Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Foto de José  Serra
armado gera polêmica


Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 17 de maio de 2007


GOVERNO LULA
Vaguinaldo Marinheiro


Eu me amo


‘CONTA-SE que Lula decidiu não ler jornal no segundo semestre de 2005, auge do escândalo do mensalão. Temia ficar ainda mais deprimido com o caso que ameaçava seu mandato e, àquele momento, enterrava seu sonho de reeleição.


O tempo passou, a reeleição veio, o mensalão foi quase esquecido e ontem o presidente deve ter ficado o dia todo se deliciando com os jornais que traziam a cobertura de sua entrevista coletiva, apenas a segunda em cinco anos de governo.


O presidente parece não temer mais a depressão. Ao contrário, o Lula que se exibiu aos 15 jornalistas era todo sorrisos, desenvoltura, segurança. Aprendeu com os anos a só responder ao que quer e a driblar as perguntas mais espinhosas.


Além disso dá lustro a sua auto-estima com um ensaiado processo de validação, que inclui seu bordão ‘nunca antes na história deste país’ e, em intervalos regulares, um auto-elogio nas respostas.


Na entrevista de terça, quando questionado sobre os altos juros, chegou a dizer que está ‘atingindo a perfeição’. Em outra resposta disse que ‘vivemos o melhor momento econômico de toda a história da República’.


O ‘Lulinha paz e amor’ da campanha eleitoral de 2002, que deu lugar ao Lulinha abatido de 2005, se transformou agora no ‘Lulinha eu me amo’.


Não que o presidente não tenha razão de estar feliz. Seu governo -por méritos próprios, mas principalmente graças ao favorável panorama econômico internacional- apresenta indicadores melhores que seu antecessor. Muitos são mesmo os melhores na história deste país. Mas ainda é pouco.


A economia brasileira está melhor, mas continua vulnerável. Dólares entram aos montes, mas ainda falta muito investimento e a moeda norte-americana abaixo dos R$ 2 pode ser o tiro de misericórdia em vários setores da indústria brasileira.


O crescimento do país permanece ridículo se comparado ao de outros emergentes e o propagandeado PAC continua apenas um amontado de papéis.


O perigo é o contentamento de Lula se traduzir em imobilismo e em recolhimento de louros fáceis. O presidente precisa ser lembrado todos os dias, pela leitura dos jornais, pelas TVs, rádios e sites noticiosos, que há muito trabalho pela frente.


Basta lembrar que o apagão aéreo mostra que o governo toma muitas bolas nas costas e que outros podem aparecer até 2010. E aí não vai adiantar fechar os olhos para as más notícias.


VAGUINALDO MARINHEIRO é secretário de Redação.’


SERRA EM AÇÃO
Folha de S. Paulo


Imagem de Serra empunhando fuzil em evento provoca polêmica


‘A imagem do governador José Serra (PSDB-SP) com um fuzil, reproduzida ontem pela Folha, provocou polêmica. Serra, que, segundo assessores, nunca havia pego em arma, posou em evento para homenagear policiais da tropa de elite da PM. A Folha ouviu representantes de ONGs e institutos de pesquisa de violência sobre a foto.


BENÊ BARBOSA , 36, presidente do Movimento Viva Brasil ‘Acho que [a foto] não tem nada demais. É que se criou um tabu tão forte, tão grande sobre as armas de fogo, que qualquer autoridade que tire uma foto, como fez o Serra, acaba virando alvo de crítica. A arma é exatamente a que foi usada por policiais que salvaram vidas em Campinas. O grave é ver os traficantes empunhando armas contra a sociedade.’


DENIS MIZNE, 31, diretor do Instituto Sou da Paz


‘Foi um momento infeliz. Houve uma empolgação pela situação. Sempre é negativo a associação de poder a armas de fogo. Um governador que sabidamente defende o controle de armas, que nunca atirou… Foi um gesto infeliz. Não tem nenhuma gravidade, mas acaba ficando uma imagem ruim para ser estampada na capa do jornal. Vejo mais como um descuido, um deslize, do que uma intenção de valorizar a arma.’


SÉRGIO MAZINA MARTINS , 46, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais


‘Nós não achamos que tenha algo de excepcional nessa atitude. É uma curiosidade ver como que era a mira de um fuzil, e [Serra] acabou sendo flagrado pelas câmeras. Foi uma curiosidade da parte dele, de ver como era a mira de um fuzil sofisticado. Não se pode extrair disso nenhum incentivo ao armamento ou algo semelhante.’


