Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

TV Record defende
a liberação do aborto


Leia abaixo os textos de sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 11 de maio de 2007


MÍDIA & RELIGIÃO
Laura Mattos


Record, da Universal, defende o aborto na cobertura sobre o papa


‘No segundo dia da visita do papa ao Brasil, a ‘guerra santa’ na TV teve capítulo importante: a Record, do evangélico Edir Macedo (Igreja Universal do Reino de Deus), declarou-se favorável ao aborto, condenado por Bento 16 na visita ao país.


O ‘Jornal da Record’, principal telejornal da emissora, concentrou a cobertura do papa na polêmica do aborto e fez uma edição claramente contrária à posição da Igreja Católica.


Repetiu declaração do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, de que quem não reconhece que essa é uma questão de saúde pública ‘está delirando’, ‘surtou’ ou tem ‘algum problema de confusão mental’.


Além de entrevistar católicas favoráveis ‘à liberdade para a interrupção da gravidez indesejada’, afirmou que o Instituto Ressoar, projeto social da Record, defende o aborto. Mostrou uma campanha do instituto no qual uma mulher pergunta: ‘Será que não posso decidir o que fazer com o meu corpo?’ A peça se encerra com a frase: ‘Aborto. Porque toda mulher sabe o que é importante’. A reportagem seguiu com enviado à Cidade do México, onde o aborto foi aprovado. Foi entrevistada uma deputada que ‘culpou a Igreja Católica por interferir nas decisões do povo mexicano’. Outra disse que ‘a Igreja Católica é preconceituosa’.


O ‘Jornal Nacional’ também destacou a polêmica do aborto, mas ouviu os dois lados.


À tarde, as TVs tentavam fazer de Bento 16 um papa pop. Mas Ratinho, em entrevista à Band, deu a senha: ‘O outro papa era mais jeitoso. Mas esse aí também é bem intencionado’.’


VIRADA CULTURAL
Gilberto Kassab


A Virada e seu avesso


‘FORMADO EM engenharia e economia, cujo ensino é marcado pelo rigor formal, me encanta aprender sobre jornalismo. Passei a conviver com jornalistas mais intensamente desde que assumi a missão de governar a cidade de São Paulo, sucedendo ao atual governador José Serra. Acho divertidos os ditados que jornalistas mais experientes usam para passar aos mais novos os fundamentos da profissão. ‘Notícia boa não é notícia’, por exemplo, com o sentido de que o leitor só se interessa pelo que sai da rotina. Ou, ainda, ‘se o cachorro morde o homem, não é notícia; se o homem morde o cachorro, é’.


Na política, aprendi desde cedo que o respeito à liberdade de imprensa é um dos fundamentos da democracia. Concordo com o célebre pensamento do terceiro presidente dos EUA, Thomas Jefferson (1743-1826): ‘Se tivesse que decidir entre governo sem jornais ou jornais sem governo, não hesitaria em escolher o segundo. Mas todos os homens deveriam receber os jornais e serem capazes de lê-los’.


Sou consciente de que cabe, no jornalismo, a divergência, como a que me ocorre ao olhar para trás, passados alguns dias, e analisar o que aconteceu de importante em São Paulo no último fim de semana.


A Virada Cultural, evento promovido pela Prefeitura de São Paulo de 5 para 6 de maio, realizou o que a prática jornalística consagrou como notícia: aquilo que sai da rotina, o incomum. Noutras palavras, a Virada foi um acontecimento tão raro como se ‘o homem mordesse o cachorro’.


Durante 24 horas, 3,5 milhões de moradores da capital paulista aproveitaram a oportunidade de assistir, de graça, a 350 eventos em 80 diferentes pontos da cidade. Cantou-se, ouviu-se, dançou-se samba e forró, rock e reggae, rap e seresta. Apresentaram-se artistas como o Ballet Stagium e o percussionista Naná Vasconcelos, a cantora Zélia Duncan e o instrumentista Paulo Moura. Apresentaram-se estrelas do passado, como Dóris Monteiro, Ademilde Fonseca, a Orquestra Tabajara, Ângela Maria e Cauby Peixoto, e da atualidade, como Chico César, Ed Motta, João Bosco, Moraes Moreira e seu filho Davi Moraes. E isso sem contar Alceu Valença tocando sucessos de seu disco de 1977.


