Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

50 razões para criticar os jornais

O projeto Monitor de Mídia chega à edição nº 50 de seu website (http://www.univali.br/monitor). Acompanhando a imprensa catarinense desde 2001, a iniciativa de alunos e professores do curso de Jornalismo da Univali tem funcionado como um núcleo de pesquisas sobre a mídia local, atentando para a qualidade técnica dos maiores jornais catarinenses e para a conduta ética dos produtores de informação.

Para celebrar a marca, o website chega à rede esta semana com novo layout e um balanço da sua trajetória feito por críticos externos. Para reafirmar suas funções, os pesquisadores apontam porque é tão importante exercer a crítica de mídia nos dias de hoje:

1. A imprensa fiscaliza os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Como os demais, o chamado Quarto Poder também precisa ser fiscalizado.

2. Embora grande parte das empresas jornalísticas esteja sob controle privado, Jornalismo é prestação de serviço público e necessita estar de acordo com os interesses da sociedade.

3.Como latas de ervilha ou automóveis, jornais são produtos e precisam ter uma qualidade mínima. Nada demais em fiscalizá-los.

4. Os jornais ajudam a tecer o senso de realidade das pessoas e eles não podem reforçar preconceitos, ser discriminatórios ou avessos às diferenças.

5. O sistema de comunicação no Brasil está concentrado nas mãos de poucos grupos. O oligopólio é perigoso e a crítica é uma forma de combatê-lo.

6. Comunicação e Jornalismo são assuntos que interessam a toda a sociedade e não somente a jornalistas e empresários do setor.

7. As empresas jornalísticas não admitem críticas e tratam seus jornais como negócios paroquiais, problemas familiares. A crítica ajuda a restituir o caráter social da imprensa.

8. Os jornalistas são refratários à autocrítica. Por isso, a crítica externa é muito bem-vinda.

9. O Brasil viveu quase 21 anos de ditadura militar, período que impediu um bom desenvolvimento da sociedade e da própria imprensa. A crítica pode funcionar como um catalisador dessas esperadas mudanças.

10. É necessário fortalecer as instâncias e os instrumentos de avaliação da qualidade do Jornalismo, como o Conselho Nacional de Comunicação Social. A crítica oferece o suporte necessário para esta consolidação.

11. A crítica não aponta só o erro e destrói o trabalho. Ela também sinaliza soluções e leva à reflexão dos problemas.

12. O sistema de comunicação brasileiro permite a propriedade cruzada e o domínio do conteúdo, o que dá imensos poderes para as empresas de comunicação. Observá-las é acompanhar também como se produzem os valores que abastecem o imaginário e o senso de realidade das pessoas.

13. A Lei de Imprensa e os demais dispositivos legais não dão conta de questões éticas, e a crítica ajuda a – pelo menos – discuti-los.

14. A sociedade pouco conhece do ramo das comunicações e precisa ser informada como ele funciona, como se estrutura e como é controlado. A crítica joga luz nesses assuntos.

15. As escolas de comunicação podem ajudar no aperfeiçoamento da mídia, exercendo a crítica como uma atividade pedagógica.

16. Os jornalistas podem buscar na academia formas de reciclar suas práticas, reinventando procedimentos e comportamentos.

17. Ninguém pode ficar imune à crítica, nem mesmo os críticos.

18. A crítica interna das empresas é importante, mas ela não dá conta de todo o processo. É preciso ouvir vozes de fora, já que há aspectos mais difíceis de serem tratados nos intestinos empresariais.

19. Ombudsman e outros dispositivos de avaliação são importantes e podem ser auxiliados pelas leituras de outros críticos.

20. A crítica se ocupa não só dos aspectos negativos, mas realça também elementos positivos das coberturas.

21. Por meio da crítica, conceitos como accuracy e accountability podem ser disseminados, ajudando a sedimentar uma cultura de responsabilidade social, transparência e prestação de contas.

