Primeiro foram o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), e o assessor especial da Presidência da República Marco Aurélio Garcia. Agora foi o deputado Carlos Zaratini (PT-SP) quem ocupou a tribuna da Câmara para defender a adoção de regras para reduzir a influência da imprensa nas eleições. O discurso não é novo no partido, onde parcela considerável dos militantes trata a imprensa como inimigo. A novidade é que os petistas falam da elaboração de um conjunto de normas para determinar como deve ser a cobertura das eleições pela mídia.
Os dirigentes do PT afirmam que, depois das recentes eleições presidenciais, não podem mais ficar indiferentes ao papel e à influência da mídia.
– É preciso reduzir o poder de manipulação da mídia. A cobertura das candidaturas deve ser equilibrada, como ocorre hoje na televisão. É bom para o país e para a democracia que o noticiário seja equilibrado na imprensa nacional e, sobretudo, na regional – disse Zaratini.
O petista argumentou que, no caso das coberturas regionais, muitos veículos de comunicação pertencem a grupos políticos, como na Bahia e no Maranhão, e que essa realidade impede que os eleitores tenham informação qualificada dos programas e dos candidatos.
– No Maranhão, por exemplo, há dois jornais, que parecem descrever mundos diferentes. Um deles é pró-Sarney e o outro é contra o Sarney. Ambos ignoram o adversário e só fazem notícia positiva de seu grupo.
A crítica à imprensa faz parte da cultura política petista. Em novembro, o Movimento PT, tendência do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), divulgou uma avaliação das eleições presidenciais que afirma: ‘Derrotada, a grande mídia, a direita liberal conservadora e as elites econômicas jogam, literalmente, a favor da perspectiva monetarista (…) Nos momentos mais difíceis destas eleições, a população mais humilde é que foi às ruas defender Lula e formar opinião contrária àqueles que se julgavam porta-vozes da opinião pública, especialmente a grande imprensa’.
– É a nossa opinião. A linha pitbull da mídia foi derrotada. Não é uma crítica a ser generalizada, mas esperamos que todos tenham uma visão mais equilibrada agora – diz a vice-presidente do PT, deputada Maria do Rosário (RS), da corrente Movimento PT.
Petistas defendem poder de veto da Justiça Eleitoral
Os petistas querem fazer esse debate com a reforma política, mas dizem não ter qualquer proposta objetiva sobre como seria essa regulamentação. Há quem defenda dar mais poderes à Justiça Eleitoral, que poderia passar a ter poder de veto e de pautar as redações da imprensa país afora. Outra idéia é fazer com que a mídia dê o mesmo espaço para todos os candidatos, independentemente de suas votações.
Zaratini nega que a intenção seja censurar os veículos:
– Não queremos impedir que a imprensa se posicione nos editoriais. Queremos equilíbrio na cobertura. Não dá para um candidato ser tratado como diabo e o outro como santo. Os espaços deveriam ser semelhantes, como na TV. Isso deveria valer principalmente para as rádios, que são concessões públicas.
O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, afirmou que a posição dos petistas não é a do governo Lula.