Houve apresentações no Vale do Anhangabaú e em Guaianases (a 30 km do centro), no Teatro Municipal e em Parada de Taipas, na praça Dom José Gaspar e nos 26 CEUs, na praça da República e no parque da Juventude (antigo Carandiru). Na quadra da Vai-Vai, João Carlos Martins regeu a Orquestra Bachiana, acompanhada pela bateria da escola de samba -entre outras peças, tocaram o primeiro movimento da ‘Sinfonia nº 5’ de Beethoven. Em um país marcado pela diversidade e pela exclusão cultural, cabe perguntar: isso é notícia ou não?


Entretanto, nas manchetes do dia seguinte, o que obteve mais espaço, em toda a mídia, não foram as 24 horas de epifania oferecidas aos moradores de São Paulo e turistas que vieram à cidade. A manchete coube a um incidente da madrugada do domingo, na praça da Sé, quando se apresentavam os Racionais MC’s, um dos mais importantes grupos de rap e hip hop do Brasil. Nenhuma autoridade escamoteou informações sobre o confronto entre policiais e parte da platéia. O confronto aconteceu. Foi lamentável, mas aconteceu.


Não é justo, porém, que tenha sido tratado como o assunto principal da Virada. Na seção de cartas da Folha, no dia 8, o leitor Yelmo Papa lamentou: ‘É uma pena que a violência ganhe sempre as manchetes e chame mais a atenção do que a paz, a cultura e a diversão. A Virada Cultural teve mais de 300 eventos de música, teatro, dança, circo, etc… A grande imprensa falou disso ‘en passant’.


Já o tumulto causado por vândalos na praça da Sé foi manchete dos jornais, telejornais e rádios’.


No mesmo dia, em ‘O Estado de S. Paulo’, o leitor Klaus Capuzz batia na mesma tecla: ‘Apesar do incidente criado por um pequeno grupo de vândalos que, infelizmente, não sabem tirar proveito desse magnífico projeto da Prefeitura de São Paulo, gostaria de agradecer pelo evento e pedir que a prefeitura não desista de oferecer cultura e lazer nessa proporção, para todos os gostos e idades’.


Caro Yelmo, caro Klaus, temos a convicção de que o relevante é a Virada Cultural, e não o seu avesso. Na segunda edição do evento, em 2006, a cidade estava traumatizada pelos ataques do crime organizado. Ainda assim, São Paulo não teve medo e compareceu. Em 2007, a participação do público foi maior ainda. Para 2008, vamos preparar uma maratona cultural melhor, mais variada. A data já está reservada: 26/27 de abril. Enquanto isso, estão todos convidados para o show de desagravo programado para este domingo à noite, na Sé.


GILBERTO KASSAB, 46, é o prefeito de São Paulo.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Acordo e o ‘tempo hábil’


‘Na manchete da Folha Online e outros, ‘Lula evita acordo e diz ao papa que vai manter o Estado laico’. Do Globo Online ao ‘Jornal Nacional’, ‘Lula diz ao papa que crê em Estado laico’. No site da BBC Brasil, ‘Papa quer acordo entre Vaticano e Brasil até 2010’.


Na versão da Agência Brasil, ‘o Vaticano esperava que a visita resultasse na assinatura de acordo, mas não houve tempo hábil’. A contraproposta do Brasil, ‘que ainda não foi avaliada’, segundo a agência, ‘não prevê nenhum tipo de privilégio à Igreja Católica’.


O blog de Josias de Souza, no domingo, deu que o Brasil resistia ao Vaticano, que queria o compromisso de ‘pelo menos zelar para que não sejam introduzidas exceções’ à legislação que proíbe o aborto e de ‘tornar obrigatório o ensino de religião no sistema público’.


AUTOCENSURADO


Em sites do argentino ‘La Nación’ ao inglês ‘Guardian’, o encontro entre Lula e o papa ecoou mais pelo fato de ambos não terem tratado de aborto.