22. A crítica funciona como instrumento de aperfeiçoamento das práticas e dos processos jornalísticos.

23. A crítica pode zelar pela clareza nos textos jornalísticos, buscando mais qualidade.

24. A crítica pode zelar pela correção e pela precisão nos relatos jornalísticos.

25. A crítica pode contribuir para o equilíbrio nas coberturas.

26. A crítica pode coibir distorções, ambigüidades e incertezas.

27. A crítica pode exigir do Jornalismo a contextualização necessária nos relatos, na tentativa de que o conjunto noticioso seja mais informativo e o público tenha mais condições para compreender os fatos que ajudam a compor a realidade.

28. A crítica pode exigir um compromisso maior do Jornalismo com a regionalização, numa autêntica busca da identidade local nos relatos.

29. A critica não se ocupa apenas de questões técnicas, mas também de aspectos éticos, discutindo também a conduta dos jornalistas na produção do noticiário.

30. O sensacionalismo no Jornalismo justifica a atuação da crítica.

31. Evidências de má fé no Jornalismo justificam a atuação da crítica.

32. Pré-julgamentos justificam a atuação da crítica de mídia.

33. Abuso de poder por parte da imprensa justifica o exercício da crítica.

34. Omissões, inversões e distorções deliberadas ou inadvertidas justificam a atuação da crítica como instrumento de aperfeiçoamento da imprensa.

35. Invasão de privacidade justifica a atuação da crítica.

36. Táticas para privilegiar fontes de informação ou que dêem ênfase a um único aspecto da informação provocam a existência da crítica.

37. Autopromoção e egocentrismos justificam o exercício da crítica de mídia.

38. A observação dos meios de comunicação pode engrossar e enriquecer as pesquisas sobre comunicação e Jornalismo.

39. A crítica pode auxiliar na formação dos novos jornalistas, na medida em que aponta para o aperfeiçoamento e a experimentação de novas práticas e procedimentos no Jornalismo.

40. Exercer o senso crítico é uma atividade que motiva o intelecto e as sensibilidades, já que depende de sagacidade na leitura, rigor de avaliação e repertório para comparação.

41. Criticar é avaliar, é comparar. Fazer crítica da imprensa é ler diversos jornais, cruzando seus produtos, discutindo suas qualidades e insuficiências. Criticar é atuar na extensão da leitura, tanto no seu alcance quanto na sua profundidade.

42. Os jornais ainda estão longe de ser perfeitos, e por isso, já justificariam uma atenção mais crítica sobre suas páginas.

43. Os jornais são meios onde vigora uma polifonia discursiva. Ler suas superfícies é entrar em contato com falas discordantes, com uma heterogeneidade própria da sociedade. Criticar os jornais é fazer leitura de mosaico sistematicamente.

44. Exercer o papel de crítico é deixar a posição de público passivo e recolocar-se num patamar de participante do processo da comunicação, dando retorno aos produtores de informação e, muitas vezes, intervindo na condução dos processos.

45. Toda crítica é salutar. Até porque ela rompe a monologia do fluxo comunicativo emissor-receptor.

46. Criticar os meios de comunicação é fazer valer a arena democrática dos diversos discursos. É fazer deles o terreno do plural, do pensamento que admite discordâncias.

47. Mesmo a crítica mais irresponsável e perversa é construtiva, pois atua como provocação ao pensamento, catalisando a reflexão sobre os próprios modos de fazer.

48. O crescimento do sistema midiático deu tanto poder às empresas e aos jornalistas, que é mesmo necessário estabelecer um padrão de crítica, que apresente alguma resistência a onipotência e onipresença das mídias.

49. A crítica faz bem a todos: ao alvo, a quem a exerce e a quem apenas a acompanha. Todos crescem no exercício da crítica.

50. A crítica não é a solução de todos os problemas e nem pode dar conta de tudo, mas ela é uma ação afirmativa na busca de saídas.