As histórias em quadrinhos (HQ), com suas diferentes formas e técnicas de expressão, atraem há tempos diferentes gerações e mídias. Nestes quase 130 anos de existência nos meios de comunicação de massa, as manifestações quadrinísticas sobreviveram à decolagem de muitas outras mídias e julgamentos atrapalhados.
No Brasil, a estréia da 9ª arte acontece em 1869, com o traço do italiano, naturalizado brasileiro, Angelo Agostini. No desenho desse artista, nascem As Aventuras de Nhô Quim. As narrativas visuais são com personagens permanentes e questionadores dos valores da monarquia da época. A arte, que é muito diferente da qual o público conhece hoje, foi publicada originalmente na revista Vida Fluminense.
Experimento semelhante, com algumas diferenças ideológicas, foi lançado nos Estados Unidos em 1895. Conhecido no Brasil como Menino Amarelo – Yellow Kid – estampava dezenas de mensagens em sua roupa, com histórias incompletas e sensacionalistas.
De lá para cá, muitas mudanças ocorreram no universo da linguagem quadrinhográfica. Algumas adaptações foram motivadas pelos avanços tecnológicos, outras por influências literárias. Acomodações que continuam construindo as HQ e fazem delas algo ímpar e às vezes sobrenatural.
As brigas comerciais dos jornais New York World e New York Journal pelo uso da imagem do menino amarelado não existem mais. Agora, a briga entre os meios de entretenimento é pelo público leitor. O Nhô Quim também não se aventura mais. A monarquia, felizmente ou infelizmente, acabou. Enfim, os tempos e os interesses são outros.
Aulas com quadrinhos
Seres quadrinizados migram para as telas de cinemas, literatura, jogos eletrônicos, propaganda, exposições, festivais e shoppings. Baseados em pesquisa de empatia, personagens típicos dos quadrinhos ganham o mundo da ficção e principalmente de jovens e adultos apaixonados pela arte. Além de prestarem serviços instrutivos em manuais técnicos e livros, através das story-board e simulações de diversos contextos em jornais.
Mesmo com tantas utilidades, uma das maiores instituições de transformação da sociedade, a escola, finge acreditar neste potencial cultural dos quadrinhos. De forma superficial, muitos colégios aplicam exercícios com auxílio de revistas em quadrinhos das principais editoras nacionais e internacionais.
No país são raros os experimentos verdadeiramente comprometidos para o crescimento crítico do aluno, por meio da linguagem que o mundo vê, e a escola faz de conta que enxerga. São muitos os educadores e ativistas culturais que trilham este caminho e são arduamente interrogados com a seguinte questão: ‘Assim ,eles vão querer ficar só lendo quadrinhos.’
Então, não seria a hora de elaborar, entre muitas outras atividades, aulas com personagens dos quadrinhos? Por que a imprensa, a indústria cinematográfica e os meios de entretenimento servem-se com tanta freqüência desta literatura?
******
Jornalista, pós-graduando em Linguagem, Cultura e Ensino pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, (UNIOESTE), Foz do Iguaçu, PR