GUARACY MINGARDI, 52, pesquisador do Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente) ‘Acho que era perfeitamente dispensável. O que ele tem que fazer é dar o apoio que a polícia precisa, mas não precisava aparecer numa foto que irá, talvez, passar uma mensagem errada, de que o jeito de tratar esse problema é à bala. A ação do Gate foi boa no episódio [seqüestro de uma família em Campinas] que Serra foi elogiar, mas ele não precisava ter pego o fuzil.’


VIVIANE DE OLIVEIRA CUBAS, 32, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP


‘É uma atitude que você não espera de alguém que ocupa o cargo que ele ocupa. É um instrumento de trabalho da polícia. [A atitude] não necessariamente [estimula] a violência, mas o fascínio por armas pode ser estimulado.’’


MERCADO EDITORIAL
Folha de S. Paulo


Editora Três vai à Justiça para negociar dívidas


‘A Editora Três, que edita a revista ‘IstoÉ’, ajuizou pedido de recuperação judicial na 2ª Vara de Falências e Recuperação Judicial de São Paulo. O grupo deve emitir nota oficial hoje. O pedido foi formulado pela Advocacia De Luizi, da área de falências, ao juiz Caio Marcelo Mendes de Oliveira.


Pela nova Lei de Falências, a recuperação judicial substituiu a concordata. É uma tentativa de sanear a empresa em dificuldades por meio de acordo com credores, com a participação do Judiciário.


Segundo os advogados contratados, Domingo Alzugaray, presidente da editora, afastou momentaneamente a hipótese de associação com outro grupo empresarial. Na sexta-feira, foram demitidos 240 funcionários e decidiu-se unificar a redação das publicações. Está sendo montado um ‘pool’ de bancos para garantir a operação. Os advogados não informaram o total da dívida da editora.


Ontem, os advogados do grupo estavam reunindo a documentação necessária para o recebimento do pedido pela Justiça, como a relação de credores e balanços.’


PUBLICIDADE
Cristiane Barbieri


Kaiser e agência são condenadas por plágio


‘A cervejaria Kaiser e a agência de propaganda NewcommBates foram condenadas a pagar R$ 38 mil ao publicitário paranaense Luiz Eduardo Régnier Rodrigues por danos morais. O STJ (Superior Tribunal de Justiça) considerou, por unanimidade, que Rodrigues é o autor do slogan e do conceito gráfico veiculados, de forma semelhante, na campanha ‘Cerveja Nota 10’, em 1999.


Ainda caberá a Rodrigues indenização por danos materiais, mas seu valor só será determinado na liquidação da sentença. O STJ julgou o mérito da ação e não cabe mais recurso à NewcommBates, hoje Grupo Newcomm, do publicitário Roberto Justus, ou à Kaiser. Ambas poderão, entretanto, contestar o valor dos danos materiais. A campanha custou, na época de sua veiculação, US$ 70 milhões porém o valor da indenização deverá ser menor.


Rodrigues registrou a campanha no Escritório de Direitos Autorais da Fundação Biblioteca Nacional, em 1996. A partir do slogan ‘Cerveja Nota 10’ era formado o número dez, sendo que a garrafa da cerveja se transformava no número um e a tampa com o rótulo, no zero.


A cervejaria e a agência alegaram que desconheciam a obra de Rodrigues e que não haveria prova do plágio, mas sim coincidência criativa. Para o ministro Humberto Gomes de Barros, do STJ, no entanto, caberia às empresas procurar os órgãos de registro. Caso informados da existência de obra semelhante, deveriam procurar o publicitário e obter a autorização de uso.


‘Decisões como essa criam jurisprudência’, diz João Roberto Régnier, advogado de Rodrigues. Significa, segundo juristas não só que baseará outras decisões da Justiça como fará com que, antes de criar campanhas, as agências consultem bancos de registros de idéias, prática pouco comum.


A Associação Brasileira de Propaganda (ABP) criou, há quatro anos, um organismo chamado de entidade depositária da criação publicitária, para a qual os publicitários enviam suas peças publicitárias. Elas ficam guardadas em cofres lacrados, abertos em caso de dúvida na autoria da campanha.


