Pelo menos temos um plano para questionar! Este é um dos grandes méritos do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), concebido pelo ministro Fernando Haddad e sua equipe. Questionamentos às propostas tornam-se notícia. Noticiados os questionamentos, a educação fica em evidência, o que é fundamental para que todos dêem os seus palpites e, além dos palpites, contribuam de alguma forma.
Um dos questionadores é o deputado Paulo Renato, ex-ministro da Educação. Propõe que os professores façam uma prova para merecerem o piso salarial: um exame nacional de conhecimentos. E diz que boa parte das medidas são meras cartas de intenções. Ora, mas como poderia ser diferente?! Um plano é, em essência, anúncio de intenções. Quanto ao exame de conhecimentos, apenas uma proposta para tumultuar. Professores que receberem nota 5 continuarão sem dinheiro para comprar os livros que os ajudariam a passar nesse (mais um?) ‘vestibular’.
O PDE parte da constatação de que não estamos desenvolvidos. Há atraso na educação brasileira. Atrofias. Lacunas.
Por exemplo, uma das pretensões é instalar computadores em todas as escolas públicas nos próximos três anos. O PDE promete criar, ainda em 2007, 13,8 mil laboratórios de informática em escolas de 5ª à 8ª série, totalizando 101,5 mil microcomputadores, ou seja, cerca de sete máquinas em cada escola. Já é um começo. Melhor do que nada.
Nova fase
Contudo, não se esqueça o planejador – e não se iludam aqueles que vão implantar o plano – que um laboratório exige constante serviço de manutenção e um ou mais auxiliares de informática, pois muitos dos próprios professores não sabem ‘pilotar’ as máquinas.
Além disso, conforme questiona outro ex-ministro, o senador Cristovam Buarque – para quem ‘o plano é um pouco mais forte do que uma aspirina, sem chegar a ser um antibiótico’ –, computadores precisam de locais apropriados, lembrando-se que há escolas sem banheiros, com muros e tetos em estado precário, e bibliotecas e salas de aula interditadas por mil e um problemas.
Para continuarmos no tema da inclusão digital, outros tantos críticos alertam para a questão óbvia: computadores não educam sozinhos. Os docentes deverão ser preparados para extrair dos computadores real aproveitamento pedagógico.
Bons planos suscitam polêmica e o MEC parece disposto a acolher as críticas… ou, ao menos, ouvi-las com interesse. Estamos apenas iniciando uma nova fase, na qual a educação tornou-se mais do que nunca pauta diária, obrigatória.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br