Por enquanto o fenômeno é mais intenso nos Estados Unidos, mas os especialistas acreditam que sua expansão para o resto do mundo é apenas uma questão de tempo. Há um ano, os alvos prediletos dos jornalistas/blogueiros (bloggers) eram apenas os grandes jornais, revistas e cadeias de TV dos EUA, mas agora o patrulhamento está alcançando também as publicações regionais e até outros blogs.
Mais do que isto, o tema blogs entrou definitivamente na agenda da imprensa americana, conforme uma pesquisa realizada pelo pesquisador do MIT Cameron Marlow (http://overstated.net/about.asp) – o criador do Blogdex (http://blogdex.net/) , o mais popular mecanismo para busca de blogs.
Segundo Marlow, de abril do ano passado para abril de 2004, dobrou o número de artigos publicados na imprensa americana sobre os weblogs ou informações publicadas por eles (detalhes em http://overstated.net/04/05/16-popular-press-and-weblogs.asp). A pesquisa envolveu 4.051 revistas e jornais publicados desde fevereiro de 1998.
A quantidade de sites onde jornalistas americanos publicam suas investigações e opiniões também disparou. Em agosto de 2001, o professor de direito Glenn Reynolds era um guerreiro solitário quando seu blog InstaPundit (http://instapundit.com/) começou a discutir na web o noticiário político dos jornais americanos. Hoje já é quase impossível saber quantos são os dublês de jornalista e blogger na terra do Tio Sam.
Na conferencia BloggerCon, realizada em abril na Universidade de Harvard (http://blogs.law.harvard.edu/bloggerCon/), foi apresentada nos debates uma estatística indicando a existência de mais ou menos 500 mil páginas web com características de blog (atualização cronológica freqüente) em todo o mundo, dos quais 10 mil seriam de jornalistas, em sua maioria americanos.
Mas nem mesmo os bloggers mais fanáticos, como o diretor da Faculdade de Jornalismo da Universidade de Nova York, Jay Rosen (http://journalism.nyu.edu/pubzone/weblogs/pressthink/), esperavam que o fenômeno dos sites pessoais opinativos ganhasse tanto peso político, e tão rapidamente.
Em 2002, o blogueiro Dave Winer apostou 2 mil dólares (http://www.longbets.org/2) com o Martin Nisenholtz, do New York Times, que até 2007 os blogs seriam mais mencionados que o material do Times nas buscas relacionadas com as cinco principais questões jornalísticas. Há muita gente que acha que Nisenholtz perde a aposta antes do prazo.
Vitórias políticas
Desde meados de maio desde ano começaram a circular entre os principais blogs jornalísticos dos EUA informações sobre um novo escândalo envolvendo o jornal The New York Times. Pelo menos seis sites de jornalistas influentes foram acrescentando fatos num trabalho coletivo informal, todos eles mencionando a correspondente do NYTimes em Bagdá, Judith Miller, como a responsável pelo jornal ter encampado a tese dos supostos arsenais de armas de destruição em massa, de Saddam Hussein.
Juntando as peças dos vários weblogs de jornalistas descobre-se que o caso é bem cabeludo, porque a principal fonte de Judith Miller seria Ahmad Chalabi, apontado como o favorito do governo Bush para assumir o governo do Iraque, pós-Saddam. Ocorre que em abril a CIA passou a suspeitar que Chalabi seria um agente iraniano e teria usado a história das armas de destruição em massa para induzir Bush a derrubar Saddam Hussein, abrindo caminho para um governo xiita no Iraque. Detalhe, o Irã é governado por xiitas.
Apanhado no meio desta onda de rumores e temendo ser envolvido num escândalo de proporções imprevisíveis, o The New York Times se antecipou e pediu desculpas num texto publicado no dia 26 de maio (http://www.nytimes.com/2004/05/26/ international/middleeast/26FTE_NOTE.html?8dpc).
No domingo (30/5), Daniel Okrent, o editor encarregado de ouvir reclamações do público no Times, publicou um artigo (http://www.nytimes.com/2004/05/30/weekinreview/30bott.html?hp) onde afirma que Judith Miller não pode ser vista como a única responsável pelos erros do jornal na questão do Iraque. Okrent afirma que todo o corpo editorial deve compartilhar o mea-culpa do Times.
Na mesma semana de maio, Mark Glaser, professor de jornalismo na Universidade do Sul da Califórnia publicou um artigo juntando vários casos de vitórias políticas conseguidas por blogueiros (http://ojr.org/ojr/ethics/1085527295.php). A maioria dos episódios envolve mais uma vez o New York Times, que parece estar na mira tanto dos jornalistas liberais como conservadores, nos EUA.
Lista confiável
Os blogs de jornalistas americanos são marcados pelo caráter opinativo, dividem-se entre os que trabalham em algum veículo da imprensa e os que são independentes. Além disso podem ser agrupados em duas grandes tendências: os mais liberais e os conservadores.
Os jornalistas empregados são menos contundentes em suas opiniões enquanto os autônomos são geralmente os responsáveis pelos grandes debates e pelas grandes revelações.
O caráter opinativo vinculado a rótulos políticos está começando a afetar as páginas de opinião dos jornais e revistas, ao provocar uma lenta migração de autores mais conhecidos para a web, onde cada um é dono do seu próprio negócio.
Segundo Mark Glaser, é cada vez maior o número de americanos que procuram opiniões em weblogs e só depois disso é que vão para as colunas de jornais. Se essa tendência continuar, as páginas Op-Ed (opinião e editorial) devem encolher consideravelmente, mas sua sobrevida ainda deve ser longa.
A razão é que nem tudo pode ser levado a sério entre os weblogs. Há muito lixo informativo e opinativo na internet, alimentado pela facilidade de publicar na rede. Por isso, quem precisa comparar opiniões ou ver os vários lados de um problema deve ter uma lista de weblogs confiáveis.
Esta matéria, por exemplo, foi feita a partir de uma relação de aproximadamente 50 endereços acumulados por mim ao longo de dois anos. O monitoramento regular dos blogs de jornalistas como Jay Rosen, Jack Shafer (revista Slate), Glenn Reynolds, Jeff Darvis, Dan Gillmor e outros permite detectar casos como o pedido de desculpas do New York Times bem antes da coisa tornar-se pública.
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Jornalista e pesquisador de mídia eletrônica; e-mail (cacastilho@brturbo.com)