‘Há muitos casos de idéias derrotadas em concorrências que vão ao ar algum tempo depois, geralmente executadas por agências mais baratas’, afirma Adilson Xavier, presidente da ABP. ‘Essa é uma garantia ao criador da idéia.’


O site do STJ informa que a Kaiser, que hoje pertence à Femsa, e a NewcommBates pagarão solidariamente as indenizações. Procurados pela Folha, no entanto, a cervejaria e a agência afirmam que só se pronunciarão depois que receberem a decisão judicial.’


LÍNGUA PORTUGUESA
Pasquale Cipro Neto


‘Mídia, ‘seitas’ e divórcio’


‘ESTAVA NA CAPA da Folha, na edição do último sábado: ‘Papa ataca mídia, ‘seitas’ e divórcio’. Muitos leitores escreveram para perguntar por que a palavra ‘seitas’ foi posta entre aspas. Bom sinal, isto é, sinal de que notaram a presença das aspas. O fato é que, infelizmente, não são poucos os leitores que não percebem a presença desse sinal de pontuação. O resultado disso pode ser catastrófico. Pode-se, por exemplo, ignorar que determinado pensamento expresso no texto não é de seu autor, mas de alguém citado pelo articulista. Numa notícia corriqueira -da crônica policial, por exemplo-, pode-se não entender que certa passagem do texto contém a declaração de alguém, e não uma informação do jornal.


Em qual categoria entram as aspas do título da Folha? No desenvolvimento da manchete, o próprio jornal se encarrega de explicar. Leia com atenção: ‘Nos dois eventos públicos de que participou ontem em São Paulo, o papa Bento 16 criticou a mídia e as igrejas evangélicas (que chamou de ‘seitas’) que tiram fiéis do catolicismo’. Já entendeu? Quem chama de ‘seitas’ as igrejas evangélicas? O jornal ou o papa? O papa, obviamente. E por que as benditas aspas? Para falar o português claro, porque o jornal não mete o bedelho em assuntos religiosos, ou seja, o jornal é laico. Se o jornal não publicasse a palavra ‘seitas’ com aspas, estaria chancelando as declarações de Sua Santidade (não se pode esquecer o caráter pejorativo da palavra ‘seita’). Se o papa quer dizer que certas igrejas evangélicas são ‘seitas’, o problema é dele.


A esta altura, alguém talvez já esteja com o dedo no teclado para mandar-me mensagem de protesto, dizendo que eu isso, que eu aquilo… Eu nada, caro leitor. Só cumpri meu papel de ‘explicador’. Por falar em explicação, por que empreguei a palavra ‘certas’ na passagem ‘Se o papa quer dizer que certas igrejas evangélicas são seitas…’? Por que a limitação do número dessas igrejas? Volte à transcrição do texto do jornal, por favor (‘Nos dois eventos…’). Vá lá, que eu espero. Voltou? Leu com atenção? Notou que não há vírgula depois do parêntese que encerra a passagem ‘que chamou de seitas’, isto é, antes do ‘que’ que introduz a oração ‘que tiram fiéis…’? Não se iluda, caro leitor: ler dá trabalho.


Vamos lá. Se eliminarmos os parênteses do trecho em questão, teremos o seguinte: ‘…o papa Bento 16 criticou a mídia e as igrejas evangélicas que tiram fiéis do catolicismo’. O ‘que’ em questão é pronome relativo (recupera ‘igrejas evangélicas’) e, como tal, introduz oração adjetiva (ou ‘relativa’). Como se sabe, as orações adjetivas podem ter caráter restritivo, o que normalmente é evidenciado pela ausência de vírgula antes do pronome relativo que as introduz. Se tivesse empregado a vírgula antes do ‘que’ (‘…as igrejas evangélicas, que tiram fiéis…’), o redator teria informado que o papa se referiu a todas as igrejas evangélicas. Ao não empregar a vírgula, o redator quis deixar claro que o papa não se referiu a todas as igrejas evangélicas, mas especificamente àquelas que, na visão de Sua Santidade, ‘aliciam’ os católicos. É isso.’


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Zeca Pagodinho diz que ministro é incompetente


‘O sambista Zeca Pagodinho chamou de incompetente o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que, na semana passada, pediu publicamente ao cantor que parasse de fazer comerciais de cerveja.


