede da Polícia Federal no Rio (pág. A4). O furto ocorreu em 2005.
As retrancas usam tanto a expressão ‘acusados’ como ‘suspeitos’ para tratar os presos. Houve indiciamento pela PF e denúncia pelo Ministério Público Federal? O jornal deveria esclarecer.
São problemas menos graves. O mais grave na cobertura da Folha tem origem no fato de os grampos que fundamentaram as ordens de prisão e os mandados de busca não terem sido divulgados.
Mas o jornal poderia ter ido mais longe. O ‘Estado’ e o ‘Globo’ informaram, com base em apuração na PF, que um dos presos, o desembargador Carreira Alvim, teria dito em uma conversa: ‘Minha parte [eu] quero em dinheiro’. É informação importante. Não a li na Folha.
O jornal não descreve episódios que teriam levado à prisão da cúpula dos bicheiros do Rio. Eles tiveram conversas gravadas? Sobre o quê?
Tive a impressão de que teria faltado memória: a suposta articulação criminosa ocorreu em torno de alegados favorecimentos judiciais ao negócio dos caça-níqueis. Pois o Rio vive uma guerra dos empresários dos caça-níqueis que já teria provocado a morte de cerca de 50 pessoas em poucos anos. No fim de 2006, houve farto noticiário sobre o assunto. A Folha não relembrou.
Está incompreensível o quarto parágrafo do texto ‘Desembargador acumula decisões contestadas’ (pág. A8). Se aquele é mesmo trecho escrito por um magistrado, é preciso explicar o que se trata, porque é ilegível.
A retranca ‘Investigação da PF inclui ministro do STJ’ (pág. A9) permite entender no primeiro parágrafo que, como um ministro do STJ, um desembargador do Rio (Carreira Alvim) estaria sendo investigado, mas não teria sido preso. Ele foi preso.
Fotografias na cobertura dos diversos jornais mostram o bicheiro Aniz Abraão David preso com algemas e o bicheiro Capitão Guimarães sem algemas, puxando uma mala de rodinhas. A PF não padronizou os procedimentos? Vale recuperar. Trata-se de questão republicana o dever de tratamento igual aos cidadãos.
A Folha fez bem em publicar um texto de análise comparando a operação de sexta com a Anaconda. Em coberturas extensas como a de sábado deveria haver sempre a preocupação de oferecer comentários mais densos.
Eleição?
O texto ‘Evento do PAC no ABC vira ato pró-Marinho’ (pág. A14) abre assim: ‘Em pré-campanha pela Prefeitura de São Bernardo do Campo, o ministro Luiz Marinho […]’.
Quando ocorrerá tal eleição? O leitor não tem obrigação de saber.
Sopa de letrinhas
Na pág. A 17, o título de uma nota fala em OAB, o texto também.
O que significa OAB? Nem todos os leitores sabem, nem são obrigados a saber. Cabe ao jornal informar.
Onde está ‘Mundo 2’?
A pág. A 18 tem duas chamadas para ‘Mundo 2’. Depois de muito procurar, o leitor encontra as matérias na parte final de ‘Cotidiano 2’.
A chamada poderia indicar onde estava ‘Mundo 2’, facilitando as coisas para o leitor.
Nono ou oitavo?
A capa de Dinheiro informa no título: ‘Brasil já é o nono detentor de título dos EUA’. O texto reafirma a posição. A arte, contudo, põe o país na oitava colocação. Qual informação é correta?
Argentina x Brasil
O texto ‘Argentina já tem US$ 37,5 bilhões, nível recorde’ (pág. B4) desperta curiosidade que a Folha não esclarece: proporcionalmente ao PIB e à população, quem tem reservas maiores, o Brasil ou o vizinho?
Sem pluralismo
O texto ‘HSBC demite 393 funcionários em todo o país’ (pág. B5) só registra a posição da direção do banco, e não dos bancários e seus representantes.
Melhor que Pelé
É interessante a reportagem que mostra, conforme o texto, o time atual do Santos com ‘um aproveitamento de pontos superior aos das melhores performances’ do time com Pelé (pág. D1).
O título, porém, tem formulação dúbia e permite entender que a Folha faz um julgamento que não é sustentado por ninguém (ou quase ninguém), imagino que no jornal também não: ‘Melhor que na era Pelé, Santos abre mata-matas’.
O Santos de hoje não é ‘melhor’ que o da era Pelé.
