O projeto Monitor de Mídia chega à edição nº 50 de seu website (http://www.univali.br/monitor). Acompanhando a imprensa catarinense desde 2001, a iniciativa de alunos e professores do curso de Jornalismo da Univali tem funcionado como um núcleo de pesquisas sobre a mídia local, atentando para a qualidade técnica dos maiores jornais catarinenses e para a conduta ética dos produtores de informação.
Para celebrar a marca, o website chega à rede esta semana com novo layout e um balanço da sua trajetória feito por críticos externos. Para reafirmar suas funções, os pesquisadores apontam porque é tão importante exercer a crítica de mídia nos dias de hoje:
1.
A imprensa fiscaliza os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Como os demais, o chamado Quarto Poder também precisa ser fiscalizado.2.
Embora grande parte das empresas jornalísticas esteja sob controle privado, Jornalismo é prestação de serviço público e necessita estar de acordo com os interesses da sociedade.3.
Como latas de ervilha ou automóveis, jornais são produtos e precisam ter uma qualidade mínima. Nada demais em fiscalizá-los.4.
Os jornais ajudam a tecer o senso de realidade das pessoas e eles não podem reforçar preconceitos, ser discriminatórios ou avessos às diferenças.5.
O sistema de comunicação no Brasil está concentrado nas mãos de poucos grupos. O oligopólio é perigoso e a crítica é uma forma de combatê-lo.6.
Comunicação e Jornalismo são assuntos que interessam a toda a sociedade e não somente a jornalistas e empresários do setor.7.
As empresas jornalísticas não admitem críticas e tratam seus jornais como negócios paroquiais, problemas familiares. A crítica ajuda a restituir o caráter social da imprensa.8.
Os jornalistas são refratários à autocrítica. Por isso, a crítica externa é muito bem-vinda.9.
O Brasil viveu quase 21 anos de ditadura militar, período que impediu um bom desenvolvimento da sociedade e da própria imprensa. A crítica pode funcionar como um catalisador dessas esperadas mudanças.10.
É necessário fortalecer as instâncias e os instrumentos de avaliação da qualidade do Jornalismo, como o Conselho Nacional de Comunicação Social. A crítica oferece o suporte necessário para esta consolidação.11.
A crítica não aponta só o erro e destrói o trabalho. Ela também sinaliza soluções e leva à reflexão dos problemas.12.
O sistema de comunicação brasileiro permite a propriedade cruzada e o domínio do conteúdo, o que dá imensos poderes para as empresas de comunicação. Observá-las é acompanhar também como se produzem os valores que abastecem o imaginário e o senso de realidade das pessoas.13.
A Lei de Imprensa e os demais dispositivos legais não dão conta de questões éticas, e a crítica ajuda a – pelo menos – discuti-los.14.
A sociedade pouco conhece do ramo das comunicações e precisa ser informada como ele funciona, como se estrutura e como é controlado. A crítica joga luz nesses assuntos.15.
As escolas de comunicação podem ajudar no aperfeiçoamento da mídia, exercendo a crítica como uma atividade pedagógica.16.
Os jornalistas podem buscar na academia formas de reciclar suas práticas, reinventando procedimentos e comportamentos.17.
Ninguém pode ficar imune à crítica, nem mesmo os críticos.18.
A crítica interna das empresas é importante, mas ela não dá conta de todo o processo. É preciso ouvir vozes de fora, já que há aspectos mais difíceis de serem tratados nos intestinos empresariais.19.
Ombudsman e outros dispositivos de avaliação são importantes e podem ser auxiliados pelas leituras de outros críticos.20.
A crítica se ocupa não só dos aspectos negativos, mas realça também elementos positivos das coberturas.21.
Por meio da crítica, conceitos como accuracy e accountability podem ser disseminados, ajudando a sedimentar uma cultura de responsabilidade social, transparência e prestação de contas.22.