‘Isso é incompetência, ele fica procurando coisa. Por que não vai ao PAM [Posto de Assistência Médica] de Irajá [zona norte do Rio], que está cheio de máquinas que não funcionam?’, disse Zeca, anteontem, durante o aniversário da cantora Beth Carvalho. Os PAMs são municipais.


‘Deixa o Zeca trabalhar. Deixa o Zeca ganhar o dinheirinho dele’, afirmou.


No dia 9, em audiência no Senado, Temporão defendeu o veto de artistas em propagandas de bebidas alcoólicas, pois eles estimulariam o consumo por parte de jovens e adolescentes. ‘Gosto dele [Zeca] como artista, mas é preciso pedir para ele parar. É patético, constrangedor’, disse Temporão.


O coordenador de saúde mental do Ministério da Saúde, Pedro Gabriel Delgado, disse que ‘a preocupação é com a propaganda e o incentivo ao consumo de álcool’ e não com o Zeca. O ministro não pôde responder, segundo a assessoria de imprensa, pois está em Genebra (Suíça).’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Plano B ou nada


‘‘Dólar despenca’ e ‘desaba’ foram algumas das manchetes, na web e nos telejornais. A explicação era curiosa. Foi por causa da ‘melhora na classificação de risco do Brasil’, no Valor Online. Foi porque uma ‘agência elevou a classificação’, na Folha Online. Não adiantou o governo gastar bilhão para conter a queda. No fim do dia, um analista, entre vários que surgiam, declarou a dois sites que o mercado espera o Plano B do Banco Central, ‘um corte substantivo’ nos juros.


No exterior, o ‘Financial Times’ destacou a notícia, mas dizendo que ‘o real liderou o ataque das moedas dos emergentes contra o dólar’, de Israel às Filipinas. E que a explicação estava na inflação dos EUA, que se revelou ontem menor que o esperado, ‘aumentando o apetite [dos investidores] pelo risco’ no Brasil etc.


NÃO É ‘THRILLER’


Jim O’Neill, economista da Goldman Sachs, célebre por ter criado o acrônimo BRIC, escreveu ontem no ‘Financial Times’ que o dólar cada vez mais ‘fraco’, na Europa e nos emergentes, não é nenhum ‘thriller’, é até uma história ‘boring’, tediosa. Mas sugeriu que pode ser boa idéia jogar com ‘persistência’ no dólar, contra as moedas dos Brics. ‘Deverá ser compensador.’


Ele também fez a previsão de que, mais para a frente, as ‘volatilidades no câmbio internacional’ devem crescer.


A NOTA E A BOLSA


No exterior, Bloomberg e Reuters noticiaram, mais até que o impacto sobre o dólar, o efeito da nota maior do Brasil na agência Standard & Poor’s sobre a Bovespa, com novo ‘recorde’. Na Folha Online, o ministro da Fazenda também festejou mais do que chorou os efeitos da nota cada vez maior. E arriscou que o ‘grau de investimento’, a avaliação máxima tão desejada, ‘virá quando o PIB alcançar 5%’.


Na Reuters, a agência Fitch avisou que vai demorar e não é sequer para o ano que vem.


AGORA, EM TODOS


Como esperado, ecoou pelo mundo a condenação de um dos mandantes da morte de Dorothy Stang, no Pará. Como saiu quase à noite, foi capa só no ‘Los Angeles Times’, da Califórnia em diante no fuso, e apareceu nas edições tardias do ‘New York Times’ e do ‘Washington Post’ com textos de agências. Nos americanos e nos europeus que adiantaram textos ontem nos sites, como ‘El País’ e o ‘Guardian’, elogios até nas reportagens à resposta positiva ao ‘teste de justiça’, ao ‘desafio à impunidade’. No ‘Guardian’, um artigo do ativista Conor Foley sublinhou a reação de Tim Cahill, da Anistia Internacional, para quem a atenção internacional ‘forçou o governo a agir rapidamente, o que tem sido muito bom’. Mas ele espera agora que ‘não aconteça só neste caso e sim em todos os assassinatos’.


MAIS SILÊNCIO


No meio da reportagem do ‘LA Times’ e depois noutra, da BBC Brasil, os familiares e amigos de Dorothy Stang lamentaram a maneira como o papa Bento 16 evitou citar a questão na viagem ao Brasil.