Biblioteca básica
É muito bom o serviço da Folhinha de ‘obras que não podem faltar’ na biblioteca infantil. Como se sabe, esse tipo de lista gera controvérsias, broncas, acusações de reducionismo. O roteiro, porém, tem o mérito de ajudar crianças e pais a saberem o que valeria a pena ler.
Lide no pé
A principal informação da retranca ‘O reino está abandonado’ (pág. 7 da Folhinha), na cobertura sobre Monteiro Lobato, está mais para o pé que o alto: ‘Mas o Reino das Águas Claras está abandonado’.
Edição de domingo 15 de abril
Edição especial?
Esta observação é de grande subjetividade, mas é meu dever fazê-la: para uma edição que seria lida por muitos leitores não-habituados à Folha, que compraram um exemplar motivados pela coleção de livros sobre pintores, o jornal não teve qualidade que o diferenciasse positivamente em comparação com os domingos anteriores. Em dias como esse, com novos leitores batendo às portas, o jornal deveria fazer um esforço para cativá-los, com uma edição de excelência.
O melhor do domingo, em minha opinião: as duas fotos do alto da primeira página, impressionantes, mais informativas do que páginas e páginas de texto. A Lei Cidade Limpa, como se vê, tem impacto visual. O ótimo texto do cineasta Fernando Meirelles deu conta da surpresa com a mudança na cidade.
A arte sobre ‘química’ entre pares românticos de novelas é muito boa, bem como a reportagem sobre o tema.
Assessores
A boa reportagem ‘Lula gastou 75% a mais com terceirização no setor público’ (pág. A4) rendeu a manchete do jornal.
Fez muito bem a Folha em contrapor aos números as declarações anteriores do presidente, condenando o que faz agora.
Um personagem que não aparece nos textos é o do assessor de imprensa terceirizado, ganhando muito mais que funcionários públicos _o que não é ilegal, mas não deve ser escondido.
O governo fala que os terceirizados se concentram em funções mal remuneradas.
No governo FHC, havia muitos assessores de imprensa terceirizados trabalhando em Brasília para a União. No governo Lula eles não existem mais? Se existem, por que não foram citados como exemplo?
O personagem escolhido pela Folha ganha somente R$ 1.000 mensais.
Prefeito
A retranca ‘Após visita a bicheiro, irmão defende jogo’ (pág. A8) informa que Farid Abrahão David é presidente da escola de samba Beija-Flor. Faltou dizer que ele é prefeito de Nilópolis, município importante da Baixada Fluminense. Foi como prefeito _e não cartola do samba_ que Farid, salvo engano, participou de pelo menos um ato da campanha eleitoral de Lula no ano passado.
Quem é quem
A reportagem ‘Conferência expõe indecisão da Igreja’ (pág. A18) é informativa, mas tem algo estranho: afora o papa, nenhuma pessoa é citada. Quem está por trás das grandes correntes teológicas que vão se enfrentar na Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe? Quem são os grandes teólogos, os líderes? Quem encarna as teses? Como se dividem as principais lideranças da Igreja no Brasil? São informações que aproximam o leitor da discussão em curso na Igreja.
Aula de desigualdade
A boa entrevista com Edna Ezequiel (pág. A20) sobre sua dor (morte da filha e agora do irmão) tem uma resposta que é aula sobre desigualdade e mundo real. A repórter indaga: ‘A senhora vai continuar participando de manifestações contra a violência?’.
Edna responde: ‘Se tiver alguém para ficar com os meus filhos, eu vou […]’.
Manual
O ‘Manual da Redação’ informa na pág. 53, no verbete ‘armas’: ‘No vocabulário militar, indica apenas a especialidade do oficial de Exército: Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia, Comunicações, Material Bélico e Saúde (os dois últimos são serviços, mas têm status de arma). É errado chamar as Forças Armadas (Aeronáutica, Exército ou Marinha) de armas’.
Na pág. A33 há uma arte sobre o ‘efetivo nas três armas’. Está errado. O correto, como ensina o Manual: Forças Armadas. O Exército é uma Força, não uma arma.
Omissão
O texto ‘Philips cogita hipótese de sair da Zona Franca de Manaus’ tem uma omissão.
Foi publicado na véspera de um encontro do governador do Amazonas com um executivo da Philips. A Folha informa que ‘uma das empresas instaladas na Zona Franca de Manaus’ tem ‘um benefício fiscal maior que as demais’. Tal benefício contraria a Philips.
Mais adiante, o jornal fala que ‘uma das empresas, porém, não aderiu e, por isso, está obtendo vantagens fiscais enormes em relação aos seus concorrentes’.