O enviado do ‘New York Times’, Ian Fischer, diz que ‘a viagem de Bento 16 foi ofuscada pela declaração sobre o aborto’ -a tal ponto, que o Vaticano se viu forçado ontem a distribuir uma versão autocensurada da entrevista do papa no avião. Retirou a resposta em que ele defendeu a excomunhão dos políticos como os mexicanos, que votaram pela liberação.


SILÊNCIO OBSEQUIOSO


Fischer lamentou que depois desse episódio o papa estaria propenso a não dar entrevistas coletivas por outros dois anos.


GIULIANI E O ABORTO


Na capa do ‘NYT’ de ontem, a foto da coletiva de Bento 16, com a notícia do ataque aos políticos que apóiam liberação, veio ao lado do título ‘Giuliani deve apoiar direito ao aborto’.


O ex-prefeito de Nova York e presidenciável republicano, que é católico, ‘planeja uma afirmação clara de seu apoio ao direito ao aborto em aparições públicas, de TV e entrevistas, apesar do potencial efeito ruim entre eleitores conservadores’.


‘NÃO É BOA IDÉIA’


Soou como uma resposta ao papa -embora, ouvido ontem pela agência Associated Press, Giuliani tenha evitado abordar a ameaça de Bento 16, dizendo que ‘não é uma boa idéia entrar numa discussão com o papa’.


DOENTES OU A CIÊNCIA


A ultraliberal ‘The Economist’, em texto curto e inusitadamente contido, questiona de passagem a quebra da patente de remédio antiAids pelo Brasil, dias atrás. Na verdade, em seus destaques, como ‘Um conflito de objetivos’, ‘Ajudar doentes ou a ciência’ e ‘Patente a que preço?’, chegou perto até de consentir a medida, o oposto do que fez há seis anos.


ACORDO, AFINAL


Depois de ameaças sem fim, os ex-sindicalistas Lula e Evo Morales fecharam um acordo para as refinarias da Petrobras, anunciou -à noite- o ministro das Minas e Energia, na Folha Online e outros. Pouco antes, porém, ele ainda dizia esperar até ser ‘escrito e formalizado’.


A estatal Agência Boliviana de Informação festejou Lula e seu ‘desprendimento’ no caso.


BATALHA SILENCIOSA


A ‘Economist’ deu editorial e reportagem ao que descreve como ‘Venezuela e Brasil estão batalhando em silêncio sobre o formato de um banco regional’.


Ataca mais Chávez, mas não gosta da versão lulista. Diz que ‘a recente estabilidade da América Latina ainda tem que ser testada num pânico global’. E que, se tal acontecer, ‘espere governos correndo ao FMI’.’


MERCADO EDITORIAL
Folha de S. Paulo


Circulação mundial de jornais aumenta 1,9% em 2006


‘A circulação mundial de jornais cresceu 1,9% no ano passado em relação a 2005 e a circulação dessas publicações atingiu 510,4 milhões de cópias em 2006, segundo dados divulgados pela WAN (Associação Mundial de Jornais, na sigla em inglês).


Jáo faturamento mundial dos jornais com publicidade subiu 3,99% em 2006. O maior crescimento foi na América Latina, de 7,88%.


Desde 2002, a circulação dos jornais pagos que têm publicação diária subiu 8,7%. Segundo a WAN, mais de 1,4 bilhão de pessoas lêem um jornal diário.


Na América Latina, a expansão foi ainda maior, 4,59% ante 2005, superando a Ásia, que teve o segundo maior crescimento, 2,99%. A América do Norte foi a única região em que a circulação caiu, para 1,97%.


‘Nós do negócio de jornais estamos muito confiantes com o futuro, um futuro constituído do que fazemos melhor, realizar produtos relevantes e atrativos para nossos mercados locais, atraindo uma audiência crescente e a mostrando para os anunciantes’, disse o presidente da WAN, Gavin O’Reilly.