‘O papa não reconheceu o milagre da vida de Dorothy’, disse seu irmão Thomas, de Los Angeles. O motivo, dado pelos textos, seria a ligação com a Teologia da Libertação.


AS FRAQUEZAS


O alemão ‘Süddeutsche Zeitung’ fez violento editorial da viagem, ‘As fraquezas do papa’. Na tradução da BBC, ‘o culto Ratzinger mostrou fraquezas assustadoras em assuntos históricos’, como ao afirmar que os índios estavam ‘à espera do cristianismo’.


O jornal ironizou que, em 1492, ‘ficavam olhando o mar, pensando: ‘Quando é que nós vamos poder ser cristãos?’.


SEM ANTIPIRATARIA


Durante algum tempo, foi manchete ontem à tarde, do NYT.com aos sites financeiros, o anúncio da Amazon de que deve passar a vender músicas on-line ‘sem tecnologia antipirataria’, até o fim do ano. Explica-se assim por que Steve Jobs, da Apple, concorrente da Amazon com seu iTunes, saiu ele também, poucos meses atrás, em defesa do comércio on-line de música sem as travas antipirataria exigidas pelas gravadoras. Por enquanto, só a EMI aceita a idéia. A Universal e a Sony balançam. A Warner é contra.’


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Folha de S. Paulo


Microsoft pode ser multada em US$ 1,2 bi por UE


‘DA BLOOMBERG A Microsoft, maior fabricante mundial de software, estima que a multa que terá que pagar à União Européia (UE) devido a um processo antitruste poderá chegar a US$ 1,2 bilhão. A informação foi dada à Securities and Exchange Commission (SEC, órgão regulador das bolsas norte-americanas).


Em março de 2004, os reguladores acusaram a empresa de abusar da posição de domínio do sistema operacional Windows, presente em quase 95% dos computadores pessoais do mundo, para esmagar os concorrentes. Além de multa, a Comissão Européia, órgão regulador da UE, ameaçou fazer cobrança retroativa.’


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Amazon.com terá loja de música digital


‘DA BLOOMBERG – A Amazon.com, maior varejista online do mundo, lançará uma loja de música digital até o fim do ano para oferecer canções de mais de 12 mil gravadoras em sua primeira investida em downloads de música.


As canções serão vendidas sem o mecanismo de proteção a direitos autorais, o que permitirá aos usuários tocar as músicas na maioria dos aparelhos de MP3, como o iPod, fabricado pela Apple, e em computadores pessoais, disse a Amazon.’


CRÔNICA
Marcos Augusto Gonçalves


Na rave com Zuenir


‘OUTRO DIA fui numa rave. ‘Day party’ numa casa à beira da represa de Guarapiranga.


Começava na madruga e ia até o final da noite. Não era das maiores, mas o público beirava as mil pessoas. A grande atração era um DJ alemão, um dos muitos considerados ‘o melhor do mundo’. Cheguei com um grupo de amigos e tudo, tendas, banheiros, bares, pareceu-me organizadíssimo, como um acampamento de escoteiros.


Era quase meio-dia e o baticum estava no auge. Uma pequena multidão se aglomerava na pista diante do DJ; outros dançavam à distância; outros descansavam pela grama. Não achei as pessoas especialmente bonitas, mas havia gente interessante. E também bizarra, como as moças de chapéu de caubói e pirulito na boca. Aliás, eu achava que o pirulito era uma guloseima infantil extinta, mas não, ele sobrevive entre o público de música eletrônica.


Para mim, tratava-se ao mesmo tempo de um divertimento, num ensolarado domingo paulista, e de uma experiência antropológica. Isso pode parecer estranho, mas gosto de alguns gêneros de eletrônica, embora não consiga, na verdade, distingui-los com muita clareza.


Queria ver in loco esses agrupamentos de jovens se sacudindo ao som de ‘trance’ ou ‘minimal’, eu que em minha juventude freqüentava festivais de rock e showzões de música brasileira.


Claro que há semelhanças, mas o negócio me pareceu muito mais pacífico e ordeiro. Talvez isso possa ser creditado a uma mudança, digamos, de ‘matriz enérgica’. Antigamente muita gente consumia cocaína e bebia álcool destilado -uma mistura de alta octanagem, daquelas de transformar caminhão em carro de corrida. Hoje, o pessoal chupa bala, bebe água e se esfrega no transe.