A pergunta que não é respondida ao leitor: afinal, que empresa é essa?
Por que a Folha não publicou seu nome?
Notícia ou editorial?
O texto ‘Benefício social é bomba-relógio fiscal’ (pág. B5) não deveria ter sido editado como notícia. Tem características predominantes de editorial. Estaria melhor em outro lugar, destinado a opinião.
Da mesma maneira como estaria um texto intitulado ‘Ajuste fiscal é bomba-relógio social’.
Título cifrado
Entendo que deva ser a linguagem técnica, mas fica estranho ao leitor não-iniciado o emprego do verbo ‘contratar’ em um título como este: ‘CEF quer contratar R$ 2,9 bi até junho para saneamento’ (pág. B8).
Modelos
A reportagem da capa de Cotidiano ‘Modelos devem a agências antes da primeira foto’ é interessante, mas não ajudou o leitor ao não explicar o que é um ‘book’ de modelo e o que é um ‘booker’.
Adivinho
A seção ‘Há 50 anos’ traz a interessante notícia de 1957 sobre ‘a hipótese feita pelo geógrafo norte-americano Joseph Kaplan, segundo a qual dentro de 50 ou 60 anos algumas regiões da Terra podem ser inundadas devido ao derretimento das geleiras’.
Peço perdão caso tenha sido publicado, e eu não tenha visto, mas fiquei curioso em saber mais sobre a previsão _que parece certeira_ do cientista americano.
Ex-funkeiro boxeur
É saboroso o perfil do boxeador Carlos Nascimento (pág. D7). Frustra apenas a falta de explicação para a passagem que fala, secamente, que ‘na adolescência [Carlos] levou até tiro no ombro’.
Levou como? Onde estava, o que fazia, em que situação? O leitor ficou sem saber.
Gente que curte um escurinho
Há uma serie de clichês no texto ‘Projeto permite ver 14 filmes pagando R$ 3 por cada sessão’ (pág. E7; ‘porcada’ é cacófato): ‘uma espécie de passaporte da alegria’, ‘gente que curte um escurinho’, ‘resumo da ópera’, ‘falando em’ (pode ser qualquer coisa, serve para ‘unir’ parágrafos).
Os sem-revista
É boa a reportagem da Revista da Folha sobre o incentivo e a onda de poesia em Dois Córregos (SP). Pena que a revista não circule em todo o país. Os leitores de fora de São Paulo perdem.
Berço de ouro
A matéria de serviço ‘Berço esplêndido’, da Revista da Folha, diz ao leitor: ‘Escolha o [berço] que mais deverá combinar com quem já está a caminho’.
O preço dos seis berços fotografados varia de R$ 1.260 a R$ 2.400. Por experiência própria e recente, sei que é possível comprar bons berços por bem menos do que isso. A Folha deveria se preocupar não só com quem pode esbanjar na compra de berço, mas com os seus leitores em geral. Eles têm os mais diversos perfis.
Edição de segunda 16 de abril
À distância
A Folha acertou a o escolher como principal fotografia da primeira página a de Felipe Massa, vencedor do GP do Bahrein. Também foi feliz ao dedicar à corrida uma chamada no alto da primeira página e dois altos de página em Esporte, incluindo a capa inteira.
Ocorre que a ausência de repórter no local empobrece a cobertura. Os textos são, na essência, a descrição do que foi visto na TV e as declarações obtidas em despachos das agências internacionais e comunicados das escuderias. A investigação jornalística sobre o embate de bastidores na Ferrari, equipe na qual o companheiro de Massa vinha melhor, é prejudicada pela distância.
Massa, na era pós-Senna, é o primeiro brasileiro a disputar o título com chances. O campeonato está emocionante, com três pilotos empatados em pontos na primeira colocação. É uma pena ao jornal não ter enviado repórter.
Uma observação: faz parte da cultura da Folha assinar textos em excesso, o que penso ser um erro. Hoje há um exagero mais sério: é assinada (no pé, com iniciais, mas assinada) a entrevista coletiva de Massa, editada em perguntas e respostas. A repórter da Folha não estava presente.
Catanduvas
É valioso o furo sobre o relatório que aponta o caos na badalada penitenciária federal de Catanduvas. O que o país tinha como modelo é, agora se sabe, uma grande bagunça.