O número de jornais pagos passou de 10.794, em 2005, para 11.142, no ano passado -crescimento mundial de 3,22%. A América Latina não acompanhou o ritmo mundial e teve queda de 0,10% no número de jornais.


De 2002 a 2006, o crescimento mundial de títulos de jornais pagos cresceu 16,88% impulsionado pela Ásia, onde a alta foi de 33,01%. A América Latina teve a segunda maior expansão no período, de 12,65%.


Levando em conta também os jornais gratuitos, o crescimento do setor foi ainda maior. No ano passado, a circulação mundial de jornais diários se expandiu em 4,3% na comparação com 2005, atingindo 551,2 milhões de cópias. Nos últimos cinco anos, a alta foi de 14,2%.


Os jornais gratuitos tiveram uma circulação mundial total de 40,8 milhões de cópias no ano passado -uma expansão de 46,9% em relação ao ano anterior. E, novamente, foi a América Latina que teve o maior crescimento: 77%. A Europa, com 65,2%, foi a região que teve a segunda maior expansão.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Record proíbe chamar papa de ‘Santidade’


‘A Record editou um conjunto de normas para ‘orientar’ seus repórteres e editores na cobertura da visita de Bento 16 a São Paulo. Por e-mail, proibiu seus jornalistas de chamarem o papa de ‘Sua Santidade’.


Bento 16 deve ser chamado apenas de papa. Os repórteres também não podem se referir a ele como ‘líder religioso’, mas como ‘líder da Igreja Católica’ ou chefe de Estado do Vaticano.


O pequeno ‘manual’ da Record determina ainda uma cobertura predominantemente factual, sem adjetivos e demonstrações de emoção.


Apesar de pertencer ao líder de uma igreja evangélica, a Record vem fazendo uma cobertura muito mais extensa da visita do papa do que o SBT.


No primeiro dia, no entanto, os telejornais da Record pecaram pela superficialidade, se limitando a relatar o que o papa fez, sem discutir o que ele disse.


Diretores da Record dizem que essas normas visam evitar excessos como os que vêm sendo cometidos pela Globo _ontem, ao relatar aceno do papa a fiéis no largo São Bento, o âncora Chico Pinheiro disse no ‘SP TV – 1ª Edição’ que Bento 16 fora encontrar seu ‘rebanho’.


No primeiro dia do papa no Brasil, apenas a Globo ganhou audiência. A emissora teve média de 23 pontos anteontem (das 7h à 0h), três a mais do que no dia 2. O número de televisores ligados cresceu de 44% para 49%. Além do papa, o frio influiu nesses números.


MUITAS DÚVIDAS A próxima novela das oito da Globo, ‘Duas Caras’, estréia em outubro, mas seu elenco ainda é uma incógnita. Du Moscovis, que seria o protagonista, ainda não disse sim nem não. Para seu lugar, o autor Aguinaldo Silva quer Selton Mello, figura rara em novelas. Taís Araújo e Lázaro Ramos também estão à procura de uma desculpa para recusarem os convites. Já Antônio Fagundes está confirmado na produção.


TV YOUTUBE O Grupo Abril lança em julho o Fiz, seu mais novo canal pago, que pretende ter toda a sua programação produzida pela própria audiência. Acaba de contratar a agência de publicidade Loducca para tratar do lançamento do canal e, já a partir de 15 de junho, convocar o público a enviar vídeos para o Fiz.


MUSA A atriz Cléo Pires não resistiu ao assédio dos humoristas do ‘Casseta & Planeta’ e decidiu, finalmente, participar do programa da Globo. Deve gravar na próxima segunda-feira.


PERDEDOR 1 O SBT vai voltar a produzir o ‘reality show’ ‘O Maior Perdedor do Mundo’, em que pessoas obesas confinadas em um spa competem para perder peso. A primeira edição, em 2005, não foi um sucesso, mas também não fracassou totalmente.


PERDEDOR 2 A nova edição de ‘O Maior Perdedor’ estréia em agosto e durará 13 semanas. O SBT pagará R$ 1.000 para cada quilo perdido por participante. O grande vencedor receberá mais R$ 200 mil. É bem provável que a emissora mude o nome.’


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