Gostei da experiência e fiquei com vontade de repeti-la, mesmo sabendo que, aos olhos da meninada, aquele cara mais velho, de bermuda, camiseta e boné, poderia, na melhor das hipóteses, ser enquadrado na simpática, mas também constrangedora, categoria de ‘tiozinho’. Tudo bem, melhor ‘tiozinho’ ligado nas coisas que estão acontecendo do que aprisionado no passado.


Estava me sentindo muito moderno com isso, até que, anteontem à noite, encontrei, em São Paulo, o casal Mary e Zuenir Ventura. Uma satisfação imensa, ele que foi meu professor no mestrado da UFRJ e meu primeiro chefe de verdade, na sucursal da ‘IstoÉ’, no Rio, na virada da década de 70 para a de 80.


Depois de abraços, afagos e recordações, eis que o grande jornalista, que vai completar 76 anos no dia 1º de junho, me segredou: ‘Fui a uma rave lá no Rio’.


Pasmo! E prosseguiu, me dizendo que ‘como a cena paulista é diferente da carioca’, está se programando para ir a uma outra por aqui. Não, Zuenir não pirou. Em sua inesgotável curiosidade, o autor do importante ‘Cidade Partida’ prepara um livro sobre os jovens de hoje.


Portanto, meninos e meninas, se vocês por acaso virem um ‘tiozinho’ e um ‘avozinho’ circulando com pirulito na boca numa rave paulista, tratem-nos bem.


Nós merecemos!’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Record banca R$ 200 mi para tomar futebol


‘A Record prevê um prejuízo de pelo menos R$ 200 milhões em 2009 apenas com futebol caso venha a conquistar os direitos do Campeonato Brasileiro, atualmente da Globo.


Anteontem à noite, executivos da Record pela primeira vez se reuniram com Fábio Koff, presidente do Clube dos 13, entidade que negocia os direitos do Brasileirão. No encontro, a Record ofereceu R$ 500 milhões por ano (metade de todo o seu faturamento em 2006) pelos torneios de 2009 a 2012, conforme a Folha antecipou.


Esse valor ainda é uma ‘proposta inicial’ e inclui direitos de TV aberta, paga, ‘pay-per-view’ e outras mídias, segundo Alexandre Raposo, presidente da Record. A Globo paga atualmente cerca de R$ 300 milhões por ano pelos direitos. E gasta pelo menos mais R$ 100 milhões com as transmissões.


A Record pediu, e Koff aceitou, para fazer uma apresentação oficial em um encontro com todos os associados do Clube dos 13. Defendendo sua proposta diante de cada dirigente, a emissora acredita ter mais chances de sair vitoriosa.


A Record só conta com uma receita de R$ 300 milhões em 2009, vinda de ‘quatro parceiros [anunciantes] que querem bancar a saída do futebol da Globo’, de acordo com Raposo.


A rede prevê prejuízo também em 2010. Lucro, só no terceiro ano. A emissora tentará reduzir o rombo repassando os direitos de TV paga a terceiros.


ESCALAÇÃO’Paraíso Tropical’ terá em breve uma nova leva de participações especiais. Agora separado, Antenor (Tony Ramos) sairá com várias mulheres, cujas intérpretes ainda não foram definidas. E Bebel (Camila Pitanga) arrumará um cliente, um alemão, que despertará ciúme em Olavo (Wagner Moura).


BACIADAO SBT, que recentemente lançou uma promoção em que o anunciante compra um comercial e leva três, agora está exibindo programas sem anúncios. É o que vem ocorrendo com a reprise de ‘Ídolos’. Nem os patrocinadores aparecem.


ADEUS, GLAMOUR Ex-diretora de TV respeitada, Marlene Mattos agora ganha a vida como diretora de marketing de um shopping.


ELENCO DO DESTINO 1 Decidido a concluir um curso de comunicação na Universidade de São Paulo, o ator Leonardo Vieira recusou o quanto pôde convite da Record para ser o protagonista de ‘Caminhos do Coração’. Mas duas coincidências o fizeram mudar de idéia.


ELENCO DO DESTINO 2 Vieira foi passar o feriado de Páscoa em Petrópolis (RJ). Lá, de manhã, encontrou Alexandre Avancini, diretor da novela. À noite, num teatro do Rio, deu de cara com Tiago Santiago, autor de ‘Caminhos’. Entendeu que eram sinais para não desperdiçar a oportunidade.