A crítica funciona como instrumento de aperfeiçoamento das práticas e dos processos jornalísticos.23.
A crítica pode zelar pela clareza nos textos jornalísticos, buscando mais qualidade.24.
A crítica pode zelar pela correção e pela precisão nos relatos jornalísticos.25.
A crítica pode contribuir para o equilíbrio nas coberturas.26.
A crítica pode coibir distorções, ambigüidades e incertezas.27.
A crítica pode exigir do Jornalismo a contextualização necessária nos relatos, na tentativa de que o conjunto noticioso seja mais informativo e o público tenha mais condições para compreender os fatos que ajudam a compor a realidade.28.
A crítica pode exigir um compromisso maior do Jornalismo com a regionalização, numa autêntica busca da identidade local nos relatos.29.
A critica não se ocupa apenas de questões técnicas, mas também de aspectos éticos, discutindo também a conduta dos jornalistas na produção do noticiário.30.
O sensacionalismo no Jornalismo justifica a atuação da crítica.31.
Evidências de má fé no Jornalismo justificam a atuação da crítica.32.
Pré-julgamentos justificam a atuação da crítica de mídia.33.
Abuso de poder por parte da imprensa justifica o exercício da crítica.34.
Omissões, inversões e distorções deliberadas ou inadvertidas justificam a atuação da crítica como instrumento de aperfeiçoamento da imprensa.35.
Invasão de privacidade justifica a atuação da crítica.36.
Táticas para privilegiar fontes de informação ou que dêem ênfase a um único aspecto da informação provocam a existência da crítica.37.
Autopromoção e egocentrismos justificam o exercício da crítica de mídia.38.
A observação dos meios de comunicação pode engrossar e enriquecer as pesquisas sobre comunicação e Jornalismo.39.
A crítica pode auxiliar na formação dos novos jornalistas, na medida em que aponta para o aperfeiçoamento e a experimentação de novas práticas e procedimentos no Jornalismo.40.
Exercer o senso crítico é uma atividade que motiva o intelecto e as sensibilidades, já que depende de sagacidade na leitura, rigor de avaliação e repertório para comparação.41.
Criticar é avaliar, é comparar. Fazer crítica da imprensa é ler diversos jornais, cruzando seus produtos, discutindo suas qualidades e insuficiências. Criticar é atuar na extensão da leitura, tanto no seu alcance quanto na sua profundidade.42.
Os jornais ainda estão longe de ser perfeitos, e por isso, já justificariam uma atenção mais crítica sobre suas páginas.43.
Os jornais são meios onde vigora uma polifonia discursiva. Ler suas superfícies é entrar em contato com falas discordantes, com uma heterogeneidade própria da sociedade. Criticar os jornais é fazer leitura de mosaico sistematicamente.44.
Exercer o papel de crítico é deixar a posição de público passivo e recolocar-se num patamar de participante do processo da comunicação, dando retorno aos produtores de informação e, muitas vezes, intervindo na condução dos processos.45.
Toda crítica é salutar. Até porque ela rompe a monologia do fluxo comunicativo emissor-receptor.46.
Criticar os meios de comunicação é fazer valer a arena democrática dos diversos discursos. É fazer deles o terreno do plural, do pensamento que admite discordâncias.47.
Mesmo a crítica mais irresponsável e perversa é construtiva, pois atua como provocação ao pensamento, catalisando a reflexão sobre os próprios modos de fazer.48.
O crescimento do sistema midiático deu tanto poder às empresas e aos jornalistas, que é mesmo necessário estabelecer um padrão de crítica, que apresente alguma resistência a onipotência e onipresença das mídias.49.
A crítica faz bem a todos: ao alvo, a quem a exerce e a quem apenas a acompanha. Todos crescem no exercício da crítica.50.
A crítica não é a solução de todos os problemas e nem pode dar conta de tudo, mas ela é uma ação afirmativa na busca de saídas.