Carnaval sob suspeita
Merecia título interno a informação do pé do texto ‘PF pára depoimento e analisa documentos’ (pág. A5): o resultado do desfile das escolas de samba do Rio neste ano pode ter sido manipulado. A afirmação foi feita por um delegado ao ‘Fantástico’.
Quando cobre o resultado do Carnaval, o jornal concede grande espaço. Quando surgem indícios de armação, dá pouca atenção.
Caça ao grampo
O jornalismo brasileiro se dedica em peso nesta segunda-feira à busca das transcrições das escutas telefônicas que resultaram no que a Folha chama de ‘maior operação policial já realizada tendo como alvo o Judiciário’.
Quem chegar à frente vai ter um possível tesouro jornalístico nas mãos. Ou descobrir que houve exagero da PF.
Sem-terra
É de muito boa qualidade a reportagem ‘Por ‘sobrevivência’, MST decide elevar o tom contra Lula’ (pág. A7).
A Folha já revelara a virada do MST na semana passada. Agora, permite ao leitor entender o motivo.
Título cifrado
É cifrado o título da nota ‘Ad Free’ (pág. A8).
Os leitores não são obrigados a saber o que significa.
Pesquisas
O texto ‘Bayrou cai; candidatos negam alianças’ (pág. A10) diz que houve mudanças no resultado das pesquisas eleitorais na França, mas não dá números. O único citado mostra queda de um candidato na pesquisa CSA: dois pontos. Como não diz qual é a margem de erro, o leitor fica sem saber se houve mesmo queda ou apenas oscilação.
Os institutos de pesquisa de opinião da França têm longa trajetória de erros, inclusive o vexame no primeiro turno da eleição presidencial de 2002.
Lixo nas ruas
O noticiário sobre a greve dos lixeiros (‘Para sindicato, coleta de lixo só voltará ao normal na sexta’, pág. C10) tem uma insuficiência: os leitores-moradores de São Paulo não são informados sobre o que fazer com o lixo não recolhido. Faltou serviço.
Tabelas
Esporte destaca em pequenas retrancas (pág. D2) o desempenho dos clubes de Ronaldinho (Barcelona) e Ronaldo (Milan).
Quando o leitor busca as tabelas de classificação dos Campeonatos Espanhol e Italiano, não as encontra. A Folha preferiu publicar as tabelas do Inglês e do Alemão.
Concorrência
Chamaram a atenção três reportagens no fim de semana:
a) O furo do ‘Estado de Minas’ e do ‘Correio Braziliense’ sobre o conteúdo de um livro inédito feito pelo Exército na segunda metade dos anos 1980. O livro conta a versão da Força sobre o combate à esquerda armada durante o regime militar. Os jornais obtiveram acesso à íntegra da obra. São revelações históricas, a começar de registros sobre desaparecidos políticos. Haverá conseqüências legais, como informa a manchete de hoje do ‘Correio’: ‘MP vai investigar omissão de militares’. Os leitores da Folha ainda não souberam do conteúdo da série de reportagens.
b) A da revista ‘Veja’ sobre o possível favorecimento do governo federal ao deputado Jader Barbalho na transferência de uma concessão de TV de uma empresa para outra. A Folha fez bem em noticiar na edição de domingo. Agora, tem o desafio de avançar na investigação.
c) Principal concorrente local da Folha, o ‘Estado’ publicou ótima reportagem sobre os casos de 33 pessoas inocentes que foram presas injustamente.
Errei
Na crítica diária da quarta-feira passada, na nota ‘Pra frente, Brasil’, escrevi: ‘A mesma matéria [‘Brasil busca um lugar em Cannes’] fala de dois irmãos que se tornaram ‘lendários’. Imagino que eles não sejam lendas, mas legendas. O correto seria ‘legendários’.’
Recebi por intermédio da Secretaria de Redação o comentário do editor-adjunto da Ilustrada, Naief Haddad, que escreveu: ‘Segundo o dicionário Houaiss, um dos significados de ‘lendário’ é muito conhecido, célebre. Portanto, não há erro no uso desse adjetivo […]’.
Naief está certo. Agradeço a lição, peço desculpas pelo erro e compartilho o motivo que me levou a ele: primeiro, porque era a minha opinião; como a crítica de mídia feita com a perspectiva do leitor não pode ser um amontoado de idiossincrasias, chequei no Aurélio, para o qual ‘lendário’ é apenas o ‘que tem caráter de lenda; relativo a lenda’. Meu erro foi não consultar uma segunda fonte.
O Apagão Aéreo foi o principal assunto da Folha e do jornalismo brasileiro nos últimos dez dias.’