RETORNO Estrela de novelas das sete da Globo no final dos anos 70, Maria Cláudia voltará à TV em ‘Caminhos do Coração’, em que fará uma enfermeira.


 


Nina Horta


Televisivos


‘VOCÊS ASSISTEM à televisão? Eu sou da minoria que assiste na sala e não no corredor ou no quarto da empregada.


Imagino que os quartos das empregadas no horário nobre devem ficar atopetados, a coitada espremida num canto. E morro de inveja da Silvia Poppovic, que tem uma TV sobre a banheira.


Acho incrível que ainda haja uma atitude depreciativa em relação à TV, mamma mia! Claro que tem muita coisa ruim, onde é que não tem? E muita coisa boa também. Já viram um programa no Futura de entrevistas feitas por Bia Corrêa do Lago? Às vezes tenho impressão que ela tem ‘insights’ que o próprio autor do livro nunca teve. Sabe ouvir e, quando recebe alguém, tem sua lição de casa muito bem-feita, vê-se que leu tudo, raciocinou e preparou as perguntas. Sensacional.


E todo este falatório sobre TV só para contar sobre um programa novo de culinária, novo para nós. O cozinheiro Gordon Ramsay é um daqueles que experimentaram a TV e se deram tão bem quanto se dão com as panelas. Hoje é um dos homens mais poderosos da Inglaterra, e o que o tornou mais conhecido foi explorar sua imagem de ‘homem mau’ e bom cozinheiro. A série em cartaz no momento no GNT é ‘Kitchen Nightmares’ (quintas, às 22h30).


Quando fui à Inglaterra, há oito anos, quem fazia sucesso era Jamie Oliver, um ubíquo meninote que estava em todas. Encontramos com ele nos mais diversos restaurantes, onde parava com sua motocicleta e ia para a cozinha comer com o chef.


Na televisão não dava outra coisa, e Gordon Ramsay era somente o melhor cozinheiro de peixes, escocês, com três estrelas do ‘Michelin’.


Já naquele tempo o que se falava dele é que era um carrasco, e quem tivesse no currículo mais que três meses na cozinha dele encontraria emprego em qualquer lugar pelo seu nível de exigência quanto aos empregados e à boa comida. Imaginei que, apesar de tudo, da braveza congênita, deveria ser um homem amável e justo, pois nos hospedávamos ao lado do Aubergine, de onde ele saíra e que andava às moscas, pois toda a brigada o seguira para o seu próprio restaurante. Se fosse o monstro sem educação do programa ‘Hell’s Kitchen’, série forçada e sem nada que fizesse o telespectador crescer em sabedoria culinária ou qualquer outra, não teria tanto ibope.


Assisti também a alguns episódios da série ‘The F Word’, bons, e agora está no ar o ‘Kitchen Nightmares’ .


Gordon Ramsay tem uns 41, mas parece mais, quando está sério. Cara de cansado, muitas rugas, vida de cozinheiro perfeccionista, que sempre manteve seus restaurantes nas alturas. Além disso, trabalhar na TV não é sopa. É loiro de cabelo meio arrepiado, escreveu livros de cozinha interessantes (só entrar na Amazon), estudou nos melhores restaurantes de Paris e da Inglaterra, aprendeu a pescar e a mergulhar com o pai, tem paixão por cozinha, sensibilidade… E não é que se saiu ótimo ator?


O programa ‘Kitchen Nightmares’ é bastante bom, divertido, interessante. O assunto é recuperação de restaurantes em vias de falir, mas com possibilidades de boa comida. Extremamente bem-feito, consegue condensar o antes e depois de um restaurante aconselhado e ajudado por ele. Muito bom para todos que gostam de cozinha e para futuros donos de restaurantes.


Faz de tudo um pouco. Bola esquemas de marketing, reduz ou aumenta o pessoal, inspeciona cardápios, hora de entrar e sair da brigada, uniformes, lucros, perdas, distribui encargos, incute o espírito de hierarquia e de equipe, e se preocupa, apesar de exigente, com os problemas dos funcionários relapsos.


É incrível como o programa é bem bolado, nem consigo entender como conseguem que cozinheiros, maîtres e garçons atuem com toda aquela naturalidade, já que não são atores. Como se não existisse câmera, um ‘à vontade’ impressionante.


Vale a pena.’


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