Uma audiência pública realizada na semana passada pelo Ministério Público Federal abriu o diálogo entre movimento feminista e emissoras de televisão. Mais de cem entidades reivindicam uma mídia sem reprodução de estereótipos e preconceitos, com mulheres mais ‘reais’.
Cerca de 60 mulheres de organizações da sociedade civil e representantes das emissoras SBT, Record, Rede TV!, Bandeirantes, Rede Mulher, MTV e TV Gazeta compareceram na audiência, ocorrida na segunda-feira, 23/04. Como não havia ninguém da Rede Globo – um dos canais mais criticado pelas ONGs – o MPF vai enviar uma notificação à emissora colocando as reivindicações da representação. ‘Ficou combinado que vai ter uma mesa de diálogo, sem data prevista’, relatou a integrante da Marcha Mundial de Mulheres.
Composto basicamente por funcionários da área jurídica, o grupo das emissoras defendeu-se, afirmando que as emissoras não têm uma orientação de discriminação à mulher. ‘Eles enfatizaram que são TVs comerciais, que visam o lucro e não trabalham para o assistencialismo. Mas nós sabemos que os canais são concessões públicas, e por isso devem ser democráticos, regidos por outros valores. Precisamos ter algum nível de controle social para que essa situação não se perpetue’, observa Sônia Maria Orellana, integrante da Marcha Mundial de Mulheres e da Sempreviva Organização Feminista.
Manifesto provocou a audiência
A manifestação teve origem em reuniões preparatórias para o Dia Internacional da Mulher, 8 de março, e gerou um manifesto. O texto aborda a reprodução de estereótipos, o incentivo à violência doméstica e à submissão feminina, práticas e comportamentos veiculados pelas TVs. ‘A TV é uma concessão pública e, por isso, é legítimo considerar que as concessionárias têm, no mínimo, como contrapartida, a responsabilidade de atender os mais altos anseios e interesses do público que pretendem representar’, diz o documento.
O abaixo-assinado foi entregue à Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão de São Paulo (PRDC-SP), com mais de 500 assinaturas de entidades como o Observatório da Mulher e Marcha Mundial das Mulheres, de representantes do campo público de televisão e da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão. Com base nessa representação, a Procuradoria promoveu a audiência pública para debater propostas com representantes das emissoras de televisão.
Sônia afirma que os meios de comunicação perpetuam uma imagem irreal da mulher. ‘Os meios de comunicação, principalmente a televisão, perpetuam uma imagem distorcida da mulher. Elas são apresentadas como burras, subordinadas e vivem apenas para a maternidade e o casamento.’ A gravidez na adolescência acaba sempre em final feliz, o que faz parecer que é algo fácil. Nas novelas, diz a militante, ninguém faz aborto, e quem faz é considerada assassina.
‘Além do perfil psicológico, o retrato das mulheres distancia-se da realidade quando se pensa em aparência’, assinala. A feminista lembra ainda que a diversidade do povo brasileiro não está representada na televisão. ‘Aparecem pouquíssimas mulheres negras. É uma imposição de um padrão de beleza, das loiras, magras, de pele branca e olhos claros’, reclama.
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Da Redação FNDC